terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Votos de um excelente ano de 2010 para as associações populares

A ideia da associação Aldraba começou a surgir há 5 anos, em Novembro de 2004, num almoço de confraternização em Montemor-o-Novo. Em Fevereiro de 2005, em Viana do Alentejo, a ideia consolidou-se e ganhou pés para andar.

A 25 de Abril de 2005, teve lugar a assembleia constituinte da Aldraba, nas instalações do Ateneu Comercial de Lisboa. Nascemos, pois, fortemente ligados ao movimento associativo popular, num local respeitável do desporto e recreio da cidade de Lisboa.

Não tendo meios para uma sede em instalações próprias, logo surgiu uma associação que, com grande espírito solidário, disponibilizou as suas instalações para a nossa sede. Assim, a Aldraba avançou ligada à colectividade progressista que é a Associação Abril, fundada em 1986 no contexto da promoção da democracia participativa e do desenvolvimento.

Para várias das nossas actividades, e para realizarmos as reuniões regulares dos nossos órgãos sociais, veio a abrir-nos as suas portas uma colectividade centenária da freguesia dos Prazeres, o Grupo Dramático e Escolar Os Combatentes, com quem celebrámos um estimulante protocolo de cooperação.

Ao longo dos 5 anos de actividade da Aldraba, e em particular nos 15 encontros temáticos realizados até ao presente, interagimos de forma sistemática com grande número de colectividades populares portuguesas, procurando conhecer e valorizar as suas experiências, e projectar o seu trabalho em prol do património das respectivas regiões.

Assim foi com a Associação de Moradores da Aldeia da Estrela (Moura), com a Associação de Santa Ana do Mato (Coruche), com a Liga dos Amigos de Alpedrinha (Fundão), com a Associação de Amigos da Cortelha e com a Almargem (Loulé), com a Associação do Casal Cochim (Torres Vedras), com o Grupo Convívio e Amizade nas Donas (Fundão), com a Associação A Moira (Alcoutim), com a Alma Alentejana (Almada), com a Sociedade Filarmónica de Carnaxide (Lisboa), e com as Associações de Defesa do Património e dos Produtores de Batata Doce de Aljezur.

Em alguns destes encontros, contámos também com a intervenção e a cooperação de grupos corais e folclóricos locais, verdadeiros repositórios de cultura popular, como aconteceu com o Coral da Aldeia da Luz (Mourão), com as Brisas do Guadiana (Moura), com o Rancho de Santa Ana do Mato (Coruche) e com o Clube Folclórico do Rogil (Aljezur).
Instituições culturais sensíveis ao património popular, como a Ordem dos Arquitectos e a Confederação das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, cooperaram já com a Aldraba.
Finalmente, os jantares-tertúlia que temos vindo a promover em Lisboa, ou a nossa intervenção em eventos culturais associativos, levaram-nos já a interagir com várias Casas Regionais sedeadas na capital (Alentejo, Beiras, Goa, Lafões, Trás-os-Montes e Alto Douro, e dos Concelhos de Alvaiázere, Arcos de Valdevez e Castro Daire), e com outras colectividades populares de grande projecção (Clube de Futebol Benfica e Sociedade Ordem e Progresso).
Todas estas 30 associações e colectividades são parceiros naturais da Aldraba, na sua luta pela promoção do espaço e do património popular.
Todas elas são expressão da generosidade dos que prezam a identidade das suas terras e bairros, são demonstração da vitalidade de uma cidadania que resiste, que teima em contrariar o pessimismo e as atitudes negativas.
Para todos esses companheiros e amigos, um excelente ano de 2010, cheio de realizações e sucessos associativos!
JAF

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A Aldraba no Futebol Benfica




Prosseguindo o seu intuito de conhecer a vida e as realizações de associações populares com sede em Lisboa, a Aldraba realizou no passado dia 15 de Dezembro mais um jantar-tertúlia, desta vez no Clube de Futebol Benfica.

Para além dos pitéus preparados pelo Sr. Manuel, contámos com a presença do amigo Domingos Estanislau, Presidente da Direcção da colectividade.

Foi um serão rico de história e histórias. Da história do clube e das muitas histórias do seu dia a dia se falou com emoção, sentido de dever e grande alegria pelo trabalho feito.

Um clube que continua muito enraizado na população do bairro de Benfica e que, contrariamente a outras antigas colectividades desportivas de Lisboa, resistiu à tentação de enveredar pelas modalidades profissionais, de popularidade garantida, mas exigindo investimentos gigantescos só suportáveis por organizações empresariais.

O Fofó, como é carinhosamente conhecido, continua a apostar num grande número de modalidades amadoras e no desporto e educação física juvenis, um exemplo que daqui saudamos.

MEG, com fotografias de A. Brito

Associação popular da aldeia da Cortelha (Loulé) promove iniciativas de animação e valorização do património local




A Associação dos Amigos da Cortelha, com quem a Associação Aldraba tem vindo a interagir desde Dezembro de 2006 (quando no nosso VII Encontro andámos pelo concelho de Loulé, conhecendo as riquezas culturais, naturais e humanas da zona), faz questão de assinalar o período de Natal com o devido destaque.
Começaram com um passeio pedestre, usufruindo do encanto natural da Serra do Caldeirão, que teve lugar no passado dia 13 de Dezembro.
Durante a tarde do mesmo dia, realizaram no Salão de Festas da aldeia da Cortelha a habitual Festa de Natal, dedicada às crianças e aos idosos, com poemas e canções de Natal, sempre com a preciosa colaboração dos alunos da Escola Primária da Cortelha e do Grupo de Catequese da aldeia.
Também a 13 de Dezembro, foi inaugurado o Presépio da Cortelha, que vai estar patente no centro da aldeia até ao dia 6 de Janeiro de 2010. Como nos anos anteriores, a população uniu-se para preparar um presépio especial, baseado em materiais tradicionais da Serra do Caldeirão, com especial destaque para a cortiça.
O Cantar das Janeiras estará bem presente na aldeia da Cortelha. As “Janeiras de Porta em Porta” consistem na proclamação, à porta das habitações, de cantares ao menino e aos reis por parte de um grupo de pessoas acompanhadas por instrumentos tradicionais. Este tesouro de tradições traz à memória velhos tempos, que esta colectividade pretende manter e preservar. Os cantares começarão no dia 1 de Janeiro de 2010 e terminam no dia 5, percorrendo diversos montes e lugares da Serra do Caldeirão.
A Associação dos Amigos da Cortelha conta mais uma vez com o apoio da Câmara Municipal de Loulé e da Junta de Freguesia de Salir.
Voltamos a exprimir aqui as nossa felicitações calorosas ao Márcio, ao Deodato, ao Adérito e aos demais activistas da Cortelha, pelo trabalho desenvolvido e pelos resultados alcançados.

