sábado, 29 de outubro de 2005

Feira das Mercês









De secular tradição, sempre me lembro de lá ir em pequena, já com tempo de chuva, desconforto amplamente compensado pelas castanhas assadas, a volta no carrocel e as quinquilharias de barro para brincar "às casinhas".
Muitos anos depois visito-a de novo, imaginando as grandes mudanças que uma outra forma de viver, entretanto adoptada, teriam igualmente chegado aqui.
De facto, muito néon, muito inox, muito plástico, alteraram uma fisionomia pacata, sem grandes pretensões, de uma feira tipicamente saloia, onde se vendia um pouco de tudo o que era necessário ao pequeno mundo rural das terras ao redor: desde as enxadas, sachos, sacholas, batata para a semeadura, cebolinho, alface e couve para dispor nas hortas, de tudo se podia encontrar. Desde a roupa de trabalho, botas cardadas ou grosseiras socas, até à farpela endomingada de ir à missa e namoriscar as moçoilas no adro da igreja.
No entanto, dia de semana não é dia que renda a um feirante. Muitas são as bancas vazias, espaço guardado para o próximo fim de semana, que o negócio está difícil e se não se vende aqui pode ser que se venda acolá. Animar-se-ão à noite os tascos, perdão, os restaurantes, que a "carne de porco à moda das Mercês" não é petisco de enjeitar, mesmo em tempo de vacas magras ou gripe das aves.
E entre os barros e cobre reluzentes, cor do Outono que vai avançando, há quem aproveite para lavar a roupa da semana ou passar o tempo diante da telenovela favorita, um olho no televisor e outro no potencial freguês.
Não falta a confortável moda dos edredons, essa lá está também, cores berrantes a atrair o olhar, preços convidativos para bolsa de fim de mês.
De qualquer modo, uma água-(de)pé recém saída do pipo, ajuda a esquecer tristezas e a descer a velha Estrada do Muro do Derrete com um ânimo mais arribado e passo mais incerto...
E para o ano, como será?

De “VEMOS, OUVIMOS E LEMOS”
publicado por Guida Alves às 12:39 AM 2 opiniões

COMENTÁRIOS
Anónimo disse...
Em 2008, não há Feira das Mercês, acabou.
Seg Out 06, 02:22:00 AM
Anónimo disse...
Feira das Mercês realiza-se com segurança "musculada" Feira realiza-se de 25 de Outubro a 2 de Novembro, contra todas as indicações anteriores dadas pela Câmara de Sintra. Executivo impõe condições de segurança "musculadas" no recinto, arredores e Linha de Sintra e vai realizar inspecções individuais aos estabelecimentos durante a feira. "É importante respeitar as tradições", mas "vamos ser exigentes, no início e ao longo da feira", garante o vereador da Câmara de Sintra João Lacerda Tavares, responsável pela Divisão de Licenciamentos. (Sábado, 18 de Outubro de 2008)
Qua Out 22, 10:35:00 PM

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Exposição da Aldraba no Museu República Resistência-Espaço Grandella



A Aldraba-Associação do Espaço e Património Popular inaugurou no início desta noite, pelas 19 horas, no Museu República e Resistência/Espaço Grandella, a segunda exposição desta Associação. Jorge Rua de Carvalho, lisboeta, homem do fado operário, marceneiro reformado, poeta, associativista, actor amador, é o homenageado - através dos seus bonecos (mais de 200) que recordam as brincadeiras de infância dos anos 20/30 e os pregões da cidade.
De segunda a sexta pode ver a mostra e levar lá os seus filhos e netos. Horário: 10-18horas. Até dia 4 de Novembro.
O Espaço Grandella fica na Estrada de Benfica, nº 419.
(fotografia de LFM)

De “ÁGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 21:57 5 comentários

COMENTÁRIOS
Guida Alves disse...
Eu já lá fui...;)
14 Outubro, 2005 23:32
Sonia F. disse...
E eu também. :)
14 Outubro, 2005 23:42
augustoM disse...
Luís parece que é enguiço, só recebi o convite para a inauguração da exposição dia 14, o correio tinha data de 13. Como só vi a caixa do correio à noite, lá se foi mais uma oportunidade. A exposição tem um horário impossível para mim, se houvesse ao sábado estava lá caído, mas assim não vai dar. O meu horário de saída do trabalho é às 18.30.O nosso jantar, podes crer, foi muitíssimo bom, com pessoas muito interessantes.Um abraço. Augusto
17 Outubro, 2005 13:32
stillforty disse...
Hei-de ir ver, ou eu não me chame Teresa...Hoje estava "danada" e escrevi um "ataque ao homem" na Outra Face. Se calhar, amanhã arrependo-me!Foi a correr, se calhar nem está bem escrito, mas a raiva está lá.Beijão amigo
19 Outubro, 2005 23:57
Miguel Carola disse...
dá vontade de visitar parece ser muito interessante
23 Outubro, 2005 10:16

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Objectos de todos os dias que passam despercebidos


A "Aldraba" esteve presente no III Festival do Chícharo através da exposição das aldrabas, batentes e cataventos. O espaço muito digno, próximo do mercado, foi visitado por dezenas de forasteiros e locais, nomeadamente pelos autarcas de Alvaiázere. Na foto, José Alberto Franco, presidente da mesa da assembleia da associação, acompanha os responsáveis políticos locais, durante a inauguração da mostra.(fotografia de LFM)

De “ÁGUAS DO SUL"
Postado por oasis dossonhos às 13:09 3 comentários

COMENTÁRIOS
augustoM disse...
O festival do chícharo deve ter sido uma coisa muito gira. Não conheço essa planta que dá pelo nome parecido com o de um peixe, chicharro, mas pelo visto deve ser coisa boa, basta ter sido o manjar dos pobres, que nestas coisa de valorizar os manjares baratos nunca foram pobres de arte.Um abraço. Augusto
04 Outubro, 2005 14:16
TMara disse...
valorizar as coisas do quotidiano k nem vemos. Aprender a olhá-las. Bomferiado
05 Outubro, 2005 08:04
Miguel Carola disse...
adorei o blog...parabens vou likalo....
05 Outubro, 2005 21:57

O III Festival do Chícharo no Mercado de Alvaiázere




A festa tinha exposições, colóquios, uma feira do livro e a degustação do manjar que já foi comida de pobres.Migas de chícharo com jaquinzinhos, por exemplo, que foi o meu almoço e estava divinal. Regado com uma pinga de truz.
A festa tinha gente que vinha de outras bandas, para saborear tudo o que uma festa pode oferecer a quem precisa de respirar momentos alternativos a quotidianos repetitivos.
Mas era no mercado que se encontrava o espanto, a marca genuína.
Dos bens que a vida e a terra dão, se houver muito empenho (frutos secos, résteas de cebolas e alhos, olaria, artesanato de verga, trapologia, pão e bolos tradicionais, além do famoso rei da festa, o chícharo) aos rostos e sabedoria dos protagonistas de um mundo rural em extinção, o visitante podia saborear e absorver, para gáudio dos sentidos um manancial de sensações únicas.
Da festa trouxe esse saber fazer que vai pouco a pouco desaparecendo, num mundo globalizado, invadido pelo pronto a comer e pelo plástico.
Parabéns aos organizadores e à autarquia de Alvaiázere, pela sensibilidade.
(fotografias de LFM)

De “ÁGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 11:37 0 comentários