sábado, 28 de dezembro de 2013

Associados da ALDRABA conviveram na Casa do Concelho do Sabugal


Nesta casa regional das Beiras, que nos acolheu de forma cuidadosa, uma vintena de "aldrabistas" reuniram-se com muita amizade em mais um jantar-tertúlia.

O bacalhau assado no forno, as entradas e as sobremesas estavam ótimas, e os ativistas da Casa do Sabugal deram-nos uma boa perspetiva do trabalho ali desenvolvido e dos projetos futuros que têm em mãos.

Dos nossos participantes que usaram da palavra durante o jantar, destacaram-se o associado Augusto Teixeira e o amigo Pedro Franco (presidente da Associação das Coletividades do Concelho de Lisboa), ambos na ótica do progresso da função social do associativismo popular.

JAF (fotografias de ABrito)


domingo, 22 de dezembro de 2013

A dieta mediterrânica é património imaterial da humanidade














No início do corrente mês de dezembro de 2013, durante a sessão do comité intergovernamental da UNESCO que reuniu em Baku, no Azerbaijão, Portugal viu aprovada a sua candidatura (conjunta com a Croácia e com Chipre) da "dieta mediterrânica" a PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE.

Assim, o nosso país e os seus dois parceiros vieram juntar-se à Espanha, à Grécia, à Itália e a Marrocos que, desde 2010, tinham já conseguido idêntico reconhecimento para esta forma particular de gastronomia dos povos da bacia do Mediterrâneo.

Os nossos parabéns para os autarcas e para os técnicos da Câmara Municipal de Tavira que lideraram a candidatura portuguesa ganhadora.

Associando-nos aos documentos apresentados, a ALDRABA também quer sublinhar que "a dieta mediterrânica envolve uma série de competências, conhecimentos, rituais, símbolos e tradições ligadas às colheitas, à safra, à pesca, à pecuária, à conservação, ao processamento, à confecção, e, em particular, à partilha e ao consumo dos alimentos".

"Comer em conjunto é a base da identidade cultural e da sobrevivência das comunidades por toda a bacia do Mediterrâneo. É um momento de convívio social e de comunicação, de afirmação e de renovação da identidade de uma família, grupo ou comunidade"...

Bem hajam os homens e as mulheres de Tavira que trabalharam por este reconhecimento, com os quais a nossa associação está disponível para iniciativas futuras.

JAF  

domingo, 8 de dezembro de 2013

16º jantar-tertúlia da Aldraba em 13.12.2013

Aproxima-se a época das festas de família em que gostamos de estar com a nossa gente, a nossa família e os nossos amigos. Assim é também na Aldraba.

Vamos levar a efeito mais um jantar-tertúlia numa casa regional sediada em Lisboa. Desta vez iremos jantar e conviver na Casa do Concelho do Sabugal, que se situa na Av. Almirante Reis, Nº 256, 2º Esq., em Lisboa, no dia 13 de Dezembro, às 19.30h.

Fruto de desejos e vontades que já vinham de antes do 25 de Abril mas que não havia sido possível concretizar, a Casa do Concelho do Sabugal viria a ser fundada em 1975. Ponto de encontro de muitos naturais da região é ainda local de venda de produtos raianos.

O jantar, pelo preço global de 15€, compreende entradas (queijo e presunto da região, entre outras), prato de bacalhau assado com batatas, vinhos e refrigerantes, sobremesa e café.

Os interessados em participar devem manifestá-lo por e-mail ou telefonema para a Maria Eugénia Gomes (megomes2006@gmail.com / 96 444 52 70 ou 91 964 71 95), até dia 10 de Dezembro próximo.

Vem e traz um amigo também!




quinta-feira, 21 de novembro de 2013

ITINERANTE, projeto inovador na salvaguarda do património












A Itinerante, como a maioria dos projectos ligados à defesa do património, nasceu quase de geração espontânea. Foi o entusiasmo de um pequeno grupo de pessoas que transformou uma ideia inicial, difusa, num projecto que tem, hoje, alguma dimensão e notoriedade.