JAF (informações e fotos da AAC)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

6º Jantar tertúlia - Clube de Futebol Benfica, Lisboa 15-12-2009


Na próxima 3ª feira, dia 15 de Dezembro, pelas 20 horas, e prosseguindo este género de convívios, teremos um jantar-tertúlia no Clube de Futebol Benfica ("Fofó"), na Rua Olivério Serpa, junto ao mercado de Benfica.

Não se sabe ao certo, mas dizem os mais velhos que o Clube Futebol Benfica existe desde 1895, contudo, a reorganização dá-se a 23 de Março de 1933, data que se assinala como aniversário do Clube, através de um documento distribuído à população do bairro de Benfica....

Para mais informação basta seguir este link: http://www.cfbenfica.net/principal_ind.html

O preço do jantar, por pessoa, será 12€ e a ementa constará de entradas, grelhada mista (à discrição), sobremesa (doces ou fruta), vinhos, águas e sumos, e café.
Neste jantar tertúlia contamos com a companhia do Presidente da colectividade, Domingos Estanislau.

As inscrições deverão ser feitas até ao próximo dia 11 para
- Margarida Alves -tlm 966474189; e-mail: margarida.alves@gmail.com ou
- Maria Eugénia Gomes - tlm 919647195; e-mail: megomes2006@gmail.com

MPA

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Ernesto Silva, poeta de Aljezur e a Aldraba


Ernesto Silva, cidadão de Aljezur nascido em 1938, participou activamente no XV Encontro da Aldraba, que realizámos no seu concelho em 28/29 Nov.2009.

Esteve connosco na sessão da tarde de 28.11, no Grupo Folclórico do Rogil, quando trocámos informações e reflexões acerca da batalha aérea de Aljezur de 1943, e acerca da importância cultural e económica da batata doce. Deu testemunho das suas memórias remotas, com cinco anos (era o seu avô comandante do posto da Guarda Fiscal da Arrifana), quando os aviões nazis e a aviação aliada se defrontavam nos céus portugueses, e os adultos protegiam as crianças contra eventuais bombas perdidas...

Esteve connosco, também, no convívio da noite desse dia 28.11, no restaurante Onex, quando degustámos batata doce em saborosos petiscos que o Município nos proporcionou.

E presenteou-nos, o Ernesto Silva, com os seus poemas - ele que publicou recentemente o livro "A minha rua - Poesias 1995/2000", editado pela Câmara Municipal de Aljezur.

No prefácio desse livro do Ernesto Silva, da autoria do Presidente Manuel Jesus Marreiros, lê-se:

"A maior riqueza deste concelho são as pessoas. Foram elas que fizeram esta terra e são elas o seu futuro. Com trabalho, suor, sacrifícios e arte, cada um foi escrevendo uma página importante do nosso desenvolvimento(...). A forma imediata com que transforma uma ideia em poesia só é comparável à versatilidade com que de uma simples fatia de pão faz uma flor ou uma mão cheia de barro se tranforma numa peça de arte. A C.M.Aljezur agradece a este nosso conterrâneo ter acedido ao nosso convite para editar esta publicação e enaltece também tudo aquilo que tem feito para divulgar a nossa terra. Este livro de poesia já fazia falta. O autor merece e Aljezur agradece."

A Aldraba também agradece ao Ernesto Silva a sua participação, a sua criatividade, e, em especial, o carinho e a acutilância que pôs no poema que nos dedicou e que declamou nessa inesquecível noite de 28.11.2009:

A ALDRABA

Já o sabe toda a gente
que o indicativo presente
deste verbo tão antigo,
tem na terceira pessoa,
esse termo que bem soa
quando nos chega ao ouvido.

Desde os tempos ancestrais,
quase todos os portais,
em posição evidente,
têm aldraba elaborada
para ser accionada
e chamar, logo, o utente.

Hoje, porém, tenho esse ensejo:
Esta Aldraba, que ora vejo,
é um grupo especial,
forte, seguro e coeso,
na cultura tem mais peso
e provém da capital.

Em busca do mar azul
demandam terras do sul.
Ouvir. Sabores desgustar.
E, mesmo pouco que fosse,
Só comer batata doce,
Já era um grande manjar.

Com grande satisfação,
num abraço terno, irmão,
está a porta escancarada.
É tão grande a alegria,
que, por obra de magia,
a aldraba nem foi tocada.

A este rincão pequeno,
Fraterno, sadio, ameno,
onde o amor não acaba
e sabemos receber,
venha sempre que quiser,
basta tocar na aldraba.

28-11-2009


Bem haja, Ernesto Silva!
JAF

domingo, 29 de novembro de 2009

Pelas terras de Aljezur - 28 e 29 de Novembro




Vindos de vários pontos do país, as duas dezenas e meia de associados e amigos da Aldraba demandaram Aljezur preparados e animados para mais uma descoberta ao sul.

O nevoeiro cerrado e alguns desencontros na partida de Lisboa não nos fariam esmorecer, tanto mais que tínhamos pela frente um fim-de-semana com um programa aliciante e meticulosamente preparado com a colaboração dos amigos da Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur (ADPA).

Programa cheio e de que é difícil salientar qualquer dos seus momentos, de tal maneira foi importante conhecer, desde logo o trabalho da ADPA, mas também o da Associação de Produtores da Batata Doce ou do Clube Recreativo e Folclórico Amador do Rogil, trocar ideias com todos os que nos acompanharam, incansáveis em conhecer-nos e dar-se a conhecer a si, à sua terra, ao seu trabalho e às suas expectativas e sonhos.

Falámos do passado, da II Guerra Mundial, da Batalha de Aljezur e das memórias, ainda hoje vivas, dos episódios que o povo testemunhou daquele conflito longínquo e terrível, do presente e do futuro ficamos a conhecer os projectos em que estão envolvidos e o entusiasmo que colocam nos desafios actuais e vindouros.

Seja no plano cultural, apoiando as escavações no Ribat, recuperando peças únicas do arquivo municipal ou divulgando as belezas e potencialidades do concelho através da edição de múltiplas publicações, seja ao nível do desenvolvimento económico da região, nomeadamente à volta da cultura da batata doce, é firme propósito destes nossos amigos levar o nome de Aljezur cada vez mais longe e com cada vez maior prestígio.
MEG

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

XV Encontro “Ver, ouvir e saborear ao Sul”- Aljezur, 28/29.Nov.2009





A Aldraba vai levar a efeito o seu XV Encontro no concelho algarvio de Aljezur, no fim de semana de 28 e 29 de Novembro de 2009, centrado nos usos e tradições da população local, e ainda nas memórias populares relacionadas com a 2ª Guerra Mundial.

