domingo, 30 de outubro de 2022

Até sempre, Maria Eugénia









A doença, cruel e implacável, levou-nos a Maria Eugénia Gomes neste dia 14 de outubro de 2022.

Foi fundadora e dirigente ativa da associação ALDRABA, desde 2005. Preferindo o recato, os bastidores, integrava diversas outras associações em que primava pelo bem fazer, pelo melhor património (as pessoas) e pela memória dos objetos biográficos.

Foi muito amada por todos aqueles que com ela se cruzaram, além da extremosa dedicação aos familiares.

Nestes dias tristes, em que nos despedimos da sua fugaz viagem pelo planeta onde nos encontrámos, as inúmeras coroas de flores falaram pelos que se sentiram mais pobres com a sua ausência. Vimos muitos jovens que com ela colaboraram no associativismo popular a chorar pela perda insubstituível.

Maria Eugénia. Um rosal de palavras é pouco para coroar a tua grandeza.

Que fica nos nossos corações enquanto vivermos com o teu sorriso dentro de nós.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Está no prelo o n.º 32 da revista ALDRABA


 













O n.º 32, de outubro de 2022, da revista da nossa Associação, encontra-se na gráfica para edição, e espera-se que fique concluído muito em breve.

Aqui se divulga, em pré-publicação, o seu editorial:

TRADIÇÕES RE/INVENTADAS

No meio de uma nação decadente, mas rica de tradições, o mister de recordar o passado é uma espécie de magistratura moral, é uma espécie de sacerdócio. Exercitem-no os que podem e sabem; porque não o fazer é um crime.

Alexandre Herculano, in “O Bobo” (editado pela primeira vez em 1843).

Não há muito tempo, li um artigo on-line em que se afirmava que a missão dos criadores actuais “não é estragar a integridade da história, mas remetê-la para uma modernidade criativa”. Significa isto que os conceitos estéticos, as peças ou produtos dos novos criativos podem não primar pela completa originalidade, procurando antes a raiz do que é português, inspirando-se no que já existe, no que faz parte de um património colectivo – as nossas tradições.

Com efeito, os símbolos e tradições portuguesas que, há alguns anos, eram considerados ultrapassados têm vindo a adquirir uma nova aura – uma espécie de estilo retro-chique que passou a ser valorizado e apreciado por muitos. Recorde-se as lojas de produtos classificados como “vintage” – peças que se tornaram importantes e substancialmente encarecidas e que, não há muito tempo, eram perfeitamente dispensáveis. Atente-se no “novo” design do mobiliário de interiores que transporta os modelos das salas de estar dos anos 60 e 70, do século XX, para a actualidade. Veja-se o caso da loja “Vida Portuguesa” que alcançou grande sucesso. Os símbolos portugueses foram recriados - evidenciam-se as marcas do século passado. Não obstante as vibrantes embalagens parecerem acabadas de sair da gráfica - os produtos, as cores, o design são um apelo constante às nossas emoções e aos nossos lugares de memória.

Os processos de redescoberta e de reinvenção das tradições nada terão de negativo se não constituírem uma apropriação abusiva e pouco preocupada com a identificação da sua origem, da sua genuinidade e da sua matriz cultural.

Há tradições que se mantêm, que persistem no tempo sem alterações, outras que se renovam mantendo a matriz. As ligadas ao Carnaval, como os Caretos de Podence, que não revelam alterações de assinalar, a Procissão da Senhora da Saúde, que se realiza desde o século XVI, e que comporta pequenas e pouco relevantes alterações como a integração da Guarda Nacional Republicana, ou a incorporação de outras figuras como Santa Bárbara e Santo António, ou ainda os arraiais dos Santos Populares de Lisboa que têm vindo, ao longo do tempo, a integrar elementos diversos, como os tipos de bebidas consumidas - o vinho foi substituído por cerveja, caipirinhas ou mojitos, bem como o estilo de música - as tradicionais marchas foram substituídas pela designada música “pimba”.

Outras há que nem que nem sequer são tradições – são deturpações, jogadas de marketing, meras invenções com intuitos economicistas que são apresentadas e impingidas ao turismo como tradições verdadeiras e genuínas. O aberrante caso da loja da Rua Augusta, decorada com brasões de poliuretano a imitar bronze antigo e cartazes de mau gosto que anunciam a um preço indecente, como especialidade da nossa tradição gastronómica, o pastel de bacalhau com queijo da serra, é um exemplo. Maria de Lourdes Modesto, nome relevante da história da gastronomia portuguesa, classificou este produto como uma “obscenidade”.

Outro caso de abusivo aproveitamento da tradição conserveira é “O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa” em pleno Rossio, cuja loja se assemelha a uma feira integrando um carrocel de imitação francesa e onde as varinas de Lisboa foram substituídas por majoretes.

As tradições fazem parte do nosso património colectivo – são forma de estar e sentir – são a nossa marca distintiva enquanto portugueses. Pena é que muitas vezes sejam, de forma arbitrária, transformadas, desrespeitadas e adulteradas.

Sejam genuínas ou inventadas, de acordo com os conceitos de Hobsbawm, Portugal é um país de grande riqueza no que respeita a tradições. Cabe a todos nós, enquanto povo, reconhecê-las, respeitá-las e defendê-las. No fundo, se estivermos atentos, todos podemos e sabemos fazer o exercício de recordar e valorizar o passado, como nos aconselha o grande historiador.

Webgrafia

https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/82675/2/117565.pdf

https://www.comumonline.com/2015/04/tradicoes-reinventadas/

https://visitar.lisboa.pt/tradicao/procissoes/nossa-senhora-da-saude

https://www.pasteldebacalhau.pt/

https://www.casalmisterio.com/ja-provamos-o-novo-pastel-de-bacalhau-280407

https://observador.pt/2015/06/15/obscenidade-maria-lourdes-modesto-nao-quer-pastel-bacalhau-metido-queijo-da-serra/


Ana Isabel Veiga

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Ribeiro Santos assassinado há 50 anos


 












José António Ribeiro Santos, na altura estudante de Direito, foi morto a tiro por um agente da PIDE/DGS no dia 12 de outubro de 1972, durante um "meeting" contra a repressão que decorria nas instalações do Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa.

Ribeiro Santos era conhecido na academia de Lisboa como ativista corajoso na resistência às prepotências do Governo sobre os estudantes, designadamente contra a violência física exercida em várias escolas pelos chamados gorilas - elementos de segurança recrutados entre coman- dos destacados na guerra colonial, destinados a espancar e entregar à polícia quaisquer alunos que tentassem as menores movimentações no interior da Universidade.

A morte cruel do Ribeiro Santos foi um detonador de reações maciças de protesto em toda a cidade de Lisboa, e inseriu-se no crescendo da crise aguda do regime fascista que viria a culminar 18 meses depois no 25 de abril de 1974.

A ALDRABA, amante da liberdade e que deve também a sua existência à longa luta de tantos portugueses contra a opressão e o obscurantismo, verga-se respeitosamente à memória e ao exemplo deste jovem mártir, no 50º aniversário da sua morte.

JAF