sábado, 29 de agosto de 2009

Abaixo "Os peitos da cabritinha"!



Quem neste mês de Agosto viajou pelo interior do país, quem não se ficou pela faixa urbana e "culta" do litoral, de Viana até ao Porto, Aveiro, Lisboa, Setúbal e Faro, quem não se circunscreveu aos meios estivais da foz do Douro, da Figueira da Foz, da costa do Estoril, de Porto Covo ou do Algarve, encontrou seguramente um Portugal "diferente"...

Diferente, porque condensa e cristaliza um país que nós "fomos", que viajou para a Europa e para outras paragens na segunda metade do séc. XX, que "voltou" (volta nas férias e, nem sempre, na reforma) mais tarde às suas origens.

É um país "diferente", designadamente, porque configura um conjunto de referências, de gostos, de práticas, que os "urbanos" julgam, ou gostariam de ver, ultrapassadas. São o Portugal a esquecer...

Joaquim de Magalhães Fernandes Barreiros, nascido em 1947 em Vila Praia de Âncora, conhecido como Quim Barreiros, é um cantor e acordeonista de grande sucesso que actuou em quase todos os países onde existem comunidades de portugueses (Canadá, EUA, Venezuela, Brasil, África do Sul, França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, Suíça, Bélgica, Austrália e outros, segundo a "Wikipédia").

Entre 1975 e 2009, editou 33 discos, com recordes de vendas junto das comunidades portuguesas emigradas. Recordem-se apenas alguns títulos dos seus discos de maior êxito: O Malhão Não É Reaccionário, Chupa Teresa, Deixa Botar Só a Cabeça, Minha Vaca Louca, A Garagem da Vizinha, Comer,Comer, Na Tua Casa Tá Entrando Outro Macho, A Cabritinha, O Ténis, A Padaria, O Peixe.

Ainda segundo a "Wikipédia", Quim Barreiros é "conhecido pelas suas letras de duplo sentido (música pimba)". Outros, designam de "brejeiro" o vocabulário dos temas das canções, e há quem considere tais peças de "ordinárias" ou "imorais".

Há uns anos atrás, um jovem de Peniche contava-nos a indignação dos paroquianos de certa localidade da zona cujo prior quis proibir as gravações de Quim Barreiros nas viagens de confraternização promovidas pela igreja.

No corrente verão de 2009, ouvimos insistentemente estes temas nas instalações sonoras das festas (católicas...) do interior de Portugal. E, para culminar, acabamos de ouvir num dos quatro canais da televisão de maior audiência que "Os peitos da cabritinha" foi galardoado com o reconhecimento das preferências populares...

Para quem (ainda!) não conheça, aqui vai o "poema" da canção premiada:

Quando eu nasci a minha mãe não tinha leite // Fui criado por um bezerro rejeitado // Mamei em vacas em tudo que tinha peito // E cresci assim deste jeito // Fiquei mal habituado // Hoje sou homem e arranjei uma cabritinha // E passo o dia a mamar // Nos peitinhos da Fofinha //Eu gosto de mamar // Nos peitos da Cabritinha // Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha. //Eu gosto de mamar // Ai, nos peitos da cabritinha // Eu gosto de mamar // Só nos peitos da cabritinha // Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha // A cabritinha gosta de boa comida, boa cama e boa vida // Adora luxo e bem-estar // Ela adivinha a hora que chego em casa // E vai logo preparar // Os peitinhos para eu mamar // Eu gosto de mamar //Nos peitos da cabritinha //Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha // etc.

Desenganem-se os que julgam que o sucesso deste autor e intérprete se "limita" ao interior do país e aos emigrantes que não acederam à "modernidade". Não há festa académica que não o tente incluir: Coimbra, Porto, Évora, Lisboa, Braga, Aveiro, Vila Real, Faro, etc...

