quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Votos de um bom 2021


 








A Associação ALDRABA deseja a todos os associados, amigos e familiares, bem como às coletividades e autarquias que nos têm apoiado e com as quais temos interagido, um novo ano de 2021 com saúde e energia, e com perspetivas de paz e progresso.

Contamos com todos vós, e contem todos connosco! 

JAF


sábado, 26 de dezembro de 2020

Os saltimbancos do século XXI


 












Nos dicionários online da língua portuguesa, um saltimbanco é um “histrião que exibe as suas habilidades na via pública ou nas feiras, em geral num estrado” e também um “farsante, pelotiqueiro”, ou, em sentido figurado, um “indivíduo indigno de confiança ou consideração”.

De um modo geral, os conceitos oficiais desconsideram estes artistas, e são profundamente injustos para com quem trabalha honestamente para divertir os seus concidadãos, desenvolvendo habilidades e aptidões a que as pessoas “normais” não conseguem aceder, a troco de incertas e inseguras gratificações que são o seu único ganha-pão.

Dos mais velhos entre nós, quem não se lembra destas “trupes” de saltimbancos, constituídas por três ou quatro amigos ou familiares, geralmente muito pobres, às vezes incluindo alguns animais adestrados, que se iam exibindo nas ruas e largos das nossas aldeias ou vilas, fazendo habilidades com massas ou bolas, engolindo petróleo e expelindo fogo, maravilhando a imaginação das crianças e adultos?

Em 2020, tanta coisa mudou… A pobreza “democratizou-se”, e a globalização tem consequências inesperadas!

Do Canadá, país para onde milhares de portugueses emigraram para trabalhar, vem uma jovem rapariga, que tem andado a estudar artes circenses no nosso país, e procura ganhar alguns euros (ou cêntimos) com artes de fogo nos semáforos da cidade de Lisboa.

Aqui está ela a trabalhar num cruzamento da Avenida dos Estados Unidos da América…

JAF


domingo, 20 de dezembro de 2020

"Websummit" - que cultura?


 
















O amigo e associado da ALDRABA, e prestigiado cartoonista, Luís Afonso, que desde o nº1 ilustra continuadamente a nossa revista, nos seus últimos 15 anos, questiona nesta recente banda desenhada as opções governamentais de apoio à cultura.

Obrigado, Luís, pela tua vigilância e por manifestares, de forma bem disposta, aquilo que muitos (todos?) de nós sentimos.

JAF
  

sábado, 19 de dezembro de 2020

30º Jantar-Tertúlia, na Casa do Alentejo, 18.12.2020














 


No dia 18 de dezembro de 2020, 24 associados e amigos da associação ALDRABA reuniram-se na Casa do Alentejo, na sala da lareira do seu restaurante - espaço amplo e arejado, em mesas de quatro ou cinco lugares, bem distanciadas entre si -, num jantar de confraternização que retomou a nossa tradição da época de Natal.

Foi um momento de reafirmação da amizade e solidariedade que une este coletivo e, também, uma forma prática de afirmarmos apoio e camaradagem à Casa do Alentejo, que atravessa um período de fortes dificuldades financeiras, que a pandemia provocou com a drástica redução das atividades de restauração e de cultura.

Durante o caloroso convívio que foi proporcionado, foram evocados o José Prista e o Nicolau Veríssimo, que nos deixaram há poucas semanas, o primeiro dos quais fundador da nossa associação, e o segundo um forte amigo que tínhamos em Viana do Castelo.

Foram também partilhados os votos de amizade que um elevado número de associados, residentes longe de Lisboa ou com limitações de saúde, nos haviam enviado.

A vice-presidente da Casa do Alentejo Rosa Honrado Calado, deu-nos conta dos problemas que a instituição enfrenta, bem como das múltiplas iniciativas atualmente em curso que permitem encarar algumas saídas positivas para 2021, e apelando à mais ampla divulgação de como a frequência do restaurante é viável e segura (o que pudemos confirmar).

JAF (fotos MEG e LFM) 

sábado, 12 de dezembro de 2020

O linho

 

Trabalho realizado pelos professores e alunos da Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico e Jardim de Infância de Outeiro Seco (Pinela, Bragança). Para o efeito, foi desenvolvido um estudo sobre as origens da cultura do linho, cujos objetivos fundamentais foram motivar a nova geração para a riqueza cultural do linho, em vias de extinção, e recordar a importância e interesse que o linho ocupou na vida e economia da gente rural.

Publicado no n.º 28 da revista ALDRABA.


Breve resenha da história do linho

O artesanato do linho constituiu uma das ocupações principais das gentes rurais.

