sábado, 31 de dezembro de 2011

Portugal é a sua gente


Na edição comemorativa do seu 147º centenário, o “Diário de Notícias” publicou anteontem os testemunhos sobre o nosso país de 7 estudantes estrangeiros que frequentam cursos universitários em Portugal.
De entre esses textos, destaco o do espanhol Pablo Gonzalez, de 23 anos:

“Portugal é ruas de pedra, é pontes de ferro, é tectos altos, é prédios senhoris, é manuelino, é igrejas velhas, é Sé, é Álvaro Siza Vieira, é pastéis de Belém, é bacalhau à Brás, é castanha assada, é vinho verde, é Licor Beirão, é arroz com frutos do mar, é queijo de Évora. É José Saramago, Luís de Camões e Fernando Pessoa. Portugal é Lisboa, Porto, Braga e Coimbra, sendo também Fátima, Sintra ou Aveiro, sem deixar de ser Lagos, Beja ou Santa Comba Dão. E, óbvio, é Guimarães. É os cidadãos do Brasil, de Angola ou de Timor-Leste que há nas ruas, é Açores e Madeira, é o oceano imenso que dá a volta ao mundo, é a língua portuguesa, é a História, é Alexandre Herculano, Vasco da Gama e Fernão de Magalhães. Portugal é o fado, é o 25 de Abril, é República, mas é Dom Sebastião, é o galo de Barcelos, é o Tejo e o Douro, é a Universidade de Coimbra, é o eléctrico de Lisboa, é Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e Deolinda. Portugal não é perfeito, mas é incrível”.

Belo tributo às riquezas da nossa terra, e às grandezas da nossa cultura e da nossa história, que aqui deixamos neste final de ano cheio de perplexidades e preocupações…
Mas, direi eu, é um tributo a que falta alguma coisa!
Falta a referência expressa às gentes de Portugal, a esse povo que - tantas vezes silencioso e conformado, outras vezes indignado e insubmisso, mas sempre corajoso e firme – está por detrás de tudo aquilo que os estrangeiros apreciam no nosso país.
Essa gente é que é o centro de tudo o que temos, PORTUGAL, afinal, É A SUA GENTE.

JAF

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Memórias, sonhos e amigos







A noite de 21 de Dezembro de 2011 assinalou, na breve história da Aldraba, o enriquecimento de todos os participantes, em mais um jantar-tertúlia, desta vez na Casa da Comarca de Arganil, que nos acolheu de forma muito envolvente, com uma gastronomia marcante e uma hospitalidade, que merece destaque.
Foi mais uma ocasião para estar com amigos e mais um belo pretexto para partilhar memórias e sonhos.
Citando o associativista António Monteiro, que escreveu num comentário "Apesar da crise, nós acreditamos num futuro mais próximo dos nossos sonhos!" Temos de sair de dentro do espelho e semear esperança, entre os homens de boa vontade.


Adaptado de LFM (fotos de ABrito, LFMaçarico e MSousa)

domingo, 11 de dezembro de 2011

11º Jantar-tertúlia na Casa da Comarca de Arganil



Na quarta-feira da próxima semana, dia 21 de Dezembro, pelas 20 horas, a Aldraba terá um jantar-tertúlia na Casa da Comarca de Arganil, em que contamos com a companhia de membros da sua direcção, que nos falarão das actividades que desenvolvem em prol da identidade dos residentes na região de Lisboa provenientes daquela zona do distrito de Coimbra.
A Casa da Comarca de Arganil, colectividade regionalista com mais de 80 anos de existência, fica localizada não muito longe da Av. da Liberdade (a rua da Fé é uma transversal da rua de São José).
A realização deste jantar visa, como nos anos anteriores, proporcionar uma ocasião de confraternização aos associados e amigos da Aldraba, na altura do ano em que as famílias e os grupos de amigos têm um particular gosto no convívio à volta de uma mesa.
O preço do jantar, por pessoa, será 13€, e a ementa constará de entradas (enchidos, queijo, pataniscas, etc.), chanfana ou lombo assado com puré de maçã, sobremesa (doces ou fruta), vinhos, águas e sumos, e café.
As inscrições deverão ser feitas, até ao próximo dia 19/12, junto de Margarida Alves - tlm 966474189; e-mail: margarida.alves@gmail.com, ou de Nuno Silveira – tlm 962916005.


MEG

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Nomes das localidades em azulejos (cont.9)










Com este 10º post da série das placas toponímicas do ACP, atingimos a fasquia das 80 gravuras reproduzidas, de 77 localidades diferentes em 12 distritos do país.

Tivemos agora a ajuda dos amigos Rafael Carvalho, por ocasião do nosso anterior post, que nos conduziu até à gravura da placa de Ouguela (distrito de Portalegre), e da sempre presente Susana Rodrigues, que nos enviou cinco belas fotografias que captou no distrito de Lisboa.

Destas últimas, que muito agradecemos, há duas que correspondem a gravuras que a ALDRABA captou e já publicou. Inéditas, que aqui se reproduzem, são as do Gradil, de Loures e do Sanatório de Santana (Parede).

JAF

domingo, 27 de novembro de 2011

Fado, património imaterial da humanidade



O Fado de Lisboa acaba de ser distinguido pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade.


A candidatura oficial tinha sido apresentada pela Câmara Municipal de Lisboa, em Junho de 2010, tendo sido acompanhada por significativo movimento de opinião pública, dos artistas ligados ao Fado e de muitos apreciadores desta expressão musical, com grandes raízes populares na cidade.


