quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Viver o rio Tejo

 

Reproduzido do n.º 28 da revista "Aldraba", recentemente publicado:

Desde muito cedo que o destino do Tejo se uniu ao meu. Em criança já acordava com o seu espreguiçar brando a abraçar Lisboa, primeira visão matinal que me acompanhou ao longo de mais de trinta anos.

Mais tarde, por determinação profissional, abracei-o em Abrantes. E hoje, há já alguns anos, que o sol nasce ao colo do rio, mesmo em frente à minha janela, na localidade de Póvoa de Santa Iria. E foi aqui que assisti à renovação dos espaços que a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira promoveu junto ao Tejo, desde a cidade sede do Concelho até precisamente ao sítio onde vivo.

O Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo surgiu no âmbito do Projeto QREN como resultado de uma candidatura para a “Requalificação da Frente Ribeirinha da Zona Sul do Concelho de Vila Franca de Xira” e encontra-se atualmente ligado ao Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria.

O primeiro percurso liga Vila Franca de Xira a Alhandra, através do Caminho Pedonal Ribeirinho de Alhandra. Ao longo da pista construída a beijar o rio, é prioritário visitar a Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, centro de intensa atividade cultural, com uma vista fantástica sobre a paisagem ribeirinha e dotada de uma arquitetura moderna e agradavelmente enquadrada no espaço. Enquanto caminhamos, corremos ou andamos de bicicleta, podemos ainda observar os murais do artista autócne Vile, embora alguns dos seus trabalhos tenham sido recentemente vandalizados. Na zona de Alhandra podemos encontrar restaurantes com esplanadas e amplos espaços com bancos para descansar, assim como uma pequena marina.

De Alhandra até Alverca, o percurso pedonal é interrompido devido à vasta atividade industrial que se desenvolveu nesta zona.

O Parque linear Ribeirinho do Estuário do Tejo liga atualmente Alverca ao Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria, que se estende até ao limite do Concelho. O projeto de requalificação dos espaços junto ao rio, prevê ainda a possibilidade de se estender até ao Parque Tejo, em Lisboa. No entanto, esta possibilidade só poderá ser efetivada, agora, pela Câmara Municipal de Loures.

Qualquer destes espaços, que se estendem desde Alverca até à Póvoa de Santa Iria, são de cariz natural e assumem um valor ambiental e paisagístico inigualável, o que já lhes valeu vários prémios, nomeadamente, uma Menção Honrosa na categoria Cidades Sustentáveis Green Projects Awards 2014, o primeiro prémio na categoria Landscape and Public Spaces Archmarathon Awards 2015 e o primeiro prémio Wan Landscape Awards 2016.

Dotados de passadiços e ciclovias a rasgar o rio, assim como de percursos internos, a beleza destes espaços é inquestionável e permite longos e agradáveis passeios. Para além da riqueza natural (podemos observar espécies tão variadas como pernilongos, guarda-rios, garças, flamingos, águia pesqueira, pato trombeteiro, etc.), existem espaços de lazer e culturais convidativos. Na praia dos pescadores, por exemplo, existe um Centro de Interpretação Ambiental da Paisagem (CIEP), assim como um Observatório de Aves. Foram criados também espaços desportivos. A antiga zona pesqueira palafítica foi, contudo, substituída por uma correnteza de casinhas de madeira que servem de armazém aos pescadores, tendo sido apenas preservada uma casa exemplificativa.

Os gatos dos pescadores, que adoram adormecer e ronronar junto ao rio, nas tardes calmas, são uma imagem de marca, assim como o Mouchão da Póvoa, que se avista da outra margem.

Cristina Pombinho


sábado, 21 de novembro de 2020

Um adeus ao José Manuel Prista


 












O José Manuel Geoffroy Prista deixou-nos ontem, aos 80 anos, vítima de doença pulmonar.

Foi um homem muito importante na conceção, no lançamento e no posterior desenvolvimento da Associação Aldraba, a quem todos nós muito devemos, e a cuja figura nos vergamos com imenso respeito e afeto. 

O Zé Prista integrou a Comissão Promotora da Aldraba, foi a sua casa um dos dois locais onde reuníamos semanalmente durante muitos meses, teve um papel decisivo na discussão e adoção dos nossos documentos fundadores, e foi um dos três elementos (com o Luís Maçarico e o J.Alberto Franco) que celebraram a escritura notarial de constituição da associação em 26.4.2005, um dia depois da nossa Assembleia Geral Constituinte no Ateneu Comercial de Lisboa.

Foi eleito para os órgãos sociais da associação em diversos mandatos, quer na Direção quer como Presidente da Assembleia Geral. A ele se devem também muitas iniciativas em que a Aldraba se tornou conhecida e se foi afirmando, designadamente as exposições sobre aldrabas, batentes e cataventos que, com modificações e melhorias introduzidas ao longo do tempo, estiveram patentes em Lisboa (Espaço Grandella), em Mértola (Festival Islâmico), em Salvaterra de Magos e em outros locais do Ribatejo.

