segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

"Tradição e sabedoria": Queimar as pestanas


















Significado: Estudar muito.

Origem: Aqueles que estudavam antes da existência da eletricidade, estudavam à luz de velas ou lamparinas e, para que pudessem ler convenientemente, tinham de as colocar muito perto do texto, correndo sério riscos de ficar com as pestanas queimadas.


Cafés Chave d’Ouro


"Post-scriptum"
Votos de um ano de 2019 a "queimar as pestanas", com uma leitura crítica de todos os sinais da realidade à nossa volta que interessam para um futuro de progresso.

JAF

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O património popular português e o Natal

















Na tradição popular portuguesa, o momento das comemorações cristãs do Natal é um período por excelência para a evocação dos sentimentos mais positivos da fraternidade, do afeto, do reencontro familiar, da reconciliação, da paz.

As raízes religiosas da data são anteriores ao próprio cristianismo, relacionadas com a divindade solar e com o solstício do Inverno, que a Igreja procurou neutralizar com a celebração do nascimento de Jesus Cristo.

Contudo, na perspetiva da cultura popular, como sempre, o que importa é aquilo de que as coletividades se apropriam, geralmente à margem dos ritos e das liturgias dominantes.

Em Portugal e no resto do chamado Ocidente, a liturgia dominante é predominantemente a do consumismo cego e esmagador. Não é isso que interessa à Aldraba...

No passado dia 15 de dezembro, reunimos quase 20 associados e amigos no nosso 26º Jantar-Tertúlia, na A.M.Bairro das Amendoeiras, em Marvila. Os quais, em ameno e caloroso convívio com os anfitriões da AMBA, partilharam de forma muito animada o espírito que caracteriza a nossa Associação.

Isto depois de, na tarde do mesmo dia, termos feito a nossa 9ª visita a espaços de interesse para o património popular, neste caso ao notável Museu Nacional do Azulejo.

Uma excelente quadra festiva para todos os nossos amigos!

JAF


domingo, 9 de dezembro de 2018

26º Jantar-Tertúlia, na Associação de Moradores do Bairro das Amendoeiras (Marvila, Lisboa), dia 15dez2018










Dando continuidade à prática de há muitos anos, vamos realizar mais um jantar-tertúlia na época natalícia, proporcionando uma oportunidade de convívio entre os nossos associados, familiares e amigos.

Este ano, após a tarde do mesmo dia em que se realiza a nossa visita ao Museu dos Azulejos, na Madre de Deus, iremos ao encontro ali na zona com a Associação de Moradores do Bairro das Amendoeiras (AMBA), em Chelas, a partir das 19h30.

Trata-se de uma jovem associação local, criada em 2006 (um ano depois da criação da ALDRABA...).

Tem a sua sede na Rua Luís Pacheco, loja 5, junto à gare do Metro de Chelas e da esquadra da PSP, não muito longe da estação de recolha da Carris.

Os nossos amigos Presidente e Vice-Presidente da AMBA, Manuel Saraiva e Mafalda Correia, vão acolher-nos num jantar de convívio, em que a refeição inclui sopa de feijão com legumes, prato de vitela assada com couves de Bruxelas e arroz, bebidas, sobremesa e café, tudo pelo preço unitário de 12€.

Falaremos entretanto sobre as atividades culturais e recreativas desenvolvidas na zona.

Os participantes no jantar devem manifestar-se até 5ªfeira, dia 13.12, junto do José Alberto Franco (jaffranco@gmail.com, TM 963708481), da MªEugénia Gomes (megomes2006@gmail.com, TM 964445270), ou da associação Aldraba (aldraba@gmail.com).

JAF.






Visita ao Museu do Azulejo, em Lisboa, no dia 15dez2018, às 15horas









Nesta 9ª visita a espaços de interesse para o património popular, vamos levar a efeito, na tarde do próximo sábado 15 de dezembro, a partir das 15 horas, uma visita guiada ao Museu Nacional do Azulejo. 

O Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, é um dos mais importantes museus de Portugal, pela sua coleção singular, dedicada ao azulejo, expressão artística diferenciadora da cultura portuguesa, e pelo edifício ímpar em que se encontra instalado, o antigo Convento da Madre de Deus, fundado em 1509 pela rainha D. Leonor. Fica situado na Rua da Madre de Deus, 4, em Lisboa.

Seremos acompanhados pela guia Lina Lopes, pessoa de elevada competência e dedicação à atividade do Museu.

A entrada dos nossos participantes na visita será gratuita.

Todos os associados e amigos são convidados a comparecerem, e a trazerem outros amigos também nesta visita.

JAF






sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Ecos do lançamento do nº 24 da revista ALDRABA

















Graças a Jacqueline Aragão temos uma breve reportagem fotográfica da apresentação da revista 24 da Aldraba, com uma intervenção de Santiago Macias, tão dinâmica, que originou muitas intervenções da assistência. 

O Professor destacou a longevidade e regularidade da revista e sublinhou a importância da fixação da memória e a atenção dada às coisas supostamente pouco importantes, num contexto de diversidade dos patrimónios, abordados na revista da Aldraba.

"O ritmo certo implica esforço e muita disciplina de quem coordena" - afirmou. 

E acrescentou ainda: "Afastámo-nos do mundo rural", citando Barceló: "O poder não quer saber dos camponeses!"


Comentário de uma amiga da Associação que assistiu de novo a um lançamento da revista: "O Santiago motivou as pessoas a lerem e não foi exaustivo!"


LFM (fotos de Jacqueline Aragão)

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

UNESCO – Reggae e decisões de Património Mundial relativamente a Portugal



A "UNESCO acaba de declarar o Reggae jamaicano património imaterial da Humanidade, destacando "a contribuição" desta música para a consciência internacional "sobre questões de injustiça, resistência, amor e humanidade", graças a artistas como Bob Marley".

A propósito desta decisão, divulgada hoje, lembro as classificações de Património Mundial decididas pela UNESCO relativamente a Portugal:

 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_do_Patrim%C3%B3nio_Mundial_em_Portugal)
1983
·         Centro histórico de Angra do Heroísmo (Açores),
·         Mosteiro da Batalha,
·         Mosteiro dos Jerónimos/Torre de Belém (Lisboa) e
·         Convento de Cristo (Tomar).
1986
·         Centro histórico de Évora.
1989
·         O Mosteiro de Alcobaça.
1995
·         A paisagem cultural de Sintra.
1996
·         O centro histórico do Porto.
1998
·         A Arte Rupestre do Vale do Rio Côa.
1999
·         A Floresta Laurissilva da Madeira.
2001
·         O centro histórico de Guimarães.
·         O  Alto Douro Vinhateiro na lista.
2004
·         A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico.
2011
·         O Fado.
2012
·         A maior fortificação abaluartada do mundo, em Elvas, foi classificada como Património Mundial.
2013
·         A Universidade de Coimbra.
·         No mesmo ano, a dieta mediterrânica foi classificada como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
2014
·         O cante alentejano, canto coletivo, sem recurso a instrumentos e que incorpora música e poesia.
2015
·         O fabrico de chocalhos em Portugal, ofício e manifestação cultural que tem no Alentejo a sua maior expressão a nível nacional.
2016
·         O processo de fabrico do barro preto de Bisalhães, em Vila Real.
·         A falcoaria portuguesa, através depois de uma candidatura apresentada pelo município de Salvaterra de Magos (distrito de Santarém).
2017
·         A produção dos "Bonecos de Estremoz (distrito de Évora).

 MEG

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Santiago Macias apresenta o nº 24 da revista ALDRABA na 4ª feira, 28 de novembro

















Na Casa do Concelho de Góis em Lisboa (Rua de Santa Marta, 47 r/c Dtº, próximo do Mq.Pombal) irá ter lugar, pelas 19 horas do próximo dia 28 de novembro, 4ª feira, a apresentação pública do nº 24 da nossa revista.