A Aldraba congratula-se com este reconhecimento internacional da genuinidade do Fado.


MEG (reprodução da obra "O Fado", 1910, José Malhoa)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pelo cais do Ginjal … até à Incrível Almadense













Com os olhos postos nas nuvens, receosos que o temporal da véspera viesse a repetir-se, as quase três dezenas de participantes neste XIX Encontro da Aldraba foram-se reunindo no vulgarmente chamado Largo de Cacilhas, na manhã do passado dia 19 de Novembro. Na realidade, como foi recordado com emoção, a sua designação actual é Largo Alfredo Dinis – Alex, em memória do operário traçador da Parry & Son, comunista, assassinado pela PIDE em 1945, com apenas 28 anos.
Ali mesmo fomos recebidos pelo Alberto Ramos, associativista, grande conhecedor de Almada e de Romeu Correia, com quem privou e de quem foi amigo, pelos dirigentes de “O Farol, Associação de Cidadania de Cacilhas” Henrique Mota e Luís Filipe Bayó, e pelo Luís Barros, arqueólogo da Câmara Municipal de Almada.
Pela mão destes amigos, e graças ao seu profundo conhecimento da Cacilhas de agora e da de outros tempos, onde ressalta a vivacidade e o empenho do Luís Filipe Bayó, percorremos durante duas horas todo o cais do Ginjal, e soubemos da história e das histórias de casas e armazéns, becos e túneis, praias e ancoradouros, toda uma azáfama costeira e fabril, de que agora apenas resta a saudade dos que foram ficando.
No Núcleo Naval do Museu Municipal, que visitámos a seguir, estão patentes achados arqueológicos que nos remetem para fenícios, romanos e árabes que por aqui passaram e que aqui deixaram as suas marcas culturais, tal como nos referiu o Luís Barros, lamentando a escassez de recursos alocada a estas matérias. O Núcleo integra igualmente a história da faina ribeirinha, mostrando desde barcos a aparelhos de pesca e navegação.
Depois da subida para a zona velha de Almada no elevador panorâmico da Boca do Vento e de animado convívio à volta do almoço no Restaurante Horácio, a tarde seria dedicada ao cidadão, escritor e desportista almadense Romeu Correia.
Já na Incrível Almadense, onde decorreria a sessão da tarde, fomos recebidos pelo Luís Milheiro, da Direcção, e pela Clara e pelo Manuel, dirigentes da Associação Almada Velha que está encarregue da dinamização dos seus espaços. Quer pela intervenção de fundo, a cargo do Alberto Ramos, quer a partir dos múltiplos depoimentos por parte dos diversos amigos que com ele tiveram o privilégio de conviver, foi desenhado o perfil do homem notável e do cidadão empenhado que, de forma tão singela, ali homenageávamos.
À memória de Romeu Correia voltaremos em breve.
MEG (fotografias JAF e MEG)

domingo, 13 de novembro de 2011

XIX Encontro "Do Ginjal à Casa da Cerca, percursos do vagabundo das mãos de oiro"





A Aldraba vai agora realizar o seu XIX Encontro na cidade de Almada, no próximo sábado, dia 19 de Novembro, com um conjunto de actividades ligadas às riquíssimas memórias locais da cultura e do associativismo e às antigas lides marítimas.

Os participantes que pretendam partir de Lisboa poderão utilizar o “cacilheiro” que parte da estação fluvial do Cais do Sodré às 9.20h. Encontrar-nos-emos no átrio dessa estação a partir das 9.10h.

Programa do Encontro:
9.30h – Concentração dos participantes, no cais fluvial de Cacilhas
9.45h – Início de um percurso pedestre pelo Cais do Ginjal, acompanhados pelo dirigente municipal Dr. Alexandre Flores e pelo associativista Henrique Mota, da Associação O Farol, seguindo-se uma visita ao Museu Naval, acompanhados pelo Dr. Luís Barros.
11.30h - Subida no elevador da Boca do Vento e visita à zona antiga de Almada (Casa da Cerca, Casa Pargana, etc.)
13.30h - Almoço no Restaurante Horácio, na Rua D. José de Mascarenhas
15h - Debate/conversa com Alexandre Flores, Luís Barros e Alberto Pereira Ramos, nas instalações da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense (criada em 1848), sobre a história de Almada, tradições, associativismo, Romeu Correia e a sua memória.
17.30h, após o fim do debate – Regresso ao ponto de partida, com passeio por Almada, se o estado do tempo o permitir, ou utilizando o Metro do Sul do Tejo.

O almoço, com ementa à escolha de cada um, terá o preço global de 12 euros.

As inscrições deverão ser feitas, até à próxima 6ªfeira, dia 18/11, junto de:
Margarida Alves – 966474189, margarida.alves@gmail.com
Círia Brito – 969067494, ciriabrito@sapo.pt
ou Nuno Silveira - 962916005

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A lenda do São Martinho




Porque hoje se celebra o dia de São Martinho e porque ao Património Imaterial também importam as lendas e tradições, lembramos a lenda do São Martinho.

"Martinho era um valente soldado romano que regressava de Itália para a sua terra, depois de grandes batalhas.

