sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A “Cama Quente” e os brinquedos de Natal











A cama quente

Na mina trabalha-se por turnos.
Quando se volta, nem se tiram os coturnos.

Bebido o café negro e trincado o casqueiro,
joga-se o corpo ao sono, mas, primeiro,

enxota-se o camarada da cama ainda quente,
que não há camas, no Chile, pra toda a gente.

Do calor que sobrou o nosso se acrescenta
pra dar calor ao próximo que entra.

Vós, que dormis em camas, como reis,
tantas horas por dia, não sabeis

como é bom dormir ao calor de um irmão
que saiu ao nitrato ou ao carvão

e despertar ao abanão (é o contrato!)
de um que chega do carvão ou do nitrato!

É a este sistema, minha gente,
que se chama no Chile «a cama quente»…

(poema de Alexandre O’Neill, 1975)

Porquê juntar estas duas tradições – uma que associamos às festividades do Natal e com que mimamos os meninos da família e a outra que dá conta da situação desumana e precária em que vivem trabalhadores de certas actividades, como tão bem retrata o poema de Alexandre O’Neill?
Em viagem longa para o Sul, na passada 4ª feira, ouvi na Antena 1 uma notícia que dá que pensar. Não que me surpreendesse completamente mas, assim dita “preto no branco”, ainda parece mais cruel.
Cerca de 75% dos brinquedos que se comercializam no mundo inteiro são fabricados na China. Os chineses saem das suas aldeias e vão trabalhar para grandes fábricas onde as condições de vida e de trabalho são impensáveis para qualquer ser humano. Alojamentos minúsculos, quando os há, sistema de “cama quente”, já que os turnos se sucedem ininterruptamente, e dois dólares por dia!

Mas que tradições estas…

MEG

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Santuários e religiosidade popular















Vamos ao encontro do número temático que a revista ITINERANTE publicou, em junho de 2012, dedicado aos santuários de Portugal. Tal como nas anteriores seis edições da revista, este número é balizado pela trilogia Conhecer // Caminhar // Conviver, num saudável e estimulante desafio aos leitores para que amem o seu país à medida que o vão conhecendo, mas que o conheçam de perto, em contacto direto com os locais e com as populações envolvidas.

Logo no editorial, assinala Nuno Gama Nunes que “os caminheiros podem ser romeiros, crentes ou não, mas certamente interessados pelo nosso riquíssimo património cultural e religioso”. Mais adiante, que os santuários são “um tema intemporal, que atravessa séculos e crenças, por vezes de origem pagã, mas bem presente nos dias de hoje”, e que “continua a mover e motivar multidões”.

José Constantino Costa, ao longo de 17 páginas profusamente ilustradas e com interessantíssimos registos e relatos, dá-nos conta da sua “romaria por santuários de Portugal”, em que visitou e se deteve em sete locais do país que polarizam caminheiros e crentes: Avessadas (Marco de Canavezes), Balsamão (Macedo de Cavaleiros), Bom Jesus Milagroso (ilha do Pico), Cristo Rei (Almada), Mãe Soberana (Loulé), Senhora de Brotas (Mora) e Lapa (Sernancelhe).

Estes sete santuários são uma amostra diminuta dos 162 santuários portugueses em atividade, recenseados pela Associação de Reitores dos Santuários de Portugal, numa lista organizada por dioceses que a ITINERANTE reproduz. Avultam nessa lista, pela sua maior expressão quantitativa, a arquidiocese de Braga, com 26 santuários, o patriarcado de Lisboa, com 17, a diocese de Lamego, com 16, a diocese de Bragança e Miranda, com 14, e a diocese do Porto, com 10. Um vasto campo de trabalho para o conhecimento que se deve desenvolver.

Relativamente aos territórios onde se situam os sete santuários estudados, a ITINERANTE propõe outros tantos trilhos, organizados para caminheiros que praticam percursos pedestres em grupo – atividade física e cultural que nos últimos anos tem vindo a conhecer um enorme desenvolvimento, e que daqui se saúda! – e apresenta-nos algumas apetitosas sugestões gastronómicas.

Como últimas referências para que chamamos a atenção neste nº 7 da revista, merecem ser mencionados o trabalho de índole histórica de José António Falcão (“Os santuários, do paganismo à contemporaneidade”), a entrevista com o reitor do santuário de Fátima, Carlos Cabecinhas, e as recensões de livros de José do Carmo Francisco.

De anteriores reflexões que a ALDRABA já produziu acerca destes assuntos, recordemos o site “Aldraba Digital”, em 2006:
“A religiosidade popular é uma questão ampla e complexa, relacionada com inúmeros aspectos culturais tradicionais, numa constante dialética entre modernidade e ancestralidade. Portugal, sobretudo nos meios mais rurais, tem uma vasta ligação às tradições da Igreja católica, que em muitos casos se cruzam com crenças e ritos anteriores ao cristianismo, o que está subjacente à sobrevivência dos aspetos mais marcantes da religiosidade popular. No caso português a religiosidade, sob uma aparente agregação enraizada no catolicismo, manifesta-se na abrangência plural da sociedade portuguesa, entre a vivência do sagrado e do profano, independentemente das suas matrizes de origem. Com frequência, a religiosidade popular afirma-se em oposição à oficial, sendo entendida por esta como uma forma híbrida, isto é, como uma forma inadequada do pensamento e da prática da religião oficial. É difícil precisar como se fundiram e encontraram este "imaginário", este "fantástico real", o culto do sagrado, onde se incluem conjuntos de superstições e gestos mágicos, onde com uma estruturação rigorosa do espaço geográfico e do calendário, continuam a permanecer as referências pagãs das grandes festas da primavera e do outono”.