Esta cultura tão fortemente divulgada foi profundamente assimilada pelos povos.

A sua importância é-nos evidenciada em vários campos e sectores da economia e da sociedade: desde a Igreja, que adoptou obrigatoriamente o linho na sua liturgia, passando pela economia doméstica na qual o linho constituiu matéria prima importante para o seu enriquecimento, até à utilização eficaz pela medicina da época.

De facto, o linho, é uma planta riquíssima que está bastante desamparada nos nossos dias.

Em quase todos os países do mundo se produziu ou ainda se produz embora em pequena escala.

O linho é uma planta herbácea, fibrosa que pertence à família das lináceas, atingindo entre 30cm a 1m e 10 cm de altura, unicaule de folhas inteiras, alternas, sésseis e sem estípulas. Apresenta flores lindíssimas hermafroditas, brancas e azuis, com cinco pétalas.

O cálica tem igualmente cinco pétalas. O ivário é plurilocular, com dois óvulos e cada lóculo separado por um septo.

A semente é a linhaça. A raiz é aprumada, podendo atingir 30 cm de profundidade.

O linho é composto por duas substâncias: uma lenhosa e interior, outra fibrosa e exterior. Esta serve para extrair a fibra têxtil para a fabricação dos tecidos.

É difícil saber em que data ou época histórica surgiu e quando o homem cultivou e utilizou pela primeira vez esta fibra para confecionar um tecido.

Sabe-se que 500 anos (A.C.), no Egipto, o linho foi o material mais usado na tecelagem, tendo-se encontrado, em jazigos do Neolítico, fragmentos de tecidos e fusos.

Contudo, o cultivo do linho e a sua utilização veio verificar-se desde os tempos pré-históricos.

Têm sido encontrados resquícios em vários lugares do mundo e particularmente na Península Ibérica que remontam a 2000 – 2500 anos (A.C.).

Na Península e mesmo concretamente no território que veio a ser Portugal, a cultura do linho foi incentivada e expandida com a Romanização. Nesta época, os lugares mais elevados eram essencialmente destinados à pastorícia e as partes mais baixas e fundas ocupadas com linhares.

Durante a Idade Média, fala-se muito em linho: é raro encontrar um foral, uma lei, uma escritura, uma venda ou uma doação em que se não faça referência ao linho.

O linho, nesta época, era um dos cultivos utilizados no pagamento à Coroa, à Igreja e à Nobreza, de rendas, foros, dízimos, multas, etc…

Em Portugal, no séc XV, a indústria do linho era, de acordo com os historiadores, a única que representava grande valor na economia nacional.

A indústria do linho, tanto na sua plantação como em todas as fases desde a preparação do terreno, até à comercialização dos tecidos existiu sempre como uma atividade caseira e artesanal, usando sempre técnicas muito primitivas, contrariamente a outras indústrias como a lã e o algodão.

O linho é uma planta muito exigente no que diz respeito à preparação dos terrenos e condições naturais é também uma fibra muito difícil de trabalhar por ser muito rija.

Foi utilizado mais para uso doméstico, em colchas, lençóis, sacos para o trigo, velas de moinhos, redes de pesca, etc… Hoje é possível encontrar nas nossas aldeias muitas pessoas que possuem peças de vestuário de linho no fundo das suas arcas.

A decadência do linho verifica-se sobretudo a partir do séc XV.

A que causas se deverá o declínio da cultura do linho?

Algumas razões que poderão explicar esse declínio são as seguintes: a transformação de uma agricultura de subsistência numa agricultura industrial, incompatível com a carácter artesanal a que a cultura do linho estava associada; o maior trabalho e grau de dificuldade que implica a cultura do linho, relativamente a outras culturas como a do algodão ou da lã; o aparecimento da lã e, principalmente, do algodão, fibras mais fáceis de tratar, tendo como consequência, a produção de produtos em mais larga escala e a mais baixos preços concorrência à qual o linho não poderia resistir.

Concluindo, achamos que urge reavivar esta valiosa cultura; não devemos deixar morrer uma cultura multisecular na nossa região.

Hoje, levantam-se alguns movimentos, organismos, associações, tendentes a relançar a cultura do linho em bases mais atualizadas, racionalizando o seu processo de cultivo e transformação, através da alteração do seu carácter plenamente artesanal.