Montado no seu cavalo estava passava num caminho para atravessar uma serra muito alta, e, lá no alto, fazia muito, muito vento e muito mau tempo. Martinho estava muito bem agasalhado normalmente: tinha uma capa vermelha, que os soldados romanos normalmente usavam. De repente, aparece-lhe um homem muito pobre, vestido de roupas já velhas e rotas, cheio de frio que lhe pediu esmola.
Martinho não tinha nada para lhe dar. No entanto, vendo as roupas do mendigo, pegou na espada, levantou-a e deu um golpe na sua capa. Cortou-a ao meio e deu metade ao pobre.
Nesse momento… as nuvens e o mau tempo desapareceram. Parecia que era Verão! Foi como uma recompensa de Deus a Martinho por ele ter sido bom.
É por isso que todos os anos, nesta altura do ano, mesmo sendo Outono, durante cerca de três dias o tempo fica melhor e mais quente: é o Verão de São Martinho."



Texto adaptado da Internet (MEG)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mosteiro - Recriação de uma Descamisada







Em 17 Setembro, dia de sol e noite vestida de estrelas, aconteceu uma Descamisada no Mosteiro, uma iniciativa da associação local, para reviver uma importante actividade económica da agricultura de subsistência, hoje quase desaparecida.
A meio da tarde, o burrico e a sua carroça saíram do largo da associação, rumo à terra do milho. Seguiam-no um grupo de camponesas, “ricamente” trajadas a rigor – pudera, até tinham fotógrafo! –, de cesta à cabeça e cantarolando, cantarolando.
Os homens, esses, teriam ficado a varrer a eira…?!
Chegados à terra de milho, as maçarocas foram apanhadas num ápice e num ambiente de esfusiante alegria, apanágio dos que sabem que estão colhendo o que semearam.
O burrico, depois de carregado regressou ao terreiro onde as maçarocas foram descarregadas.
Ao nascer da noite, os candeeiros a petróleo foram dependurados em oliveiras e a descamisada foi iniciada, com os vizinhos, num espírito comunitário, a surgirem do beco da capela com os seus candeeiros. Um deles até trazia um mangual para, logo ali, “malhar” o milho; sem que as maçarocas bebessem, na eira, o sol necessário, já sem capas. Mas, afinal, tratava-se de um “citadino” com aquela pressa de ultrapassar a sazonalidade das colheitas!
Acabada a descamisada, veio a folia com a presença de mais de meia centena de pessoas, entre elas o Presidente da Câmara de Pedrógão Grande. Comeu-se figos recheados com amêndoa, bolos, pastéis; bebericou-se jeropiga, vinho doce, … E o tradicional baile aconteceu, no mesmo terreiro, com o acordeão do amigo Marcelo, vindo da freguesia de Alvares, a ditar boa música.
Como uma simples descamisada acabou transformada numa bela iniciativa cultural, porque as pessoas, participando e intervindo, assim o quiseram.
Uma louvável iniciativa da Associação de Melhoramentos de Mosteiro.


João Coelho

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nomes de localidades em azulejos (cont.8)









Nas nossas deambulações pela blogosfera, encontrámos mais um companheiro, de seu nome Hélio Manuel Coelho Matias, preocupado e actuante na preservação deste património das localidades portuguesas. No seu blogue “Valado dos Frades - História e estórias”, dedicado às memórias e às realidades daquela povoação da região da Nazaré (distrito de Leiria), publicou um post que acompanha a foto de uma placa toponímica em azulejos, que aqui reproduzimos, bem como o próprio texto de intervenção, que merece o nosso aplauso:

“A placa toponímica que se mostra na imagem existirá pelo menos há cerca de 70 anos, situada na esquina dum prédio do sr. Maurício Inácio dos Santos, mesmo no largo da Estação. Havia uma outra com Vallado-Alcobaça na rua Prof. Arlindo Varela, implantada num prédio quase em frente do Clube Recreativo Beneficente Valadense. Foi sujeito a obras...ninguém se interessou e...foi deitada abaixo! O alerta...é para o perigo que corre o painel mostrado já em adiantada degradação. Poderão acontecer diferentes situações, degradação pura ou desaparecimento se obras forem feitas. Ora este painel também faz parte da história do Valado, e é importante que se não perca. Como é possível acautelar? Sugiro que a Junta de Freguesia tome uma atitude de interesse, e actue junto do proprietário do prédio para assim chegar a uma solução, a fim de não termos de lamentar a perda irreparável...de quem já está mal!”.

Por outro lado, da Maria Teresa Oliveira (blogue “Diário de Bordo”), reproduzimos desta vez a foto, de sua autoria, da placa da Amieira do Tejo (distrito de Portalegre), e duas fotos, da autoria de Manuel Campos Vilhena, das placas de Dagorda (distrito de Lisboa) e do Vale de Figueira (distrito de Santarém). Os nossos agradecimentos por mais estas três preciosidades.

Com as quatro placas de hoje, atingimos um total de 76 placas já publicitadas (de 73 localidades diferentes, situadas em 12 distritos do país).

JAF

domingo, 23 de outubro de 2011

A lenda de Santa Bárbara



Outra das peças - além da cabeça de São Fabião - que também muito agrada aos visitantes do Tesouro da Basílica de Castro Verde, é Santa Bárbara, imagem de madeira policromada e datada de cerca de 1510, tendo sido executada na oficina de Malines, uma das mais conhecidas oficinas de arte flamenga.

De pé sobre uma plataforma simples, típico das esculturas de Malines, Santa Bárbara tem à esquerda um dos seus símbolos mais conhecidos, a torre acastelada, quase com a mesma altura da figura. Como de costume, tem manto e túnica, que permanecem com as cores originais.