José Alberto Franco
(texto condensado de artigo no nº 12 de "ALDRABA")
(foto do Santuário de Brotas do site da C.M.Mora)

domingo, 16 de dezembro de 2012

13º jantar-tertúlia, na Casa da Covilhã, 6ªf, 21.12.2012











Pelo quinto ano consecutivo, a ALDRABA convida os associados, familiares e amigos para um jantar de confraternização na quadra festiva do Natal, altura em que a tradição portuguesa apela à comemoração e ao reforço dos laços humanos que dão sentido às nossas comunidades.

Nos anos anteriores, estivemos sucessivamente na Casa do Concelho de Castro Daire, no Clube de Futebol Benfica, no Grupo Sportivo Adicense e na Casa da Comarca de Arganil. Este ano, continuando a tomar contacto com as mais diversas coletividades populares de Lisboa, o nosso 13º jantar-tertúlia realiza-se na Casa da Covilhã, associação regionalista fundada há 88 anos e que luta com dificuldades para a sua sobrevivência. Vão-nos receber com muito gosto, e seremos acompanhados pelos seus dirigentes, designadamente os amigos António Vicente e Carlos Fernandes.

O jantar, pelo preço global de 13 euros, será composto por entradas (enchidos, queijos e cherovias), sopa de feijão, bacalhau assado com batata a murro, vinho e outras bebidas, sobremesas, café e digestivos.

Para encontrarem a Casa da Covilhã, na Rua do Benformoso, 150/1ºB, ao Martim Moniz, os participantes devem entrar pelo início da rua, na Mouraria, e avançar por ela em direção ao Intendente. Até 4ª feira, dia 19 de dezembro, pede-se que os interessados em participar no jantar o indiquem ao telefone ao J.Alberto Franco (96 370 84 81) ou à Mª Eugénia Gomes (91 964 71 95).

JAF (foto do "Notícias da Covilhã")

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A caneja de infundice na Ericeira













Desde a nossa juventude que fomos, integrados em tertúlias, iniciados na degustação de um petisco “único, insólito e quase inédito”, no dizer do gastrónomo José Quitério, que as gentes locais chamam caneja d´infundice.

O início da sua confecção na Ericeira, é, segundo alguns, prática velha de alguns séculos seguramente. A mais antiga receita escrita datará de 1890, e ensina como a elaborar.

A origem do preparado é atribuída, por alguns, a povos nórdicos, islandeses, noruegueses ou mesmo esquimós, outros, localizam-na na Ericeira e fruto do acaso. A primeira hipótese é possível, pois é prática desses povos, devido às agrestes condições climatéricas que os impedem de pescar durante longos períodos, enterrar o pescado que hão-de comer posteriormente. Não ignoremos também, que o acaso tem dado azo a práticas culinárias inesperadas.

A caneja, espécie particular de tubarão ou cação (se ele nos come é tubarão, se nós o comemos é cação…), também conhecido por pata rocha ou pinta roxa, porque de facto tem pintas escuras, deverá ter um tamanho de cerca de 60 cm para o nosso preparado.

Baldaque da Silva, referência nas pescas e pescados portugueses, escrevia, em 1891, que “é muito estimada pelos pescadores, porque, depois de seca, embora não ofereça a qualidade da pescada, presta-se a uma alimentação tolerável para as ocasiões de necessidade”.

A sua preparação é geralmente deixada ao cuidado dos homens mais antigos da terra. Lembramo-nos do Zé de Barros, do Branquinho, do Gabriel, entre outros, que já nos deixaram.

Sem nos determos em pormenores da sua preparação, largamente documentada em diversos tratados culinários e prontamente postos em causa pelos “verdadeiros preparadores”, diremos que o peixe, que em fresco é desventrado e muito bem lavado com água salgada, sendo totalmente limpo de qualquer vestígio de sangue, é cortado em postas, sem contudo lhe ser cortada a espinha. Depois de embrulhado em pano, é sujeito ao período de infundice, mais ou menos dilatado (entre uma a duas semanas), condicionado pelo Inverno mais ou menos quente, bem como pela maior ou menor “veterania” dos destinatários de tal “comedoria”.

Após a cozedura, as postas do seláquio apresentam uns tons de madre pérola. Temperadas estas e as batatas cozidas que acompanham, unicamente com um bom azeite, que poderá mudar de cor para um tom mais esbranquiçado, isto dependendo de um maior período de preparação, sente-se a cada dentada um ligeiro cheiro amoniacal, que “adoça” o vinho tinto, sempre criteriosamente escolhido. As postas desfazem-se em falhas e terão de apresentar obrigatoriamente uma cor branca.