Apelamos às autoridades, aos autarcas, aos jovens agricultores que se interessem por esta cultura de forma a torná-la novamente uma realidade concreta e não apenas uma realidade lendária, revelada e descrita pelos documentos ou pelos nossos antepassados…

Ondina Albino


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Viver o rio Tejo

 

Reproduzido do n.º 28 da revista "Aldraba", recentemente publicado:

Desde muito cedo que o destino do Tejo se uniu ao meu. Em criança já acordava com o seu espreguiçar brando a abraçar Lisboa, primeira visão matinal que me acompanhou ao longo de mais de trinta anos.

Mais tarde, por determinação profissional, abracei-o em Abrantes. E hoje, há já alguns anos, que o sol nasce ao colo do rio, mesmo em frente à minha janela, na localidade de Póvoa de Santa Iria. E foi aqui que assisti à renovação dos espaços que a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira promoveu junto ao Tejo, desde a cidade sede do Concelho até precisamente ao sítio onde vivo.

O Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo surgiu no âmbito do Projeto QREN como resultado de uma candidatura para a “Requalificação da Frente Ribeirinha da Zona Sul do Concelho de Vila Franca de Xira” e encontra-se atualmente ligado ao Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria.

O primeiro percurso liga Vila Franca de Xira a Alhandra, através do Caminho Pedonal Ribeirinho de Alhandra. Ao longo da pista construída a beijar o rio, é prioritário visitar a Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, centro de intensa atividade cultural, com uma vista fantástica sobre a paisagem ribeirinha e dotada de uma arquitetura moderna e agradavelmente enquadrada no espaço. Enquanto caminhamos, corremos ou andamos de bicicleta, podemos ainda observar os murais do artista autócne Vile, embora alguns dos seus trabalhos tenham sido recentemente vandalizados. Na zona de Alhandra podemos encontrar restaurantes com esplanadas e amplos espaços com bancos para descansar, assim como uma pequena marina.

De Alhandra até Alverca, o percurso pedonal é interrompido devido à vasta atividade industrial que se desenvolveu nesta zona.

O Parque linear Ribeirinho do Estuário do Tejo liga atualmente Alverca ao Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria, que se estende até ao limite do Concelho. O projeto de requalificação dos espaços junto ao rio, prevê ainda a possibilidade de se estender até ao Parque Tejo, em Lisboa. No entanto, esta possibilidade só poderá ser efetivada, agora, pela Câmara Municipal de Loures.

Qualquer destes espaços, que se estendem desde Alverca até à Póvoa de Santa Iria, são de cariz natural e assumem um valor ambiental e paisagístico inigualável, o que já lhes valeu vários prémios, nomeadamente, uma Menção Honrosa na categoria Cidades Sustentáveis Green Projects Awards 2014, o primeiro prémio na categoria Landscape and Public Spaces Archmarathon Awards 2015 e o primeiro prémio Wan Landscape Awards 2016.

Dotados de passadiços e ciclovias a rasgar o rio, assim como de percursos internos, a beleza destes espaços é inquestionável e permite longos e agradáveis passeios. Para além da riqueza natural (podemos observar espécies tão variadas como pernilongos, guarda-rios, garças, flamingos, águia pesqueira, pato trombeteiro, etc.), existem espaços de lazer e culturais convidativos. Na praia dos pescadores, por exemplo, existe um Centro de Interpretação Ambiental da Paisagem (CIEP), assim como um Observatório de Aves. Foram criados também espaços desportivos. A antiga zona pesqueira palafítica foi, contudo, substituída por uma correnteza de casinhas de madeira que servem de armazém aos pescadores, tendo sido apenas preservada uma casa exemplificativa.

Os gatos dos pescadores, que adoram adormecer e ronronar junto ao rio, nas tardes calmas, são uma imagem de marca, assim como o Mouchão da Póvoa, que se avista da outra margem.

Cristina Pombinho


sábado, 21 de novembro de 2020

Um adeus ao José Manuel Prista


 












O José Manuel Geoffroy Prista deixou-nos ontem, aos 80 anos, vítima de doença pulmonar.

Foi um homem muito importante na conceção, no lançamento e no posterior desenvolvimento da Associação Aldraba, a quem todos nós muito devemos, e a cuja figura nos vergamos com imenso respeito e afeto. 

O Zé Prista integrou a Comissão Promotora da Aldraba, foi a sua casa um dos dois locais onde reuníamos semanalmente durante muitos meses, teve um papel decisivo na discussão e adoção dos nossos documentos fundadores, e foi um dos três elementos (com o Luís Maçarico e o J.Alberto Franco) que celebraram a escritura notarial de constituição da associação em 26.4.2005, um dia depois da nossa Assembleia Geral Constituinte no Ateneu Comercial de Lisboa.

