quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Conclusões da Assembleia Geral de 16.12.2006



A Assembleia Geral da Aldraba realizada no passado dia 16 de Dezembro cumpriu plenamente os objectivos previstos.

A seguir à ratificação da entrada do novo vogal para a Direcção, Leonel Costa, procedeu-se à análise e à votação do Plano de Actividades e do Orçamento para 2007, e à adopção do Regulamento Interno Geral da Associação, tendo sido tomadas em devida consideração as intervenções e algumas propostas de modificação apresentadas por diversos associados (José Chitas, Fernando Duarte, Mª Eugénia Gomes, Luís Jordão, José Prista, Mª Amélia Sobral, Luís Franco, Rogério Rodrigues, Pedro Alves e Jorge Rua Carvalho).

O Plano de Actividades de 2007 aprovado passou a ter a redacção final que se reproduz em seguida.

Aprovou-se também o Orçamento para o ano de 2007, que prevê um total de proveitos correntes de 5300 euros e um total de custos correntes de 6020 euros, sendo contudo positivo o saldo final (no montante de 280 euros) em função do saldo favorável de 1000 euros estimado para o exercício de 2006.

PLANO DE ACTIVIDADES PARA 2007
Em termos associativos, a ALDRABA conseguiu nestes dois anos de existência, seja nos meses iniciais, enquanto projecto de promoção de uma ideia, seja depois da sua fundação legal, um património humano e de reflexão que merece ser aprofundado e dinamizado.
Dos 80 associados iniciais, ultrapassámos os 120 que nos propusemos para 2006, e é com esse estímulo que pretendemos contribuir para a salvaguarda de patrimónios identitários, sem os quais o nosso quotidiano e o futuro daqueles a quem transmitiremos o testemunho seria certamente menos envolvente.
Actividades a desenvolver:
1. Realizar entre dois e quatro encontros temáticos, em datas que se venham a revelar propícias, com instituições nossas parceiras (a título de exemplo, poderemos apontar para abordagens em torno do bacalhau e do Museu Marítimo de Ílhavo, do xisto e da cereja com o associativismo das Beiras, ou da doçaria saloia no Oeste).
2. Dar continuidade a iniciativas já esboçadas, como os jantares/tertúlias nas casas regionais sedeadas em Lisboa.
3. Incentivar e concretizar debates acerca das questões do património imaterial e promover iniciativas concretas em torno da consagração de alguns objectos e saberes enquanto Património da Humanidade, com a eventual colaboração de algumas Universidades com especialização nas áreas das Ciências Sociais.
4. Prosseguir e aprofundar as parcerias iniciadas com diversas associações e autarquias.
5. Manter a ligação ao Arraial do 25 de Abril em Lisboa, à Festa dos Chocalhos em Alpedrinha (Setembro) e ao Festival do Chícharo em Alvaiázere (Outubro).
6. Participar no Festival Islâmico de Mértola (Maio).
7. Celebrar o 2º Aniversário da nossa Associação.
8. Desenvolver o blogue, o site “Aldraba digital” e os contactos com a comunicação social, potenciando a divulgação de iniciativas e pontos de vista.
9. Publicar o Boletim com periodicidade semestral e iniciar a edição dos Cadernos Temáticos.
10. Cooperar com iniciativas exteriores nos domínios da cidadania e da memória e na evocação ou comemoração de personalidades ligadas ao património.
No decurso do ano de 2007, haverá ainda que assegurar a realização das eleições para o segundo mandato dos órgãos sociais da ALDRABA.
JAF

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Cortelha, um lugar para o encontro