A garantia de que o preparado foi feito convenientemente, é-nos assegurada pela inexistência junto à espinha de qualquer coloração rósea ou acastanhada. Se tal acontecer é liminarmente rejeitada aquela caneja.

De reter, também, os aspectos sociológicos ligados a esta prática. O “entronamento dos novatos”, prática que tem caído em desuso, consistia em pontapear um fogareiro de barro, no qual se tinha posto previamente a grelhar umas febras, dando desta forma um sinal, que significava renegar outros “prazeres da carne” que se sobrepusessem às delícias da caneja.

Também a forma como era comida a iguaria, merece a nossa atenção. Falamos de tertúlias, geralmente compostas de 12 a 16 ericeirenses, onde só excepcionalmente havia convidados “lavagantes”, nome dado aos banhistas ou não locais. Nestas almoçaradas se conversava sobre os usos e costumes, comparava-se a qualidade dos produtos apresentados naquele dia (sobretudo a caneja, o azeite e o vinho) com os de anteriores petisqueiras. Selavam-se amizades, construíam-se solidariedades, eram tempos de harmonia e bom convívio, que se mantêm, ainda que com novos formatos e já mais abertos a apreciadores sem qualquer distinção.

Em tempos passados, pensou-se em constituir uma Confraria da Caneja, pelo receio da extinção desta imagem de marca da Ericeira. Foi na altura considerado que algo tão popularmente genuíno se poderia tornar elitista com essa formalização, e foi congelada a ideia.

Hoje, a vitalidade que se observa na sua prática, que se arrisca a tornar-se numa mais valia comercial, leva a que esse temor tenha desaparecido. Considera-se que, independentemente dos aspectos económicos que daqui resultem, o património imaterial que constitui a sua longa prática, identificadora de uma região, nela enraizada ao longo de muitas gerações, deve ser alvo de reconhecimento e protecção.

Ao escrevermos estas despretensiosas linhas, procuramos, de alguma forma, contribuir para que esse património não se perca, através da sua defesa e promoção.

Luís Reis Ágoas

(Texto e fotografia publicados no nº 12 da revista "ALDRABA")

domingo, 9 de dezembro de 2012

Pelas memórias de um quase desenvolvimento industrial…















Nem o frio nem o nevoeiro cerrado desta manhã de dia 8 de Dezembro desmobilizaram os quase 40 participantes no XXII Encontro da Aldraba, por terras do Barreiro.
Durante todo o dia muito iriamos ouvir falar de Alfredo da Silva (1871-1942), protagonista da maior aventura de âmbito industrial jamais acontecida em Portugal – a CUF.
O ponto de encontro era exactamente junto ao mausoléu onde está sepultado Alfredo da Silva. Edificação de grandes dimensões, projetado pelo arquiteto Luís Cristino da Silva, foi construído em 1944 e possui baixos-relevos de Leopoldo de Almeida.
Na Visita ao Museu Industrial (Quimiparque), à Casa-Museu Alfredo da Silva e ao antigo bairro operário da CUF, assistimos, através do muito saber e entusiasmo da técnica da Baía do Tejo, Núria Silva, ao desfilar da história do que foi aquele complexo industrial, da sua dimensão e da sua importância para a vida do município. As histórias do Barreiro, da CUF, dos movimentos migratórios do séc. passado em Portugal e dos muitos milhares de trabalhadores que por ali passaram estão indissociavelmente ligadas.
Reconfortados que fomos com o cozido à portuguesa no Restaurante Transmontana, demos início à segunda parte deste Encontro. Visitámos a Sociedade Democrática União Barreirense, vulgo “Os Franceses”, com tradições que remontam ao séc. XIX e que hoje continua a desenvolver as suas actividades nos campos da educação, do desporto e da cultura. Do seu labor, das contendas passadas com os seus velhos rivais “Os Penicheiros” (Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense) e das perspectivas futuras nos deu conta, com grande entusiasmo e quase devoção, a sua dirigente D. Florinda. Soubemos por ela que no Barreiro chegou a haver mais de 300 associações de educação, cultura e recreio.
Nas Reservas Museológicas da C.M. Barreiro, onde apreciámos o vasto espólio integralmente constituído por resultados de investigação arqueológica e por objectos do património popular, teríamos por fim a companhia do historiador Dr. Gilberto Gomes que nos conduziu pelas “Memórias do Barreiro”. Através de uma apresentação emotiva e de grande acutilância e sentido crítico, fez-nos o retrato do que foram os grandes polos de desenvolvimento da sua terra, e falou-nos do passado, do presente e do futuro do Barreiro.
Dado o adiantado da hora, foi breve a nossa passagem pela Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense “Os Penicheiros”.
Quer junto ao mausoléu, quer durante a visita às Reservas Museológicas, muito beneficiámos com a companhia da técnica da C.M. do Barreiro Rosário Gil, sempre disponível para partilhar o seu saber e simpatia com este grupo de visitantes.

MEG (texto)
A.Brito (fotografias)


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

“A cidade industrial e o associativismo, do trabalho ao lazer” – Barreiro, 8.12.2012
















Com a colaboração da Baía do Tejo, da Câmara Municipal do Barreiro e das coletividades populares “Os Franceses” e “Os Penicheiros”, a ALDRABA realizará o seu XXII Encontro no Barreiro, no próximo dia 8 de dezembro de 2012 (sábado), voltado para o contacto com a história industrial do complexo, com as memórias do operariado local e com a sua riquíssima experiência associativa.

