terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

ATÉ JÁ, OLAVO!




Estimado companheiro Olavo:
O seu exemplo associativo e humano, de indivíduo discreto, mas com uma qualidade de entreajuda e de harmonia no colectivo, que o distingue, estimula-me a ser momentaneamente egoísta, para lamentar a sua ausência durante os quatro anos que começam dia 1.
Aliás, não me sentiria bem comigo mesmo, se não destacasse nesta hora:
- a adesão, o incentivo e a confiança prestada, logo no encontro de Montemor-o-Novo, a esta jovem associação, ainda na sua proto-história;
- a sua postura na fundação, em que aceitou integrar o Grupo de Trabalho Adeodato;
- o papel desempenhado nesse Grupo, com pesquisa, contributos bibliográficos, deslocações a Coimbra, Casa de Goa, Casa do Alentejo e contactos que enriqueceram o nosso conhecimento de Aljustrel, de Kaliás Barreto e de seu pai Adeodato Barreto;
- o companheirismo demonstrado na forma como coordenou o Grupo nos últimos tempos, com uma disponibilidade notável em termos da recolha de materiais a expôr e do catálogo;
- a partilha quotidiana na direcção, a partir do momento em que foi cooptado, com uma presença que nos engrandeceu, enquanto associação de gente com sentimentos e ideais.
Creia, meu camarada - permita este tratamento - que me sinto envaidecido por ter podido trabalhar consigo e orgulhoso por o ter proposto para a direcção, pois faz-nos falta, pela sua serenidade e sabedoria.
E saiba que só lhe perdoo esta "deserção", porque estou convicto que em Macau a Aldraba irá ter a sua primeira delegação e que será até esses mágicos confins do Oriente que certamente uma próxima direcção encaminhará, com o seu apoio, um encontro da nossa associação.
Contamos consigo!
Até já, Olavo! Você vai ficar cá e lá, porque está no nosso coração também...
Grandabraço doLuís

De “ÁGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 01:19 0 comentários

sábado, 18 de fevereiro de 2006

"Memórias do Contrabando em Santana de Cambas"- A opinião de Sónia Frade


É com imenso prazer que partilho o texto que a antropóloga Sónia Tomás Frade (fundadora, membro da direcção da Aldraba, empenhado elemento do Grupo de Trabalho Adeodato Barreto) apresentou, durante o inesquecível lançamento do livro "Memórias do Contrabando em Santana de Cambas", em 17 de Dezembro de 2005:

"Quero começar por saudar todos os que estão aqui presentes e agradecer o amável convite que me foi feito para apresentar a obra “Memórias do Contrabando em Santana de Cambas – um contributo para o seu estudo”, editado pela Junta de Freguesia de Santana de Cambas. Uma obra fundamental e um contributo valioso ao estudo aprofundado do contrabando, prática que faz parte da identidade dos povos da região da Raia.
Quero saudar também, com bastante apreço, a junta de freguesia de Santana de Cambas, que com este projecto, tem por objectivo não deixar morrer a memória de um povo, da sua identidade e do seu património, infelizmente, pouco comum no nosso país.
Por último, quero dar os meus parabéns ao Luis Filipe Maçarico, Antropólogo, Poeta, amigo e autor da obra, pela sua firmeza em gravar na escrita as nossas tradições, os nossos costumes, o nosso património, e ofereço-lhe, com muita humildade, um singelo verso do seu poeta, Eugénio de Andrade “(...) o sonho é sempre verdadeiro se no exílio a voz foi de coragem.”
Este livro é o resultado das memórias de um povo, é o retrato de uma época de sofrimento, mas também de arrojo, de risco e de aventura. São narrativas que já fazem parte do imaginário das pessoas que, tal como eu (no meu caso relacionadas com o contrabando praticado pelo mar), cresceram a ouvir histórias rocambolescas, quase inacreditáveis mas acima de tudo, reais.
O contrabando é parte fundamental na história e na cultura das terras no limiar da fronteira. As suas práticas modificaram a estrutura económica e a realidade social. Quando a fome e a miséria desabou sobre a raia, muitos emigraram, enquanto os que ficaram tentaram sobreviver dedicando-se ao contrabando.
Durante gerações foi o principal sustento das suas gentes. Foram muitos exercícios diários de carrego às costas, de iludir a guarda fiscal e os carabineros por caminhos escuros e sinuosos, de perigos até da própria vida, e tudo isto para alimentar e criar os filhos, para continuar simplesmente a existir. Histórias de vidas de fortuna mas também de vidas atingidas pelos limites da sobrevivência. Não existe povoação na zona da Raia, que não traz à memória histórias de sofrimento, em busca de mercadorias que lhe trazia o sustento.Do contrabando e da sua dimensão social nasce outro fenómeno: a cumplicidade e a intimidade com o “outro lado”, expressão usada pelo autor, o outro lado da fronteira. Exerce uma influência profunda nas relações sociais entre os povos da Raia.
Estas relações económico-sociais foram fortalecidas e complementaram-se, inclusive nos padrões culturais, sendo até possível de falar de uma cultura de fronteira. Segundo a professora e antropóloga Paula Godinho, a identidade fronteiriça apoia-se em relações ilegais, de risco e em memórias (fulcrais) da fome.Não existem muitos estudos sobre o contrabando, e são raros os investigadores sociais que se têm debruçado pelo assunto. Assim sendo, este livro tem o mérito de ser um projecto pioneiro no concelho de Mértola e de abrir as portas para futuros trabalhos de recolhas e de investigação que são fundamentais para a preservação da história social, cultural e económica da raia alentejana.
Toda a zona raiana é um museu vivo repleto de histórias de contrabando que passaram de geração em geração. É essa a memória oral que deve e tem que ser preservada.
E são essas recordações de um mundo e de um tempo tão adverso que o Luis tornou eternas.
Termino com um depoimento retirado do livro, que penso ser a melhor forma de contextualizar o que disse anteriormente.
“A minha mãe ficou viúva com trinta e oito anos, era mãe de seis filhos, a mais velha com dezassete anos e o mais pequeno, de dezasseis meses. A minha mãe, a maneira que arranjou de ganhar o sustento para nós, trabalhava para um lavrador que estava aqui na terra – Montes Altos – amassava o pão, ia à ribeira lavar a roupa e ia ao contrabando.
A minha mãe levava café, açúcar. De tudo um pouco. Mas mais o café. Porque a Espanha nessa altura, foi quando a guerra civil, estava numa miséria. E depois traziam calçado de borracha, daquela sola que parece corda. Alpergatas! A minha mãe deve ter feito contrabando, ora à volta de uns oito anos. E passavam três ribeiras: Chança, Malagão e Cúbica, com a água debaixo dos braços, quando chovia muito. Tinham pontos onde elas podiam passar, eram pessoas cheias de coragem!”
Sónia Tomás Frade

Querida Sónia: Bem hajas por esta partilha e sobretudo pelas tuas palavras amigas, que me visitam com regularidade, transmitindo-me coragem, estímulo para fazer mais e melhor.
Retribuo desta forma, que sendo singela é sincera, pois no meu vocabulário comportamental não há lugar para salamaleques e adulação. Há quem diga até que sou um bocado "bota abaixo", talvez por neste país ser bastante apreciada e premiada a postura do "deixa andar", do fingir que não é nada connosco, chacun que se amanhe, etc.
Sónia: Gosto de ti, do teu trabalho, da tua postura humana e da partilha de conhecimentos que diariamente demonstras saber fazer. É por isso que tens um lugar grande no coração deste teu amigo.
(foto de JF)

De “ÁGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 14:55 2 comentários

COMENTÁRIOS
Iskander disse...
Amigo mio, recibí tus magnificas postales y te agradezco muchissimo el detalle... Espero con muchissima ilusión el dia en que nos conozcamos en persona. Otravez gracias por tu gesto, me llega directamente al corazón. Cuidate hermano mio
18 Fevereiro, 2006 18:56
Sonia F. disse...
Obrigado pelas tuas palavras amigas, Luis. Deixaste-me sem palavras...
19 Fevereiro, 2006 00:06

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

"Memórias do Contrabando em Santana de Cambas” - A opinião de António Eloy


“Memórias do Contrabando em Santana de Cambas”, de Luís Filipe Maçarico é um documento notável. Porque faz um registo detalhado, antropológico, de algumas dezenas de informantes, das suas histórias, das suas angústias. Porque recolhe estórias da nossa literatura sobre o contrabando e assim abre um capítulo de estudo da história sobre as estórias deste. Num livro cuidadosamente apresentado, com uma bonita capa e um texto lindo de Miguel Rego em introdução, Luís Maçarico fornece-nos ao seu estilo escorreito, que mesmo em prosa faz a luz que da poesia emana, um documento precioso sobre as memórias do contrabando. As memórias são, há que dize-lo, muitas vezes invenções sobre a história e destas tem que se tirar ilações com luvas de pelica, destas tem que se deixar assentar a poeira para fazer história. A história do contrabando ainda está por fazer, o seu enquadramento e definição. Este é um importante levantamento antropológico e um belo escrito de estórias. A outra história, a história das relações sociais de produção, das lógicas económicas, da interligação do poder político, da organização do Estado, da função punitiva deste sobre um quadro legal, e numa lógica de direito, essa ainda falta escrever. Essa terá que resultar de um confronto com outras realidades locais e de uma discussão sobre o fazer história. Essa terá que passar sempre por esta pequena pérola do Luís. Para que com esta façamos sentido contribuiremos."
António Eloy, in INSIGNIFICANTE