O José Manuel Prista foi um profissional brilhante na área da meteorologia, com formação em física, tendo sido quadro superior e dirigente no então Instituto de Meteorologia, com comissões de serviço em Angola, em Macau e nos Açores, sempre reconhecido pela grande competência e pelas suas qualidades humanas.

Retirou-se para a Azambuja, onde viveu nos últimos largos anos com a sua companheira Luísa Cabrita, a quem endereçamos um forte e comovido abraço.

Caro Zé Manel, o que nós somos hoje foi em grande medida aprendido com o teu caráter nobre, leal, generoso e construtivo, e com a tua postura sempre lúcida e crítica. 

Obrigado, companheiro, e até sempre!

JAF   


domingo, 15 de novembro de 2020

Coerência de um percurso


 







Texto do editorial do n.º 28 da revista "Aldraba" , que está atualmen- te em distribuição (os interessados em obtê-lo podem manifestar-se através do mail jaffranco@gmail.com ou do telefone 96 370 84 81):

Os quinze anos da Aldraba e o esplêndido programa que assinalaria a efeméride tiveram o entrave da pandemia.

Contudo, e por vontade expressa e empenho dos membros da direcção, acompanhados por bons amigos, a continuidade da revista cujos dois números de 2020 se publicaram, testemunha bem a resistência, no consequente sonho de futuro que o manifesto fundador anunciava em 25 de Abril de 2005.

Honrámos assim um passado de dezenas de encontros temáticos, em que levámos associados e companheiros, com interesse e proveito, para conhecer e saborear a diversidade patrimonial imaterial de todo o país. Assim aconteceu em concelhos tão variados e enriquecedores, em termos do saber-fazer, divulgando e colaborando na preservação dos seus bens colectivos, como as tradições de Loulé, os tesouros de Aljezur, as aldeias de xisto do Fundão, a ancestral sabedoria das gentes de Idanha-a-Nova, a olaria de Tondela, a diversidade paisagística, gastronómica e cultural de terras da Gardunha, e a memória histórica do Alandroal, só para citar alguns destes eventos.

As rotas da Aldraba, percorrendo Lisboa, os jantares-tertúlia, dando a conhecer as colectividades da capital, a apresentação pública da revista, em quase todos os números publicados, por personalidades de reconhecida idoneidade, foram outras marcas da nossa actividade.

Depois do confinamento, ensaiamos o regresso à possível “normalidade”.

Os associados e amigos da Aldraba podem contar com uma redobrada intervenção na salvaguarda do património, da memória oral e das tradições identitárias do nosso povo, em interacção com outros protagonistas como o associativismo e o poder local.

Luís Filipe Maçarico

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Concluído o nº 28 da revista ALDRABA


 









O número 28 da revista semestral da associação ALDRABA, referente ao mês de outubro de 2020, que foi elaborado durante o mês a que diz respeito, ficou hoje concluído na respetiva empresa gráfica (GM), e vai começar a ser distribuído a partir de amanhã, 4/10/2020.

O facto de termos conseguido preparar e editar este nº da revista, como aliás o nº 27 no passado mês de abril, nas dificílimas condições da pandemia que todos atravessamos, diz bem da determinação da nossa associação em enfrentarmos essas dificuldades, e em sinalizarmos que o caminho terá de ser o de se encontrarem formas alternativas de trabalhar em prol dos nossos objetivos.

A revista vai ser enviada por correio a todos os associados, e a Direção vai ponderar na próxima semana a viabilidade de realizarmos algum evento público de promoção, respeitadas que sejam todas as necessárias regras de proteção sanitária.

Reproduz-se de seguida o índice deste nº 28 da nossa revista:


CARTOON

Luís Afonso

EDITORIAL

Luís Filipe Maçarico, “Coerência de um percurso”

OPINIÃO

Fernando Estevens, “Entre alimentação e comida, até à memória de cheiros esquecidos”

M.Beatriz Rocha-Trindade,”Construir e preservar a memória das migrações – uma missão que se impõe”

PATRIMÓNIO IMATERIAL

Carlos Rodrigues, “Relógios, sinos e torres de igrejas”

João Coelho, “Ensino primário – o Plano dos Centenários”

LUGARES DO PATRIMÓNIO

Pedro Pires, “A safra do sal: salinicultura tradicional em Castro Marim”

Cristina Pombinho, “Viver o rio”

ARTES E OFÍCIOS

Luís Filipe Maçarico, “Arte xávega: um património secular”

Ondina da Conceição Albírio, “O linho”

PATRIMÓNIO EDIFICADO


Laura Garcez, “A arquitectura do ferro no Porto”

OS AMIGOS E A MEMÓRIA

Nuno Roque da Silveira, “Francisco Velasco – Presente!”

DESABAFOS

Lídia Silvestre, “O chão que pisamos”

CRÍTICA DE LIVROS

Rosa Honrado Calado, “Usos de antanho” de Laurinda Figueira 

ALDRABA EM MOVIMENTO

Maria Eugénia Gomes, “Maio a Outubro de 2020”

POEMAS

Cristina Pombinho, “Paisagem”, contracapa

(verso da contracapa)

Rodrigo Dias, “Sobre a luz e o escuro: Valdanta – Chaves”


JAF