domingo, 31 de julho de 2022

"Aldrabas e Batentes" em Vilarelhos-Bragança no fim de semana 29/31.7.2022








PAN 2022 - Festival e Encontro Transfronteiriço de Poesia, Património e Arte de Vanguarda em Meio Rural

A edição de Vilarelhos a decorrer em 29, 30 e 31 de Julho de 2022

Ali apresentámos a nossa nova exposição “Aldrabas e Batentes”, que tinha sido estreada duas semanas antes em Morille, na edição espanhola do PAN 2022.

Os nossos associados João Coelho e Luís Maçarico apresentaram no festival os seus mais recentes trabalhos etnográficos e poéticos.

A também nossa associada Laurinda Figueiras trouxe de Viana do Castelo as suas preciosidades de "Vestuário Tradicional".

MEG

 

terça-feira, 26 de julho de 2022

"Aldrabas e batentes" em Morille-Salamanca no fim de semana 15/17.7.2022
























Exposição da Aldraba, Associação do Espaço e Património Popular, no XIX PAN de Morille, exibida no Salón de Plenos do Município da Deputación de Salamanca, com design de Marta Barata, que chama a atenção para utensílios, usados pelos nossos antepassados para chamar os habitantes de uma casa, a partir da porta, que podem e devem ser salvaguardados, face à simbologia e às estórias que envolvem, no imaginário popular.

As imagens evidenciam a beleza e diversidade desses objectos, ilustrando a efabulação que contêm.

LFM

 

segunda-feira, 25 de julho de 2022

O rio Tejo na Lisboa da primeira metade dos anos 1700's


Uma colorida descrição de como era a vida na capital em torno do rio Tejo:

O rio era a estrada do comércio; de informações, mais velozes e secretas que as do correio da posta; estrada de contrabando, de clandestinidade e de fuga. O rio era a riqueza, a festa, as fezes, lançadas nas praias de Alfama, da Ribeira, da Boavista e também a montante do Cais de Santarém ou mais tarde nas pontes de estacas do Cais do Tojo e de São Paulo.

Barcos ribeirinhos de transporte de pessoas e de mercadorias, barcos de pescadores, barcas, caravelões, muletas marcavam a superfície das águas. Chusmas de batelões atracavam aos veleiros das frotas mercantis e de guerra, às esquadras do Rio de Janeiro, da Baía e de Pernambuco; às naus da Rota do Cabo; às frotas de Inglaterra, França, Holanda e de outros países.

Da outra banda vinha a lenha, o carvão, os porcos, o gado, o pão do Alentejo, o vidro da fábrica de Coina, a telha e a loiça. À cova do Alfeite reservavam o destino de sorver as lamas e dejetos transportados de Lisboa em barcas. No Lazareto, â Trafaria, ficavam de quarentena as mercadorias dos barcos suspeitos de peste.

Na margem direita fervia a Ribeira. Em sentido lato, vinha do Cais do Carvão e incluía o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus; em sentido restrito, designava a frontaria do rio desde a porta da igreja da Misericórdia até ao Cais do Carvão. Nesse espaço se operava a descarga das mercadorias e fervia o mercado abastecedor da capital.

A oriente, a estrada da praia corria até Santos o Novo com diferentes cais, o da Alfândega do Tabaco, o de Alhandra, o de Santarém, o do Campo da Lã. Para ocidente, abria-se o Terreiro do Paço, a Ribeira das Naus, a Boavista (...)  

Na Ribeira ficavam o Terreiro do Trigo, as Alfândegas: a do Açúcar, a do Tabaco e a das Sete Casas. Nos espaços circundantes funcionava o grande mercado abastecedor. Vendia-se de tudo: peixe, caça, galináceos, hortaliças, milho, chicharros cozidos, vinho, aguardente, carne.

António Borges Coelho, 2017, Da Restauração ao ouro do Brasil, Lisboa, Caminho, pp.286-287 

sábado, 23 de julho de 2022

Até sempre, Manuela Barros Ferreira!












É com o maior pesar que assinalamos a partida, hoje de manhã, da Manuela Barros Ferreira, após dois meses de graves perturbações neurológicas.

Manuela Barros Ferreira, mulher do Norte radicada há muitos anos em Mértola, profissional distinta da língua portuguesa, foi companheira de toda a vida do arqueólogo Cláudio Torres, com quem protagonizou nos anos 1960's uma bem sucedida fuga por mar até Marrocos, onde viria a nascer a sua primeira filha, Nádia. Seguiram-se anos de exílio na Roménia, até poderem regressar a Portugal com o 25 de abril.

