sexta-feira, 26 de junho de 2020
terça-feira, 23 de junho de 2020
Viva o Santo António! Viva o São João!
Viva ó Sto. António,
viva o São João, viva o 10 de Junho e a Restauração! Viva até São Bento, se nos
arranjar! Muitos feriados para festejar!
Ao longo deste mês de junho, comemoramos
por todo o Portugal o Santo António, o São João e o São Pedro!
Estamos em 2020 num ano muito especial,
em que os constrangimentos de saúde pública nos obrigam, a todos nós, a
restringirmos drasticamente o convívio, a partilha, a riqueza do nosso viver
coletivo. Sabemos e respeitamos essa situação, mas isso é diferente de
apagarmos as nossas memórias e os nossos sentimentos.
Assim, a associação ALDRABA assinala hoje o dia de SÃO JOÃO, que é tão caro
às gentes do Norte, mas também a vários outros pontos do país. E, de tacada,
aqui ficam as evocações ao Santo António e ao São Pedro…
“Estamos em tempo de Santos Populares.
Há bandeirolas coloridas espalhadas pelas ruas, manjericos nas janelas e nas
montras das lojas. Cheira a sardinha assada. Ouvem-se as marchas em honra de
Santo António, o santo casamenteiro.
Santo António viveu entre os séculos XII e XIII, nasceu em Lisboa por volta
de 1195 e foi batizado com o nome de Fernando. Ingressou na Ordem dos Cónegos
Regrantes de Santa Cruz, que seguiam a Regra de Santo Agostinho, no convento de
São Vicente de Fora, em Lisboa, posteriormente para o convento de Santa Cruz de
Coimbra, onde aprofundou os seus estudos. Tornou-se franciscano em 1220 e
viajou muito. Pela sua cultura teológica e eloquência, foi nomeado Mestre em
Teologia em Bolonha. Morreu em Pádua, talvez com 40 anos. Foi canonizado pela
Igreja Católica pouco tempo depois. É padroeiro da cidade de Lisboa e da cidade
de Pádua, também.
Adoro as festas de Santo António,
principalmente as de Lisboa com as marchas. A festa cheira a sardinha e a
manjericão. Santo António tem também aí a devoção dos noivos – Se o bendito
Santo António / este ano me casar / cá voltarei para o ano / pôr flores no seu
altar. São tão bonitos os casamentos de Santo António! O manjericão enfeita
o trono do santo existente em cada bairro da cidade. Algumas fogueiras ainda se
vêem, resquícios das velhas festas dos solstícios que celebrava o sol. Muita
diversão e alegria!
O meu santo predileto
é o S. João. Talvez pela ternura que transmite com o cordeirinho ao colo ou
então pela própria história de vida de S. João Baptista.
Não se sabe bem quando começaram os
festejos a S. João. Oficialmente, trata-se de uma festividade católica em que
se celebra o nascimento de João Baptista. A festa de S. João no Porto tem
origem no solstício de Verão e, inicialmente, tratava-se de uma festa pagã.
Festejava-se a fertilidade associada à alegria das colheitas e da abundância.
Mais tarde, a Igreja cristianizou esta festa pagã e atribui-lhe o S. João como
padroeiro.
Consta na crónica de Fernão Lopes que, por alturas do S. João, se terá
deslocado à cidade para preparar a visita do rei para a grande festa que aí se
fazia. Também por essa altura, a Câmara Municipal do Porto se reunia em
Assembleia Magma, no claustro do Mosteiro de S. Domingos, porque o espaço era
grande, e se procedia à eleição dos vereadores e se tomavam decisões muito
importantes para a cidade.
João, melhor dizendo João Baptista, foi
um profeta que previu o advento do Messias na pessoa de Jesus. A noite de 23 de
Junho, véspera do dia de S. João, marca o início da festa de S. João Baptista.
Segundo o evangelho de S. Lucas, João Baptista nasceu seis meses antes de
Jesus. Assim sendo, a festa de S. João foi fixada para 24 de Junho, exatamente
seis meses antes do Natal.
Remonta ao período medieval a celebração
dos Santos Populares, Santo António, S. João e S. Pedro. Segundo os evangelhos,
S. João é o maior dos profetas porque pode apresentar o “Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo”. O dia de S. João é um dos mais antigos festivais do
cristianismo, já aparecendo no Concílio de Agde, em 506 dC, como um dos
principais festivais da época, celebrado com três missas: uma pela manhã, uma
ao meio-dia e outra ao por do sol. O nascimento deste santo é celebrado pelas
Igrejas Católica, Anglicana e Luterana. Na Igreja Ortodoxa, S. João Baptista é
geralmente chamado de S. João, o precursor, ou seja, o objetivo da sua vida foi
preparar o Caminho para o advento de Jesus.