O Encontro conta com o apoio da Câmara Municipal de Aljezur, e a colaboração activa dos amigos da Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur (ADPHA) e da Associação dos Produtores de Batata Doce de Aljezur (APBDA).

Está programado que visitemos os locais e os acervos museológicos mais significativos da história de Aljezur, que ouçamos os testemunhos e os registos da memória popular local, e que degustemos as delícias da gastronomia da região (com especial destaque para a batata doce).

Daí, o título que entendemos atribuir a esta nossa nova incursão no Sul do país…

O Encontro iniciar-se-á às 11h30m de sábado, sendo a concentração no largo em frente da Câmara Municipal, na parte nova da povoação. Os participantes que partam de Lisboa concentram-se na Praça de Espanha, pelas 8h, frente ao local onde era antes o Teatro Aberto, e os restantes dirigem-se pelos seus meios para o ponto de encontro em Aljezur. Nessa parte final da manhã, teremos uma pequena visita de reconhecimento ao centro da vila, e à sede da ADPHA, cuja actividade nos será apresentada pelos seus Presidente José Manuel Marreiros e Vice-Presidente José Francisco Estêvão.

O almoço de sábado, com entradas, prato principal e sobremesas típicas da região, terá lugar no restaurante Chefe Dimas, de onde nos deslocamos depois para a povoação do Rogil, a pouca distância de Aljezur. Aí, com a colaboração da APBDA, realizaremos uma sessão em sala – que inclui uma apresentação sobre o que foi a batalha aérea de Aljezur, de Julho de 1943 (entre aviões ingleses e da Alemanha nazi, tendo sido abatido sobre os arredores da vila um bombardeiro alemão), e também testemunhos sobre a vida dos artesãos e agricultores do concelho.

Também no Rogil, teremos no final da tarde uma refeição volante, com petiscos e doces facultados pela Câmara Municipal, e à noite um convívio com poetas e músicos populares. O alojamento será na residencial “Alcatruz”, que comporta quartos duplos e alguns individuais.

No domingo de manhã, efectuaremos visitas guiadas aos museus de Aljezur, ao Castelo e ao Ribat da Arrifana, terminando o Encontro com um almoço, de novo com ementa típica, no restaurante Pont’a Pé.

Os custos da participação no Encontro por pessoa, incluindo refeições, alojamento e transporte Lisboa-Aljezur-Lisboa em autocarro fretado, importarão em 70 € para os associados, e 75 € para não associados. Os participantes que necessitem de usar automóvel particular pagarão, respectivamente, 50 ou 55€. Quem necessite de ficar alojado em quarto individual terá de suportar um suplemento de 10€.

As inscrições para participação no XV Encontro devem ser feitas até 24 de Novembro, 3ª feira, através dos telemóveis da Natividade Anastácio (963967534) ou da Mª Eugénia Gomes (919647195).

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Acepções de património



De um artigo da antropóloga Paula Godinho (Processos de emblematização: fronteira e acepções de “património”) respigo esta passagem que pode constituir motivo de reflexão.

"Tornado matéria-prima para a construção das culturas nacionais, inócuo e desgarrado do contexto em que emergia, o popular só se tornou objecto de interesse porque o seu perigo foi eliminado.
Antes censurado, vigiado e expurgado pelo seu cariz perigoso e subversivo, passa a estar conotado com a pureza, a inocência, as origens, a ingenuidade, ou a natureza. Esse fenómeno de estetização e preservação do que é arredado dos modos de produção, atribuindo um novo formato mercantil aos recursos culturais e ao conhecimento local, tem como agentes os elementos das elites, em vários patamares, que replicam uma idêntica lógica empreendedora."

Esta atitude, que se refere à reputação do popular junto das elites do século XIX, será ainda actual?

JMP

Castanhas e Magustos

Oriundo da Ásia, ao que se supõe, e chegado à Europa há mais de três mil anos, o castanheiro que existe em quase todo o interior centro e norte do país, é hoje considerado uma árvore autóctone de tal maneira pegou e se desenvolveu nas nossas terras.

As suas sementes – as castanhas, foram a base da alimentação de transmontanos e beirões nos séculos XVII e XVIII em substituição da batata e do pão. Chegaram aos nossos dias como um pitéu e já entraram na tradição associadas aos Magustos, ao S. Martinho e à água-pé ou à prova do vinho novo. No dizer do adágio popular: “Pelo S. Martinho vai à adega e prova o vinho”.

Recordo, a todos os que tivemos o privilégio de estar no encontro da Aldraba no Fundão, em Dezembro de 2007, o magnifico ambiente criado pela Associação de Convívio e Amizade nas Donas à roda do Magusto que prepararam para nós.

Foi uma noite fantástica. A alegria de anfitriões e convidados à volta das labaredas da caruma a arder no chão da eira e das castanhas a estalar e a saltar aos nossos pés, juntou-se ao frio de Dezembro, à noite e ao nevoeiro que envolviam a serra e tornavam irreais as luzes nas aldeias mais próximas.

Hoje é dia de S. Martinho, que vivam as castanhas e o vinho novo!

Mais informação sobre o tema das castanhas, que reputo de grande importância e actualidade, disponível nestes dois endereços: http://www.cm-mirandela.pt/index.php?oid=3624 e http://cafeportugal.net/pages/dossier_artigo.aspx?id=1295

MEG

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O rei vai nu!


As histórias da nossa infância remetem-nos para um tempo de ingenuidade e de sonho, onde certas verdades, incómodas para a sociedade estabelecida, também tinham o seu lugar.

Esta manhã, em conversa ligeira com um colega finlandês presente na mesma reunião internacional em que eu estava, fiz-lhe um reparo sobre a página electrónica do serviço da Comissão Europeia em que ele trabalha. E comentei que tal incorrecção (falta a ligação ao principal texto legal aplicável no seu sector, enquanto é possível chegar directamente a uma multidão de textos secundários...) certamente já foi notada por muita gente, mas ninguém é capaz de o dizer aos responsáveis.

Provocando o Timo Altonen, disse-lhe que fazia lembrar um conto infantil que conheci há muitas décadas em Portugal, em que uma criança denuncia na praça pública que o rei vai nu no seu habitual desfile, enquanto os cortesãos e o povo atemorizado repete, respeitosamente, que são tão belas as roupas de Sua Majestade!