Foi eleito para os órgãos sociais da associação em diversos mandatos, quer na Direção quer como Presidente da Assembleia Geral. A ele se devem também muitas iniciativas em que a Aldraba se tornou conhecida e se foi afirmando, designadamente as exposições sobre aldrabas, batentes e cataventos que, com modificações e melhorias introduzidas ao longo do tempo, estiveram patentes em Lisboa (Espaço Grandella), em Mértola (Festival Islâmico), em Salvaterra de Magos e em outros locais do Ribatejo.

O José Manuel Prista foi um profissional brilhante na área da meteorologia, com formação em física, tendo sido quadro superior e dirigente no então Instituto de Meteorologia, com comissões de serviço em Angola, em Macau e nos Açores, sempre reconhecido pela grande competência e pelas suas qualidades humanas.

Retirou-se para a Azambuja, onde viveu nos últimos largos anos com a sua companheira Luísa Cabrita, a quem endereçamos um forte e comovido abraço.

Caro Zé Manel, o que nós somos hoje foi em grande medida aprendido com o teu caráter nobre, leal, generoso e construtivo, e com a tua postura sempre lúcida e crítica. 

Obrigado, companheiro, e até sempre!

JAF   


domingo, 15 de novembro de 2020

Coerência de um percurso


 







Texto do editorial do n.º 28 da revista "Aldraba" , que está atualmen- te em distribuição (os interessados em obtê-lo podem manifestar-se através do mail jaffranco@gmail.com ou do telefone 96 370 84 81):

Os quinze anos da Aldraba e o esplêndido programa que assinalaria a efeméride tiveram o entrave da pandemia.

Contudo, e por vontade expressa e empenho dos membros da direcção, acompanhados por bons amigos, a continuidade da revista cujos dois números de 2020 se publicaram, testemunha bem a resistência, no consequente sonho de futuro que o manifesto fundador anunciava em 25 de Abril de 2005.

Honrámos assim um passado de dezenas de encontros temáticos, em que levámos associados e companheiros, com interesse e proveito, para conhecer e saborear a diversidade patrimonial imaterial de todo o país. Assim aconteceu em concelhos tão variados e enriquecedores, em termos do saber-fazer, divulgando e colaborando na preservação dos seus bens colectivos, como as tradições de Loulé, os tesouros de Aljezur, as aldeias de xisto do Fundão, a ancestral sabedoria das gentes de Idanha-a-Nova, a olaria de Tondela, a diversidade paisagística, gastronómica e cultural de terras da Gardunha, e a memória histórica do Alandroal, só para citar alguns destes eventos.

As rotas da Aldraba, percorrendo Lisboa, os jantares-tertúlia, dando a conhecer as colectividades da capital, a apresentação pública da revista, em quase todos os números publicados, por personalidades de reconhecida idoneidade, foram outras marcas da nossa actividade.

Depois do confinamento, ensaiamos o regresso à possível “normalidade”.

Os associados e amigos da Aldraba podem contar com uma redobrada intervenção na salvaguarda do património, da memória oral e das tradições identitárias do nosso povo, em interacção com outros protagonistas como o associativismo e o poder local.

Luís Filipe Maçarico

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Concluído o nº 28 da revista ALDRABA


 









O número 28 da revista semestral da associação ALDRABA, referente ao mês de outubro de 2020, que foi elaborado durante o mês a que diz respeito, ficou hoje concluído na respetiva empresa gráfica (GM), e vai começar a ser distribuído a partir de amanhã, 4/10/2020.

O facto de termos conseguido preparar e editar este nº da revista, como aliás o nº 27 no passado mês de abril, nas dificílimas condições da pandemia que todos atravessamos, diz bem da determinação da nossa associação em enfrentarmos essas dificuldades, e em sinalizarmos que o caminho terá de ser o de se encontrarem formas alternativas de trabalhar em prol dos nossos objetivos.

A revista vai ser enviada por correio a todos os associados, e a Direção vai ponderar na próxima semana a viabilidade de realizarmos algum evento público de promoção, respeitadas que sejam todas as necessárias regras de proteção sanitária.

Reproduz-se de seguida o índice deste nº 28 da nossa revista:


CARTOON

Luís Afonso

EDITORIAL

Luís Filipe Maçarico, “Coerência de um percurso”

OPINIÃO

Fernando Estevens, “Entre alimentação e comida, até à memória de cheiros esquecidos”

M.Beatriz Rocha-Trindade,”Construir e preservar a memória das migrações – uma missão que se impõe”

PATRIMÓNIO IMATERIAL

Carlos Rodrigues, “Relógios, sinos e torres de igrejas”

João Coelho, “Ensino primário – o Plano dos Centenários”

LUGARES DO PATRIMÓNIO

Pedro Pires, “A safra do sal: salinicultura tradicional em Castro Marim”

Cristina Pombinho, “Viver o rio”

ARTES E OFÍCIOS

Luís Filipe Maçarico, “Arte xávega: um património secular”

Ondina da Conceição Albírio, “O linho”

PATRIMÓNIO EDIFICADO


Laura Garcez, “A arquitectura do ferro no Porto”

OS AMIGOS E A MEMÓRIA

Nuno Roque da Silveira, “Francisco Velasco – Presente!”