O programa compreende os seguintes momentos e atividades:

10h00 – Concentração no parque de estacionamento junto ao mausoléu de Alfredo da Silva.

10h30 – Visita ao Museu Industrial (Quimiparque), acompanhados pelo Engº Sardinha Pereira.

12h30 – Deslocação à Casa-Museu Alfredo da Silva e ao antigo bairro operário da CUF.

13h30 – Almoço no Restaurante Transmontano (entradas, sopa, cozido à portuguesa, pão e bebidas, fruta ou doce, e café, pelo preço global de 12,50€).

15h00 – Reservas museológicas da C.M. Barreiro, acompanhados por Rosário Gil.

16h00 – Visita à Sociedade Democrática União Barreirense “Os Franceses”, onde terá lugar uma breve apresentação, “Memórias do Barreiro”, pelo historiador Dr. Gilberto Gomes.

17h30 – Visita à Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense “Os Penicheiros”.

18h30 – Encerramento do Encontro.

As inscrições para a participação neste XXII Encontro podem ser feitas junto do Nuno Roque Silveira (T: 962916005), da Círia Brito (T: 969067494 / ciriabrito@sapo.pt), ou do Leonel Costa (T: 918403252 / costaleonel@hotmail.com).

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Como foi a apresentação do nº12 da "Aldraba"



























Foi apresentada ontem, às 18h, na Voz do Operário, a revista nº 12 da Associação Aldraba.

A sessão contou com intervenções do historiador António Monteiro Cardoso e do engenheiro António Mota Redol, que falou de alguns aspectos relacionados com a obra do seu pai, Alves Redol.

António Cardoso foi brilhante, tendo abordado os artigos que constituem a publicação, com especial destaque para "A Água Dá, A Água Tira", de Sónia Tomé e “A Censura do Antigamente”, de Júlio Couto. Começando por citar Erasmo de Roterdão, a propósito dos assuntos que interessam aos associados de uma Associação do Espaço e Património Popular, António Cardoso, senhor de uma eloquência que cativa, falou de inúmeras problemáticas, da gestão da água, problema candente no mundo actual, até à fonte incontornável que são os romances de Redol sobre o Douro, para quem deseje estudar aquela região. O nosso aplauso, pelo prazer que nos deu assistir. Bem haja!

Luís Maçarico (texto, adaptado do Facebook, e fotografias)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Greve, Grève, Strike, Huelga, Folga, απεργία…












Na minha aldeia, ao domingo à tarde, os trabalhadores que procuravam trabalho juntavam-se num local, perto da ponte velha, onde os patrões ou encarregados os iam escolher para os dias seguintes. Em Paris, nas margens do Sena, havia igualmente um lugar com o mesmo fim. Um terreno onde crescia um arbusto chamado grève que deu ao local o nome de Place de Grève – a praça onde os trabalhadores sem emprego se juntavam à procura de algum tipo de ocupação. Daí terem surgido expressões como "ir a greve" (aller en grève), "estar em greve" (être en grève), que designavam o trabalhador que, sem trabalho, lá ficava de braços cruzados à espera de ser recrutado. Tudo isso se terá passado nos séculos XIV ou XV e a praça é, desde o princípio do XIX, a Place de l´Hôtel de Ville.
A praça mudou de nome, mas a palavra foi recuperada pelo movimento operário, no século XIX, para designar o combate contra as condições de exploração desenfreada a que o capitalismo passou a sujeitar os trabalhadores durante a revolução industrial. No mundo do trabalho selvagem e completamente desregulado de então, com origem na relação antagónica capital/trabalho, há notícia das duras lutas que estão associadas à reivindicação das 8 horas de trabalho, do direito a férias pagas, a aumentos salariais, e a um conjunto de direitos laborais a que chegámos no século XX.
Foram objecto de greves outros motivos de natureza cívica, tais como o direito ao voto das mulheres, etc..
Em Portugal, entre 1871 e 1900, José M. Tengarrinha identificou 725 greves (das quais 37 gerais), dispersas sobretudo pelos núcleos industriais de Lisboa, Porto e Setúbal. As principais motivações desse surto grevista foram aumentos salariais (42%), horário de trabalho (16,2%), condições de trabalho (15,4%), greves de solidariedade (9,6%), e contra os impostos (8,3%). Entre 1907 e 1920, no clima agitado da República, registaram-se 3068 greves, facto que não podemos desligar da legalização da greve pelo novo regime, logo em 1910.
Hoje, em condições distintas e longe das greves que provocaram situações de extrema violência que levaram à prisão e mesmo à morte trabalhadores envolvidos nestes movimentos, recordamos algo que (também) é património do povo português e de toda a humanidade!
MEG

domingo, 11 de novembro de 2012

Lançamento do nº12 da revista na próxima 5ªfeira, dia 15






















A ALDRABA – Associação do Espaço e Património Popular convida todos os amigos para a sessão de lançamento do nº 12 da revista “Aldraba”, no próximo dia 15 de novembro de 2012 (5ª feira), pelas 18.00 horas.