Para meu espanto, responde-me o colega nórdico, que vive em Bruxelas e que hoje estava comigo em Genebra, que sim senhor, estava de acordo, pois também na sua infância conheceu a mesma história, e há de facto situações como esta em que as pessoas se "auto-hipnotizam" e perdem a sua capacidade crítica, seduzidas como estão pelas conveniências sociais.

Grande lição esta. Temos patrimónios populares que até são comuns a muitos povos, temos memórias e sabedorias com tanto potencial, e tantas vezes as reprimimos.

Venham outras memórias infantis até ao nosso blogue, e lutemos contra o seu apagamento...

JAF, gravura reproduzida do blogue "Dragoscópio"

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A minha rua do bairro da Musgueira


No antigo bairro da Musgueira, que era um enorme abarracado pobre, lá para os lados da actual Alta de Lisboa, viveu parte da sua infância o Mané (Manuel Graça da Silva), que é agora associado da Aldraba e de quem publicámos uma parte das suas memórias no nº 7 do nosso boletim.
É extraordinário que um rapaz desta Lisboa desaparecida tenha escrito sobre o bairro da Musgueira por dentro, com um colorido, uma riqueza de pormenores e uma ternura que vale a pena reproduzir aqui:
"A minha rua dividia-se em 2, não era o lado esquerdo e direito, era o de cima e o de baixo. Todos se conheciam nessa rua e nas outras, mas as casas mais perto da minha eram mais fáceis para pedir um ramo de hortelã, alface ou para um desenrasque de ultima hora, não havia vergonha nem preconceitos para estes pormenores.
O ti Cândido, homem sem barba e bigode na maior parte do tempo e sempre bem penteado, com modos respeitosos, saia um pouco da vulgaridade, era contra tudo e contra todos, talvez mesmo contra ele, cumprimentava todas as pessoas com a mesma facilidade dizia mal delas. Gostava imenso de ajudar os outros, observando todos os gestos, esperando um passo em falso para maldizer, mostrando o arrependimento da ajuda dada, mas sentia-se feliz por ajudar e falar mesmo que para dizer mal.
Com os seus cabelos brancos e óculos remendados com fita-cola, sempre resmungão e fiel às expressões de taberneiro, estabelecimento para o qual nunca teve vocação muito menos formação especifica, talvez o desejo de beber à borla. Enfim! Lá fazia a sua venda, vendia tudo avulso:
- Lixívia, módulos, latas de atum, velas, bilhas de gás, batatas, cebolas etc.
Alguma clientela transformava-lhe os dias, criando motivos de acender uma fogueira para um churrasco, sardinhada ou cara colada enquanto houvesse raios de sol. O cheiro e o fumo convidava sorrateiro os vizinhos, mesmo quando passavam, diziam:
- Ó ti Cândido, posso trazer uns carapaus para assar?
- Assim aproveita-se o carvão!
- Anda lá rapaz, se não sou eu...
Havia freguesia até ás 17h para os almoços, para o jantar teria de ser o Sr. do apito, porque o ti Cândido tinha costumes muito pontuais, levantar e deitar com as galinhas, de Inverno e Verão, com festa ou sem ela, era sempre assim. Eram estas e outras, que tornavam o ti Cândido especial ou diferente dos outros, já não era nada mau, dividia o carvão com os vizinhos. "

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

90 anos de percurso



O nosso associado e grande amigo Jorge Rua de Carvalho acaba de ser homenageado pela Junta de Freguesia de Prazeres a que se juntaram outras entidades, entre as quais a Aldraba através do Presidente do Conselho Fiscal João Coelho que, num depoimento de grande dimensão humana, exaltou o percurso deste homem artista, antifascista e cidadão solidário.

Reproduzimos, a propósito, um artigo publicado no N.º 7 do Boletim "Aldraba":

"Jorge Rua de Carvalho acaba de completar 90 anos de idade neste mês de Julho de 2009.

A Aldraba assinala com todo o afecto e camaradagem este marco na vida do nosso associado, que aprendemos a conhecer e respeitar como um exemplo vivo de trabalhador, de cidadão, de criador artístico, de militante associativo.

O Jorge foi um dos 80 fundadores da Aldraba, presente e interveniente na Assembleia Geral constituinte, em 25 de Abril de 2005, no Ateneu Comercial de Lisboa.

Nestes 4 anos, a Aldraba teve já a sua exposição de bonecos populares em duas mostras de grande impacto, no Museu República e Resistência, em Lisboa, e no Festival do Chícharo, em Alvaiázere.

Apesar das dificuldades inerentes à idade, o Jorge participa sempre que pode nos actos da vida da Aldraba, em encontros, assembleias gerais e eleições, encorajando os mais novos com as suas opiniões e preocupando-se sempre com a situação das finanças da associação.

Antes da nossa experiência em comum, sabemos que o Jorge Rua de Carvalho desenvolveu sempre intensa actividade associativa, em particular no Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”, onde desempenhou durante várias décadas quase todos os cargos sociais, e onde tem sido um dos impulsionadores e praticantes do teatro amador.

Marceneiro de profissão, o Jorge decidiu esculpir em madeira o fruto da sua vasta e rica vivência da Lisboa dos bairros populares, dos pregões, dos ofícios, dos jogos infantis. Os seus cerca de 200 bonecos contam a história da cidade dos humildes e laboriosos, da criatividade dos simples, falam a linguagem da verdade, são património e identidade.

Nos últimos 15 anos, o Jorge também passou à escrita (poemas e prosa) a sua visão da vida e conhecimentos acumulados, tendo publicado "Desabafos", em 1994, "Lisboa saudade : Pregões e figuras típicas de Lisboa (anos 20-40)", em 1999, "Gente da Minha Rua", em 2003, e "Retalhos da Vida Saloia", em 2006.

Um grande abraço de gratidão ao Jorge Rua, e votos calorosos de saúde e vida!"

domingo, 27 de setembro de 2009

Alpedrinha 2009







Tal como anunciado, decorreram nos passados dias 18, 19 e 20 as festas que em Alpedrinha celebram os caminhos e as tradições da Transumância.
Foi um tempo de rever pessoas e sítios, gozar da hospitalidade daquelas gentes e relembrar a beleza dos lugares revisitados.

De mistura com os cheiros, os paladares e os abraços de conhecidos e amigos, sobressaem os sons dos grupos que percorrem as ruas do princípio ao fim da Festa. São os chocalhos que, à roda do petisco e por brincadeira, meia dúzia de confrades lá para as bandas de Vila Verde de Ficalho começaram a tocar e que todos os anos demandam as terras altas da Gardunha, os bombos e os tambores, as gaitas de foles e as flautas, numa mistura prenhe de alegria e animação que a todos invade.
Salientamos, pela beleza e grande qualidade, o concerto da Teresa Salgueiro e do Lusitânia Ensemble. Num ambiente quase irreal criado pelos jogos de luz sobre o largo do Chafariz, as empenas do Palácio do Picadeiro e as arvores circundantes, pela voz única da artista e pela música com que se fez acompanhar nesta versão da Matriz – a nossa matriz musical, ouvimos desde D. Dinis a Lopes Graça, do fado ao folclore, de Carlos Paredes até Fausto, num percurso rico e variado de sons e emoções.