Uma expressão que muito utilizamos hoje em dia é “Só se lembram de Santa Bárbara quando faz trovões”… Realmente Santa Bárbara é referida como a protectora contra os trovões. A protecção dos santos está em tudo relacionada com o martírio sofrido pelos mesmos.

De acordo com as variantes da lenda de Santa Bárbara, situam a sua vida nos séculos III ou IV, ora em Nicomédia, na Bitínia (Ásia Menor), ora em Antioquia ora em Heliópolis (da Síria ou do Egipto). Muitas são as versões existentes deste martírio de Santa Bárbara, de uma ou de outra forma todas elas no final relatam a sua extraordinária beleza e a morte pela espada do seu próprio pai.

O pai de Santa Barbara era pagão. Com ciúmes de todos os pretendentes que apareciam para sua filha, e notando algumas tendências nela para o cristianismo, decide fechá-la numa torre, tendo saído em viagem. Santa Bárbara, ao longo do tempo, foi tendo contacto com alguns documentos cristãos e com a oração acaba por aprofundar mais a sua fé. Tendo a torre duas janelas, ela manda abrir a terceira referente á santíssima trindade e acaba mesmo por ser baptizada. Claro que seu pai, quando regressa e descobre o que se tinha passado, fica furioso e obriga-a a casar com um pagão. Ela não aceita a decisão do pai e diz que a sua vida fora entregue a Jesus Cristo.

Nessa altura, o pai ordena que retirem a sua filha da torre, sendo torturada e queimada, contando a lenda que o fogo nada fez ao corpo de Santa Bárbara. Em seguida, ela foge e refugia-se numas minas onde os trabalhadores a tentaram esconder, mas acaba denunciada por um pastor e o pai vai buscá-la e encerra-a na torre, onde a obriga a renunciar ao cristianismo, e ela volta a dizer que não. Então Dióscoro, seu pai, puxou da espada e decapitou a própria filha na torre. Quando vai a sair da torre, o céu escureceu em seu redor e um raio caiu-lhe no peito, fulminando-o.

Através desta lenda, torna-se a protectora dos mineiros, que foi quem lhe deu a protecção quando ela fugiu, e de qualquer profissão relacionada com o fogo ou com o risco de morte violenta e súbita, incluindo artilheiros, pirotécnicos, bombeiros, armeiros, engenheiros militares e electricistas. Santa Bárbara é também padroeira das prisões, desde os prisioneiros aos guardas prisionais. Como a torre é um dos seus símbolos, acaba por ser padroeira também dos arquitectos, engenheiros, pedreiros, construtores e carpinteiros.


Ricardo Colaço
(Segundo extracto de um artigo publicado no nº 10 do boletim “Aldraba”).

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Cabeça de São Fabião (Castro Verde)




A intenção de dar a conhecer a história e a arte da Basílica de Castro Verde levou à abertura, em 2003, do “Tesouro da Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição”, instalado na antiga sacristia.

No interior da exposição, destaca-se uma cabeça em prata de tamanho natural, dos meados do século XIII, que guarda no seu interior, como relíquia, uma calote craniana. A primeira referência que há desta peça é no ano de 1565 em Casével, depois dessa data pouco se sabe do percurso desta cabeça, até ser encontrada em 1986 numa visita da equipa do Campo Arqueológico de Mértola à pequena aldeia de Casével, com o objectivo de reunir e inventariar a documentação histórica depositada na junta de freguesia.

Apesar de há muito ter perdido a sua função, a cabeça relicário permanecia viva na memória colectiva local, sendo identificada como de São Fabião, papa mártir. Na opinião de alguns moradores mais idosos, este relicário tinha o poder de curar as doenças dos animais.

Relatam que a peça era colocada na janela da igreja, e os pastores traziam o gado que passava em frente à cabeça, esta por sua vez ouvia o gemido dos animais, cheirava as doenças e através de um bafo curava o mal do gado.

A peça encontra-se furada nos ouvidos, nas narinas e na boca, mas o seu executor deixou intactos os olhos, sabendo o perigo que podia representar se estivessem furados. Isto é baseado numa crença que conta que, quando alguém morria, o facto de olharmos para os olhos do mesmo nos cegava ou levava à loucura, pois dizia-se que a pupila era uma perigosa ligação com os mundos do Além.

Hoje em dia, a cabeça relicário de São Fabião ainda vai alimentando os medos e os sonhos de muitas gerações, e continua a manter aquele olhar condescendente e inofensivo, aquele infindável sorriso de quem sabe que o seu mistério nunca será desvendado.

Ricardo Colaço

(Extracto de um artigo publicado no nº 10 do boletim “Aldraba”. O Ricardo é amigo da nossa Associação e trabalha na Basílica de Castro Verde)

domingo, 16 de outubro de 2011

Apresentação do n.º 10 do boletim “Aldraba”



