quarta-feira, 24 de outubro de 2018

As estafetas (1)














No”Diário do Alentejo” de 31.8.2018, foi publicada uma crónica muito interessante, de que aqui reproduzimos a primeira metade:


AS ESTAFETAS (1)

Antigamente, quando as viagens se faziam com muito mais dificuldade que hoje, havia em todas as terras um estafeta.

Refiro-me até aos anos 40 e 50 de século XX.

No Alvito, havia uma mulher, a “Ameijoinha”, que se encarregava de fazer recados – ia a Beja, todos os dias da semana, e a Lisboa, de vez em quando. Era filha de um antigo funcionário dos Caminhos de Ferro, por isso não pagava nada nos comboios. E nem por deixar de ser assim, porque o que ganhava limitava-se a uns tostões por dia.

Precisava-se de uma linha que desse bem para coser um tecido – dava-se uma amostra à Ameijoinha e ela calcorreava Beja inteira em busca da linha que melhor lhe parecia. Ou um fecho de correr, ou um botão, ou uns colchetes, ou um pano para acabar uma obra, ela procurava tudo.

Mas também se lhe podia pedir para ir ao Luís da Rocha comprar uma dúzia de empadas ou uma caixa de trouxas de ovos, ou um porquinho de chocolate.

Podia ter que correr as farmácias para aviar uma receita, comprar uma câmara de ar para uma bicicleta, uma lâmpada, sei lá, uma quantidade de coisas que não se vendiam na vila, onde as lojas, poucas, se limitavam a ter azeite, farinha, arroz, misturados com pano cru, chita da tabela, botas grosseiras ou galochas (…).


Maria Antónia Goes

sábado, 13 de outubro de 2018

Oliveiras milenares























Pré-publicação do editorial do n.º 24 da revista ALDRABA, que se encontra no prelo:

AS OLIVEIRAS MILENÁRIAS, UM PATRIMÓNIO ÍMPAR

Temos vindo a assistir ao derrube inconsciente de oliveiras centenárias e milenárias pelas mais diversas razões – plantio de novo olival, construção de vias e edificações -, ignorando-se todo o seu valor e simbolismo, nos planos ambiental, histórico e económico. E, com isso, perdem-se memórias, fere-se a paisagem, perde-se a qualidade no azeite.
As oliveiras das modernas explorações tornam-se menos duradouras e resistentes às condições climáticas, ao serem submetidas a ações sucessivas de poda, de rega e a uma exploração mais intensiva.
Em Portugal existem ainda muitas oliveiras milenárias, das quais destacamos:
- Em Loures. A oliveira milenária de Santa Iria de Azóia, que esteve em risco de ser derrubada para se alargar uma rotunda, mas a comunidade movimentou-se e hoje tem-na como um património muito seu.
- Em Tavira. A oliveira bimilenária do aldeamento de Pedras d`El-rei;
- Em Abrantes. A oliveira trimilenária das Mouriscas, cuja idade, de 3.350 anos, foi cientificamente comprovada, em 2016, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Esta durabilidade advém, segundo os seus estudiosos, como Stéphane Moreaux, da enxertia de um zambujeiro, árvore da sua espécie, conhecido também por oliveira silvestre.
A origem da oliveira, segundo a história, remonta à Era Terciária, situando-se na Ásia Menor, onde foram encontradas folhas fossilizadas, datadas do Neolítico. Mais tarde, veio a difundir-se em torno do Mediterrâneo, zona em que assumiria uma invulgar proeminência na sua paisagem e gastronomia.
Desde a antiguidade, a oliveira tem sido associada a manifestações culturais, a usos gastronómicos e medicinais e a práticas religiosas. Na Bíblia e no Corão, ela é a árvore mais referida e venerada. “O ramo verdejante trazido pela pomba a Noé não poderia ser outro que não um ramo de oliveira” (Génesis).
Da sua madeira faziam-se cetros reais e com o azeite ungiam-se monarcas, atletas e sacerdotes. Daí o ser considerada símbolo da sabedoria, da paz e da abundância.
Foi cantada por Homero, Ovídio, Virgílio e Plínio. “E com um ramo de oliveira o homem se purifica” (Virgílio, Eneida).
A oliveira constitui, sem dúvida, o elemento mais identitário do património natural dos países do Mediterrâneo, juntamente com a azinheira e a videira. E o seu azeite é o ingrediente fulcral da sua denominada dieta.
A palavra azeite deriva do vocábulo árabe al-zait que significava “sumo de azeitona”. Um sumo mítico, bíblico e histórico, servindo até de apelativo à verdade: “o azeite vem sempre ao de cima”.
A oliveira é um ser vivaz e resistente, de folhagem perene e violácea, que se inclina sempre para a luz e sendo também luz: na mesa, no candelabro, na candeia,… E que Van Gogh tão bem pintou, mas confessando: ”Mas é bem difícil. Mas isso convém-me e atrai-me no ouro e na prata. E talvez um dia faça delas uma interpretação pessoal, como os girassóis estão para os amarelos”.
Por tudo isto, a oliveira é uma árvore singular e ímpar da natureza, da vida e cultura mediterrânica. Mas não só. Pela realidade que as oliveiras milenárias encerram e representam, impõe-se que o Governo - com meios e legislação adequada -, as autarquias e as associações do património cultural concorram para garantir a sua defesa, conservação e preservação.
A Aldraba fará o possível para assumir a sua responsabilidade, na sensibilização e cooperação.
João Coelho


sábado, 6 de outubro de 2018

"Tradição e sabedoria" : Que maçada











Significado: Expressão utilizada para referir uma tragédia ou contratempo.

Origem: É uma alusão à fortaleza de Massada, na região do Mar Morto. Israel, reduto de Zelotes, onde permaneceram anos, resistindo às forças romanas após a destruição do Templo de Jerusalém em 70 dC, culminando com um suicídio coletivo para não se renderem.


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