Conheci a Cortelha em Janeiro, dias antes de um manto branco cobrir a serra do Caldeirão e desde logo, pelo ar fresco mas sadio dos lugares secretos, resguardados das confusões do mundo dito civilizado, senti que ali seria um lugar bom para sonhar.
Sonhei um encontro, para desvendar a vida de um povo que percorre os dias que passam entre Dezembros e Agostos.
Conheci-os agora. Primeiro eram dois nomes, a partir de uma conversa de um restaurante acolhedor, o "Solar dos Presuntos", onde a Sandra nos serve iguarias com sabores da tradição espalhando os seus quadros pelas paredes do recinto, e a vontade de compartir com mais amigos a beleza de um lugar assim, distante da confusão, protegido por árvores sobreviventes, abraçado por águas cristalinas da serra e ventos embaladores.
Desvendei a sabedoria dos idosos que mostraram como se vive, através de jovens luminosos que dançam o tempo dos avós para lhes darem saúde, alegria, satisfação, sorrisos - o melhor remédio- convivência.
Percebi que gente muito nova recolhe os tesouros que aprende e partilha.
Ficarei eternamente adorador daquele lugar onde vivi um dos dias mais maravilhosos da minha vida, entre pessoas simples, mas imensamente importante porque faz da existência um lugar para o encontro.
Texto: LFM Fotos: Mário Rui Sousa.
De "ÁGUAS DO SUL"
Postado por oasis dossonhos às 00:32 2 comentários

COMENTÁRIOS
petratinea disse...
Pois é Amigo Luis, o que custa mesmo é a hora da partida, de facto foram dois dias de muita alegria e de aprendizagem, eu gosto destas descobertas que a Aldraba me dá a conhecer, de facto as gentes de Cortelha e Querença são muito receptivas foi um fim de semana em cheio.Venham mais.MRS
06 Dezembro, 2006 11:22
paula silva disse...
Belas fotos e excelente texto, como sempre uma viagem inesquecível por lugares que marcam...Pena eu não poder ter ido...Talvez um dia desbrave esses lugares, gentes e sabores!Um beijo Luis!
06 Dezembro, 2006 23:53