O historiador e arqueólogo Santiago Macias vai dar-nos a honra de apresentar a revista.

Todos os associados e amigos são convidados a comparecer.

Sumário da revista ALDRABA, nº 24:

EDITORIAL
As oliveiras milenárias, um património ímpar
João Coelho

OPINIÃO
O espírito inovador de Francisco Grandella
Ana Isabel Veiga e Luís Filipe Maçarico

PATRIMÓNIO IMATERIAL
As minhas brincadeiras
Romão Trindade

LUGARES DO PATRIMÓNIO
Museu Nacional: Memória e lamento
Diana Alves
A história de um encontro do património transfronteiriço
Luís Filipe Maçarico
Viajar, sonhar, reviver…
Luís Cangueiro e Andreia Gomes Martins

ASSOCIATIVISMO E PATRIMÓNIO
Historial do Orfeão da Comenda “Estrela da Planície”
Manuel Morais

RITUAIS, TRADIÇÕES E REALIDADE
Rocha Peixoto: o etnógrafo estudioso dos “ex-votos”
J. Fernando Reis de Oliveira

ARTES E OFÍCIOS
João Pintassilgo - mestre oleiro João Mértola do Redondo
Paulo Silveira

SONS COM HISTÓRIA
Os carrilhões de Mafra: do desconhecimento à incompreensão de um património
José Nelson Cordeniz

MEMÓRIAS DO TRABALHO
Comenda, Castelo Cernado, Ferraria e Vale da Feiteira - terras de carvoarias e carvoeiros
Jorge Branco

OS AMIGOS E A MEMÓRIA
Memórias dispersas
Rosa Honrado Calado

ALDRABA EM MOVIMENTO
Maio a Outubro de 2018

Maria Eugénia Gomes

sábado, 17 de novembro de 2018

Memórias dispersas



















Pré-publicação do artigo que a nossa associada Rosa Honrado Calado escreveu, acerca do seu tio João Honrado, para o n.º 24 da revista ALDRABA, que se encontra no prelo:

Nascer no país mais ocidental da Europa virado para o mar, com uma superfície geográfica e humana diversificada e atraente, na 2ª metade  do séc. XX, também é um acto de “pontaria”.
As discrepâncias de vida, o atraso geral em relação ao continente europeu, a que pertence, eram assinaláveis.
A geração dessa época foi marcada por um governo autoritário e vigilante que tornou a vida deste país “tranquila, ordenada, pacata, vigiada, segura, etc, etc…”, de tal modo que até as chocantes assimetrias sociais impunham-se e não podiam ser referidas. Eram “naturais”.
Pronto, está descrito o local destas memórias que vão remontar a uma vila alentejana, interior, situada mais a sul.
Num 1º cenário, sabemos pelo povo da vila duma notícia – “vai haver um casamento”. Todos conhecem as famílias dos noivos, eles vão casar em casa, pelo registo. A boda é caseira, mas preparada com o que de melhor se pode arranjar. As portas da casa estão abertas para receberem os amigos, vizinhos e família, como era de tradição.
Todos se conhecem. Acolá, vê-se ali um moço alto, um pouco desengonçado, curioso, falador, brincalhão, mas sempre atento, é o irmão mais novo do noivo, o João. Este moço já era conhecido como contestatário, ”contra o Salazar”, pois até já tinha estado preso em Caxias por ter ousado distribuir panfletos contra o ditador, no teatro Pax Julia, em Beja. Tinha amigos e camaradas, entre eles o irmão mais velho (o noivo), que em 1945, na calada da noite, pintaram as paredes do cemitério, a zona mais alta da vila, e deitaram foguetes para saudar o fim da guerra e a vitória dos aliados.
Mas, naquele dia, dia de festa, de casamento, o que o povo de Ferreira, os convidados e amigos não esperavam era assistir àquele insólito fim de festa. Sim, os agentes da PIDE entraram pela sala da boda e prenderam o jovem João Honrado. Muitos seguiram com protestos o carro que o encarcerava, outros choravam e não se conformavam. A vila assistia a mais uma repressão que ficaria sem resposta, gravada na memória de muitos. Depois duma boda com um triste final, que marcou a família e o povo daquela vila, o João passou mais alguns meses nas masmorras das cadeias políticas, onde contraiu tuberculose e sob prisão foi transferido para um sanatório no Caramulo. Saiu da cadeia em 1954 e entra de imediato na clandestinidade.
Nas casas da família Honrado, falava-se com muitos silêncios e cautelas quando o tema era o tio João. Ninguém sabia onde estava, como estava, dizia-se: “deve estar bem”, “preso não está”, “seguiu o caminho da sua luta”. Durante 7 anos, na “Pensão Honrado”, onde ficaram a morar o casal (da triste boda) e mais uma filha que veio aumentar o agregado, surgiam pessoas que falavam baixo, não saíam dos quartos, pareciam “sombras”, trocavam papéis e rapidamente desapareciam.
Em Fevereiro de1958, morreu António José Honrado, o patriarca da família, de morte súbita. Os algozes planearam que o filho clandestino poderia, disfarçadamente, comparecer. Lá dentro chorava-se o ente querido, o ausente e o cerco policial. Os amigos que chegavam mais embuçados eram destapados e durante o funeral o cordão policial manteve-se vigilante até ao cemitério. A nossa família estava arrasada, os amigos e as gentes da cidade puderam comprovar como eram desrespeitados os momentos mais dolorosos duma família. Dias depois, ainda me recordo de ter chegado com os meus pais a casa dos meus avós e ter deparado com um cenário inaudito: roupas, louças, gavetas, malas foram despejadas e desarrumadas. Era mais uma busca. Foi mais um cenário que não dá para esquecer. A minha avó, mulher firme e lutadora, manteve-se sempre à frente de mais esta “prova”.
Em 1962, através da imprensa, soubemos que o tio João fora preso em Coimbra e recomeça mais um calvário, porque não obtínhamos mais notícias. Durante meses, os irmãos percorreram repartições, fizeram pedidos, requerimentos e regressavam só com o desalento. Foram meses duma espera dolorosa. Sabíamos e sofríamos com a convicção de que o nosso ente querido estava a ser torturado e a sofrer as piores sevícias. Passados meses, pudemos visitá-lo no Forte de Peniche. Separadas as visitas dos reclusos por vidros e balcões de pedra, conseguíamos ainda detectar as marcas das torturas físicas e psicológicas. Inicia-se um período de incertezas, de visitas ultracontroladas, de proibições. Preparávamos, durante semanas, o que podíamos levar de Beja a Peniche, percorríamos com ansiedade tantos quilómetros, mas a visita podia ser proibida. Porquê? Porque ao batermos ao portão e, após aguardarmos as inspecções sobre as encomendas que entregávamos, podíamos ouvir do guarda a comunicação, dita com alguma alegria: ”o sr. Honrado está proibido de receber visitas”, sem mais explicações. Claro, vínhamos depois a saber que tinha entrado, com outros camaradas, numa greve de fome ou participado no protesto contra as bárbaras condições que havia dentro das cadeias.
Em 1963, fomos surpreendidos com a notificação de que tínhamos de nos dirigir, rapidamente, à cadeia do Porto, onde iriam entregar-nos uma criança de 3 anos, filha do tio João e duma camarada, nascida durante a clandestinidade. O processo foi do mais célere, porque a menina estava gravemente doente e seria um escândalo internacional se o pior viesse a acontecer. A nossa família recebeu a menina quase em estado de coma. Felizmente, graças aos cuidados da família e de muitos amigos, a minha prima sobreviveu. Mais haveria para contar, mas fico por aqui.
Em modo de fecho, quero apenas explicar que decidi escrever estas memórias porque sei que há toda uma geração que, passados 44 anos sobre o Dia da Liberdade, o nosso 25 de Abril, desconhece ainda episódios da história negra da ditadura, que assolou e marcou este país.
Quero terminar com uma mensagem de optimismo, contando que o tio João viveu e lutou intensamente após o 25 de Abril, sem mágoas, sem vinganças, com alegria e sempre querendo fazer mais e mais, até ser impedido pela doença.
Como não sei defini-lo melhor, tive a sorte de ter encontrado, escrita pelo nosso amigo Eduardo Olímpio, a definição que subscrevo:

“O João foi doutorado em Alentejo e Amor”.