DESABAFOS

Lídia Silvestre, “O chão que pisamos”

CRÍTICA DE LIVROS

Rosa Honrado Calado, “Usos de antanho” de Laurinda Figueira 

ALDRABA EM MOVIMENTO

Maria Eugénia Gomes, “Maio a Outubro de 2020”

POEMAS

Cristina Pombinho, “Paisagem”, contracapa

(verso da contracapa)

Rodrigo Dias, “Sobre a luz e o escuro: Valdanta – Chaves”


JAF

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Honra a Luís Kalidás Barreto



 








Chegou-nos hoje a triste notícia do falecimento de Luís Kalidás Barreto, aos 88 anos, notável exemplo de cidadania e de cultura.

Kalidás Barreto cruzou-se com a associação Aldraba em 2006, durante o nosso VI Encontro realizado em Aljustrel em 8/4/2006, que assinalou o centenário do seu pai, Adeodato Barreto. A nosso convite, Kalidás participou na mesa da sessão solene que encerrou esse Encontro, em conjunto com o Presidente da Câmara de Aljustrel, o Presidente da Junta de Freguesia local e o Presidente da Direção da Aldraba.

O Luís Kalidás tinha nascido em 1932 em Montemor-o-Novo, mas desde jovem a sua família se radicou em Castanheira de Pera, onde ele viveu até hoje.

Como contabilista, trabalhou em várias empresas de lanifícios, setor industrial que prosperava na região. Muito cedo se começou a manifestar ativamente na defesa dos seus colegas de trabalho, tendo chegado a líder do Sindicato dos Lanifícios dos distritos de Leiria e Coimbra.

Como militante antifascista, colaborou em 1958 na campanha eleitoral do General Humberto Delgado e, em 1969, nas eleições legislativas pela CDE.

Em 1970, participou na criação da Intersindical, na semi-clandestinidade, e viria a ser dirigente nacional da CGTP depois de 1974.

Em 1975, foi eleito pelo Partido Socialista deputado à Assembleia Constituinte. O Presidente Jorge Sampaio agraciou-o em 2004 como grande oficial da Ordem da Liberdade.

Na região da serra da Lousã, Kalidás foi sempre um grande ativista do associativismo e do intermunicipalismo, e escrevia regularmente na imprensa local.

A Aldraba associa-se às manifestações de pesar que têm vindo a multiplicar-se a propósito da morte do Kalidás Barreto, e transmitiu já as nossas condolências à sua filha Emília.

JAF


sábado, 24 de outubro de 2020

O livro como património

(...) a civilização que inventou o livro tal como até aqui o conhecemos, inventou também as condições requeridas para a sua leitura e que essas nos modelaram antropologicamente durante séculos e constituem um património cultural que precisamos de preservar. 

Pois quem inventou o livro inventou o silêncio da leitura; inventou essa forma íntima de temporalidade que torna o encontro com o livro indissociável do encontro connosco próprios; inventou a atenção e a curiosidade; inventou um regime social onde a atividade intelectual era admitida; inventou o direito universal à alfabetização; inventou o indivíduo e a vida privada; inventou a confiança na consistência da linguagem e as bibliotecas; inventou os sistemas críticos e hermenêuticos que garantem não só a legibilidade dos livros, mas a compreensão do mundo; inventou o humanismo e a liberdade de expressão, que é sempre inseparável da liberdade de ser. 

O livro acompanhou o nascimento e expansão das línguas modernas do Ocidente, e assistiu ao desenvolvimento das suas possibilidades expressivas. 

Quem inventou o livro inventou uma certa forma de produzir história e também a figura de leitor que ainda somos. 

Temo-nos de perguntar o que podemos fazer para valorizar este extraordinário património.

José Tolentino Mendonça, in "Expresso", 24/10/2020

sábado, 17 de outubro de 2020

Não destruam o nosso passado mouro!