domingo, 3 de dezembro de 2006

VII Encontro - Loulé, do barrocal à serra: sentir a tradição, viver a realidade






Após nos juntarmos logo pela manhã junto à igreja matriz, no centro da aldeia, a Junta de freguesia de Querença recebeu os associados e amigos da Aldraba com um gostoso pão de limão e de nozes e licores de alfarroba e poejo. Manuel Viegas, o autarca local, e Bruno, o seu jovem companheiro de autarquia, foram inexcedíveis, guiando o numeroso grupo de visitantes pelo património edificado e natural de Querença.
O almoço (jantar de feijão) decorreu num simpático restaurante de características populares, após o qual se agradeceu a recepção, tendo a Aldraba bem frisado como Querença sabe receber muito bem.
Todo o grupo saboreou o prazer de descobrir uma terra mágica, repleta de aromas e de frutos, que espreitam até ao esplendor da Fonte Benémola, sítio classificado da Rede Natura. Já no final da tarde, na Casa do Povo, acordeonistas, artesãos e Filipa Faísca e as suas irmãs partilharam sabedorias.
Querença tem um património precioso: as pessoas. Porém, a desertificação deste interior, tem números preocupantes: por cada 20 adultos que morrem, nascem 2 crianças. Manuel Viegas, aposta no associativismo, na dinamização das artes tradicionais – a Aldraba participou numa entrega de diplomas a formandos de um curso de artesanato, onde participaram sobretudo senhoras, umas idosas, outras jovens – , no turismo que traz gente interessada em participar com a sua presença no desenvolvimento, passeando na natureza, comprando produtos da terra, consumindo refeições e alojamentos com a marca de Querença.
Querença é um nome que significa esperança e força de viver do seu povo, que não baixa os braços e sonha com um futuro construído por todos. Foi importante falar com algumas destas pessoas e perceber que pela sua terra fazem o melhor: receberam-nos com os seus petiscos, os seus doces, a sua tranquilidade. Vale a pena conhecer uma terra com horizontes tão bonitos, com um ar tão sadio e pessoas tão hospitaleiras.
A Aldraba foi conhecer este lugar luminoso do concelho de Loulé, em pleno barrocal, com a serra a dois passos. E dá aqui a sua recomendação para uma visita atenta.
Com a delicadeza e profissionalismo de Ricardina Inácio, o segundo dia do VII Encontro da Aldraba, começou com uma interessante visita ao Museu de Arqueologia de Loulé, localizado na Alcaidaria do Castelo, onde está simultaneamente instalado o Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Loulé e o Núcleo da Cozinha Algarvia.
Percorreu-se o tempo da história, entre salas abobadadas de tijolos ancestrais, numa mostra de artefactos que vêm da pré-história, às épocas romana, muçulmana, medieval cristã e até aos tempos modernos.
Foi possível partilhar a mesa de pedra, onde António Aleixo compôs as suas quadras e nos legou a sua sabedoria. Entre milhares de páginas centenárias dos Diários do Governo e outros volumes não menos importantes que constituem o acervo do Arquivo Histórico.
Visitou-se depois o Núcleo dos Frutos Secos, onde Conceição Amador, autora de magníficos e “saborosos” livros sobre doçaria com frutos secos (figo, amêndoa e alfarroba) nos apresentou uma tábua de doçaria. De provar e chorar por mais.
Com a doçura da sua personalidade explicou (com a passagem de um vídeo) como se faz esta doçaria, especialmente aquela protagonizada pela alfarroba. Conceição Amador é um património, pela sua sabedoria e pela partilha, nomeadamente dando formação, para que o saber-fazer tradicional não se perca.
O almoço foi na Casa dos Presuntos, já bem dentro da Serra do Caldeirão, na Cortelha, onde os quadros da Sandra e as iguarias (javali no forno, ensopado de borrego e cozido de grão) foram saboreadas com prazer, num espaço de convivência e fruição gastronómica que merece visita demorada.
Cortelha é uma aldeia da Serra do Caldeirão, freguesia de Salir, do concelho de Loulé, que a Aldraba quis conhecer melhor, tentando perceber melhor a realidade do interior algarvio.
E fomos brindados com uma recepção inesquecível, nas instalações da Associação dos Amigos da Cortelha (famosos também pela realização de provas importantes em motocross), e assistindo à excelente actuação do Grupo Etnográfico da Serra do Caldeirão, ideia concretizada há 3 anos pelos jovens André e Márcio.
Este último foi o anfitrião, que elucidou os visitantes acerca do historial do Grupo e apresentou as diversas danças de um repertório muito interessante, bem dançado, com a jovialidade e o respeito pelas formas tradicionais de dança popular que encantou todos os presentes.
Manuel Sobral Bastos, habituado a ver muitos festivais de folclore em Santarém disse ao jovem dirigente do Grupo Etnográfico da Serra do Caldeirão que há muito tempo não assistia a um espectáculo de tanta qualidade, executado um tão elevado número de participantes jovens.
A direcção da Aldraba depois de um corridinho, em que foram desafiados a dançar, exprimiu a gratidão dos forasteiros, afirmando que um grande tesouro patrimonial da Cortelha é este grupo de jovens que não quer deixar cair no esquecimento os ensinamentos dos mais velhos, para quem o Grupo é uma terapia, pois no público havia várias senhoras e senhores de idade avançada, que se divertiam com as danças dos seus netos e filhos. Acentuou-se o facto desta colectividade ser um pólo de desenvolvimento local que dignifica a Região e o País. A Aldraba deixou uma forte mensagem de estímulo, fortalecendo a continuidade de tão belo trabalho de interacção inter-geracional e comunitária.
Márcio Rodrigues, agradecendo a simpática presença dos visitantes, ofereceu em nome do Grupo várias lembranças, nomeadamente um lindíssimo moinho de cortiça.
De realçar que Manuel Viegas, presidente da JF de Querença. também acompanhou a Aldraba. Convidado a intervir, durante a cerimónia de boas vindas, sublinhou o quanto é injusto fechar escolas no interior, mesmo que apenas haja duas crianças (um menino e uma menina dançam no Grupo Etnográfico) quando numa povoação onde tantos jovens se juntam para realizar tão bela obra, faltam instalações para que os saberes tradicionais sejam partilhados entre gerações. Perante a assistência, denunciou o abandono e a desertificação do interior, com o fecho de escolas, com o encerramento de centros de saúde, abandonando as pessoas à sua sorte. O aplauso vibrante dos presentes mostrou que as palavras do autarca de Querença exprimiam o sentir de todos.
Foi um grande momento à escala humana, que é impossível esquecer. Bem hajam a todos os que no interior desse Algarve mágico ajudam o seu povo a enfrentar tanta adversidade e a zelar pela manutenção de saberes e memórias que nos são vitais.

De "ALDRABA DIGITAL"