Rosa Honrado Calado

sábado, 10 de novembro de 2018

As estafetas (2)














Reproduz-se hoje a segunda metade da crónica publicada no”Diário do Alentejo” de 31.8.2018:


AS ESTAFETAS (2)
(...)

Já as idas a Lisboa eram mais para levar do que trazer - eram os frangos para a família, o pão para um filho cheio de saudades dele, as linguiças, os paios, os bocados de presunto, os queijinhos, tudo dentro de alcofas, por vezes, bem pesadas. Mas havia sempre alguém para ajudar - os estafetas conheciam-se todos uns aos outros e eram solidários.

Depois, metiam-se no comboio, de madrugada, e ainda tinham de fazer o transbordo no Barreiro - mudavam-se, com toda a carga, para o cacilheiro e lá atravessavam o Tejo, numa viagem longa e aborrecida, sempre com a capital à vista. É uma viagem linda, mas não para quem a tem que fazer por obrigação.

E na estação, dita de Sul e Sueste, desembarcavam para o Terreiro do Paço, e toca de apanhar um elétrico a caminho das voltas de obrigação.

No regresso, com os mandados dos fregueses, repetiam a viagem em sentido contrário. E, além das encomendas, traziam sempre as últimas novidades de Lisboa - dos boatos da política, dos teatros e dos cinemas, do que viram nas montras.

Ao chegar à estação de Alvito, a dois quilómetros da vila, ao fim da tarde, havia dois carros de canudo, os churriões do Quinito e do Afogadinho, e um deles, não me lembro qual, trazia a Ameijoinha para cima, cabeceando no banco, cansada mas tendo ainda que cumprir a tarefa de entregar as encomendas aos clientes.

E tudo por uns tostões...

Maria Antónia Goes

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

As estafetas (1)














No”Diário do Alentejo” de 31.8.2018, foi publicada uma crónica muito interessante, de que aqui reproduzimos a primeira metade:


AS ESTAFETAS (1)

Antigamente, quando as viagens se faziam com muito mais dificuldade que hoje, havia em todas as terras um estafeta.

Refiro-me até aos anos 40 e 50 de século XX.

No Alvito, havia uma mulher, a “Ameijoinha”, que se encarregava de fazer recados – ia a Beja, todos os dias da semana, e a Lisboa, de vez em quando. Era filha de um antigo funcionário dos Caminhos de Ferro, por isso não pagava nada nos comboios. E nem por deixar de ser assim, porque o que ganhava limitava-se a uns tostões por dia.

Precisava-se de uma linha que desse bem para coser um tecido – dava-se uma amostra à Ameijoinha e ela calcorreava Beja inteira em busca da linha que melhor lhe parecia. Ou um fecho de correr, ou um botão, ou uns colchetes, ou um pano para acabar uma obra, ela procurava tudo.

Mas também se lhe podia pedir para ir ao Luís da Rocha comprar uma dúzia de empadas ou uma caixa de trouxas de ovos, ou um porquinho de chocolate.

Podia ter que correr as farmácias para aviar uma receita, comprar uma câmara de ar para uma bicicleta, uma lâmpada, sei lá, uma quantidade de coisas que não se vendiam na vila, onde as lojas, poucas, se limitavam a ter azeite, farinha, arroz, misturados com pano cru, chita da tabela, botas grosseiras ou galochas (…).