Decorreu no dia 12 de Outubro, no Grupo Desportivo e Escolar Os Combatentes, a apresentação do n.º 10 do nosso boletim e, tal como previsto. contámos com a presença entusiasta e estimulante da antropóloga Paula Godinho.
A sessão iniciou-se com palavras dos presidentes das duas associações, tendo Júlio Machado evidenciado a disponibilidade que o GDEC sempre manifestou e o gosto com que acolhe as iniciativas ali realizadas pela Aldraba. José Alberto Franco, ao mencionar alguns temas deste boletim, fez-nos um retrato comovido do percurso profissional e cívico do Manuel Sobral Bastos, que recentemente nos deixou, e enfatizou a colaboração de dois novos jovens associados com temas relacionados com aquilo que poderemos designar como “patrimónios recentes”.
Luís Filipe Maçarico apresentou a nossa convidada, tendo salientado o seu vasto currículo académico em associação com o trabalho de campo que sempre tem privilegiado, a sua disponibilidade para alunos e colegas, e a sua intervenção de natureza cívica.
Paula Godinho, ao passar em revista os temas deste n.º 10 do nosso boletim, falou-nos da importância que atribui ao trabalho que a Aldraba tem vindo a desenvolver, discreto e consistente, de estudo e valorização dos assuntos do património popular. Destacou os artigos de Marta Barata, sobre graffiti, de Marco Valente, sobre as aldrabas e batentes de Selmes, de Luís Maçarico, sobre o Santo António, e de Ricardo Colaço, sobre o tesouro da Basílica de Castro Verde.
Para além dos seus comentários de grande oportunidade, que muito apreciámos, agradecemos-lhe as palavras de incentivo para continuar que nos deixou, com a sua grande simpatia, gentileza e optimismo.


MEG (foto Luís Ferreira)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Paula Godinho na apresentação do nº 10 do boletim “Aldraba”



A ALDRABA – Associação do Espaço e Património Popular convida todos os associados e amigos para a sessão de lançamento do nº10 do boletim “Aldraba”, no próximo dia 12 de Outubro de 2011 (4ª feira), às 18.30h.
A sessão realiza-se na sede do Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes” – Rua do Possolo, 7, em Lisboa, e a apresentação estará a cargo da Doutora Paula Godinho, professora de Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Vai estar em distribuição o nº 10 do"Aldraba"



O número 10 do boletim da Associação Aldraba vai ser distribuído aos associados dentro de poucos dias.

Sumário do nº 10 do boletim "ALDRABA":

Editorial
Nuno Roque Silveira
10 números do boletim, 6 anos de vida da Associação
Núcleo editorial
OPINIÃO
Aldrabas e batentes de Selmes
Marco Valente
Acerca dos graffiti
Marta Barata
PATRIMÓNIO IMATERIAL
O imaginário popular em torno de Santo António
Luís Filipe Maçarico
RITUAIS, TRADIÇÃO E REALIDADE
O tesouro da Basílica Real de Castro Verde
Ricardo Colaço
OS AMIGOS E A MEMÓRIA
Em memória do Manuel Sobral Bastos
Órgãos sociais da Aldraba
CRITICA DE LIVROS
Uma caderneta de cromos (Nuno Markl)
Pedro Martins
ALDRABA EM MOVIMENTO
Novembro de 2010 a Julho de 2011
Maria Eugénia Gomes

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nomes de localidades em azulejos (cont.7)























Desta vez, ficam registadas mais outras 7 placas toponímicas, por esse país fora.

O repórter da ALDRABA encontrou e fotografou a da Charneca da Caparica, no distrito de Setúbal, as de Borba e de Terena, no distrito de Évora, e a de S. Pedro do Sul, no distrito de Viseu.

Aqui no distrito de Lisboa, as amigas da ALDRABA Maria do Céu Ramos e Susana Rodrigues captaram e enviaram-nos, a primeira, uma nova placa de Sintra (com a grafia moderna, já publicámos uma placa com a antiga grafia de Cintra), e, a segunda, placas de Cheleiros e de Pêro Pinheiro.

Obrigado aos que connosco têm colaborado, e um desafio a que outros o façam também.

JAF (texto e fotos de Borba, Charneca, S. Pedro do Sul e Terena)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Uma caderneta de cromos




Albert Einstein afirmava que, em teoria, as viagens no tempo apenas eram possíveis rumo ao futuro. Se reunirmos energia suficiente para viajar para além da velocidade da luz, então conseguimos “chegar” ao futuro antes de este acontecer. Já regressar ao passado, à luz das leis que regem o Universo, é teoricamente impossível. Mas Einstein não era sociólogo, antropólogo ou historiador… Preservar a memória e o património é, por si, uma viagem no tempo à(s) época(s) em que esse acervo histórico fazia parte do dia-a-dia dos nossos antepassados. É olhar para a herança deixada pelos que vieram antes de nós.
Perceber que somos o que somos porque antes de nós outros nasceram, viveram e morreram, deixando-nos um património que, só por isso, vale a pena preservar e recordar.
Nuno Markl, humorista, locutor de rádio, autor e argumentista, sabe que nunca irá influenciar a Física Quântica. Mas com a sua rubrica “Caderneta de Cromos” tem, como poucos, ajudado toda uma geração inteira a viajar no tempo, para um passado recente mas nem por isso desprovido de património cultural… Com as suas crónicas de rádio (todos os dias de semana, na Rádio Comercial), entretanto passadas para livro, Markl entra numa máquina do tempo virtual para retornar aos anos 70/80 e 90 do séc. XX. À distância de uma memória, relata-nos o impacto que algumas das manifestações culturais dessa época tiveram na sua (e de tantos outros) juventude e no que ele é hoje como pessoa.
O humorista fala-nos de filmes (ex: Regresso ao Futuro ou Star Wars), séries de televisão (de TV Rural a McGyver, passando pelo programa de animação de Vasco Granja), alimentos que à luz das regras de hoje seriam alvo fácil da ASAE (ex: granizados FA ou as fantásticas Peta-Zetas), músicas inesquecíveis como as de José Cid, Duran-Duran, brinquedos como o barco dos piratas da Playmobil, o Action Man e as inúmeras figuras de PVC dos heróis da TV.
O que está na moda hoje, está enterrado amanhã. As notícias que abrem o telejornal esta noite estarão quase esquecidas daqui a uns meses. Multiplica-se quase até ao infinito a nossa capacidade de arquivo, mas a nossa memória é cada vez mais curta em relação ao passado…
A minha geração, filha da democracia, vive tempos conturbados como muitas vezes aconteceu no nosso passado. E as pessoas, mesmo nas piores crises, continuavam a trabalhar, a criar família, a divertir-se.
Nuno Markl, como poucos, sabe que todos somos uma máquina do tempo. Nascemos numa determinada época, somos influenciados pelo meio que nos rodeia, pelo processo de socialização, por tudo o que antes de nós aconteceu. E, até deixarmos este mundo, passamos tudo isso aos que depois de nós cumprirão o seu papel. Preservar o património, seja uma carta de foral da Idade Média ou a memória de programa de televisão como o “TV Rural”, faz parte do nosso dever como habitantes deste planeta. Nem que seja em nome dos que depois de nós virão.