A Aldraba, presente mais uma vez na Festa, contribuiu este ano com a apresentação dos Cadernos Temáticos e, indirectamente, com o lançamento dos Cadernos de Areia – livro de poemas da autoria do Luís Filipe Maçarico.


Desejamos longa vida ao Festival dos Chocalhos e da Transumância, sempre com a mesma qualidade e a mesma hospitalidade a que já nos habituou.

MEG
Fotos de Luís Filipe Maçarico, Luís Franco e MEG

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Em defesa do Zé Povinho



A figura do Zé Povinho é uma, entre tantas outras, das figuras relevantes do imaginário português dos séculos XIX e XX – que, convém lembrar, foram os séculos em que nasceram, cresceram e se tornaram adultos TODOS os portugueses que têm agora mais de nove anos, e em que nasceram os seus pais e avós, ou seja, as gerações cujas experiências e cujas memórias marcam o nosso presente e o nosso futuro próximo.

Segundo a Wikipédia, o Zé Povinho é uma personagem de crítica social, criada por Rafael Bordalo Pinheiro, que apareceu pela primeira vez em “A Lanterna Mágica”, a 12 de Junho de 1875, num desenho alusivo aos impostos (onde se representava Fontes Pereira de Melo, vestido de Stº António com o "menino" D. Luís I ao colo, enquanto Serpa Pimentel, Ministro da Fazenda, sacava o dinheiro do Zé, que permanecia boquiaberto a coçar a cabeça, vestido com um fato rural gasto e roto).
Nos números seguintes da “Lanterna Mágica”, o Zé Povinho continuou a surgir de boca aberta e a não intervir, resignado perante a corrupção e a injustiça, ajoelhado pela carga dos impostos e ignorante das grandes questões. O próprio Rafael Bordalo Pinheiro diz que “o Zé Povinho olha para um lado e para o outro e... fica como sempre... na mesma".
Como refere João Medina, o Zé Povinho é uma figura cheia de contradições: "Se ele é paciente, crédulo, submisso, humilde, manso, apático, indiferente, abúlico, céptico, desconfiado, descrente e solitário, também não deixa por isso de nos aparecer (…) simultaneamente capaz de se mostrar incrédulo, revoltado, resmungão, insolente, furioso, sensível, compassivo, arisco, activo, solidário, convivente...".
Tem como característica principal o gesto do manguito como expressão de revolta e insolência, criticando de forma humorística os problemas sociais e políticos da sociedade portuguesa, e caricaturando o povo português na sua característica de eterna revolta perante o abandono e esquecimento da classe política, embora pouco ou nada fazendo para alterar a situação.
Para Miguel Sousa Tavares, na crónica de 19.9.2009 que publicou no semanário Expresso, “o Zé Povinho representa o pior de Portugal, pelos manguitos que faz aos poderosos, não por serem poderosos mas por os invejar… E que só o faz pelas costas. Porque, pela frente, come e cala, não arrisca nada de nada, etc.”
Associamo-nos a quem, na internet, vem recordar que foram muitos os Zés Povinhos que durante os anos de escuridão foram lutando por direitos sociais e pelo direito de livre expressão de que ele abusa.
Segundo o blogue “Zé Povinho”
“o Zé é um bom português, dos verdadeiros, sem casas na Lapa nem montes no Alentejo, só porque isso dá algum status e dá uma imagem de sucesso que todos deviam invejar, mesmo aqueles por quem o Miguel nutre um ódio doentio – todos os Zés Povinhos...”
JAF

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Um beijo de saudade para a Ana Maria Sobral



Transmitida pelos seus amigos e ex-colegas da Direcção-Geral da Aquicultura e Pescas, chegou esta manhã, brutal e inexorável, a notícia.
Tinha sido encontrada sem vida, na sua casa em Lisboa, a nossa amiga Ana Maria de Abreu Nunes Sobral, associada da Aldraba nº 106.
A Ana Sobral, aposentada recente da função pública, teve uma vida inteira de percurso profissional impecável, técnica superior admirada e respeitada por todos os seus colegas do Ministério da Agricultura.
Pouco depois da constituição da associação Aldraba, contactada por alguns dos seus colegas de trabalho fundadores, a Ana aderiu e inscreveu-se com todo o interesse neste projecto.
Participou em vários dos Encontros realizados, designadamente no Fundão, em Vila Franca de Xira e em Carnaxide, e em jantares-tertúlia.
Simples, cordial, amiga, é como todos registamos este tempo de convívio da Ana connosco.
Enquanto outras pessoas vêm com a auréola da comunicação fácil e das suas realizações, pessoas como a Ana destacam-se pela camaradagem e pela discrição, e pelo empenho que demonstram nas causas comuns.
Registamos aqui com muita tristeza a sua partida, e deixamos para ela um beijo de saudade, e a nossa gratidão pelo exemplo de dedicação à luta pelo património.
A assinalar a memória da Ana Sobral, reproduzimos uma fotografia do XIV Encontro da Aldraba, em Carnaxide, em que a Ana figura à esquerda do vice-presidente da Sociedade Filarmónica Fraternidade de Carnaxide, na singela recepção com que essa colectividade nos brindou.
José Alberto Franco
Presidente da Direcção da Aldraba

Os Cadernos Temáticos da Aldraba no Festival dos Chocalhos em Alpedrinha





Segundo a apresentação oficial, a transumância uniu desde sempre geografias e paisagens, costumes e gentes. Hoje, essa pluralidade, mais do que relembrar as sociedades passadas, assume um valor patrimonial de excelência. Património colectivo que o Festival dos Chocalhos em Alpedrinha (Fundão) pretende revivificar, com um alargado conjunto de iniciativas, cruzando a música pastoril, os produtos locais com as paisagens, a realidade com os sonhos.

A associação Aldraba, que tem acompanhado e participado em anteriores edições, vai estar no 8º Festival dos Chocalhos, apresentando os seus Cadernos Temáticos nº 1.

