quinta-feira, 17 de novembro de 2016

XXXII Encontro da Aldraba – “Por terras de Santiago da Guarda”, Ansião, 26.11.2016















Desta vez, o nosso destino será, no Distrito de Leiria, o Concelho de Ansião, rico pelo seu património monumental e etnográfico.

1.       PROGRAMA DO ENCONTRO
Ponto de encontro – Impreterivelmente às 9h45m, no largo do centro do Alvorge (há um café, vê-se a Escola Primária e a Rua do Centro Etnográfico é a Rua David Miguel Namora).

10h00m – Encontro no Centro Etnográfico do Alvorge
11h00m – Visita à Igreja Matriz de Torre de Vale de Todos
11h45m – Visita aos “Moinhos do Outeiro”, únicos no mundo em termos de funcionamento, são de madeira, muito mais pequenos do que os tradicionais e construídos sobre uma circunferência de pedra
12h15m - Centro histórico da Granja, com visitas guiadas à Casa-Museu dos Fósseis de Sicó e Capela da Granja, em honra de Nª Srª da Orada
13h30m - Almoço no Restaurante “O Serranito”, Santiago da Guarda (detalhes mais abaixo)
15h30m – Visita guiada ao Complexo Monumental de Santiago da Guarda - constituído por uma Torre Medieval e um Paço fortificado dos séculos XVI/XIX, edificados sobre uma villa romana, sendo aquela construção um dos raros edifícios civis que ostenta a vieira, símbolo da sua função de apoio do Caminho Português de Santiago, traçado sobre a antiga estrada romana.

2.       ALMOÇO
O almoço, por um preço estimado entre 10 e 12,5€, inclui entradas, prato de peixe ou carne, sobremesa, bebidas e café. Da ementa constam, à escolha: queixadas de porco no forno, lombo de porco assado, feijoada, bacalhau à Gomes de Sá, picanha ou febras com queijo e peixe grelhado. Na altura da inscrição deverão manifestar a vossa preferência.

3.       INFORMAÇÃO DE ALOJAMENTO
Uma vez que o nosso destino dista de Lisboa 192km, para quem quiser pernoitar na sede do concelho – Ansião, de sábado para domingo ou ir de véspera, é-nos recomendado:
Hotel Solar da Rainha
Rua dos Pinheirais, 339 – Ansião
T.: 236 676 204
GPS 39º 55’ 9,76’’N; 8º 26’ 16,81’’W
Os preços são: 35€ (quarto de casal); 40€ (quarto duplo); 25€ (quarto individual), com pequeno-almoço incluído.
Recomenda-se que a marcação do alojamento seja feita com alguma rapidez, pois trata-se de uma unidade hoteleira não muito grande
Quem ficar na região no domingo e estiver interessado em visitar a zona histórica de Penela, deverá manifestá-lo aquando da sua inscrição, pois poderemos proporcionar uma visita guiada.

4.       INSCRIÇÃO 
Poderá ser feita até dia 23 de Novembro, 4ª feira próxima, junto do Nuno Silveira – tm 962 916 005, da Maria Eugénia – tm 964 445 270, ou para o email da Aldraba - aldraba@gmail.com

A Direcção

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O culto dos mortos no séc.XI






















O nosso grande historiador medieval José Mattoso, ao longo da sua obra Poderes Invisíveis - O Imaginário Medieval (Círculo de Leitores, Lisboa, 2013), avança com reflexões de enorme oportunidade para entendermos o desenvolvimento dos rituais e das crenças em torno da morte, que perduraram nas sociedades ibéricas ao longo de séculos. Aqui fica um pequeno extrato, para estimular o interesse por estas leituras:

... As condições de violência, de guerra constante, externa e interna, que vive a sociedade castelhano-leonesa durante os séculos VIII a X conferem, de facto, à ameaça da morte uma carácter absolutamente concreto e existencial.