 







Conforme assinalou o historiador Rui Tavares no "Público" de 28/9/2020, entre a entrada das primeiras tropas muçulmanas na Península Ibérica (ano 711) e a reconquista cristã do Algarve (1249) mediaram praticamente cinco séculos e meio.  "Momento único da história da civilização, quando centros de conhecimento como Córdova faziam ponte entre Oriente e Ocidente e preservavam boa parte da literatura legada pelos gregos antigos" traduzida para árabe e depois retraduzida para latim, comenta o mesmo R.Tavares. E prossegue esse autor: se em Portugal a riqueza da filosofia medieval e renascentista é principalmente judaica, "a poesia que os muçulmanos nos legaram é da mais bela que foi escrita e cantada neste território".

Apesar da importância que o referido período teve em Portugal, quase não há monumentos desse nosso passado (R.Tavares cita os poucos exemplos que restam no Castelo de Silves, no Palácio de Sintra, na Matriz de Mértola, e nuns arcos do Castelo de São Jorge).

É neste contexto que tanto chocou a recente notícia de que a Direção-Geral do Património Cultural se preparava para autorizar o desmantelamento de algumas importantes estruturas da Grande Mesquita de Lisboa (séc. XII) que foram descobertas em escavações arqueológicas em curso nos claustros da Sé de Lisboa. As intenções da DGPC foram denunciadas pelo Sindicato dos Trabalhadores de Arquitetura.

Duas arqueólogas da DGPC que trabalham nas escavações da Sé há mais de 20 anos, Alexandra Gaspar e Ana Gomes, manifestaram-se corajosamente contra tais propósitos, que assentavam em considerações sobre a "segurança estrutural da Sé", sem se cuidar de procurar soluções técnicas que contrariassem o problema.

Em paralelo, correu um documento público de protesto contra os intentos da DGPC, subscrito pelos mais destacados técnicos portugueses de arqueologia, em que se incluía o conceituado Santiago Macias, associado da Aldraba.

O diretor-geral da DGPC, Bernardo Alabaça, ainda veio pressurosamente anunciar a convocação, sobre esta matéria, da secção de património arquitetónico e arqueológico do Conselho Nacional de Cultura, para emitir um "parecer vinculativo". Mas a ministra da Cultura, em comunicado publicitado em 14/10/2020, veio pôr fim à controvérsia, anunciando que "face aos mais recentes achados arqueológicos, e tendo em conta o valor patrimonial das estruturas descobertas (...) decidiu, em diálogo com o Patriarcado de Lisboa, que os mesmos devem ser conservados, musealizados e integrados no projeto de recuperação e musealização da Sé Patriarcal de Lisboa".

Esta última decisão foi já aplaudida pelas vozes mais lúcidas do setor, a que a Aldraba se vem associar modestamente. E queremos sublinhar que vale sempre a pena resistir e combater as quotidianas iniciativas de atentado ao património, venham elas de onde vierem...

JAF



 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O acervo documental da Aldraba (19) - Madeira

 

Continua a publicitação dos textos que constam do nosso acervo documental, por temas.

Divulgamos desta vez os trabalhos que saíram na revista "Aldraba" relativos ao descritor MADEIRA, integrado no grupo temático “Regiões portuguesas e lusófonas”:


MADEIRA

Graça Alves, “De alguns ofícios do mar: O bombote e a mergulhança”, nº 26 (Out.2019), p.19

Graça Alves, “Entre a vida e a história”, nº 27 (Abr.2020), p.10

Sónia Frade, “Um olhar sobre o legado do açúcar na Madeira”, nº 4 (Dez.2007), p.14

Sónia Marques, “Os remates dos telhados madeirenses”, nº 19 (Abr.2016), p.2


Os amigos que pretendam aceder a alguns destes textos e que se manifestem por mensagem enviada para aldraba@gmail.com receberão uma cópia digitalizada dos artigos que indicarem.

JAF

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Os primórdios da indústria dos lanifícios em Portugal


Gerente e operários junto à fábrica de Pêro Mouro, durante a fase de construção da unidade, em Taliscas, Covilhã, finais do século XIX.

Como se vê na imagem, naquela época, uma boa parte da força laboral era constituída por crianças e jovens.


Hélder Carvalho Martins, in "Memória de Portugal - dois séculos de fotografia", Atlântico Press, Lisboa, 2020

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Trás-os-Montes, de ontem, de hoje e de sempre





Trás-os-Montes é uma região do nosso país que se caracteriza pela dureza da sua orografia, a qual em muito tem contribuído para a resistência e rijeza das suas gentes, desde os tempos mais remotos da nacionalidade. 