A festa de S. João no Porto é uma festa cheia de tradições, dos quais se
destacam os alhos-porros, usados para bater nas cabeças das pessoas que passam,
os ramos d cidreira, usados pelas mulheres para pôr na cara dos homens que
passam e o lançamento de balões de ar quente. A partir dos anos 70, foram
introduzidos os martelinhos de plástico. Não acho muita piada a isto, confesso…
Existem ainda os tradicionais saltos nas fogueiras espalhadas pela cidade,
normalmente nos bairros tradicionais, os vasos de manjericos com versos
populares e o fogo de artificio à meia-noite, junto ao Rio Douro e à ponte D. Luís.
Para a semana festejamos o S. Pedro.
Pedro, um dos doze
apóstolos de Jesus, considerado o primeiro Bispo de Roma e o primeiro Papa.
Pensa-se que o seu verdadeiro nome fosse
Simão Pedro. Era pescador e tornou-se apóstolo de Jesus. Depois da morte deste,
Pedro tornou-se pregador da nova doutrina, tendo passado por várias cidades na
sua evangelizadora. Por causa disso, foi martirizado em Roma entre 64 e 67 dC.
O seu túmulo está localizado na Basílica de S. Pedro, no Vaticano, e foi
descoberto em 1950 após anos de meticulosas investigações.
A mais antiga imagem conhecida do apóstolo Pedro foi descoberta em 2010,
nas catacumbas sob a cidade de Roma, e data do século IV. No mesmo lugar, foram
também descobertas imagens dos apóstolos Paulo, André e João. As obras fazem
parte de um grupo de pinturas em torno de uma imagem de Jesus Cristo como o Bom
Pastor no teto do que os estudiosos acreditem ter sido o túmulo de um nobre
romano.
(…)
Vivam as festas
populares!”
Reproduzido de
http://www.meninacatita.com/2018/06/21/viva-santo-antonio-viva-s-joao-la-la-la-la-ri-lo-la/
sexta-feira, 12 de junho de 2020
Beldroegas, poejo, orégãos, coentros e outras delícias
A exposição "Memória de Cheiros
Esquecidos" é uma plataforma de comunicação focada em questões
relacionadas com a alimentação, agricultura, industrialização, monocultura, ecossistema,
biodiversidade, saúde, sustentabilidade e etnografia.
Está patente na sala Olivença da Casa do
Alentejo, desde o dia 10 de junho de 2020, aquando da comemoração dos 97 anos
da criação desta notável casa regional.
Trata-se de uma exposição de etnobotânica,
que resultou de um programa de interação com os habitantes de Vila Alva, uma
aldeia do concelho de Cuba, no Baixo Alentejo.
12 meses, 12 espécies, 12 pessoas e 12
pratos foi a chave para o programa, que consistiu numa primeira fase, na
identificação de 12 espécies botânicas, da flora local, e na sua relação com um
dos 12 meses, de acordo com a sua sazonalidade.
As 12 espécies vegetais, relacionadas com os 12 meses de
janeiro a dezembro, são as seguintes:
Poejo
Carrasquinha
Catracuz
Silarca
Alho comum
Beldroega
Hortelã da ribeira
Orégão
Hortelã comum
Acelga
Cardo do leite
Coentro
De seguida relacionaram-se 12 pessoas,
ainda com uma memória presente da vida ligada à natureza, com as 12 plantas e
os respetivos meses.
Por fim, foi pedido às pessoas que
recordassem a receita de um prato, da dieta tradicional, a partir da planta que
lhes foi atribuída.
Dos conteúdos gerados a partir desta interação
foram criados os painéis, que reúnem ilustrações e informação científica das
espécies, assim como fotografias, dados biográficos e as receitas partilhadas
pelas pessoas que colaboraram no projeto. A exposição conta ainda com um
herbário com amostras das espécies que foram possíveis tratar e reunir.
A Casa do Alentejo apresentou a exposição no
âmbito das comemorações do seu 97º aniversário, neste dia 10 de junho, sendo
que, pelas restrições impostas pelas autoridades de saúde, as visitas estiveram
limitadas à lista de convidados da Casa do Alentejo, pelo que a exposição só passou
a estar disponível ao público de 11 a 30 de junho, todos os dias, entre as
12.00 e as 21.00h.