A sessão conta com uma intervenção do historiador António Monteiro Cardoso, autor de pesquisa recente sobre Alves Redol (tratado neste nº da revista), seguida de um debate alargado com todos os presentes, moderado pelo presidente da Direcção da Aldraba, J. Alberto Franco.

Vai realizar-se na sede da Sociedade A Voz do Operário, em Lisboa, na Rua da Voz do Operário, 13 (próximo do Largo da Graça).

A Direção da ALDRABA

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

80 anos depois do massacre de Plainpalais























Foi também para combater o esquecimento e o apagamento das memórias que a Aldraba nasceu…

Estando esta semana em Genebra, por razões de trabalho, não posso deixar de evocar o acontecimento trágico de 9 de novembro de 1932, cujo 80° aniversário é hoje aqui assinalado.

Nessa data, haviam passado apenas 15 anos sobre a vitória da revolução bolchevique, que aterrorizou os governos da Europa ocidental. A grande depressão de 1929 havia passado dos Estados Unidos até este lado do Atlântico. No cantão de Genebra, governado por uma coligação de direita ligada aos banqueiros, o Partido socialista local desenvolvia uma intensa campanha contra a especulação e as fraudes fiscais. Na Alemanha, preparava-se a ascensão de Hitler.

O partido pró-fascista de Genebra, designado (curiosamente) União Nacional, convocou para a sala comunal de Plainpalais uma sessão, a realizar em 9.11.1932, destinada a decretar a “acusação pública” dos dois mais destacados dirigentes do Partido Socialista. Os socialistas apelam a uma manifestação popular de protesto, frente ao local da sessão, que terá reunido 4000 a 5000 pessoas, a partir das 17h.

Às 21h30, uma força militar de jovens recrutas, convocada em segredo pelo conselheiro cantonal da Justiça e Polícia, ataca sem aviso prévio a concentração, pelas costas, com ordem para atirar a matar.

13 pessoas foram mortas e 62 feridas.

Tudo isto se passou no país que tem o regime republicano eletivo mais antigo da Europa (desde o séc. XIV), na cidade que foi o berço de J.J.Rosseau e de Calvino, onde foi o refúgio de Lenine antes da revolução, e onde as liberdades de expressão e manifestação têm há muito expressão constitucional.

Uma lição trágica, que nos recorda que as pulsões autoritárias podem surgir em contextos políticos democráticos, e que a utilização não controlada de forças armadas pode sempre perigosamente degenerar em chacinas.

Não consegui deixar de refletir maduramente sobre estes factos e de, comovidamente, me dirigir à placa que assinala o local da tragédia. Depositei aí, em meu nome e de todos os que se queiram associar, uma rosa de cor vermelha!

JAF (texto e fotografia)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

As hortas de Corroios






















Até ao final do século XIX, a freguesia de Corroios foi essencialmente rural, fragmentada por quintas de fidalgos, nobres e Convento do Carmo, possuindo uma indústria ligada às actividades rurais: a indústria do vinho com os seus lagares; a indústria moageira com os moinhos de maré e de vento.

Embora actualmente a paisagem urbana se tenha alterado significativamente, com novas edificações, onde se enquadram edifícios de habitação multifamiliar, ainda conseguimos observar vestígios da antiga paisagem rural, com os quintais das casas utilizados principalmente para o cultivo de hortas e criação de galinhas e patos.

A paisagem que se vislumbra na viagem de comboio entre Lisboa e Corroios distingue-se particularmente pelo contraste entre o rural e o urbano. Grandes espaços de cultivo ao lado de ferrovias, estradas e viadutos, casas térreas ao lado de prédios altos.

Com a facilidade das compras em supermercados, deixou-se de se cultivar hortaliças e temperos dentro de casa. Ter uma horta em casa pode ser uma forma eficaz para ter uma vida mais saudável, pois as hortaliças desempenham um papel importantíssimo para a saúde humana. Elas são alimentos ricos em vitaminas, sais minerais, fibras e outras substâncias que ajudam a prevenir doenças. Uma dieta rica em hortaliças e frutas tem ação demonstrada na prevenção de doenças do coração, diabetes e outras.

Com espaços de quintais antes destinados a flores ou relva, com um objetivo único de lazer e decorativo, atualmente escolhem-se as hortaliças, como tomates, alface, couves, courgettes, abóboras e muitas outras para cultivar e para ter uma alimentação saudável e sustentável. Ter uma horta caseira é uma opção barata e totalmente orgânica para a produção dos alimentos vegetais. E é a prova de que os alimentos foram plantados da maneira mais natural possível, sem a intervenção de pesticidas ou outros compostos químicos que danificam a saúde e o meio ambiente.

Por outro lado, as hortas, além de constituírem uma excelente ocupação de tempos livres e alívio do stress, têm, com a crise, um papel importante no orçamento familiar, como suporte à subsistência.

A necessidade do homem trabalhar a terra para daí obter alimentos é uma questão não só de sobrevivência, mas procede também do gosto que o homem urbano sente pela atividade agrícola. Este apego explica-se pelo desejo de adotar outros sabores além dos oferecidos pelos supermercados, bem como, pelo interesse pela evasão do ambiente urbano e de retorno à natureza.