Maria Antónia Goes

sábado, 13 de outubro de 2018

Oliveiras milenares























Pré-publicação do editorial do n.º 24 da revista ALDRABA, que se encontra no prelo:

AS OLIVEIRAS MILENÁRIAS, UM PATRIMÓNIO ÍMPAR

Temos vindo a assistir ao derrube inconsciente de oliveiras centenárias e milenárias pelas mais diversas razões – plantio de novo olival, construção de vias e edificações -, ignorando-se todo o seu valor e simbolismo, nos planos ambiental, histórico e económico. E, com isso, perdem-se memórias, fere-se a paisagem, perde-se a qualidade no azeite.
As oliveiras das modernas explorações tornam-se menos duradouras e resistentes às condições climáticas, ao serem submetidas a ações sucessivas de poda, de rega e a uma exploração mais intensiva.
Em Portugal existem ainda muitas oliveiras milenárias, das quais destacamos:
- Em Loures. A oliveira milenária de Santa Iria de Azóia, que esteve em risco de ser derrubada para se alargar uma rotunda, mas a comunidade movimentou-se e hoje tem-na como um património muito seu.
- Em Tavira. A oliveira bimilenária do aldeamento de Pedras d`El-rei;
- Em Abrantes. A oliveira trimilenária das Mouriscas, cuja idade, de 3.350 anos, foi cientificamente comprovada, em 2016, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Esta durabilidade advém, segundo os seus estudiosos, como Stéphane Moreaux, da enxertia de um zambujeiro, árvore da sua espécie, conhecido também por oliveira silvestre.
A origem da oliveira, segundo a história, remonta à Era Terciária, situando-se na Ásia Menor, onde foram encontradas folhas fossilizadas, datadas do Neolítico. Mais tarde, veio a difundir-se em torno do Mediterrâneo, zona em que assumiria uma invulgar proeminência na sua paisagem e gastronomia.
Desde a antiguidade, a oliveira tem sido associada a manifestações culturais, a usos gastronómicos e medicinais e a práticas religiosas. Na Bíblia e no Corão, ela é a árvore mais referida e venerada. “O ramo verdejante trazido pela pomba a Noé não poderia ser outro que não um ramo de oliveira” (Génesis).
Da sua madeira faziam-se cetros reais e com o azeite ungiam-se monarcas, atletas e sacerdotes. Daí o ser considerada símbolo da sabedoria, da paz e da abundância.
Foi cantada por Homero, Ovídio, Virgílio e Plínio. “E com um ramo de oliveira o homem se purifica” (Virgílio, Eneida).
A oliveira constitui, sem dúvida, o elemento mais identitário do património natural dos países do Mediterrâneo, juntamente com a azinheira e a videira. E o seu azeite é o ingrediente fulcral da sua denominada dieta.
A palavra azeite deriva do vocábulo árabe al-zait que significava “sumo de azeitona”. Um sumo mítico, bíblico e histórico, servindo até de apelativo à verdade: “o azeite vem sempre ao de cima”.
A oliveira é um ser vivaz e resistente, de folhagem perene e violácea, que se inclina sempre para a luz e sendo também luz: na mesa, no candelabro, na candeia,… E que Van Gogh tão bem pintou, mas confessando: ”Mas é bem difícil. Mas isso convém-me e atrai-me no ouro e na prata. E talvez um dia faça delas uma interpretação pessoal, como os girassóis estão para os amarelos”.
Por tudo isto, a oliveira é uma árvore singular e ímpar da natureza, da vida e cultura mediterrânica. Mas não só. Pela realidade que as oliveiras milenárias encerram e representam, impõe-se que o Governo - com meios e legislação adequada -, as autarquias e as associações do património cultural concorram para garantir a sua defesa, conservação e preservação.
A Aldraba fará o possível para assumir a sua responsabilidade, na sensibilização e cooperação.
João Coelho


sábado, 6 de outubro de 2018

"Tradição e sabedoria" : Que maçada











Significado: Expressão utilizada para referir uma tragédia ou contratempo.