Tudo começou com umas caminhadas em que participavam os amigos e os amigos dos amigos. Preparava-se não só o trilho, mas também meia dúzia de notas para dar a conhecer a região, referenciando o património existente e algum acontecimento histórico marcante. E muitas vezes, para fechar em beleza um dia bem passado a caminhar, havia opípara refeição num restaurante da zona desfrutando da gastronomia local. Estas caminhadas foram ganhando regularidade e adeptos. Conversa puxa conversa – uma das grandes virtudes das caminhadas é que conversamos… e é tão estimulante conversar! –, começou a fermentar a ideia de passar para o papel o conceito que, casualmente, tinha aparecido, fruto dos interesses de alguns de nós: juntar as três valências – o Caminhar, o Conhecer e o Conviver. E assim nasceu a “Itinerante – Divulgação Histórica e Cultural, Crl”, uma cooperativa sem fins lucrativos cujo objecto principal é a divulgação da História, da Cultura, da Geografia e da Paisagem, para dinamização do Turismo.

Face mais visível do trabalho desenvolvido pela cooperativa é a Revista ITINERANTE, que, no Ponto 1 do seu Estatuto Editorial, define claramente a sua razão de ser: «A revista ITINERANTE defende, através do pedestrianismo, o Turismo Ético. É objectivo da ITINERANTE: (a) promover hábitos de vida saudável; (b) defender e valorizar o património natural, cultural e ambiental; (c) contribuir para o estabelecimento de relações reciprocamente benéficas entre os caminheiros e as comunidades locais.»

E pensamos que, nos números já publicados, temos conseguido dar resposta a este objectivo. Por decisão editorial, a Itinerante é uma revista temática, ou seja, cada número é dedicado a um assunto. Até hoje, foram publicados 8 números – Invasões Francesas, Faróis de Portugal, Caminho Português de Santiago, República, 7 Maravilhas Naturais de Portugal, Contrabando, Santuários de Portugal e Enoturismo – para além de um número especial dedicado às Linhas de Torres Vedras.

Talvez a forma mais simples de dar a conhecer a Itinerante seja referir alguns dados:

(a) Já foram apresentados 61 trilhos, em 53 concelhos do Continente e das Ilhas. Vão desde a Serra d’Arga até à Ria Formosa, passando pela subida ao Pico e pela Lagoa das Sete Cidades. No total, eles percorrem 960km. De acordo com os nossos padrões – todos os trilhos foram testados pela equipa Itinerante, o que garante, a quem os faz, uniformidade nos critérios considerados – quem fizer todos ocupará 269 horas.

(b) Demos a conhecer 31 restaurantes. O Abocanhado, em plena Serra do Gerês, o Lampião, no Turcifal, o Martinho da Arcada, em Lisboa, a D. Isilda, em Palmela, o Eira do Mel, em Vila do Bispo e as Vides, em Câmara de Lobos, foram alguns deles. Mas o “Conviver” não se fica pelos restaurantes; há também a preocupação em divulgar pratos tradicionais da gastronomia local. Por isso já escrevemos sobre, por exemplo, a açorda, os Ovos Moles de Aveiro, a Bôla de Lamego, os enchidos do Alto Minho, as Fatias do Freixo e o Pão e Queijo da Senhora da Lapa, em Sernancelhe. É de ficar com água na boca…

