domingo, 30 de maio de 2010

A Aldraba por terras de Pedrógão Grande




















No jardim fronteiro à Câmara Municipal, começou a juntar-se no passado sábado o grupo de participantes no XVI Encontro da Aldraba, que mais tarde viria a reunir 20 associados e amigos, chegados uns do distrito de Lisboa, outros dos distritos de Santarém e de Coimbra, outros do próprio distrito de Leiria que nos acolhia.

No Centro de Interpretação Turístico da C.M.Pedrógão, fomos recebidos pela vereadora da Cultura Drª Sofia Neves e pela técnica responsável pelo Centro, tendo-nos sido proporcionada uma rica visão global das riquezas naturais e culturais do concelho.

A associação dos bombeiros voluntários locais serviu um apetitoso almoço de cabrito assado, a que se seguiu um passeio a pé pelo centro histórico, muito elucidativo dos traços estéticos principais do edificado, e do cuidado com que as suas características têm sido preservadas.

Maravilhámo-nos durante a tarde com as vistas do vale do Zêzere, na zona da albufeira do Cabril, Srª dos Milagres, Penedo do Granada, Convento da Srª da Luz, ponte filipina...

Ao fim da tarde de sábado, na Villa Isaura (Troviscais), conhecemos interessantíssimos materiais museológicos, ligados à saga dos antigos migrantes ratinhos, designadamente instrumentos pastoris e têxteis, e outros materiais coligidos pelo nosso associado Aires Henriques, merecedores de cuidada catalogação e divulgação em exposições em que a Aldraba poderá vir a colaborar.

Após animado jantar volante, a Villa Isaura albergou ainda uma noite de poesia e reflexão sobre os temas patrimoniais. Entre os intervenientes, para além do sempre presente João Coelho, contámos com o escritor local Adriano Pacheco e o nosso querido associado Kalidás Barreto.

O dia de domingo foi passado com o acompanhamento da peneiração, amassada e cozedura de pão, nas instalações da Associação Cultural e Recreativa de Melhoramentos do Mosteiro, com a visita a um moinho de rodízio recuperado, na margem da Ribeira de Pera, com um inesquecível almoço de convívio na Associação, e finalmente um passeio pedestre nas frondosas e refrescantes veredas junto à ribeira.

Dois dias de intensa confraternização, contacto com as práticas culturais e de vida de uma população beirã, e partilha de experiências com os pedroguenses que persistem em dar a conhecer e valorizar o seu património.

JAF (texto e fotografias)

domingo, 16 de maio de 2010

XVI Encontro – “O povo ratinho e os saberes ancestrais”




No XVI Encontro da Aldraba, Pedrógão Grande é o nosso destino nos dias 29 e 30 de Maio.

Antigo concelho beirão, a 190 km de Lisboa, com foral de 1206, situa-se num amplo planalto banhado pela albufeira do Cabril, no Zêzere, onde o azul das águas “pinta” natura tela verde azul tonalizada apela imponente presença das penedias. “A bela natura abre-se pelas encostas vestidas de verde, de cores e sombras…”.

Por aqui passara Camões para escrever o belo poema Oh! Pomar Venturoso e, porventura, de visita a Miguel Leitão de Andrada, que combatera na fatídica batalha de Alcácer-Quibir e dela escrevera, quiçá, o mais vero relato, na sua Miscellânia.

O programa é o seguinte:

Dia 29: Pedrógão Grande e Troviscais
08,00 h: Saída (para os que partem de Lisboa)
10,30 h: Chegada a Pedrógão Grande e concentração frente ao quartel dos bombeiros
11,00 h: Visita ao Centro de Interpretação Turística
12,30 h: Almoço na Associação dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão
14,00 h: Centro Histórico da Vila; miradouros dos Milagres e da Sra. da Confiança; as panorâmicas da barragem, do Penedo do Granada (local de mística e poesia), do antigo convento da Sra. da Luz; circuito pela margem do rio e a ínsua “Vau Azul”
17,00 h: Villa Isaura/Turismo Rural, povoação de Troviscais, para ver/contemplar pratos “ratinhos” e antigos instrumentos têxteis e pastoris
19,30 h: Lanche-convívio em Villa Isaura. Noite “ratinha” e poética

Dia 30: Mosteiro. As várzeas do milho e o ciclo do pão
09,30 h: Encontro na casa de um associado “aldraba”
10,00 h: Visita a um moinho de rodízio, recuperado e a funcionar
11,00 h: A velha Ponte. O ver fazer a amassada e cozedura do pão
13,00 h: Almoço - Encontro na Associação de Melhoramentos e Cultural do Mosteiro
15,30 h: Passeio pela aldeia. Circuito de manutenção “Contra a Corrente” do Pêra

Vamos pelo Sonho. Pela Cultura e pelo Património Popular!

As inscrições devem ser feitas telefonicamente, até 4ª feira, dia 26/5, junto de um dos dois membros dos órgãos sociais que organizaram o Encontro, a Margarida Alves (966474189) ou o João Coelho (967007423). Os participantes que não têm carro próprio, e, inversamente, os que têm e possam disponibilizar algum(ns) lugar(es), devem indicá-lo no acto da inscrição, para se poder assegurar transporte para todos.