PEDRO MARTINS
(condensado de artigo a publicar no boletim ALDRABA nº 10, actualmente no prelo)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O Santo António no imaginário popular



De entre os inúmeros patrimónios que o imaginário popular produz, as diversas manifestações em torno de Santo António merecem uma abordagem.
Entramos no Júlio dos Caracóis e lá está uma imagem, passamos por uma retrosaria e o santo espreita-nos da montra, pelas ruas da cidade, nas colectividades de cultura, recreio e desporto, ei-lo, acompanhando os alfacinhas nas suas deambulações, sublinhando uma devoção, convidando para a festa ou para a meditação, acerca do que falta fazer, para melhorar a vida colectiva.
O pão benzido que anualmente se guarda, as lendas que a tradição oral repassa, reavivando os milagres, o responso para as coisas perdidas e as novenas, como aquela das sandálias do santo, com dois pedidos difíceis, a poesia que a sabedoria e o talento dos poetas do povo engendra, os tronos, a iconografia presente nos arraiais, são diversas vertentes da evocação do santo em Lisboa.
Também em Viana do Castelo, encontrámos em duas pastelarias várias imagens do Santo que, segundo os comerciantes locais, terá a ver com o facto de Fernando de Bulhões ser o advogado do comércio local. As imagens apresentam-se de costas viradas para a caixa registadora, significando protecção contra ladrões, sendo propiciatória de abundância económica.
O professor Joaquim Pais de Brito assegura que se trata de um santo que “teve estes efeitos e formas de apropriação, que em si mesmos se tornam interessantes. Associou-se ao poder paralelo dos franciscanos, tendo como aliada a Rainha Santa Isabel. Vai pela eloquência da palavra, da elaboração do pensamento, que escapam ao Povo, ou são reelaborados. Ganha “copos” e fogueiras dos festejos de Verão. Como ganha atributo de casamenteiro. Permite encontrar as coisas perdidas, as coisas que estão fora do sítio. Em torno da figura do santo, a cidade desenvolve uma apropriação.”
Junho é o mês das festas em honra dos Santos Populares e, desde a procissão aos arraiais, passando pelas marchas e casamentos, evidenciam-se rituais como o pão de Santo António ou as montras e nichos, onde a imagem acompanha os moradores - sobretudo de Alfama - no seu quotidiano, podendo quase fazer-se um roteiro do Santo naquele lugar da cidade, por ser o bairro que maior devoção lhe consagra, porventura pela proximidade da respectiva igreja, que contém vestígios relacionados com o lendário “herói”, cujas efabulações e apropriações da gente humilde contribuíram para essa popularidade.
Uma antiga fazedora de tronos de Santo António, vendedora de caracóis, Carmelinda, moradora no Beco do Pocinho, contou: “A minha filha que está na Alemanha, a minha Eugénia, tem um Santo António, fui eu que comprei na igreja de Santo António e ela tem na prateleira lá no restaurante dela. Teve um incêndio, mas o Santo não ardeu e o dinheirinho que tinha lá escondido também não ardeu. Tadinha!”
Desde o lojista que exibe uma imagem de madeira na montra do seu estabelecimento na Rua de São João da Praça, até Anabela Moisés, de um lugar de fruta na Rua de S. Miguel que assegura “é a fé que nós temos, em Alfama não há casa que não tenha um Santo António”, nos mini mercados, nas lojas de fruta, em tabernas, restaurantes e tascas, lá está Santo António, em azulejo, ou numa imagem, de concepção elaborada, evidenciando a crença religiosa ou a evocação profana.
Pela cidade, seja na Bica, em becos de Alfama ou no Vale de Santo António, onde há uma comunidade devota do santo, alguns nichos celebram-no. E na Calçada de S. Vicente, numa mísula, que sobressai de uma varanda, o Santo parece vigilante…
No universo dos rituais e costumes que o imaginário popular criou à volta de Santo António, as colectividades não escapam. No Clube Desportivo da Graça, no Grupo Dramático e Escolar Os Combatentes, como no Grupo Musical O Pobrezinho, o santo aparece, respectivamente, numa estatueta no bar ou num cartaz, no trono do arraial de Junho, como num nicho e azulejo.
Mas toda esta diversidade é completada pelo génio e talento dos criadores de autos, nos quais o milagreiro é figura principal e, sobretudo dos autores da revista à portuguesa, onde o Santo é metáfora, para falar do presidente do Conselho de Ministros, durante o Estado Novo.
Para Vítor Pavão dos Santos, “quando no palco se fala no Santo António, todos sabem que se está a falar de António de Oliveira Salazar, no governo desde 1928. São inúmeros os santos antónios revisteiros. Hortense Luz, logo em 1929 (Chá de Parreira), depois Beatriz Costa, numa revista chamada mesmo Santo António, em 1934, ano das festas antonianas, fazem uma “pregação aos peixes”. E, mais recentemente, João Villaret criou outro Santo António bem irreverente, consertando os tachos duns e doutros (Não Faças Ondas, 1956)”
Segundo Isabel Vidal, “a admissão da caricatura da figura do chefe de estado na personagem do Santo António demonstra que os censores sabiam que uma certa cumplicidade, ao contrário de favorecer a perversão receada, acabava por promover a figura”. O facto de serem textos acessíveis, bem como a questão de, ao evocarem Santo António, se referirem a outro António, mais a ocorrência de serem autores e actores consagrados, difundindo sketches, que abordavam o aspecto prodigioso e mítico, certamente que ajudou a ampliar a esfera de influência, no imaginário popular, desta figura, beneficiando igualmente a imagem do governante, que surge nas entrelinhas, através de alusões óbvias.
Nas quadras que acompanham os manjericos, nas letras das marchas, no responso para encontrar objectos perdidos, nos pedidos a Santo António, ao longo de muitos anos (já era referido por Leite de Vasconcellos) atrás de uma tela representando o Santo, no novel bolo de Santo António, no artesanato urbano, que o coloca numa vespa, com o menino atrás, da autoria dos irmãos Baraça ou no galo de Santo António, todo castanho, com a corda dos franciscanos, rosário e menino, inventado por António Azevedo, constata-se que se manteve, com actualizações, a convicção e a homenagem popular àquele ícone.
Por isso, naturalmente, vários lisboetas coleccionam imagens do Santo do Menino Jesus, o que em alguns casos atinge várias dezenas de artefactos, da barrística à cerâmica, passando pela madeira, pano e granito.
Eis a riqueza de formas e gestos, que a alma popular encontrou, para celebrar um dos protectores da cidade, do lar, do casamento, da fecundidade, dos objectos desaparecidos, dos negócios, dos animais, absorvendo cultos ancestrais do solestício de Verão, etc., consoante a região, não esquecendo o lado folião e lúdico, do qual o povo tanto carece, ao longo de uma vida de trabalho.