Um relato muito belo sobre essas terras no século XIV, da parte do historiador António Borges Coelho, dá-nos uma imagem muito impressiva do contexto natural da região, em termos que poderiam ser escritos nos séculos posteriores e até na atualidade:


A terra esfiapa-se entre rochedos, avolumando aqui e além em vale macio e úbere, e as rochas, solitárias ou em grandes massas, erguem-se no silêncio, enquanto o castanheiro solene e altivo, de tronco cavado e velho, se recusa a morrer e oferece a ternura das castanhas nos ouriços agressivos.

Isolam Trás-os-Montes as muralhas do Gerez, da Cabreira, do Marão, a Oeste; Larouco, Padrela, Coroa e Montesinho vigiam os montes de Castela, embora os dois povos apertem as mãos como em Rio de Onor; e o Douro é um fosso de fortaleza medieval. Escorre, espuma, salta a Sul e a Leste, ameaça com a força das correntes e o barro das águas, para logo se apaziguar em ilhotas de terra e brincar com milhóes de pedras polidas que amontoa no seu leito.

António Borges Coelho, "A Revolução de 1383", Portugália Editora, Lisboa, 1965, p.32


sábado, 29 de agosto de 2020

D. Sebastião de volta ao Rossio











Noventa fragmentos e mil cuidados: D. Sebastião de volta ao Rossio

Estátua de 1891 foi destruída em 2016 e a colagem dos pedaços decorreu este Verão. Regressa esta quinta-feira à estação.

Agosto tem tido uma meteorologia atípica, mas as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera para esta quinta-feira parecem estranhamente adequadas à ocasião: céu muito nublado e aguaceiros em quase todo o país. Os sebastianistas mais empedernidos não sonhariam melhor – o monarca regressa, já não em corpo e glória para conduzir o país ao Quinto Império, mas na forma de uma estátua que se julgava irrecuperável.

Está concluído o restauro da escultura de D. Sebastião que decorava a fachada da Estação do Rossio e que há quatro anos foi destruída por um homem que nela se empoleirou para tirar uma selfie.

A colagem dos fragmentos decorreu nos últimos dois meses. “Falta-nos o último desafio, que é o transporte”, diz Bruna Oliveira, revelando algum nervosismo com a operação marcada para esta quinta-feira. Um camião especificamente vocacionado para transportar obras de arte virá até ao rés-do-chão de Algés em que funciona a empresa de conservação e restauro Água de Cal, seguindo para o Rossio envolto em mil cuidados. “Esta peça, apesar de estar de pé, está muito frágil”, avisa a responsável pelo trabalho.

Quando aqui chegou no final de Junho, este D. Sebastião era uma amálgama de pedaços de diferentes dimensões a que os técnicos tiveram de dar sentido. Até para eles o resultado final foi uma surpresa. “Neste caso eu própria me surpreendi com faltarem tão poucas peças”, afirma Bruna Oliveira. No fim da intervenção, colados 90 fragmentos, reconhece-se novamente a figura do rei, quase à escala real, e há pedras que vão ser devolvidas à Infra-Estruturas de Portugal (IP) por não terem sido precisas.

A empresa pública que gere as estações de comboios guardou todos os pedaços numa sala desde 2016 e até entregou aos restauradores coisas que não pertenciam à estátua. Esse zelo, sublinha Bruna, permitiu o sucesso do trabalho. “Eles guardaram mesmo tudo!”

A IP decidiu que este D. Sebastião ficará a partir de agora no interior da estação, no átrio, “ficando em espelho com a réplica que futuramente será colocada no nicho da fachada”, explica fonte oficial. A construção da réplica ainda não está contratada.

“O restauro foi feito tendo em conta que a estátua vai para o interior, que não vai estar em contacto com a chuva nem com o vento forte”, diz Bruna Oliveira. Apesar de ser novamente uma figura una e de estar limpa de sujidade, um olhar atento facilmente reconhece as zonas degradadas. Esculpida num único bloco de calcário (e não lioz, como se chegou a pensar), a estátua “já tinha muitas reconstituições”, explica a conservadora-restauradora, apontando para os dedos do monarca, o medalhão ao peito, a espada, a fivela e os castelos do escudo como zonas em que a argamassa tinha já substituído a pedra.

“Este calcário é muito fácil de esculpir, mas tem pouca durabilidade no exterior porque tem uma absorção de água muito elevada”, diz, concordando que a peça “não tem condições” para ficar novamente exposta aos elementos. “Se fizerem a réplica no mesmo material, daqui a 50 anos não vai estar em bom estado.”

À semelhança das antigas intervenções que foram reparando os defeitos da escultura, também esta recorreu à argamassa para lhe dar a coerência devida. Isso aconteceu, por exemplo, na cabeça do rei, a parte mais danificada com a queda. Foi preciso reconstruir-lhe a nuca. “A intervenção não tenta dissimular o original, mas discernir de forma harmoniosa o que é a peça original e o que é a intervenção”, explica a responsável, sublinhando que o trabalho agora feito é reversível mais tarde, se assim se entender.