(c) No bloco “Conhecer” já se conta com a colaboração de 60 individualidades. Porque consideramos primordial garantir informação rigorosa e de qualidade, recorremos, na grande maioria dos números, a um Consultor Científico, alguém de reconhecido mérito no tema em causa, que nos auxilia na escolha dos assuntos e dos articulistas. Por exemplo, o Prof. Doutor António Ventura, director do Centro de História da Faculdade de Letras de Lisboa, ajudou-nos no número das Invasões Francesas e tivemos o precioso apoio do Prof. Doutor José António Falcão, director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, nos números que dedicámos ao Caminho de Santiago e aos Santuários. Tivemos já a honra e o prazer de entrevistar, por exemplo, Frei Bento Domingues, a propósito do Caminho de Santiago, o Dr. Joaquim Boiça, que foi também o Consultor Científico, sobre os Faróis de Portugal, o Eng. José Bento dos Santos, conceituado gastrónomo, a propósito do Enoturismo e o Pe. Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, no número dos Santuários. Muitos outros nomes ligados à História, à Cultura e à Defesa do Património têm escrito na Itinerante, mas há duas personalidades que destacamos, pelo simbolismo dos seus contributos: no número dedicado às Linhas de Torres tivemos a participação de Lord Douro, descendente do Duque de Wellington e a de D. Manuel Clemente, na altura Bispo do Porto, actual Patriarca de Lisboa, que deu o seu testemunho enquanto Comissário da Comissão Municipal de Torres Vedras para as Comemorações do Bicentenário das Invasões Francesas. São estas pequenas “vitórias” que nos dão alento para continuar!

Mas o projecto Itinerante não se esgota na revista. Há o site (www.itinerante.pt) onde é possível ler excertos dos artigos publicados e descarregar os trilhos para GPS – basta introduzir a password que vem na revista do respectivo trilho – e há a página de Facebook; neste momento já ultrapassámos os 1.800 amigos. Ser amigo da Itinerante, no Facebook, permite estar a par das iniciativas desenvolvidas por entidades, algumas delas nossas parceiras. De facto, no âmbito da procura do benefício recíproco, entre quem caminha/visita e quem vive/se preocupa com a região, desde a primeira hora temos procurado, e temos conseguido, criar parcerias com associações de desenvolvimento local e de defesa do património. Neste momento são já mais de 20 as parcerias assinadas. No caso da Aldraba, essa parceria não está (ainda) protocolada, mas não faltará oportunidade. A excelente relação existente entre a Aldraba e a Itinerante ficou bem patente na nossa participação no XXI Encontro da Aldraba “Da Mértola Islâmica à Raia do Contrabando”, onde tivemos o prazer de partilhar convosco o trilho do contrabando “De Santana de Cambas à Mina de São Domingos”.

Uma última palavra quanto ao futuro. Não estamos parados e é nossa intenção aprofundar o projecto. Há ideias… ainda em fase de maturação. Aguardemos pelo início de 2014.

Até lá, saudações caminheiras!

José Constantino Costa

(Reprodução do artigo publicado no nº 14 da revista ALDRABA, em distribuição)



terça-feira, 12 de novembro de 2013

Feito o lançamento da revista nº14




























O Clube do Sargento da Armada acolheu-nos nesta realização do lançamento da revista Aldraba.

Encontro de amigos em que intervieram Ana Isabel Carvalho, José Constantino Costa, José do Carmo Francisco, Luís Maçarico e José Alberto Franco, autores de alguns dos textos inseridos na publicação.

Vítor Agostinho, director da Voz do Operário, abriu a sessão, sendo o associativismo e os "miúdos" da Voz o tema de que naturalmente falou com todo o entusiasmo e muita ternura

Mª Céu Ramos (texto e fotos)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O acervo documental da ALDRABA (12): Religiosidade












Abordamos hoje o descritor RELIGIOSIDADE, do grupo temático “Referências culturais”.