O
autor da exposição, que é o designer Fernando Estevens, na impossibilidade de
estar presente todos os dias para receber quem tenha interesse em visitar a
exposição, irá promover duas visitas guiadas, nos dias 18 e 25 de junho, pelas
18.00h.
A associação Aldraba teve o privilégio de
conhecer a exposição e o seu autor no dia 10/6/2020, e estimula todos os nossos
amigos e associados a comparecerem neste espaço de excelência relativo ao
conhecimento e à valorização do património natural alentejano.
JAF
sexta-feira, 5 de junho de 2020
O povo das palavras
A sua forma essencial é de ar articulado. Mas também pode ser de letras ou
de gestos.
Uma sociedade de palavras chama-se língua.
Há famílias de línguas, línguas maternas, línguas irmãs, línguas de origem,
línguas de contacto. Nascem, crescem, decaem, ficam moribundas e morrem. Nelas
há produção e reprodução. Há palavras masculinas, femininas e neutras. Até há
algumas que são pares mínimos! Palavras de todos os tempos: imperfeitos,
perfeitos e mais que perfeitos; do passado, do presente e do futuro. Há
primeira pessoa, segunda pessoa... até à sexta que são os eles todos. Fazem
flexões e conjugações. As palavras perduram mais que as pessoas de carne e
osso.
A maioria são feitas da matéria de outras que viveram antes delas. Vão
fermentando sentidos com que captam o colorido do mundo. Vão lançando pequenos
tentáculos como prefixos e sufixos e com eles expressam o carinho, a pequenez,
a grandeza, a futilidade, a abundância, a repetição, a ausência, o modo, o
ofício, o acto e o abstracto.
As palavras conhecem o seu lugar na sociedade. Sabem que um sujeito só o é
quando um verbo o espera. Que há acções que actuam sem qualquer sujeito
visível, como “chover”, embora a chuva se veja muito bem. Viver tem sempre
sujeito, mas o sujeito também existe mesmo se o seu verbo for morrer.
As palavras juntam-se com traços de união que são as alianças delas.
Muitas sobrevivem de embarcar em contentores de navios, outras, temerosas e
tremendas, escondem-se em labirintos de sussurros, outras pipilam quiquiriquis
em lábios de criança, outras são forjadas e polidas em salões de espelho a fim
de matar outras que nascem nos montes aos molhos.
Grandioso e formigueiro é o povo das palavras.
Há palavras vítimas ou triunfantes ou heroínas. As vítimas ficam agarradas
a tempos arrepiantes, multiplicando vítimas entre os seres vivos. “Apocalipse”,
“Holocausto”, “Hiroshima”, “Miséria”. As triunfantes agarram-se com desespero
ao momento que passa, famintas de eco. “Ganhar”. “Vencer”. “Conquistar”.
“Ambição”. As heroínas são as que arrancam alguém à atrocidade do sofrimento.
Ninguém diria, ao ouvi-las, que são heroínas. “Bisturi!” - e o moribundo
revive. “Bombeiros” – e o perigo é debelado. “Coragem!” – e alguém consegue
aguentar mais um pouco, “Segure-se!” – e a velhinha que não conseguia descer as
escadas é levada pelo braço de um príncipe sonhado, como num feitiço de
beladona.
Importantes, as palavras assassinas :“Fome”, “Sede”, “Morte”, “Dor”,
“Ódio”, “Incompetente!” ,“Está despedido!”, “Corrupto!”, “Pedófilo!”,
“Austeridade”, “Doença”... além de ditador, carrasco, tortura, todas com letra
pequena por desalmadas que são.
Para as palavras assassinas e malfeitoras não existem prisões. Elas
esvoaçam como as outras , mas por onde passam deixam um rasto de infelicidade.
Enquanto as palavras boas... as que aparecem em todos os manuais da civilidade,
essas fazem o mundo rodar melhor. “Amor”, “Paz”, “Felicidade”, “Saúde”...“Um
copo”.
Podia falar também das maleitas que acometem as palavras, sobretudo quando
existem sob a forma de letras. Mas adiante.
Resumindo, acontece com as palavras exactamente o mesmo que acontece
connosco, pessoas de carne e osso. E de palavra.
As pessoas são o conjunto de todas as palavras que conseguem dizer e
provocar, enquanto as palavras são escravas livres, ao serviço da gente. Que
tolice. Livres? As palavras escravas? Que te parece, amig@, a ti que tanto
sobre elas, com elas, meditas?
5/6/2020
Manuela
Barros Ferreira
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