Luís Filipe Maçarico (texto extraído de artigo do boletim "Aldraba" nº 10, no prelo)

(foto do blogue "Hippos")

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Serão em Campo Maior




Como já aqui foi relatado, a amiga Rosa Dias apresentou, no passado sábado, dia 20 de Agosto, o seu mais recente livro de poemas intitulado “Novo Amanhecer”.

A propósito do lançamento, que decorreu no Jardim Municipal e contou com a presença de muitos amigos convidados da escritora, o serão foi ainda animado por parte de alguns grupos da terra - os “Amigos das Harmónicas”, o “Grupo de Saias de Campo Maior” e o “Grupo de Cantares Despertar Alentejano”.

Embora sob a ameaça de uma grande trovoada de verão, daquelas que tão bem conhecemos aqui pelo interior, foi mais uma oportunidade de estar e conviver com amigos, sentir a poesia da Rosa e fruir dos sons da planície.


MEG



domingo, 21 de agosto de 2011

Lançamento em Campo Maior do livro de Rosa Dias




Ontem, pelas 22h, no Jardim Público de Campo Maior, foi lançado o 4º livro de poesia da nossa associada Rosa Dias, "Novo Amanhecer”. Na assistência, muitos campomaiorenses e muitos amigos da Rosa, entre os quais 5 outros associados da ALDRABA.

A apresentação do livro foi assegurada pelo vice-presidente da direcção da ALDRABA, Luís Filipe Maçarico, poeta e amigo da Rosa Dias, cujo texto aqui se reproduz. No palco, além da autora, estavam presentes e usaram da palavra a vereadora da Cultura da Câmara de Campo Maior, Isabel Raminhas, o presidente da Casa do Alentejo, João Proença, o empresário Rui Nabeiro e a poetisa Maria José Lascas.

JAF (texto) / MEG (fotos)

Um novo amanhecer…

Rosa Dias é uma força da natureza, enxertada em poesia, que realiza intensamente, na sua passagem por este mundo, o sonho de florescer em todas as vertentes que o ser humano pode abarcar.

“Levas na palavra a brandura / que acalma quem está sofrendo”

Uma das suas facetas mais luminosas é a do voluntariado, visitando enfermos, por vezes em fase terminal, nos hospitais onde o sofrimento é o cenário quotidiano mas onde aparecem estas pessoas raras partilhando a pura dádiva da fraternidade, com uma sílaba de esperança…

O associativismo é um dos caminhos para chegar aos outros, para consumar o melhor que a vida pode ter: convívio, entreajuda, saber-fazer, do verso à efémera flor de papel, do riso à descoberta enriquecedora.

Na Casa do Alentejo, com a Alma Alentejana, nos encontros da Aldraba, até em Alpedrinha com a Liga dos Amigos, e nas colectividades de Lisboa, a Rosa desperta os melhores sentimentos, gerando reflexões, agitando plateias, divertindo os que bebem a sua poesia ou as estórias trazidas do Alentejo, da vivência do povo humilde, ao qual dá uma expressão singular.