Aqui fica uma síntese do animado e rico programa do Festival, para o qual todos os nossos associados são desafiados:

18 de Setembro, 6ª feira
19h00 Abertura Oficial Ruas de Alpedrinha
Desfile dos Zabumbas de Alpedrinha, de Pifaradas de Álvaro, do Grupo de Gaitas de Foles "Transumância", do Grupo de Gaitas de Foles "Os Carriços", do Grupo "Tok'avacalhar", do Grupo de Bombos do Alcaide, do Grupo "Foles da Beira", e dos “Ovelha Negra”
20H00 Inauguração do Palácio do Picadeiro
21H00 Animação de rua pelos grupos participantes no desfile Ruas de Alpedrinha
Actuação da Tuna Académica Largo Padre Santiago
21H30 Foles da Beira Largo da Igreja
Grupo de Musica Popular da Casa do Povo Largo da Fontainha
F. Beira Capela do Leão
22H00 Concerto - Gnawa Al-Baraka Largo do Chafariz
Grupo de Música Tradicional de Marrocos
Grupo de Fados Largo do Salão Paroquial
Acordeonista "Sertório" Capela do Leão
Cottas Club Externato Santiago F. Beira Rua dos Valadares
22H30 Foles da Beira Largo da Fontainha
Grupo de Musica Popular da Escola Secundária do Fundão Largo da Igreja
23H30 Concerto – Dazkarieh Largo do Chafariz
Acordeonista "Sertório" Largo do Pelourinho
24H00 Grupo de Fados Rua dos Valadares

19 de Setembro, sábado
11H00 Arruada pelos chocalheiros de Vila Verde de Ficalho Ruas de Alpedrinha
15h00 Festa da Lã Alpedrinha
16H30 Lançamento do livro "Monte da Touca" de Francisco Belo Nogueira Capela do Leão
18H00 Animação de Rua Ruas de Alpedrinha
Desfile dos Zabumbas de Alpedrinha, do Rancho Folclórico da Casa do Concelho de Pampilhosa da Serra, de Pifaradas de Álvaro, do Grupo de Gaitas de Foles "Transumância", do Grupo de Bombos de São Sebastião do Barco, do Grupo de Gaitas de Foles "Os Carriços", do Grupo "Tok'avakalhar", do Grupo de Bombos do Alcaide, da Tuna Académica, da Fanfarra Sácabuxa, e dos “Ovelha Negra”
18H30 Lançamento do livro de poesia "Cadernos de Areia" de Luis Maçarico
Divulgação dos Cadernos Temáticos nº 1 da Aldraba Capela do Leão
21H00 Animação de rua pelos grupos participantes no desfile Ruas de Alpedrinha
Concerto – Danae Largo do Chafariz
Actuação do Rancho Folclórico da Casa do Concelho de Pampilhosa da Serra Largo da Igreja
Tuna Académica Largo do Externato
Acordeonista "Sertório" Largo do Salão Paroquial
21H30 Grupo de Fados do Fundão Largo da Fontainha
22H00 Grupo de Bombos de São Sebastião do Barco Largo da Igreja
22H30 Concerto ”Matriz” - Tereza Salgueiro com Lusitânia Ensemble Largo do Chafariz
Acordeonista "Sertório" Largo da Fontainha
23H30 Acordeonista "Sertório" Rua dos Valadares
24H00 Grupo de Fados do Fundão Largo do Salão Paroquial
00H30 Concerto – Olivetree Largo da Fontainha

20 de Setembro, domingo
08H00 Caminhada com rebanho Fundão (Praça do Município)
10H30 Arruada pelos Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho Ruas de Alpedrinha
15h00 Lançamento do livro " Histórias de um Tapete" Alpedrinha
16h00 Histórias de Chão – Hora do conto Alpedrinha
17H00 Desfile dos Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho, dos Zabumbas de Alpedrinha, do Grupo de Bombos da Junta de Freguesia do Fundão, do Grupo de Bombos de Vale de Prazeres, do Grupo de Bombos das Donas, do Grupo de Bombos do Souto da Casa, do Grupo de Bombos Toca a Bombar, do Grupo de Gaitas de Foles "Os Carriços", do Grupo de Chocalhos da Bouça, do Rancho da Alegria dos Enxames, e do Grupo "Foles da Beira" Ruas de Alpedrinha
18H00 Animação de rua pelos grupos participantes no desfile Ruas de Alpedrinha
21H00 Ruas de Alpedrinha Animação de rua pelos grupos participantes no desfile
Actuação do Rancho da Alegria dos Enxames Largo da Igreja
Actuação do Grupo "Foles da Beira" Largo da Fontainha
21H30 Actuação do Grupo "Foles da Beira" Largo do Salão Paroquial
22H00 Actuação do Rancho da Alegria dos Enxames Largo da Fontainha
Actuação do Grupo "Foles da Beira" Rua dos Valadares
Concerto Clássico Igreja Matriz

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Acerca das invocações de Nossa Senhora



Miguel Esteves Cardoso, cronista urbano cujo sarcasmo e cujo sentido de humor são (mesmo) impagáveis, escrevia a 16.8.2009 no “Público”:

“Começa o meio de Agosto e são as festas em toda a parte. De Senhoras nossas. Da Agonia, da Assunção, do Desespero, da Angústia, da Depressão, das Dores, de todos os castigos imagináveis que possam ajudar a disfarçar o prazer que dão. (…) Agosto é um mês de partilhas indesejadas, são as pessoas perto de mais. (…) É o bacanal das moscas, esquecidas até do açúcar, tal é a febre pela marmelada. (…) Ouço a filarmónica a deglutir a melodia, já de si escassa, do Malhão, Malhão, e, atrás da nuvem de moscas, ainda consigo vislumbrar o coreto onde tudo se vai passar. (…) E chego a esta chocante conclusão: afinal gosto!”

Com o seu snobismo bem disposto, MEC refere-se a certas realidades da cultura popular que devem merecer a nossa atenção.

Neste mesmo blogue, num post de 24.8.2009, a Maria Eugénia Gomes referiu-se à comemoração da Senhora do Ó, realizada no Sobral da Adiça (concelho de Moura), que, como diz justamente, é um culto espalhado um pouco por todo o país e em todos os locais está associado à gravidez e à boa hora de parto. No tempo em que a maior parte das crianças nasciam em casa, era costume que a sua primeira saída fosse visitar a Nossa Senhora do Ó, na intenção de que ela lhe garantisse protecção, saúde e sorte…

Em Portugal, o culto à Senhora do Ó ter-se-á iniciado em Torres Novas a partir de 1212, e é a padroeira de dezasseis freguesias portuguesas, Águas Santas (Porto), Aguim (Aveiro), Alcanadas (Leiria), Ançã, Barcouço, Cadima, Paião e Reveles (Coimbra), Carvoeira e Vilar (Lisboa), Covelo, Duas Igrejas, Gulpilhares e Vilar (Porto), Lordelo (Viana do Castelo), e Olaia (Santarém).

