sábado, 30 de abril de 2016

Os remates dos telhados madeirenses

















Pré-publicação do artigo da associada Sónia Marques, que vai sair no nº 19 da revista "Aldraba", atualmente no prelo:

Os remates dos telhados madeirenses constituem um dos mais interessantes elementos do património popular do Arquipélago da Madeira, representativos de uma identidade cultural, existindo nos cantos dos beirais dos telhados das casas madeirenses, não raras as vezes quase despercebidos “(...) a imagem dos delicados telhados de quatro águas, afirmando-se como uma característica constante na Arquitectura Popular Madeirense” (Vítor Mestre, Arquitectura Popular no Arquipélago da Madeira).

Apresentam-se nas mais diversas formas fitomórficas e antropomórficas, desde pombinhas de asas abertas, pombinhas de asas pousadas, cabeças de gatos, cabeças de cães, cabeças de meninos com chapéu, cabeças de fidalgo, conchas, papagaios e até onde a imaginação do colectivo os levar.

São mais do que elementos decorativos da Arquitectura Popular Madeirense, que é geralmente despojada de ornamentos, e o seu estudo tem sido ignorado, salvo um ou outro levantamento em muito poucas freguesias, e poucos são os artigos que têm sido publicados em algumas revistas da região.

Neste meu breve percurso pelo assunto, tornava-se necessário indagar fontes antigas para um melhor enquadramento, pois são através dos traços que sobrevivem, que não se apagaram, que nos aproximamos de um conhecimento o mais aprofundado possível das origens, neste caso, sobre estes remates de telhados madeirenses. Lamentavelmente, o tempo disponível não foi suficiente, as fontes são difíceis de localizar e muitas tornaram-se ilegíveis pela acção do tempo e do homem, transformando este artigo apenas uma mera exposição abreviada que, espero, transmita um contributo para a sua defesa como património e um alerta para o que representa viver numa casa com uma herança cultural. É um assunto que está longe de ser esgotado, havendo a necessidade de fazer levantamentos em todas as zonas da região do Arquipélago da Madeira, realizando entrevistas aos intervenientes possíveis, desde os habitantes aos mestres artesãos, se ainda os houver, e um estudo profundo com a incursão das várias áreas, nomeadamente a etnografia, a etnologia, a arquitectura, a sociologia, entre outras.

Num breve resumo histórico, no Arquipélago da Madeira, no tempo da colonização, as primeiras casas eram construídas em alvenaria de pedra ou em madeira, ambas com cobertura de colmo (palha comprida extraída de várias plantas para cobrir cabanas, etc.). Ainda no séc. XV, “(...) os especiais cuidados a ter com ela, sobretudo incêndios, levou o Duque D. Fernando, em 1470, a determinar que todas as casas da Rua dos Mercadores “se descobrissem de palha e as cobrissem de telha”” (António Aragão, Para a História do Funchal – Pequenos Passos da Sua Memória). A construção civil, a partir dos meados do séc. XVI, começa a usar novos modelos cerâmicos de origem continental, castelhana, italiana, holandesa, alemã, francesa. Pouco a pouco, as olarias regionais vão aparecendo e os recursos locais começam a ser utilizados.

“Uma casa madeirense não dispensa no assento da sua cobertura uma robusta chaminé e um multifacetado remate de telhado em forma de gato, cão, pomba, planta ou, simplesmente, cabeças de menino, gente, com e sem chapéu” (Élvio Duarte Martins Sousa, O Gato e a Chaminé, Fábula escrita em torno da “chaminização” do Património).

São conhecidos exemplos, poucos, de remates de telhados com motivos semelhantes em algumas povoações do Continente Português, bem como nas ilhas dos Açores, mas a sua profusão verificou-se na ilha da Madeira, com o aparecimento e crescimento das olarias no séc. XVII, tornando-se parte da paisagem madeirense, da sua identidade.

Para José Leite de Vasconcelos, na sua Etnografia Portuguesa, estão relacionados com a interferência dos romanos, na sua acção de espantar o efeito maléfico dos seres sobrenaturais, posição partilhada por Eduardo Pereira, nas Ilhas de Zarco, que os considera elementos ligados a superstições, presságios, sinais, enfim, de culto pagão.

A sua simbologia é tão diversa quanto as suas formas. A propósito da pomba, remate dos beirais dos telhados mais usual e mais visto nas casas madeirenses, é-nos remetido à simbologia judaico-cristã, ou seja, ao Espírito Santo, que é fundamentalmente um símbolo de espiritualidade, de esperança, de felicidade, neste caso, do casal que habita a casa. Na acepção pagã, valoriza a fertilidade do casal, à relação carnal, aos filhos que iriam ter.

No que à forma de cabeça de cão se refere, a sua simbologia, ligada ao oculto, muito complexa e espalhada pelas culturas do mundo inteiro, nestes remates de telhado das casas madeirenses a sua função simbólica prende-se à fidelidade, ao zelo e protecção à casa e à família que nela habita. Outros testemunhos falam-nos das cabeças de menino ligadas ao número de filhos que o casal poderia ter.