A Aldraba, ao apostar no espaço e no património popular, assumiu o risco de ter de tratar com "os elementos que impeçam as sociedades de evoluir, que legitimem o fatalismo, que levem as pessoas a aceitar a tirania" (Boletim nº 5, "A tradição e o progresso").

Temas e músicas como as de Quim Barreiros, por muito apoio de que beneficiem em meios indiscutivelmente populares, são dos que contribuem para tornar aceitável o obscurantismo, a dominação da mulher pelo homem, a subordinação das relações afectivas ao comércio e ao lucro.

Estamos contra, estaremos contra!

Abaixo "os peitos da cabritinha"! Vivam as manifestações de cultura popular contra o sofrimento, pela criatividade, pelo lazer, por uma sociedade de pessoas livres.

JAF

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um exemplo a seguir na valorização dos "pequenos" patrimónios




Durante as festas em honra de Nossa Senhora do Ó, que já referimos no texto anterior, tivemos a oportunidade de visitar uma exposição que, para além das memórias que em todos despertou, teve o mérito de chamar a atenção para os objectos que vamos arrecadando pelo valor estimativo que lhes atribuímos, uma vez que pertenceram a gerações passadas da nossa família.

Abertos os baús, deles saíram um sem número de relíquias que valeu a pena ver e admirar, não sem uma ponta de emoção.

Desde os talegos de retalhos feitos com sobras de tecidos e muita paciência, até às rendas e bordados com que as moças casadoiras iam acrescentando os enxovais, dos trajes de casamento dos avós guardados com carinho e alguma vaidade até aos instrumentos de música que em tempos idos animaram tertúlias e fadistices, tudo nos remeteu para outros tempos e outras formas de viver na aldeia.

Está de parabéns o grupo que meteu ombros a esta iniciativa e que assim deu um exemplo a seguir na valorização de um património tão caro à nossa Associação.

MEG (texto e fotos)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Nossa Senhora do Ó - Sobral da Adiça






No Sobral da Adiça, freguesia raiana do concelho de Moura, celebram-se no 3º fim-de-semana de Agosto as festas em honra de Nossa Senhora do Ó.

O culto à Senhora do Ó está espalhado um pouco por todo o país e em todos os locais está associado à gravidez e à boa hora de parto.

Também aqui isso se verificava de tal forma que, ao longo de todo o séc. XX em que a maior parte das crianças nasciam em casa, era costume que a sua primeira saída fosse visitar a Nossa Senhora do Ó, na intenção de que ela lhe garantisse protecção, saúde e sorte.

Com o mesmo fim, são igualmente oferecidos à Santa inúmeros presentes, de que sobressaem as jóias em ouro e os trajos, vestidos e mantos, quase todos bordados a fio de ouro.

Por ocasião das festas que agora passaram, esteve aberta ao público uma mostra dos trajos mais significativos e antigos, na sequência de uma outra que, durante as festas do ano passado, mostrou todo o espólio existente na paróquia.
MEG (texto e fotos)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cortelha - a magia da Serra do Caldeirão




Nas noites de 1 e 2 de Agosto, a Aldraba respondeu ao desafio dos companheiros da Associação de Amigos da Cortelha.

Estivémos com eles, repartimos os deliciosos manjares de borrego, javali, grão e milho, vibrámos com o desempenho e a autenticidade cultural dos grupos folclóricos convidados (Tomar, Vendas Novas, Coimbra, Gouveia, Loulé), entoámos em coro canções populares do Algarve (Cachopo) e do Alentejo (Moura).

Uma lição de energia, de juventude, de amor à terra, de rigor artístico, de empenho cívico na partilha.

Com os companheiros da Cortelha, centenas de visitantes que participaram no evento e que levam de volta este testemunho de cultura e de cidadania.

A Aldraba felicita calorosamente o Márcio, o Deodato, o Adérito e os demais activistas da Cortelha, pelo trabalho desenvolvido e pelos resultados alcançados.

MEG