A configuração das imagens com que o nosso povo representa a Senhora do Ó dá à imagem uma incontornável forma rotunda de mulher grávida, daí o “Ó”…

Os teólogos católicos, pressurosos em menorizar estas concretizações, supostamente menos “dignas”, dão outras explicações para o “Ó”, ligadas a um ritual, as “antífonas”, sete orações em que a mãe de Jesus Cristo, na oração da tarde, contempla em cada dia um aspecto do Senhor que vem, nas suas prefigurações no Antigo Testamento, como um longo e profundo caminho para a chegada do profeta. As antífonas do Magníficat são um grito que começa sempre com um “Ó”, que será respondido pelo Senhor. Estas antífonas teriam dado origem à “devoção à Nossa Senhora do Ó, ou a Virgem da expectação, Maria grávida que prepara o nascimento do Verbo, seu filho”.

Em minha opinião, são secundárias estas especulações doutrinárias.

O que interessa, do ponto de vista cultural, são as atitudes com que o povo enfrenta as adversidades, os sofrimentos, e procura exorcizá-los com a evocação, e a representação gráfica ou plástica, de uma “Senhora” que chamaria a si todos esses elementos negativos, para os eliminar ou, pelo menos, para os suavizar…

Sabedoria secular para protestar – embora de forma impotente…– contra a opressão!

JAF


Em anexo, uma pequena lista, necessariamente incompleta, de invocações de Nossa Senhora, veneradas em alguns pontos do mundo de expressão portuguesa:

Nossa Senhora da Abundância; Nossa Senhora das Angústias; Nossa Senhora dos Anjos; Nossa Senhora Aparecida; Nossa Senhora da Apresentação; Nossa Senhora da Assunção; Nossa Senhora Auxiliadora; Nossa Senhora da Boa Morte; Nossa Senhora da Boa Viagem; Nossa Senhora do Bom Conselho; Nossa Senhora de Brotas; Nossa Senhora do Carmo; Nossa Senhora da Conceição; Nossa Senhora Desatadora dos Nós; Nossa Senhora Divina Pastora; Nossa Senhora das Dores; Nossa Senhora da Encarnação; Nossa Senhora de Fátima; Nossa Senhora de Guadalupe; Nossa Senhora da Guia; Imaculado Coração de Maria; Nossa Senhora das Lágrimas; Nossa Senhora da Lapa; Nossa Senhora da Luz; Nossa Senhora da Medalha Milagrosa; Nossa Senhora Medianeira; Nossa Senhora dos Navegantes; Nossa Senhora de Nazaré; Nossa Senhora das Necessidades; Nossa Senhora das Neves; Nossa Senhora do Ó; Nossa Senhora da Oliveira; Nossa Senhora da Pena; Nossa Senhora da Penha de França; Nossa Senhora do Perpétuo Socorro; Nossa Senhora da Piedade; Nossa Senhora do Pranto; Nossa Senhora da Purificação; Nossa Senhora Rainha; Nossa Senhora do Rosário; Nossa Senhora da Saúde; Nossa Senhora das Sete Dores; Nossa Senhora da Soledade; Nossa Senhora da Vitória.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Faz 70 anos que começou a 2ª Guerra Mundial


A direcção da Aldraba foi desafiada em Julho último por um dos seus associados mais jovens, o Pedro Martins, para encarar a abordagem de “um evento que sai um pouco fora do âmbito da Aldraba mas que podia ter interesse... No dia 1 de Setembro faz exactamente 70 anos que os alemães invadiram a Polónia, evento que deu início à Segunda Guerra Mundial.”

Ninguém tem dúvidas de que se trata de um assunto de muito interesse, e que teve impactos nos mais diversos planos. Também no domínio do património, se pensarmos que o maior património são as pessoas, e que a guerra de 1939/45 causou a maior devastação humana de todos os tempos, com dezenas de milhões de mortos e centenas de milhões de deslocados e vítimas em todo o mundo.

Como poderemos encarar esta ideia no âmbito da nossa Associação?

Recentemente, alguns elementos da direcção da Aldraba passaram por Aljezur em contacto com a direcção do Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur, com vista à possível realização ali de um encontro num futuro próximo. Durante a interessante e proveitosa reunião, veio à baila o tema da Batalha de Aljezur, livro agora editado sobre os confrontos entre aviões dos Aliados e do Eixo nos céus daquele concelho durante a 2ª Guerra Mundial. As memórias desse confronto são património histórico das gentes de Aljezur, seja através dos vestígios materiais encontrados, seja ao nível das exéquias então associadas ao acontecimento e de cerimónias que posteriormente vieram a ter lugar.

Propusemos ao Pedro Martins, desde sempre curioso e interessado nos assuntos relacionados com a 2ª Guerra Mundial, que preparasse uma intervenção para apresentar no encontro que viermos a realizar em Aljezur, e em que ele partilhasse com todos o muito saber que foi acumulando, e explorasse, tanto quanto possível, os traços de maior relevo para as mudanças culturais que vieram a ocorrer como consequência de tão grande e abrangente acontecimento.

Ao passar hoje o dia 1 de Setembro, lembramos a efeméride, referimos o assunto na vertente da defesa das memórias que à Aldraba interessa, e recomendamos a consulta ao blogue http://seventyyearsago.blogspot.com/, em que o Pedro nos dá uma ideia do dia a dia que antecedeu o início da Guerra, desde a eleição de Hitler, até ao eclodir do conflito.
MEG

sábado, 29 de agosto de 2009

Abaixo "Os peitos da cabritinha"!



Quem neste mês de Agosto viajou pelo interior do país, quem não se ficou pela faixa urbana e "culta" do litoral, de Viana até ao Porto, Aveiro, Lisboa, Setúbal e Faro, quem não se circunscreveu aos meios estivais da foz do Douro, da Figueira da Foz, da costa do Estoril, de Porto Covo ou do Algarve, encontrou seguramente um Portugal "diferente"...

Diferente, porque condensa e cristaliza um país que nós "fomos", que viajou para a Europa e para outras paragens na segunda metade do séc. XX, que "voltou" (volta nas férias e, nem sempre, na reforma) mais tarde às suas origens.

É um país "diferente", designadamente, porque configura um conjunto de referências, de gostos, de práticas, que os "urbanos" julgam, ou gostariam de ver, ultrapassadas. São o Portugal a esquecer...