Hoje em dia, quando se fala tanto da sustentabilidade do planeta, a opção pelo cultivo de hortas ajuda na preservação da biodiversidade. As hortas e quintais urbanos contribuem de uma forma impar para a sustentabilidade das cidades, fornecendo uma gama diferenciada de legumes frescos, ervas aromáticas e medicinais, frutos vários e a criação de pequenos animais (galinhas, patos, perus e coelhos. Investir no cultivo é uma forma de cuidar do meio ambiente, com uma exploração racional do nosso património natural.

Mesmo em apartamentos exíguos e pequenos é possível ter produtos hortícolas, como as ervas aromáticas. Podemos plantar variadíssimos produtos numa horta embora a escolha varie de acordo com o seu tamanho e estrutura. Ao contrário do que se pode pensar, não é necessário ter um grande espaço de quintal para fazer uma horta, basta ter um pequeno espaço, uma área em que bata sol e disposição para plantar diversos itens.

Assim, de quintais, a varandas, parapeitos, terraços a pátios, qualquer pequeno canteiro pode dar-nos o prazer de criar couves, tomates, courgettes ou ervas aromáticas.

Manuel Pereira
(autor do texto, publicado na "ALDRABA"nº12 , e da fotografia)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Que memória para o futuro?














Preservar e valorizar o património popular em todas as suas vertentes é objectivo da Aldraba. A transmissão dos diversos aspectos desse património torna-se, cada dia, mais premente perante a situação actual.

Quem percorrer as serras do interior de Portugal encontra inúmeras aldeias perdidas pelas encostas e vales, rodeadas de forte vegetação. Quando nos aventuramos a visitá-las, constatamos que, em algumas, apenas vivem uma ou duas famílias; noutras vemo-nos, de repente, no meio de pequenas ruas desertas, ladeadas de casas, umas desabitadas outras já degradadas, num silêncio e isolamento absolutos, que a todos confrange. A desertificação é uma realidade.

Observamos o pequeno património que esses lugares ainda guardam: as portas de mancal, as cravelhas em madeira, as aldrabas, os batentes, os portais biselados, os telhados em lousa e telha meia-cana, os muros em xisto ou granito que teimam em resistir...

Preservar esta memória, impedir a sua degradação ou até a sua perda, é urgente!

Às autarquias compete a implementação de políticas de apoio às famílias, promovendo a sua fixação em zonas mais deficitárias. Cabe-lhes ainda um papel importante na defesa daquele património, com todos os recursos humanos e técnicos de que dispõem.

Também o cidadão comum deve intervir responsavelmente no seu quotidiano, actuando em consonância com o espaço onde se encontra e a identidade do mesmo. O contributo activo da família e da escola na transmissão de formas de expressão, saberes-fazer, costumes, tradições, canto, danças, incentivando os jovens a participarem em celebrações e festas, torna-se fundamental. Importante também é dar-lhes a conhecer as suas raízes, levando-os aos lugares de origem, para que os possam amar, valorizar e preservar, e, porque não, escreverem mesmo essas memórias.

A Aldraba continuará a centrar a sua actividade na defesa e valorização deste património, quer através da realização de actividades diversas, em que promova a divulgação e defesa nas suas várias vertentes, quer através de uma atitude de apoio ou crítica relativamente ao que é feito para a sua preservação ou para o degradar.

Círia Brito

(Texto: Editorial do nº 12 da revista "ALDRABA")
(Foto reproduzida do blogue "Capeia arraiana")

domingo, 4 de novembro de 2012

Publicado o nº 12 da revista ALDRABA


Acaba de sair da tipografia, e começa a ser distribuída aos associados, a nova edição da nossa revista, cujo lançamento público terá lugar em sessão a realizar em 15 de novembro próximo, às 18 horas, na Sociedade Voz do Operário (Lisboa).

Divulga-se desde já o sumário do nº 12 da revista:

EDITORIAL
Que memória para o futuro?
Círia Brito

OPINIÃO
Alves Redol
Luís Filipe Maçarico
A censura no antigamente
Júlio Couto

LUGARES DO PATRIMÓNIO
As hortas de Corroios
Manuel Pereira
A água dá, a água tira
Sónia Tomé

PATRIMÓNIO IMATERIAL
Património ibérico. As semelhanças que nos aproximam
Susana Goméz Martinez

SABORES COM HISTÓRIA
A caneja de infundice na Ericeira
Luís Reis Ágoas

À CONVERSA COM…
Bento Ramos Sargento
Maria Eugénia Gomes e Luís Filipe Maçarico

OS AMIGOS E A MEMÓRIA
Elsa Rodrigues dos Santos
Nuno Roque da Silveira

ASSOCIATIVISMO E PATRIMÓNIO
Margem esquerda do concelho de Mértola
Miguel Bento

CRÓNICAS DO QUOTIDIANO
Lucinda Cruz da Moreanes
Nuno Roque da Silveira

CRITICA DE LIVROS
Os santuários e a religiosidade popular
José Alberto Franco

ALDRABA EM MOVIMENTO
Abril a Setembro de 2012
Maria Eugénia Gomes

ESPAÇO DOS ASSOCIADOS
Fotografias
Mateus Campeã
Francisco da Palma Colaço
Maria do Céu Ramos

No verso da capa é incluído o habitual cartoon do nosso associado Luís Afonso, a contracapa contém a nota “O que esperar da nova Direção-Geral do Património Cultural?”, e no verso da contracapa publica-se o poema “Minha mãe amassa o pão” de António Simões.

sábado, 20 de outubro de 2012

Aldeia da Estrela, Alqueva. Um futuro adiado?