Origem: É uma alusão à fortaleza de Massada, na região do Mar Morto. Israel, reduto de Zelotes, onde permaneceram anos, resistindo às forças romanas após a destruição do Templo de Jerusalém em 70 dC, culminando com um suicídio coletivo para não se renderem.


Cafés Chave d’Ouro

sábado, 29 de setembro de 2018

Imagens do jantar-tertúlia na Padaria do Povo






















































Mais de 20 associados e amigos da Aldraba participaram em 27.9.2018 no 25º Jantar-Tertúlia, na Cooperativa A Padaria do Povo. Ao animado repasto na esplanada, seguiu-se um debate em sala, calorosamente acolhidos pelo presidente da direção José Zaluar e pelo cooperante Vasco Loução.

Falou-se da rica história da casa, da notável Universidade Popular que Bento de Jesus Caraça ali dirigiu, das atuais encruzilhadas do associativismo, e dos projetos futuros.

No final da sessão, o pintor Albino Moura presenteou a nossa associação com uma gravura de sua autoria, gesto que muito sensibilizou todos os presentes.

Ficam aqui algumas fotografias de uma noite memorável.

JAF (fotos de Teresa Reis e de Luís Maçarico)

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

25º Jantar-Tertúlia, na Padaria do Povo (Campo de Ourique), 5ª feira, dia 27.9.2018, pelas 20h













Na 5ª feira da próxima semana, dia 27 de setembro, vamos realizar na esplanada da Padaria do Povo, em Lisboa, o nosso 25º jantar-tertúlia.

A “Padaria do Povo” fica na rua Luís Derouet, 20-A, 1º andar, Campo de Ourique, próximo da rua Ferreira Borges. Trata-se de uma cooperativa centenária, criada em 1904 para fabricar pão mais barato para os habitantes da zona. É, desde 2013, uma grande sala de convívio de Campo de Ourique, com xadrez, matraquilhos, dardos e bebidas a preços convidativos, e com um simpático terraço nas traseiras onde se podem organizar jantares de grupo.

Tal como aconteceu em dezembro de 2017, quando ali fizémos o lançamento do nº 22 da nossa revista, vamos ser acolhidos pelo presidente da direção da Padaria do Povo, o amigo José Zaluar, que participará no jantar e no debate-convívio que se seguirá.

O jantar vai incluir entradas quentes e frias, pratos de peixe e de carne, bebidas, sobremesa e café, pelo preço de 15 euros por pessoa. Os interessados em participar devem manifestar-se, até 3ª feira, 25 de setembro, pelo e-mail aldraba@gmail.com, ou pelos telefones 917037007 (Odete Roque) ou 914773956 (Albano Ginja).

Associados, familiares e amigos são convidados a aderir e a participar nesta iniciativa num sítio emblemático da cidade de Lisboa.

JAF

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Nomes de localidades em azulejos (cont. 35)















Há mais de um ano atrás (30/12/2016), publicámos três novas placas de azulejos, duas de Gaia (distrito do Porto) e uma de Mondim de Basto (distrito de Vila Real), todas elas enviadas pela nossa amiga Graça Regueiras, em mensagem que nos enviou, que terminava com o voto de "continuação de um bom trabalho para a vossa Associação”.

Na altura, comentámos que tínhamos divulgado 165 placas de 16 distritos do Continente, só faltando dos distritos de Aveiro e de Braga.

Uns tempos depois, a mesma amiga voltou a escrever: "Junto então uma do Luso, concelho da Mealhada, distrito de Aveiro e uma de Lordelo, concelho de Guimarães, distrito de Braga e estão todos os distritos representados". Por razões técnicas ligadas ao formato das duas gravuras, demorámos muito a publicá-las, o que só hoje acontece.

Um novo grande abraço à Graça Regueiras pela sua preciosa colaboração.

Atingimos hoje um total de 167 placas publicitadas, dos 18 distritos do Continente.