JHC, com fotografias da Internet

domingo, 9 de maio de 2010

"Futebol, Fado, Fátima"











Num estimulante depoimento ao "Expresso" de ontem, 8.5.2010, o sociólogo Marinus Pires de Lima comenta aquilo que, em seu entender, torna irrepetíveis em Portugal os fenómenos de agitação social violenta que observámos nos últimos dias na Grécia. "Não é que faltem motivos para a luta, o aumento do desemprego e da precariedade, o agravamento das condições de vida, o corte das prestações sociais... O que escasseiam são rostos e palavras de ordem capazes de trazer a multidão à rua". E continua com tal avaliação negativa, apontando aos sindicatos, partidos e organizações estudantis de Portugal o seu envelhecimento e o facto de se terem acantonado há muito em reivindicações muito específicas e corporativas, incapazes de trazer atrás de si outros segmentos da população.

Marinus Pires de Lima é um intelectual da escola do prof. Adérito Sedas Nunes, de grande nível, que eu conheci e aprendi a respeitar como docente no final dos já longínquos anos 1960's. Por razões que ignoro, pouco se tem falado nele, e desenvolve o seu trabalho sério e rigoroso num centro de investigação da Universidade de Lisboa.

Voltando aos seus pontos de vista ontem publicitados, destaco o sentimento de que "Portugal é mesmo um país de brandos costumes... , em parte continuamos a ser o país do futebol, fado e Fátima". "É através do futebol que se vai mudar a sociedade? Não, mas é exactamente para as claques e para essas rivalidades que está a ser canalizada muita da tensão dos jovens" (MPL).

Hoje mesmo, à tarde, ao passear de automóvel por localidades de cinco dos concelhos limítrofes da cidade de Lisboa, estas reflexões vieram-me muitas vezes ao espírito. Elementos da população, de muitas idades e condições sociais, preparavam-se com toda a espécie de objectos de propaganda e agitação para a previsível festa de logo ao fim do dia, de comemoração da vitória do seu clube no campeonato da Liga. Em janelas, placares e outros locais de destaque, anunciavam-se já as manifestações de massas com que, nos próximos dias, vai ser assinalada a passagem por Portugal do chefe máximo da igreja católica.

Não hoje, mas em datas recentes, multidões ululantes têm enchido pavilhões para vibrar com o Tony Carreira (e, ultimamente, com o seu "rebento" Mickael), ou então são centenas de jovens que passam noites a fio em filas de espera para comprarem bilhetes para um próximo concerto de uma qualquer banda irlandesa, americana ou inglesa. Claro que não se trata do fado (esse, em verdade, até é uma arte nacional que merece consideração), mas sim da música mais oca e gratuita que se pode imaginar...

Então, o desporto, as religiões e a música não são formas de expressão legítimas e importantes para a autoestima das colectividades? Claro que sim, mas o que não podem - não devem! - é aparecer como substitutos e panaceias para o alheamento e a ignorância da população em relação aos problemas históricos que a afligem.

JAF (fotografias reproduzidas da internet)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A Aldraba no lançamento de "Associativismo, património e cidadania"





A associação ALDRABA esteve representada no lançamento deste livro do Luís Maçarico, que foi um grande momento de vibração associativa e de partilha de sonhos. O presidente da Direcção, José Alberto Franco, apresentou na altura uma intervenção relativa ao percurso do autor:

Foi-me pedido um contributo, nesta sessão de apresentação do trabalho do Luís Filipe Maçarico “Associativismo, património e cidadania”, que constituísse o meu testemunho quanto ao envolvimento do autor no movimento associativo.

A minha perspectiva de observação, apesar de não ser tão extensa no tempo quanto a de outros amigos e companheiros, aqui presentes, que convivem com o Luís há mais anos, será ainda assim privilegiada, na medida em que compreende uma experiência conjunta muito intensa e rica, na área em causa.

Conheci o Luís Maçarico em 2001, no contexto da Casa do Alentejo e de uma das colectividades regionais aí sedeadas.

Cooperámos em actividades práticas dessa colectividade, e pude vivenciar a riqueza dos contributos que ele concebe e propõe continuamente, a vastidão e a diversidade dos conhecimentos humanos e institucionais que ele detém.

Mas, o mais importante, não é ele deter esses conhecimentos, é, sim, o ele partilhá-los espontaneamente nas organizações onde está, tornando os seus amigos como nossos amigos, que se prontificam desde logo a cooperar connosco com a mesma intensidade e disponibilidade como o faziam com ele!

Outra característica da postura do Luís, nas colectividades onde está, e que eu presenciei tantas vezes, é o seu inconformismo com o oportunismo e as deslealdades, que ele repudia e deita fora, às vezes quando outros amigos ainda não se aperceberam desses desvios.

Contudo, não é o inconformismo para o abandono e para o desalento, é geralmente uma atitude pela positiva, de que é necessário rejeitar o que não presta, reunir as forças que são saudáveis, e recomeçar de novo, com energias redobradas.

Assim foi na experiência associativa em que o conheci, assim tem sido nas outras colectividades em que à distância o tenho acompanhado (falo da Liga dos Amigos de Alpedrinha, de “Os Combatentes”, do Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades, entre outras).

E é sobretudo esse o testemunho que posso transmitir destes 5 anos que levamos em conjunto na Associação ALDRABA, em que temos trabalhado de forma entusiástica e militante, e de cujos resultados ou perspectivas vários dos presentes poderão falar.

Muito obrigado, Luís Maçarico, pelo que tens dado de ti à causa do associativismo popular na nossa terra!

José Alberto Franco
29.4.2010