Em  2 de Julho de 2005, a Aldraba foi a Alqueva num dos encontros que mais marcaram a vida da nossa Associação, quer pelo elevado número de participantes e pela sua adesão e entusiasmo, quer pela relação que se estabeleceu com todos os que nos receberam e com quem pudemos confraternizar. (http://www.aldrabaassociacao.blogspot.pt/2005_07_01_archive.html)

Eram grandes, enormes, as expectativas e as esperanças do povo da aldeia da Estrela num futuro melhor. O grande lago, criam, ia ser o motor do desenvolvimento por que todos ansiavam.

Foi com mágoa que, ao passar os olhos pela recente edição do Diário do Alentejo, li a entrevista dada a Noélia Pedrosa pelo Presidente da Junta de Freguesia da Póvoa de São Miguel, Rui Almeida. Não resisti a transcrevê-la e a deixar aqui o convite para lerem o artigo da mesma jornalista também ali publicado.

"Ser uma das 16 aldeias ribeirinhas tem sido benéfico para a Estrela?
Tem sido benéfico no sentido de dar a conhecer o nome da aldeia. A nível de desenvolvimento não trouxe benefício nenhum.

O Plano de Pormenor da Aldeia da Estrela foi aprovado em agosto último, 10 anos após a inauguração da barragem de Alqueva. No seu entender, o que é que isso representa para o futuro da aldeia?
Sempre afirmei que o Plano de Pormenor da Aldeia da Estrela era a chave para o desenvolvimento da aldeia. No entanto lamentamos que tivesse levado 10 anos a ser aprovado, pois a situação que o País atravessa atualmente é muito diferente da que era há cinco, seis ou sete anos atrás. Hoje praticamente está tudo parado a nível de investimentos.

A Estrela é uma das cinco povoações abrangidas pelo projeto “Aldeias Ribeirinhas do Grande ago Alqueva” que será desenvolvido por recém-licenciados e que visa dinamizar as referidas aldeias. A equipa de estagiários já está a trabalhar? Que projetos vão ser desenvolvidos?
Sim, a Estrela e a Póvoa de São Miguel estão inseridas neste projeto. Os estagiários ainda não estão colocados mas penso que em breve estarão a trabalhar. O projeto é interessante para ambas as partes, pois irá dar emprego a jovens desempregados, ao mesmo tempo que irá beneficiar a freguesia em projetos na área do turismo, agricultura e alguma indústria, como é o caso do fabrico de pão, queijos e enchidos.

Quantos habitantes tem a Estrela de acordo com o Censos 2011 e como se caracterizam em termos demográficos?
A população residente da aldeia da Estrela ronda os 100 habitantes. É uma população muito idosa. Os jovens tiveram de sair para países como a Suíça e a Alemanha.

A que setores de atividade se dedica atualmente a população em idade ativa?
Sem qualquer indústria, com uma agricultura praticamente de subsistência, que apenas emprega algumas pessoas em trabalhos sazonais, com a água da barragem praticamente nos logradouros das suas casas, pouco mais haverá a fazer do que pescar. Infelizmente!"

MEG (Gravura - Plano de Pormenor da aldeia da Estrela)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Novo livro de Luís Maçarico – A transumância das pequenas coisas


















A propósito da apresentação, em Entradas, do novo livro do associado e dirigente da Aldraba Luís Filipe Maçarico, transcrevemos algumas notas e uma pequena entrevista por ele dada a Paulo Barriga, publicadas no Diário do Alentejo.

"O regresso do poeta do silêncio
Luís Filipe Maçarico
60 anos, natural de Évora
Poeta e ensaísta, Luís Filipe Maçarico fez publicar 14 livros de poesia desde 1991, altura em que deu à estampa Da água e do vento. É técnico superior na Câmara de Lisboa e dedica boa parte do seu tempo livre ao associativismo.
É mestre em antropologia e em história.
Publicou sete livros nestas áreas do conhecimento, entre os quais Aldrabas e batentes de porta – Uma reflexão sobre o património impercetível.

Que transumâncias são estas que agora convergiram neste livro?
É o insistente percurso, rumo a horizontes de liberdade. É a vontade de viver, onde haja indícios de harmonia. É a busca da respiração, à escala humana, num território onde seja possível concretizar sonhos. É a tentativa de aperfeiçoamento, nesta curta passagem. Que se faz com ideais, palavras, mas também com afetos e luta, por uma existência equilibrada e feliz. Este verão, não fiquei um único fim de semana em casa. De Monchique a Évora, de Montejunto a Viana do Castelo e de Odeceixe à Gardunha, a poesia seguiu sempre comigo, pastoreando gestos, emoções, e o espírito dos lugares.