De "ÁGUAS DO SUL"
Postado por oasis dossonhos às 11:09 0 comentários

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

“Mértola, O Último Porto do Mediterrâneo”



Santiago Macias o associado nº 100 da Aldraba, apresentou ontem o seu livro mais recente, na Sala das Colunas do Castelo de S. Jorge, acompanhado por muitos homens e mulheres deste país, que raramente temos o prazer de escutar nas televisões.
De entre as centenas de convidados presentes, destaco nove, para quem o Alentejo e a existência é sortilégio: Cláudio Torres, Miguel Rego, António Borges Coelho, José Mattoso, António Eloy, Nádia Torres, Isabel Macias, José Alberto Franco e Maria Eugénia Gomes.
"Mértola, O Último Porto do Mediterrâneo" obra monumental, dividida em três volumes, é o resultado de duas décadas de trabalho estimulante no terreno, escavando um chão repleto de tesouros e de respostas para perguntas pertinentes, respostas essas que certamente também passaram pela observação e interpelação da peculiar forma de estar do povo.Consequência de imensa pesquisa, inúmeras reflexões, intensos registos, este livro foi apresentado pelo vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, pelo presidente da Câmara Municipal de Mértola, pelo orientador do arqueólogo, pelo director do Campo Arqueológico de Mértola e pelo autor, que de uma forma muito envolvente passou em revista o percurso que originou este documento fundamental para o conhecimento da bela terra do Baixo Alentejo.
Terminou o investigador - que é, desde Outubro, vereador na Câmara de Moura - dizendo: "O futuro está à esquina".
Ficaram também na memória as palavras de Cláudio Torres, que reafirmou o empenho do Campo Arqueológico de Mértola no estreitamento de laços com os povos magrebinos, numa altura em que as portas que se foram abrindo estão agora a ser mediatizadas pelos piores motivos.
A magnífica exposição que este trabalho motivou, pode ser visitada entre as 9 e as 18horas, até 2 de Abril. Em Outubro esta mostra estará no Museu do Bardo em Tunis e em breve, com o apoio das Universidades de Huelva, Évora e Algarve, serão orientados cursos superiores no âmbito do estudo da cultura árabe.O evento terminou com um beberete, que incluía um tinto excelente, acompanhado por espetadas de tâmaras com rodelas de banana, entre outras iguarias de chorar por mais, que desapareceram num ápice.
A lua crescia ao lado do castelo e apesar da noite fria e ventosa soube bem ser embalado pelas ruas de Lisboa, no regresso a casa, com estórias à mistura e uma grande satisfação por poder ter estado ali e ter convivido com amigos com quem sabe sempre bem partilhar as pequenas grandes coisas do quotidiano. Obrigado Santiago!
(fotos de LFM)

De “’AGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 01:36 1 comentários

COMENTÁRIOS
augustoM disse...
Luís, estava convencido que o último porto do Mediterrâneo tinha sido Silves, agora fiquei baralhado.Um abraço. Augusto
15 Fevereiro, 2006 14:16

domingo, 12 de fevereiro de 2006

Blogue da Aldraba fez um ano


No dia 1 de Fevereiro de 2005 nascia o blogue a aldraba
O primeiro texto começava assim: "É uma associação que está a ser pensada há três meses. À volta desta ideia, nascida em Novembro de 2004 e semeada em Montemor-o-Novo num almoço festivo, com duas dezenas de entusiastas, várias simpatias se manifestaram. Dia 3 de Fevereiro reúnem 7 dos semeadores, indicados pelos outros para tratarem dos preparativos para a festa maior que é concretizar o sonho."
Um ano na vida de um blogue é algo que merece ser celebrado. No caso deste, tem servido para divulgar as iniciativas da associação do espaço e património popular, que adoptou o velho utensílio que servia para bater à porta como símbolo.
Com visitas assíduas de associados e amigos, esperemos que, não obstante dentro de semanas a associação passar a ter um site, o blogue se mantenha como espaço de diálogo e partilha, e que Margarida Alves, vice-presidente da direcção da Aldraba, continue a divulgar o património que vai descobrindo nas suas andanças...
(fotografia de LFM: porta e batentes de Vendas Novas, perto do restaurante Pastor)

De "ÁGUAS DO SUL"
postado por oasis dossonhos às 02:16 3 comentários
COMENTÁRIOS
Mendes Ferreira disse...
silencioso. porém persistente...parabéns à Aldraba. e a ti. sempre tão empenhado....
12 Fevereiro, 2006 15:23
Dozedetalhes disse...
cada vez melhor.
12 Fevereiro, 2006 15:29
Platero disse...
Parabéns pelo ano de vida, obrigado pela visita e pelo incentivo!Sobre a publicação é uma via a estudar, podemos conversar sobre isso.Um abraço
13 Fevereiro, 2006 02:00

sábado, 4 de fevereiro de 2006

Um morábito em Aljustrel?