Reproduzem-se em seguida as indicações dos trabalhos, neste domínio, publicados até ao presente na revista “ALDRABA”:


José Alberto Franco, “Os santuários e a religiosidade popular”, in “ALDRABA”, nº 12 (Out.2012), p.22

José do Carmo Francisco, “A “Miraculosa””, in “ALDRABA”, nº 14 (Out.2013), p.24

José do Carmo Francisco, “Videntes e confidentes”, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), p.21

José Manuel Prista, “Ai, minha rica Santa Bárbara”, in “ALDRABA”, nº 6 (Dez.2008), p.11

José Manuel Prista, “Das arremedas ao castigo dos santos”, in “ALDRABA”, nº 4 (Dez.2007), p.9

Luís Afonso, “Aparições”, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), verso da capa

Luís Afonso, “Construam-me uma ermida”, in “ALDRABA”, nº14 (Out.2013), verso da capa

Luís Filipe Maçarico, “O imaginário popular em torno de Santo António”, in “ALDRABA”, nº 10 (Jul.2011), p.13

Marco Valente, “Andanças do diabo por terras portuguesas”, in “ALDRABA”, nº 9 (Out.2010), p.9


Os leitores e amigos que pretendam aceder a estes textos, e que se manifestem em comentário ao presente post, ou por e-mail para aldraba@gmail.com, receberão uma cópia digitalizada do ou dos artigos que assinalarem.

JAF (Gravura reproduzida de http://baloesportugal.blogspot.pt)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Revista ALDRABA nº14 é lançada no próximo sábado, 9.11, às 17h
















Todos são convidados para a sessão de lançamento do nº 14 (outubro 2013) da revista ALDRABA, que irá ter lugar no próximo sábado, dia 9 de novembro, pelas 17 horas, no Clube do Sargento da Armada, perto de Alfama e de São Vicente de Fora (Rua das Escolas Gerais, 96/2º, 1120-221 Lisboa).

O apresentador da revista será Vítor Agostinho, diretor da Sociedade "A Voz do Operário", que há longo período de tempo tem desempenhado funções associativas e autárquicas naquela zona da cidade de Lisboa e que, nomeadamente, é ensaiador da marcha infantil da Voz do Operário (à qual este número da revista dedica um artigo de fundo).

Depois da sessão, todos os presentes que o desejem poderão participar num animado magusto (castanhas, água-pé, geropiga, etc.), que o Clube do Sargento da Armada organiza no mesmo local, para os seus associados e familiares, mas que é aberto a outros amigos.

A Direção da ALDRABA

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O "Faz-Tudo"

As luzes, os artistas, a cor, a ilusão, os trajes grotescos, as trapalhadas dos palhaços, os risos cristalinos das crianças e de todos quantos têm alma de criança, os malabarismos, a fantasia, a música, a ternura, a imaginação... fazem do circo um espectáculo único e um local onde o riso é mais livre, um verdadeiro conto de fadas, onde a tristeza não tem lugar. E, quem não deseja recordar os contos de criança, o mundo do faz de conta, ser transportado ao mundo da fantasia; quem não deseja abrir a boca de espanto perante todo o espectáculo grandioso e recordar com nostalgia, os tempos de criança?

O circo significava também uma vida errante, com misérias e grandezas, com dureza e aventura, com pobreza e alegria.

Os «faz-tudo» são artistas em que poucos reparam, mas que são os alicerces do espectáculo, pois preenchem os espaços em branco, que não permitem monotonia ou quebra de continuidade e que, ao mesmo tempo, provocam o riso. São eles, que entre actuações, intervêm para “obrigar” o público a rir, arquitectando pantominas, dando piruetas e saltos mortais. “Os «faz-tudo» não têm obrigações iguais ou parecidas às dos vários números do elenco da Companhia. Flutuam, conforme as necessidades do espectáculo, tapando «buracos», amenizando o tempo de colocação da rede para os voadores ou da desmontagem das jaulas das feras. São necessários, são imprescindíveis...” (Luís Ferreira, “A arte de fazer rir o público”, in República, 25/2/1955)

Quando entravam no palco, eram recebidos com a exclamação: “Olha! Lá vêm os trapalhões!”. E, nesse preciso momento, surgia a figura do «faz-tudo». Vestiam-se muitas vezes de casaco até aos joelhos, lenço tabaqueiro pendurado do bolso das calças, excessivamente compridas e largas, chapéu de coco, amarrotado, umas botas de «sete-léguas», e assim faziam rir o público, e sobretudo as crianças.