Joaquim de Magalhães Fernandes Barreiros, nascido em 1947 em Vila Praia de Âncora, conhecido como Quim Barreiros, é um cantor e acordeonista de grande sucesso que actuou em quase todos os países onde existem comunidades de portugueses (Canadá, EUA, Venezuela, Brasil, África do Sul, França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, Suíça, Bélgica, Austrália e outros, segundo a "Wikipédia").

Entre 1975 e 2009, editou 33 discos, com recordes de vendas junto das comunidades portuguesas emigradas. Recordem-se apenas alguns títulos dos seus discos de maior êxito: O Malhão Não É Reaccionário, Chupa Teresa, Deixa Botar Só a Cabeça, Minha Vaca Louca, A Garagem da Vizinha, Comer,Comer, Na Tua Casa Tá Entrando Outro Macho, A Cabritinha, O Ténis, A Padaria, O Peixe.

Ainda segundo a "Wikipédia", Quim Barreiros é "conhecido pelas suas letras de duplo sentido (música pimba)". Outros, designam de "brejeiro" o vocabulário dos temas das canções, e há quem considere tais peças de "ordinárias" ou "imorais".

Há uns anos atrás, um jovem de Peniche contava-nos a indignação dos paroquianos de certa localidade da zona cujo prior quis proibir as gravações de Quim Barreiros nas viagens de confraternização promovidas pela igreja.

No corrente verão de 2009, ouvimos insistentemente estes temas nas instalações sonoras das festas (católicas...) do interior de Portugal. E, para culminar, acabamos de ouvir num dos quatro canais da televisão de maior audiência que "Os peitos da cabritinha" foi galardoado com o reconhecimento das preferências populares...

Para quem (ainda!) não conheça, aqui vai o "poema" da canção premiada:

Quando eu nasci a minha mãe não tinha leite // Fui criado por um bezerro rejeitado // Mamei em vacas em tudo que tinha peito // E cresci assim deste jeito // Fiquei mal habituado // Hoje sou homem e arranjei uma cabritinha // E passo o dia a mamar // Nos peitinhos da Fofinha //Eu gosto de mamar // Nos peitos da Cabritinha // Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha. //Eu gosto de mamar // Ai, nos peitos da cabritinha // Eu gosto de mamar // Só nos peitos da cabritinha // Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha // A cabritinha gosta de boa comida, boa cama e boa vida // Adora luxo e bem-estar // Ela adivinha a hora que chego em casa // E vai logo preparar // Os peitinhos para eu mamar // Eu gosto de mamar //Nos peitos da cabritinha //Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha // etc.

Desenganem-se os que julgam que o sucesso deste autor e intérprete se "limita" ao interior do país e aos emigrantes que não acederam à "modernidade". Não há festa académica que não o tente incluir: Coimbra, Porto, Évora, Lisboa, Braga, Aveiro, Vila Real, Faro, etc...

A Aldraba, ao apostar no espaço e no património popular, assumiu o risco de ter de tratar com "os elementos que impeçam as sociedades de evoluir, que legitimem o fatalismo, que levem as pessoas a aceitar a tirania" (Boletim nº 5, "A tradição e o progresso").

Temas e músicas como as de Quim Barreiros, por muito apoio de que beneficiem em meios indiscutivelmente populares, são dos que contribuem para tornar aceitável o obscurantismo, a dominação da mulher pelo homem, a subordinação das relações afectivas ao comércio e ao lucro.

Estamos contra, estaremos contra!

Abaixo "os peitos da cabritinha"! Vivam as manifestações de cultura popular contra o sofrimento, pela criatividade, pelo lazer, por uma sociedade de pessoas livres.

JAF

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um exemplo a seguir na valorização dos "pequenos" patrimónios




Durante as festas em honra de Nossa Senhora do Ó, que já referimos no texto anterior, tivemos a oportunidade de visitar uma exposição que, para além das memórias que em todos despertou, teve o mérito de chamar a atenção para os objectos que vamos arrecadando pelo valor estimativo que lhes atribuímos, uma vez que pertenceram a gerações passadas da nossa família.

Abertos os baús, deles saíram um sem número de relíquias que valeu a pena ver e admirar, não sem uma ponta de emoção.

Desde os talegos de retalhos feitos com sobras de tecidos e muita paciência, até às rendas e bordados com que as moças casadoiras iam acrescentando os enxovais, dos trajes de casamento dos avós guardados com carinho e alguma vaidade até aos instrumentos de música que em tempos idos animaram tertúlias e fadistices, tudo nos remeteu para outros tempos e outras formas de viver na aldeia.

Está de parabéns o grupo que meteu ombros a esta iniciativa e que assim deu um exemplo a seguir na valorização de um património tão caro à nossa Associação.

MEG (texto e fotos)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Nossa Senhora do Ó - Sobral da Adiça






No Sobral da Adiça, freguesia raiana do concelho de Moura, celebram-se no 3º fim-de-semana de Agosto as festas em honra de Nossa Senhora do Ó.

O culto à Senhora do Ó está espalhado um pouco por todo o país e em todos os locais está associado à gravidez e à boa hora de parto.

Também aqui isso se verificava de tal forma que, ao longo de todo o séc. XX em que a maior parte das crianças nasciam em casa, era costume que a sua primeira saída fosse visitar a Nossa Senhora do Ó, na intenção de que ela lhe garantisse protecção, saúde e sorte.

Com o mesmo fim, são igualmente oferecidos à Santa inúmeros presentes, de que sobressaem as jóias em ouro e os trajos, vestidos e mantos, quase todos bordados a fio de ouro.

Por ocasião das festas que agora passaram, esteve aberta ao público uma mostra dos trajos mais significativos e antigos, na sequência de uma outra que, durante as festas do ano passado, mostrou todo o espólio existente na paróquia.
MEG (texto e fotos)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cortelha - a magia da Serra do Caldeirão




Nas noites de 1 e 2 de Agosto, a Aldraba respondeu ao desafio dos companheiros da Associação de Amigos da Cortelha.

Estivémos com eles, repartimos os deliciosos manjares de borrego, javali, grão e milho, vibrámos com o desempenho e a autenticidade cultural dos grupos folclóricos convidados (Tomar, Vendas Novas, Coimbra, Gouveia, Loulé), entoámos em coro canções populares do Algarve (Cachopo) e do Alentejo (Moura).

Uma lição de energia, de juventude, de amor à terra, de rigor artístico, de empenho cívico na partilha.

Com os companheiros da Cortelha, centenas de visitantes que participaram no evento e que levam de volta este testemunho de cultura e de cidadania.

A Aldraba felicita calorosamente o Márcio, o Deodato, o Adérito e os demais activistas da Cortelha, pelo trabalho desenvolvido e pelos resultados alcançados.

MEG