Ao lado da Rosa, mesmo que algumas vezes o seu coração se afligisse, ninguém se apoquenta, pois parece nascida para espalhar alegria. “A tristeza, longe da porta…”

Revejo-a na sua terra, pouco tempo depois de ser operada aos pés, recebendo multidões de amigos e até visitantes inesperados que, nas últimas Festas do Povo, julgaram que a sua casa era um estabelecimento para matar a sede aos forasteiros!

Amiga de palavras sensatas, aconselhando o melhor rumo, seguindo uma intuição onde o mais importante é decidir aquilo que impeça molestar o outro.

Rosa Dias nasceu em 26 de Setembro de 1947 e, como muitas crianças da sua época, aqui cresceu, frequentando escola primária do bairro novo, onde completou a 4ª classe.

A jovem Rosa trabalhou primeiro, durante algum tempo, numa torrefacção de café, para depois desempenhar as tarefas de empregada doméstica, tendo desenvolvido essa profissão em Lisboa, onde conheceu o seu amado, com dezasseis anos, pai dos dois filhos que tiveram.

“Abram-se as portas do povo / do meu povo amordaçado”

Quando a poesia, como um vulcão, incendiou as suas veias e espírito, por a ouvirem apresentar versos tão profundos e certeiros, os mais próximos, com estranheza, interrogaram-se sobre o mistério que se evidenciava, inundando os dias de todos os que com ela conviveram, ao longo dos anos.

Porém, e apesar da grande criatividade espontânea, nas últimas duas décadas e meia apenas publicou quatro livros.

Esta é a terceira vez que acompanho, em Campo Maior, a apresentação de um trabalho da Rosinha.

Foi assim em 2001, com a reedição das “Toadas Alentejanas” de 1989, e em 2008, quando gravou o CD “Olhar Poético”.

A estes títulos e ao “Sentir do Alentejo”, de 1985, e aos “Anexins e Nomes Engraçados de Campo Maior”, de 1997, junta-se agora um livro com uma grande carga simbólica, fruto de um imenso desejo de viver.

O “Novo Amanhecer” surge, após dias sombrios que Rosa Dias atravessou, com a força que lhe é inerente, esta maravilhosa energia regeneradora que a faz lembrar a dignidade do trabalhador alentejano, a ingenuidade da pegada dos velhotes, a graciosidade de um percurso, feito de paz e amor, construindo um espaço único de amizades, porque cumprindo a caminhada, com os valores mais puros na bagagem. Ou, como ela diz, “Contar verdades a crianças sem idade / E dizer bem alto, fiz assim só porque quis”.

Com a grande companhia das quadras e dos versos mais cintilantes, que, como uma escultura, talha na melhor madeira, Rosa Dias associa à sua escrita uma forma de dizer que envolve e surpreende.

“Não gosto de hipocrisia / Nem bondade disfarçada / Nem de quem tem a mania / Que sabe, sem saber nada”

Saboreemos os seus poemas perscrutando-a, folheiem-se os seus livros acompanhando o seu percurso, através do património e das tradições, demonstremos o quanto nos é grato respirar os solidários sonhos do povo do qual ela é uma das vozes que não se apagará da memória desta terra.

É tanta a magia da mulher e da obra que as palavras são diminutas para celebrar o privilégio de a termos hoje, mais forte do que nunca, trazendo uma colheita que é o retrato dos dias e dos passos, na direcção do futuro, sempre à nossa espera na linha do horizonte.

Bem hajas, Rosa, por seres como és, e por nos brindares com este “novo amanhecer”!

LUÍS FILIPE MAÇARICO


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Nomes de localidades em azulejos (cont.6)






















Continuando a saga do registo fotográfico das placas de azulejos com que o Automóvel Clube de Portugal assinalou as entradas de muitas localidades do país, a partir do 1º quartel do séc. XX, reproduzimos hoje mais 10 belos exemplares (8 do distrito de Lisboa e 2 do distrito de Beja).

Logo por alturas do nosso último post desta série, a amiga da ALDRABA Maria do Céu Ramos captou e disponibilizou-nos a placa de Ferreira do Alentejo.

Pouco depois, a nossa amiga Susana Rodrigues fotografou e enviou-nos as placas de Manique, de Mértola e de Trajouce, e, umas semanas mais tarde, de Bucelas, da Carapinheira e do Sobreiro.

Teresa Oliveira, no seu blogue “Diário de Bordo”, publicou recentemente uma fotografia da placa de Runa, enviada por Manuel Campos Vilhena, e que também aqui reproduzimos.

Por último, o repórter da ALDRABA foi, de máquina fotográfica em riste, no encalce da placa toponímica do Alcoitão, utilizando uma pista que vinha no blogue "Notas & Comentários", de José d'Encarnação. E encontrou-a, tal como, nas proximidades, encontrou casualmente a placa de Bicesse.

Com este nosso 7º post, a ALDRABA perfaz a publicação de placas de azulejos de 63 localidades do país… Razão tem a animadora do “Diário de Bordo”, quando aí escreveu em 25.7.2011 que “havemos de nos juntar todos, um dia destes, e oferecer tudo ao ACP, que temo que não ande a fazer os trabalhos de casa”.


JAF (comentários e fotos de Alcoitão e Bicesse)