JAF (fotos de Graça Regueiras)

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O acervo documental da ALDRABA (16) - Cante












Retomando a publicação da lista dos textos que constam do nosso acervo, divulgamos hoje os trabalhos que saíram na revista "Aldraba" relativos ao descritor CANTE, integrado no grupo temático “Práticas do património”: 


CANTE
Ana Isabel Veiga e Luís Filipe Maçarico, “A natureza no cante alentejano”, nº 22 (Out.2017), p.18
Ana Machado, “O cante alentejano na Margem Sul”, nº 2 (Nov.2006), p.7
Luís Afonso, “A ópera e o cante alentejano”, nº 20 (Out.2016), verso da capa
Luís Afonso, “O problema é a corrupção”, nº 17 (Abr.2015), verso da capa
Luís Ferreira, “Ao cante alentejano”, nº 17 (Abr.2015), verso da contracapa
Paulo Lima, “Património cultural imaterial: conceitos e formas desadequadas de olhar a paisagem…”, nº 16 (Out.2014), p.7
Rosa Dias, “O cante alentejano no Porto”, nº 4 (Dez.2007), p.13


Os leitores e amigos que pretendam aceder a alguns destes textos e que se manifestem em comentário ao presente post, ou por e-mail para aldraba@gmail.com, receberão uma cópia digitalizada do ou dos artigos que indicarem.


JAF  (foto: http://arronchesemnoticias.blogspot.com)

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

XXXVII Encontro: "A Comenda e o Património", Gavião, 1-2/9/2018













Iremos realizar no 1º fim de semana de setembro, nos dias 1 e 2, o nosso XXXVII Encontro temático, no concelho alto-alentejano do Gavião.

O Encontro vai estar centrado na localidade da Comenda, onde será feita a apresentação de um livro etnográfico do nosso associado Jorge Branco e onde também decorre nesses dias uma tradicional e rica festa religiosa.

Iremos igualmente visitar vários locais de grande interesse ao longo do concelho do Gavião, e teremos um momento associativo com o orfeão da Comenda.

Programa do Encontro (ainda sujeito a afinações):

Sábado, 1/9
10h00m: Ponto de encontro em Belver, em frente da Fábrica das Tapeçarias (para quem fizer a viagem de automóvel pela A23, aconselha-se a saída da autoestrada nas Mouriscas, https://goo.gl/maps/NBKQSj5P6Vo);
10h15m : Visita às Fábricas dos Tapetes e dos Sabões;
12h30m: Deslocação para a Comenda, onde se almoça no “Centro de Dia” –sabores da gastronomia local (preço de 10€ por pessoa);
14h30m: Apresentação do livro “Comenda com Gente”, de Jorge Branco, no Salão Paroquial e Comunitário da Comenda;
17h30m: Encontro com o orfeão local “Estrela da Planície”;
A partir das 19h00m, jantar livre no espaço das festas da Comenda;
Dormida no Gavião, na Residencial (preço de 15€ por pessoa).

Domingo, 2/9
9h30m: Visita ao Castelo de Belver;
11h30m: “Como se faz o carvão” – Visita aos fornos de carvão e conversa com um carvoeiro;
13h00m: Almoço na Comenda, no mesmo local da véspera (ementa típica alentejana, preço de 8€ por pessoa);
Tarde: Assistir às animadas festas religiosas de Castelo Cernado, em honra de Nossa Senhora das Necessidades.

Desafiam-se todos os associados a integrarem esta deslocação ao Alto Alentejo nos vossos calendários, e a divulgarem o convite a familiares e amigos.

Venham assinalar connosco o fim de férias e o recomeço das nossas atividades.

Manifestem com antecedência a intenção de participar, escrevendo para o endereço aldraba@gmail.com, ou por telefone/sms para o Nuno Silveira (TM: 96 291 60 05) ou para a Mª Eugénia Gomes (TM: 96 444 52 70). Se possível, comuniquem até ao domingo 26 de agosto.


Como sempre, é possível e vantajoso combinar idas em conjunto, por razões de economia e de convívio.

JAF