Neste dia em que se assinala o 41º aniversário do 25 de abril de 1974, quando em Portugal abrimos as portas de um país novo, a ALDRABA comemora também o seu 10º aniversário.
Antes de 1974, como já o afirmámos na revista nº 15, "o associativismo ligado ao património era incipiente e apenas coisa de eruditos". Mesmo depois de abril de 1974, algumas iniciativas nesta área ainda visavam apenas a mera defesa ou preservação de tradições, sem um real esforço de mobilização da populações para valorizarem a sua identidade.
Em 25 de abril de 2005, a ALDRABA iniciou uma nova experiência, propondo-se proceder à abordagem integrada de objetos, práticas, factos e vivências, privilegiando a valorização dos testemunhos humanos e recorrendo às disciplinas científicas adequadas.
Têm sido dez anos de trabalho persistente, apesar de sereno e discreto, de que nos orgulhamos, e que alguns amigos, consultados a propósito dos nossos 10 anos, valorizam de forma muito gratificante.
António Monteiro Cardoso, historiador, afirma que "o principal aspecto a realçar na vida longa da Aldraba é a sua fidelidade ao modelo, que decorre do seu próprio nome. A revista, tal como a peça de ferro que lhe dá o nome, serve para bater às portas, para alertar umas vezes de mansinho, outras com força, sobre o que se vai passando e nós olhamos e não vemos... Um outro aspecto que quero realçar é o modo como a revista dá a conhecer atividades, pessoas, lugares pouco ou nada conhecidos, sem cair no erro de as folclorizar, no mau sentido".
Fernando Duarte, geógrafo, sustenta que "a Aldraba sempre teve uma matriz original, em valores que se colocam mais à esquerda, mas que são universais, plenamente humanos. Também isso definiu, de alguma forma, o que se foi fazendo. Foi possível definir, por vezes com discussões acaloradas, alguns conceitos, filtros, percursos, questões que a priori não seriam da esfera do pequeno património, ou do imaterial, mas que foram “repuxados” e que hoje é possível pensar, contextualizar e estudar".
Apio Sotomayor, olisipógrafo, é de opinião que "num tempo em que tudo parece convidar a que se meta cada um no seu cantinho, vivendo melancolicamente o seu dia-a-dia, cansado muitas vezes das mediocridades e das pantominas que constantemente lhe surgem pela frente, torna-se quase valentia empunhar um facho – modesto que seja – e desafiar alguém para levar a cabo um projecto comum. O associativismo, viçoso nalgumas eras passadas, vive uma agonia longa. Desde as simples agremiações de bairro até aos grupos que pretendem promover o conhecimento mais profundo de uma certa realidade, quase todas as colectividades se encontram em plena letargia, lamentando sócios que se afastam, novas caras que não aparecem, quotas que ficam por liquidar, possíveis antevisões de um fechar de portas... Mas, em todo o pântano podem nascer nenúfares. E é por isso que vão subsistindo (e persistindo) associações que, sem se alardearem como corifeus da cultura e da arte, vão levando a cabo as missões que a si próprias se propuseram. A Aldraba estará neste caso. Tendo tomado consciência da importância do património cultural do País que somos, vai mostrando caminhos – com encontros, com visitas, com debates. Devagarinho, vai agitando, vai perguntando, vai despertando o amor que cada um deve ter por aquilo que é seu".
Por último, a antropóloga Paula Godinho considera que "durante estes dez anos, além de um reconhecimento do país - partilhado, festivo, com o prazer da comensalidade sempre associado -, a Aldraba trouxe textos de grande interesse. A nível histórico, arqueológico, etnográfico, literário, a revista publicou novidades e divulgou trabalhos, que nos permitiram reconhecer melhor o campo que pisamos". E termina desejando, como todos nós:
LONGA VIDA À ALDRABA!
JAF (fotografia de “O BOM POVO PORTUGUÊS”, de Rui Simões)
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