É igualmente oportuno de verificar, como foi comprovado no estudo efectuado na Freguesia de Gaula, “Os Remates de Telhado na Arquitectura Tradicional Madeirense, O Caso Específico da Freguesia de Gaula”, a repetição do mesmo modelo de remate nas casas que formam um conjunto próximo, “a ocorrência de grupos de casas com motivos semelhantes ou seja, parece haver uma relação espacial na escolha dos motivos. Apesar da constatação simbólica e espiritual atribuída aos diferentes modelos de remate de telhado, o levantamento em Gaula denuncia uma tendência de imitar o vizinho.” (Élvio Duarte Martins Sousa e Liliana Neto, Remates, Telhas e Moldes – Gaula como caso de estudo).

Esta proliferação de formas variadas de remates de telhado está intimamente ligada, como já foi dito anteriormente, com o desenvolvimento e uma fase expressiva de produção das olarias regionais. Na 2ª metade do séc. XV já se trabalhava o barro, produzindo telhas de qualidade. No séc. XVI, existe o ofício de oleiro, havendo uma produção considerável de telhas e louça. Ainda em 1961, os oleiros eram obrigados a marcar as peças fabricadas com as suas iniciais. Eram os artesãos do barro que moldavam, com as suas mãos, as formas para os remates de telhado madeirense, como se verifica nos exemplos mais antigos, com pequenos defeitos ou irregularidades, onde se encontram as iniciais do mestre oleiro, tornando cada peça única e transformando-a num tesouro patrimonial. Existe um valor incontornável deste património, uma herança que deve ser preservada, sendo necessária a envolvência e o interesse dos que se encontram directamente relacionados com este património, através do orgulho, da admiração e do respeito pela identidade cultural e simbólica destes elementos decorativos, construídos pelo homem e colocados nos beirais dos telhados para serem vistos por todos que passam. Afinal, “(...) a casa é mais que um mero produto de determinismo geográfico local, (...) esta é, acima de tudo, uma obra do homem, um facto de cultura, e, como tal, sujeito à acção e influência de todos os demais factores que intervêm nas realizações humanas. E é, afinal, no próprio homem e na lei da sua criação cultural que se deve procurar a explicação decisiva da casa que ele constrói” (Ernesto Veiga de Oliveira, Arquitectura).

Com o encerramento da última olaria na ilha da Madeira, no fim do século XX, foram-se técnicas, saberes, histórias de vida e a autenticidade de peças, únicas no seu valor da habilidade e mestria de quem trabalhava o barro com as suas mãos. Os mestres artesãos oleiros trabalhando em olarias já não existem na região, encerrando a produção própria e regional dos remates de telhados das casas madeirenses.

Existe uma continuidade nestes elementos decorativos nos beirais dos telhados madeirenses das novas casas que se vão construindo, agora importados do continente português, com as mais diversas formas, tais como caracóis, corujas, coelhos, configurações recentes nunca antes vistas nos remates tradicionais dos telhados, feitos com moldes e em série, sem defeitos, perdendo o seu carácter único, exclusivo. É um património quase em total desaparecimento, já que as casas antigas pouco ou nada são recuperadas. A reabilitação das casas, consequentemente dos seus telhados e dos seus elementos decorativos, presenteavam uma paisagem construída mais digna e mais bonita, autenticando o meio onde se vive.

Sónia Marques

quinta-feira, 28 de abril de 2016

"Tradição e sabedoria": Comer muito queijo










Significado: Ser esquecido; ter má memória.

Origem: Vem dos tempos em que era estabelecida a causalidade entre a ingestão de laticínios e a diminuição de certas faculdades inteletuais, como a memória. Porém, sabe-se hoje que o leite e o queijo são fornecedores privilegiados de cálcio e de fósforo, importantes para o trabalho cerebral.

Cafés Chave d’Ouro

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Nomes de localidades em azulejos (cont. 30)









Mais três placas toponímicas de azulejos do Automóvel Clube de Portugal.

O amigo da ALDRABA Jorge Torres, para quem vai um grande abraço, registou e enviou-nos as fotografias das localidades de Freixiosa (freguesia do mesmo nome), e de Matados e Tragos (ambas da freguesia de Chãs de Tavares), sendo as três do concelho de Mangualde e do distrito de Viseu, e que aqui hoje publicamos com todo o gosto.

Muito obrigado pela ajuda do Jorge, que nos permite averbar hoje, com as três novas placas, um total de 158 exemplares já publicados!

JAF

quinta-feira, 7 de abril de 2016

“Tradição e sabedoria” : Casa da Joana









Significado: Lugar onde impera a desordem; vale tudo; lugar onde todos podem entrar.

Origem: Joana era condessa de Provença e rainha de Nápoles. No séc. XIV, aos 21 anos, regulamentou os bordéis da cidade de Avignon, França, onde vivia refugiada. Uma das normas dizia: “o lugar terá uma porta por onde todos possam entrar”.

Cafés Chave d’Ouro