Mais invisível e mais permanente é o que foi feito para garantir a integridade da peça. Ao pô-la de pé tornou-se inevitável incluir pequenos varões de inox e fibra de vidro para que ela não desmoronasse. “Não dá para descolar”, garante Bruna Oliveira.

Habituada a trabalhar com pedra e cerâmica, a técnica diz que “não é habitual” passarem-lhe pelas mãos peças com tantas fracturas. Até a Direcção-Geral do Património Cultural, que analisou os fragmentos e ajudou a IP a preparar o caderno de encargos, chegou a dar a estátua como quase irrecuperável, apontando para um restauro de 70%. Olhando para a peça agora, esse objectivo parece ter sido largamente ultrapassado.

Nos últimos quatro anos, a destruição do D. Sebastião originou várias moções e recomendações na Câmara de Lisboa e na assembleia municipal e até foi motivo para uma manifestação. “É muito bom para o património haver estas discussões e as pessoas se interessarem”, afirma Bruna Oliveira. Pelo contrário, não vê com bons olhos que o homem que derrubou a estátua tenha saído do tribunal absolvido, como o PÚBLICO revelou. “Parece que podemos fazer tudo com o património e nada nos acontece”, lamenta.

João Pedro Pincha, in “Público”, 19/8/2020




sexta-feira, 31 de julho de 2020

Mário Castrim, um homem de fé



De seu nome verdadeiro Manuel Nunes da Fonseca, nascido em Ílhavo em 31/7/1920 e falecido em Lisboa em 15/10/2002, Mário Castrim foi um brilhante professor, escritor, poeta e jornalista, que nos cumpre aqui evocar.

Mas a faceta principal do trabalho de Mário Castrim, pela qual foi mais justamente apreciado, foi a de crítico de televisão, profissão que ele praticamente criou, e que desempenhou no "Diário de Lisboa" desde 1965, com as suas crónicas diárias mordazes e acutilantes, e mais tarde com crónicas semanais no "Tal & Qual".

O amigo da Aldraba e também jornalista Viriato Teles, escreveu no "Público" de ontem, 30/7/2020, um sentido comentário acerca do percurso pessoal do Mário Castrim, colega ao qual muito deve, designadamente a decisão de ele próprio se ter profissionalizado como jornalista. 

E é Viriato Teles que afirma de Castrim ser um exemplo vivo de como é possível ser-se crente e marxista, em que acreditar em Deus só o poderia levar ao Partido onde entendia estarem os melhores dos melhores e de onde "acreditava poder nascer uma sociedade mais justa, menos desigual - e consequentemente mais divina, porque mais humana".

Na atividade de crítico de televisão, conta Viriato que Mário Castrim passava noites e noites frente ao aparelho, a analisar e escrever sobre o que se passava na RTP, e as crónicas datilografadas eram depois deixadas depois num saco do pão pendurado do lado de fora da porta de casa, onde um estafeta do "Diário de Lisboa" se encarregava de as levantar pela madrugada...

Conta ainda Viriato Teles que Mário Castrim, no princípio dos anos 1990, respondeu a um pedido de opinião do cardeal-patriarca D. António Ribeiro sobre a intenção da Igreja Católica de avançar com o canal TVI, tendo-o desaconselhado vivamente: "Cuidado, vai-se meter com um demónio que não consegue dominar...". O cardeal não ouviu o conselho, e agora vê-se no que deu a TVI!

Hoje, 31/7/2020, numa sessão de homenagem ao centenário de Mário Castrim realizada no Hotel Vitória, Jerónimo de Sousa contou que, também nos anos 1990, lhe foi pedida ajuda para preparar uma entrevista que no dia seguinte o candidato Jerónimo à Presidência da República iria dar à RTP. Castrim compareceu na sede do Partido, mas ripostou liminarmente: "Tu, camarada, com a experiência que tens das lutas nas fábricas, vens-me pedir ajuda? Desculpa, mas não estou à altura para isso". E foi-se embora...

Era assim Mário Castrim: lúcido, frontal, incisivo! 

Pessoalmente, deixem-me apenas recordá-lo na sua modéstia, no princípio dos anos 1960, quando ia nas tardes das 4ªs feiras ao meu liceu Pedro Nunes, nas "atividades circum-escolares", dar umas aulas de datilografia, onde aprendi com ele a escrever no teclado HCESAR...

JAF