No passado fim de semana de 28/29 de Outubro, a ALDRABA - Associação do
Espaço e Património Popular realizou um novo encontro, desta vez no concelho de
Idanha-a-Nova, em parceria com a associação local Raia Gerações, que patrocinou
o evento, pondo à disposição das três dezenas de participantes (aos quais se
juntaram elementos da associação que nos desafiara a fazer a viagem até àquelas
terras da raia) um autocarro, que levou os visitantes, durante sábado e domingo,
a diversos locais daquele município do distrito de Castelo Branco.
Foi igualmente ofertado a cada participante um adufe miniatura,
confecionado pelo artesão Relvas, que saudamos efusivamente. Trata-se de uma
pequena grande delícia, que envolveu os nossos corações, com a magia da arte
maior daquele artista.
O momento inicial do Encontro ocorreu no Centro Cultural Raiano, o primeiro
espaço museológico rural do país, que recorda - através de utensilagem,
maquinaria e fotografia - a agricultura nos campos de Idanha.
O antropólogo Eddy Nelson Chambino, um dos anfitriões deste evento [com
Carlos Branco e vários associados da Raia Gerações, designadamente Rogério
Bentes, Tom Hamilton, João Abrantes e Hélder Pintado], explicou o contexto da
criação da exposição permanente, resultante de uma pesquisa, coordenada pelo
Professor Joaquim Pais de Brito, também ele antropólogo, coadjuvado por
Benjamim Pereira, ambos participantes no desenvolvimento do Museu de Etnologia.
No final da visita ao Centro Cultural Raiano, o presidente da Câmara
Municipal de Idanha-a-Nova deu também as boas vindas aos viajantes, que
trouxeram muita vontade de participar e desfrutar da riqueza material e
imaterial que esta terra de fronteira oferece a quem vem de longe...
O almoço, excelente, decorreu num restaurante da parte antiga de
Idanha-a-Nova, seguindo-se uma visita ao Castelo, para contemplar a paisagem raiana.
De seguida, percorremos o recinto (com coreto e loja santeira) e a ermida da
Senhora do Almortão, sendo informados pelo antropólogo Eddy Chambino dos
rituais simbólicos que ocorrem durante os festejos anuais, com adufes e vozes,
ininterruptas, que perpetuam o toque mágico desta romaria, reproduzindo o
encanto de antanho, que estas tradições guardam, perante romeiros de diversas
terras circundantes e de várias localidades do país vizinho.
Imaginam-se cantares e, perante os ex-votos, os guardiões intentam (verbo
tão raiano) confirmar a eficácia do culto, operando curas milagrosas, que as
crenças evidenciam, através de quadros antiquíssimos, imagens de devoção e
testemunhos, expostos para que não se esqueça a lenda.
Sempre presente, acompanhado por vários associados raianos, o amigo Carlos
Branco, presidente da Associação Raia Gerações, completou a visita com
informações acerca deste fenómeno religioso e social.
Idanha-a-Velha, que se seguiu, é uma aldeia com um riquíssimo espólio
material, habitado por sabedorias ancestrais, como aquele senhor que nos
informou como se celebra a “serração da velha”.
Visitámos desta feita - e sempre apoiados pelo autocarro que a Raia
Gerações nos proporcionou, e informados por Eddy Chambino - a torre de menagem,
após uma caminhada pelas ruas, surpreendidos pelas construções em granito, que
por vezes remetem para passados marcantes.
Mulheres idosas e gataria povoam recantos com flores, enquanto o sol se
derrete nos rostos.
Memorável e encantatória, esta incursão num espaço, que pertenceu à família
Marrocos, detentora de terras de perder a vista e também possuidora de um
casarão monumental (que o actual governo vai restaurar com fins culturais),
rés-vés com a catedral de influência romano-árabe.
Entardecemos a escutar estórias da História, admirando a torre de menagem,
erigida sobre um templo romano...
Muito agradável foi a animação musical, a cargo de Solange (voz) e Tom
(músico inglês radicado há anos nestas terras), presente inesquecível com que a
associação Raia Gerações brindou os viajantes após o jantar. Bem haja, Carlos
Branco, pela boa surpresa que dinamizou uma noite em Relva (Monsanto).
Após um sono reparador, no alojamento rural "Quinta da Pedra
Grande", houve uma breve visita a Monsanto, em torno da questão da
designação "Aldeia Mais Portuguesa", com Eddy Chambino a lembrar que
a "Nave de Pedra", como lhe chamou Fernando Namora, o médico escritor
que ali residiu e teve consultório, foi para os seus habitantes motivo de
orgulho desusado, pois num concurso do SNI ganharam um galo de prata distintivo.
Eddy falou em aldeia-espelho, face a uma identidade exacerbada, com o café mais
português e a mercearia mais portuguesa...
A manhã de domingo repartiu-se por dois templos de Salvaterra do Extremo e
num miradouro, de onde se avista o castelo de Penafiel (Espanha), guiados por
um ex-autarca, o senhor António Bernardo, que ofertou a todos o livro "A
Festa de Nossa Senhora da Consolação", da autoria do Professor Bonifácio
Bernardo.
Os viajantes prosseguiram, almoçando em Zarza la Mayor, e o Encontro
terminou, escutando-se narrativas ligadas ao Contrabando, a cargo do autor de
"Contrabando em Santana de Cambas", com um resumo do estudo e leitura
de duas passagens da obra, intervindo ainda o antigo presidente da Junta de
Salvaterra do Extremo e o descendente espanhol de um português contrabandista,
além de breves intervenções de participantes, como Manuel Vaz e Rosa Ginja, que
relataram experiências familiares.
Bem hajam todos os que quiseram fazer esta viagem e aos anfitriões
esplêndidos, que prepararam o Encontro no terreno, idealizando itinerários e
contactos, que se revelaram de grande envolvência humana, patrimonial e
histórica.
Imenso abraço de gratidão a Eddy
Chambino, Carlos Branco, António Bernardo e à Associação RAIA GERAÇÕES!
LFM (texto e fotos)