O Luís Filipe Maçarico é um poeta da terra e dos sentidos. É correto afirmar que o Alentejo, a cultura telúrica alentejana, espreita sempre por detrás da sua poesia?
O silêncio é um dos meus alicerces. Desde miúdo que estar só não me desestabiliza. Os desmedidos horizontes são mais inspiradores. Por isso, o sol, o pão, o vinho, o cante, o prazer de uma sombra ou de uma amizade, todas as palavras terrosas e a poesia do Manuel da Fonseca me são vitais. O Alentejo faz parte do ADN do meu imaginário. Évora, urbe à qual regresso frequentemente, é rumor de vozes, com refrigérios para a alma; Beja, percorrida vezes sem conta, para ver florir o sorriso dos amigos; Mértola, terra amada, com aquele Festival único, permitindo viver dias poéticos, entre a multidão, foi a última universidade: por lá concluí o melhor curso, frequentado em fruição absoluta, com colegas, professores e população, inesquecíveis; Santana de Cambas, na raia dos contrabandistas, contribuindo para preservar a memória daquelas práticas numa investigação em livro, que proporcionou um Museu; Castro Verde, campo fecundo para a Poesia, graças ao Presidente Francisco Duarte, ao vereador Paulo Nascimento e ao amigo-poeta Miguel Rego, que fizeram com que as asas do sonho não ficassem na gaveta das utopias. Felizmente, são inúmeros os sítios, onde vivi e a poesia irrompeu. Creio que haverá muito pouco terreno, entre a serra de S. Mamede e os confins de Almodôvar e Ourique, onde não fiz um verso.

Para além de poeta, também é ensaísta na área da antropologia e da história. Que futuro, que esperança, consegue descortinar para o homem que habita este território histórico e cultural que é o Alentejo?
Se houver sabedoria, para manter o equilíbrio entre a terra, as gentes e os bichos, se o património identitário marcar uma forte presença no quotidiano, o Alentejo poderá ser um bom lugar para viver. Assim, os alentejanos saibam criar riqueza, unindo esforços para não deixar morrer o sonho.

Conforme revela a autora do prefácio a este livro, a professora Maria Antonieta Garcia, o Luís Maçarico é um poeta que “sonha fraternizar o mundo”. Acha mesmo que ainda sobra espaço para a fraternidade no mundo em que vivemos?
Nunca, como hoje a partilha foi tão premente, entre amigos, nas coletividades, nas autarquias, nas ruas, contrariando os déspotas, que tudo inventam para nos desumanizar, para nos fazer acreditar que o umbigo é quem mais ordena!
Paulo Barriga"

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pelo Bairro da Graça, com o Maria Pia Sport Clube e o Grupo Os Cinco Réis











































                                                                                                                                                         Na passada 6ª feira, 12 de Outubro, fomos conhecer duas colectividades do Bairro da Graça, em Lisboa - o Maria Pia Sport Clube e o Grupo Os Cinco Réis. Pela mão do Augusto Teixeira e do Jorge Baleizão, membros das suas direcções, soubemos como vivem, quais as suas preocupações, que caminhos vão trilhando e que respostas dão hoje à comunidade em que se inserem.

Uma palavra especial para salientar a vivacidade da Lina e a sua massada de peixe! Com alegria e uma enorme sabedoria, esta nazarena lá nos foi mostrando como se dá a volta às voltas que a vida nos dá!

De cariz diferente, a primeira com uma aposta forte no desporto para as camadas juvenis da população e a segunda mais virada para as questões recreativas e culturais, ainda hoje desenvolvem papel importante na vida do Bairro.
“Há muitos anos que os ex-alunos do Asilo Maria Pia vinham idealizando a organização de uma colectividade que, depois da saída do aluno do Asilo, fosse uma casa sua onde, pelo convívio dos seus condiscípulos de ontem, formasse um laço bem apertado da sua união, para na luta pela vida sentir-se acompanhado por alguém que o amparasse e guiasse nos seus primeiros passos.” (Boletim do Asilo Maria Pia Sport Clube, de 1-12-1923, a propósito da comemoração do primeiro ano da sua existência).
Com o passar dos tempos mudaram as pessoas e os contextos, a vida já não é igual no Bairro da Graça. No entanto, o espírito então enunciado manteve-se. Conforme nos afirmou cheio de orgulho o amigo Augusto Teixeira, os que passaram pelo Maria Pia Sport Clube quando meninos voltam sempre, seja para treinar os mais novos – foram grandes os sucessos do clube no basquetebol, seja para lhes proporcionar ensino gratuito quando o insucesso escolar anda por perto.
Criado em 1907, o Grupo dos Cinco Réis escolheu para o seu nome a designação da moeda mais pequena que então existia e que era, ao mesmo tempo, aquilo que cada sócio pagava de quota. Nos seus estatutos pode ler-se “tem por fim promover e desenvolver actividades de carácter recreativo, desportivo e cultural e a formação social e cívica dos seus sócios…de acordo com os direitos dos cidadãos, com vista ao desenvolvimento harmonioso da sua personalidade.” 

Bem hajam amigos pelo calor com que nos receberam, pelo sentido cívico e sacrifício da vida pessoal com que levam este trabalho por diante!

MEG (fotografias de LFM e MEG)