Até ao final do século XIX, a freguesia de Corroios foi essencialmente rural, fragmentada por quintas de fidalgos, nobres e Convento do Carmo, possuindo uma indústria ligada às actividades rurais: a indústria do vinho com os seus lagares; a indústria moageira com os moinhos de maré e de vento.
Embora actualmente a paisagem urbana se tenha alterado significativamente, com novas edificações, onde se enquadram edifícios de habitação multifamiliar, ainda conseguimos observar vestígios da antiga paisagem rural, com os quintais das casas utilizados principalmente para o cultivo de hortas e criação de galinhas e patos.
A paisagem que se vislumbra na viagem de comboio entre Lisboa e Corroios distingue-se particularmente pelo contraste entre o rural e o urbano. Grandes espaços de cultivo ao lado de ferrovias, estradas e viadutos, casas térreas ao lado de prédios altos.
Com a facilidade das compras em supermercados, deixou-se de se cultivar hortaliças e temperos dentro de casa. Ter uma horta em casa pode ser uma forma eficaz para ter uma vida mais saudável, pois as hortaliças desempenham um papel importantíssimo para a saúde humana. Elas são alimentos ricos em vitaminas, sais minerais, fibras e outras substâncias que ajudam a prevenir doenças. Uma dieta rica em hortaliças e frutas tem ação demonstrada na prevenção de doenças do coração, diabetes e outras.
Com espaços de quintais antes destinados a flores ou relva, com um objetivo único de lazer e decorativo, atualmente escolhem-se as hortaliças, como tomates, alface, couves, courgettes, abóboras e muitas outras para cultivar e para ter uma alimentação saudável e sustentável. Ter uma horta caseira é uma opção barata e totalmente orgânica para a produção dos alimentos vegetais. E é a prova de que os alimentos foram plantados da maneira mais natural possível, sem a intervenção de pesticidas ou outros compostos químicos que danificam a saúde e o meio ambiente.
Por outro lado, as hortas, além de constituírem uma excelente ocupação de tempos livres e alívio do stress, têm, com a crise, um papel importante no orçamento familiar, como suporte à subsistência.
A necessidade do homem trabalhar a terra para daí obter alimentos é uma questão não só de sobrevivência, mas procede também do gosto que o homem urbano sente pela atividade agrícola. Este apego explica-se pelo desejo de adotar outros sabores além dos oferecidos pelos supermercados, bem como, pelo interesse pela evasão do ambiente urbano e de retorno à natureza.
Hoje em dia, quando se fala tanto da sustentabilidade do planeta, a opção pelo cultivo de hortas ajuda na preservação da biodiversidade. As hortas e quintais urbanos contribuem de uma forma impar para a sustentabilidade das cidades, fornecendo uma gama diferenciada de legumes frescos, ervas aromáticas e medicinais, frutos vários e a criação de pequenos animais (galinhas, patos, perus e coelhos. Investir no cultivo é uma forma de cuidar do meio ambiente, com uma exploração racional do nosso património natural.
Mesmo em apartamentos exíguos e pequenos é possível ter produtos hortícolas, como as ervas aromáticas. Podemos plantar variadíssimos produtos numa horta embora a escolha varie de acordo com o seu tamanho e estrutura. Ao contrário do que se pode pensar, não é necessário ter um grande espaço de quintal para fazer uma horta, basta ter um pequeno espaço, uma área em que bata sol e disposição para plantar diversos itens.
Assim, de quintais, a varandas, parapeitos, terraços a pátios, qualquer pequeno canteiro pode dar-nos o prazer de criar couves, tomates, courgettes ou ervas aromáticas.
Manuel Pereira
(autor do texto, publicado na "ALDRABA"nº12 , e da fotografia)