Por isso, o que na verdade é preciso nomear e esconjurar é o medo da morte. Ela corresponde à facilidade com que se mata e derrama o sangue nesta sociedade violenta e brutal. Se não é a ameaça da súbita invasão dos ginetes mouros com o consequente risco das casas e searas queimadas, das mulheres violadas ou levadas para o cativeiro, dos homens decapitados ou tornados escravos, é a extorsão dos frutos da terra e dos animais capturados pelos condes, os saiões ou os maiorinos, a tortura infligida aos infratores das normas estabelecidas, as mãos decepadas, os olhos vasados, a cabeça rapada, o enforcamento pelos pequenos delitos. Ou então, se não são os grandes senhores ou os inimigos que irrompem na vida quotidiana para destruir e castigar, são os flagelos da natureza que trazem a fome, a esterilidade, a seca, as chuvas excessivas, a tempestade, a lepra, a peste, a loucura.

Para se defenderem, os camponeses dispõem apenas da proteção divina. Mesmo os outros homens, incluindo os guerreiros, apesar das suas armas e do seu poder, estão também sujeitos à maioria dos flagelos que não deixam escapar ninguém. Também estes recorrem aos meios propiciatórios e à magia para tentarem esconjurar os incompreensíveis arbítrios da boa e da má sorte, e, se possível, ficar do melhor lado na desigual distribuição da morte e da vida.

As bênçãos e as maldições rituais adquirem assim a sua eficácia. Os clérigos, como conhecedores dos ocultos mecanismos do sobrenatural, especializam-se na sua gestão para atraírem a fecundidade sobre os bons ou precipitarem a desolação e a desgraça sobre os ímpios, os perversos ou os que abusam do seu poder.

José Mattoso  

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

As eiras comunitárias do meu tempo














Pré-publicação de artigo que vai sair no nº 20 da revista ALDRABA, atualmente no prelo:

Na década de 50 ainda não se fazia sentir em grande força a nova tecnologia agrícola e os pequenos agricultores da minha região socorriam-se, ainda, dos costumes tradicionais.

As eiras comunitárias eram espaços utilizados por quase todas as populações, que viviam de dois ou três hectares de sementeira do trigo, sendo este o cereal que melhor correspondia aos anseios de casas de família, porque mais tarde era trocado por farinha.

As eiras erguiam-se em locais normalmente altos e ventosos, numa superfície com 8 a 12 metros de diâmetro, normalmente em pedra xistosa ou em ladrilho, e em certos casos, em terrenos baldios, noutros até privados, mas que naquele tempo, tanto umas como outras serviam uma pequena comunidade.

Era necessário combinar entre os seus utilizadores, o seu uso, e isso fazia-se normalmente nas tabernas e colectividades. Por vezes se o tempo ajudasse até poderia a parte da manhã ser para uma pessoa e a da tarde para outra, isso tinha muito a ver com o tempo, principalmente o vento que era necessário soprar quando se mandava o cereal ao ar, através de uma pá de madeira para que a semente caísse e o vento levasse a palha miúda, porque a mais grossa essa, era antes retirada com uma forquilha de 4 bicos.

Um pormenor curioso era quando um pequeno seareiro tinha apenas uma “besta” ou duas, ele pedia outra emprestada a um vizinho ou familiar para que quanto mais depressa o cereal fosse pisado mais depressa o trabalho era feito. Lembro-me perfeitamente de 2, 3 animais andarem à volta, duas e mais horas, para que o grão fosse separado da palha.

No tempo das eiras, as debulhas começavam logo no mês de Julho, quando se fazia sentir o maior calor, e os moços novos dessa altura estavam desejosos de haver palha nas eiras, para lá ir dormir a noite. Viam-se pequenos grupos de noite, ao luar, com a manta as costas que iam dormir à eira.

Pouco mais tarde e ainda no meu tempo de adolescente, começaram a aparecer as debulhadoras fixas, onde ainda tive oportunidade de fazer dois anos numa dessas máquinas.

Eram cerca de 15 homens que acompanhavam esse equipamento e que se ia deslocando de monte em monte, conforme os pedidos dos lavradores, e onde chegavam a estar de entre 2 a 4 dias num local.


Hoje, ao falar em eiras tradicionais, já ninguém conhece nem se lembra, mas que elas foram um espaço importante, num tempo que proporcionou um convívio salutar e uma entre ajuda entre vizinhos, disso não há dúvidas.

José Rodrigues Simão