A Manuela era amiga da nossa Associação, que sempre nos recebia com muita simpatia quando a encontrávamos em Mértola, e tendo sido oradora no XVIII Encontro que realizámos em Castro Verde em 2 e 3 de abril de 2011.

Em junho de 2020, publicámos aqui um inspirado texto da Manuela, de que gostaríamos de recordar um excerto:

Grandioso e formigueiro é o povo das palavras.

Há palavras vítimas ou triunfantes ou heroínas. As vítimas ficam agarradas a tempos arrepiantes, multiplicando vítimas entre os seres vivos. “Apocalipse”, “Holocausto”, “Hiroshima”, “Miséria”. As triunfantes agarram-se com desespero ao momento que passa, famintas de eco. “Ganhar”. “Vencer”. “Conquistar”. “Ambição”. As heroínas são as que arrancam alguém à atrocidade do sofrimento. Ninguém diria, ao ouvi-las, que são heroínas. “Bisturi!” - e o moribundo revive. “Bombeiros” – e o perigo é debelado. “Coragem!” – e alguém consegue aguentar mais um pouco, “Segure-se!” – e a velhinha que não conseguia descer as escadas é levada pelo braço de um príncipe sonhado, como num feitiço de beladona.

Importantes, as palavras assassinas: “Fome”, “Sede”, “Morte”, “Dor”, “Ódio”, “Incompetente!” ,“Está despedido!”, “Corrupto!”, “Pedófilo!”, “Austeridade”, “Doença”... além de ditador, carrasco, tortura, todas com letra pequena por desalmadas que são.

Para as palavras assassinas e malfeitoras não existem prisões. Elas esvoaçam como as outras, mas por onde passam deixam um rasto de infelicidade. Enquanto as palavras boas... as que aparecem em todos os manuais da civilidade, essas fazem o mundo rodar melhor. “Amor”, “Paz”, “Felicidade”, “Saúde”...“Um copo”.

Em dezembro último, também publicámos aqui um comovente "Conto de Natal" da Manuela Barros Ferreira.

Ao Cláudio, às filhas e aos amigos mais próximos, fica aqui um forte e emocionado abraço de solidariedade da associação Aldraba.

JAF

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Ao encontro do urbanismo de Lisboa (3)


 










As mais de 60 pessoas presentes em 25.6.2022 nesta atividade em memória de Nuno Teotónio Pereira, puderam comprovar, ao vivo e a cores, a velha máxima de que o tempo passa a correr, pois, à partida, ninguém imaginaria que os 650 metros de rua que ligam o nº 2 da Rua D. João V ao Bloco construído na Praça das Águas Livres, tivessem assim tanto para dizer, por detrás da sua arquitetura aparentemente apenas cinzentona.

Foi a custo, para não dizer in extremis, que chegámos a tempo ao Bloco, sob pena de ficarmos sem admirar as vistas de Lisboa que se usufruem desde a sua sala de condomínio, final obrigatório para esta visita. De 20 em 20 metros, rua acima, havia uma paragem obrigatória, uma chamada de atenção do nosso sábio guia, para o que estava num e noutro passeio, um detalhe a evidenciar, uma história ou uma memória engraçada para contar.

Curiosamente, o Aqueduto e o Joanino estiveram sempre presentes, direta ou indiretamente.

O arranque do passeio deu-se ao fresco da sombra da estrutura do aqueduto, o prédio de Raul Tojal que iniciou o percurso evoca o estilo d’O Magnânimo, subimos pela “sua” rua e terminámos num edifício indissociável da mais famosa obra de engenharia do seu reinado.

Nesta autêntica aula prática proporcionada pelo arquiteto José Manuel Fernandes, todos pudemos assimilar as contradições arquitetónicas, espaciais, construtivas e decorativas, evidentes, umas, escondidas, outras, entre o edificado do Estado Novo, omnipresente no percurso, e o Moderno daquele que é, justamente, Monumento de Interesse Público.

Mesmo assim, houve ainda tempo para que os presentes (com fôlego), subissem e descessem a pé a magnífica escada-miradouro a tardoz, calcorreando de ponta a ponta as galerias ininterruptas de cada patamar do Bloco.

Um grande obrigado ao nosso cicerone, que diz sempre “presente” a tantas das nossas causas e que nunca se cansou de nos entusiasmar e educar a vista durante este passeio, sobre este ou aquele material, este ou aquele ofício, esta ou aquela linha.  

Paulo Ferrero