Em Novembro, aquando da deslocação de alguns associados da Aldraba para se preparar um Encontro daquela associação na vila mineira, que ocorrerá no início do próximo mês de Abril, o olhar deparou-se com uma construção semelhante a um morábito, acoplada à igreja matriz.
Como tenho deixado escrito, e no caso mais recente, em Janeiro, aquando de uma visita a Peniche, em que me deparei com um monumento destes, ensanduichado por construções diversas, pode tratar-se de uma ermida, erguida a um santo homem do islão (sidi), que terá vivido no local, e seria um eremita, a quem os habitantes em redor iriam pedir conselhos, pois lhe reconheceriam uma postura de exemplar sabedoria.
Todavia, pode tratar-se apenas de uma reprodução, da arquitectura mudéjar (a arte assim chamada refere-se a construções executadas por mouros submetidos ao cristianismo, que não perderam as suas raízes culturais), que se estrutura em forma de cubo, com cúpula...
Mais uma vez, os arqueólogos podem pronunciar-se acerca do tema, que considero apaixonante.

(fotografias de LFM)

De "ÁGUAS DO SUL"
Postado por oasis dossonhos às 21:04 0 comentários

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Fernando Duarte



Conhecemo-nos há uma vida.
O Fernando desde muito novo tenta absorver de cada dia a essência. É perfeccionista, não gosta das coisas feitas em cima do joelho. Estive com ele em Cacia, numa noite de risos, com a Paula, as três Cristinas. Belas lembranças de uma caminhada feliz pela Torreira, no parque de campismo do Porto. Em Alpedrinha.
Conhecemos melhor o Alentejo.
Fundámos associações e o João, sempre ao nosso lado, questionando, seguindo as pegadas dos pais...
O Fernando é daqueles amigos que são verdadeiramente irmãos. Tantos sábados e domingos a saborear as belas iguarias com que a Paula nos presenteia. Tanta descoberta de patrimónios, a três...a quatro...
O Fernando não brinca em serviço e é o grande obreiro, com o Fernando Amaral e com o Duarte pai, do documentário que a Aldraba está a fazer sobre Jorge Rua de Carvalho.
Lembro-me de cortarmos em velocidade de cruzeiro um nevoeiro denso, depois de uma inesquecível festa em Vila de Frades e Vidigueira na rota do vinho novo. Que tabernas, que descobertas!
Recordo que na véspera de uma viagem para Cabo Verde adoeci e o Fernando ficou triste.
Mas pudemos estar há um ano juntos no sonho da formação de uma associação com um espírito fraterno, verdadeiramente novo, onde ele tem entusiasticamente participado.
Escrevi estas linhas só para dizer que o Fernando, como a Paula e o João são uma parte importante da minha família, e que um dia destes quero festejar o facto de andarmos por cá, às vezes em ruas tortas, por caminhos apertados, mas com vontade de partilhar sonhos e tornar o ar mais respirável com as nossas gargalhadas.
Abração.
Luís
(fotografias LFM: o Fernando Duarte a filmar o documentário, com o Jorge Rua perto)

De “ÁGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 00:56 3 comentários

COMENTÁRIOS
MRS disse...
Tb gostaria de deixar aqui o meu gesto de forte amizade pelo Fernando, que tive o prazer de me cruzar com ele na constituição da A Aldraba, fiquei logo fan do Fernando, pessoa afável, amigo e com muito saber, a ele e a ti Luis, dois fortes abraço e continuem a ser como são, pessoas fantásticas.Mário Sousa
02 Fevereiro, 2006 09:58
augustoM disse...
Estive a ver as fotografias da Assembleia Geral da Aldraba e consegui, numa delas, identificar-me pela careca. Na próxima vez ficas proibido de fotografares o meu lado mais desfavorecido.Ainda ninguém entrou em contacto comigo para a colaboração no trabalho sobre Coruche.Um abraço. Augusto
02 Fevereiro, 2006 14:02
Mendes Ferreira disse...
venho deixar um testemunho sossegado de uma amizade para "uma vida"...
04 Fevereiro, 2006 11:42