Conforme descreve Júlio Castilho, no segundo tomo da obra Lisboa Antiga, as raízes do circo remontam a maio de 1596 quando “estiveram em Lisboa uns arlequins, acrobatas, funâmbulos ou volatins, como lhe chamavam. E sabe o leitor onde representavam, e onde o público foi admirá-los e aplaudi-los, pagando as entradas a vintém por cabeça? Foi no pátio da casa do conde de Monsanto D. António de Castro. Por sinal o espectáculo rendia 30 a 40 mil réis em cada tarde" (Lisboa Antiga). Data de 1782 o primeiro circo instalado num teatro em Lisboa e desde então a sucessão de espectáculos por companhias portuguesas ou estrangeiras, ao ar livre ou em salas de espectáculo, na capital, no Porto e em outros locais deste pequeno país. O Coliseu dos Recreios foi parte relevante desse processo: "Lisboa precisava de uma grande sala de espectáculos. Com esta convicção fundou-se em 1887, a Sociedade dos Recreios Lisbonenses, em plena maré de exaltação nacionalista, na sequência das comemorações centenárias de Camões e Marquês de Pombal".

Muitos dos circos que atuaram, e atuam, em Portugal estão associados a famílias que preservam a tradição (Cardinali e Chen, por exemplo).

Hoje em dia a arte circense vive com dificuldades. Existe a necessidade de reinventar novas tradições e criar novos números.

Senhores e Senhoras! Meninos e Meninas! Exmo. Público! Saudemos o circo que vem aí! O REI DO RISO! O REI DOS PALHAÇOS!

Manuel Mamede Pereira

(mais outro artigo que sairá no nº 14 da revista ALDRABA)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A marcha infantil da Voz do Operário

É do lugar cimeiro de cada arco que Santo António, adoptado pelo coração dos lisboetas como padroeiro, testemunha o movimento, a luz e o colorido que vestem a Avenida em noite de marchas.
De contornos controversos quanto à sua forma de afirmação e ao seu modelo, esta festa alfacinha faz parte da vida da cidade e é uma experiência de associativismo, trazendo os bairros à rua num incessante e animado desfile. A concurso, os marchantes, percorrem, entusiasticamente, usando coreografias mais ou menos complexas, aquela “passerelle”. Erguendo os arcos e balões, seguem as figuras, mais ou menos mediáticas, que assumem o papel de padrinhos.
O desfile dos bairros não se inicia, contudo, sem antes entrarem em campo “os miúdos” da Voz do Operário - A marcha infantil que, em 1988, se apresentou pela primeira vez abrindo o desfile, regista, desde aí, a sua presença no início de todas as edições.
É uma marcha diferente – e marca a diferença na sua constituição, nos seus objectivos, na sua organização mas também na sua coreografia e, especialmente, no seu reportório.
A “mascote” das marchas, como é considerada a marcha infantil, faz a abertura da exibição no Pavilhão Atlântico mas é no desfile, sob as mil luzes da Liberdade, que os “miúdos da Voz”, mais brilham.
Em representação de todos os bairros e de todas as crianças da cidade, são os primeiros a enfrentar o público, desdobrando-se em sorrisos, entusiasmo e movimento. A marcha integra variados jogos, corridas, exercícios, brincadeiras ou a composição de quadros adicionais, incluídos na própria marcha, que permitem a integração do elevado número de elementos que a compõem.
São muitos, os miúdos da Voz – muito para além dos 48 permitidos pelo regulamento das marchas – crianças cuja idade oscila entre os 6 e os 12 anos, tendo por mascotes um menino e uma menina, de 3 ou 4 anos. Em 2005, já Vitor Agostinho, coordenador e ensaiador da marcha infantil e director geral da Voz do Operário, explicava o facto ao jornal A Capital: “não há selecção para não desiludir as crianças – este ano são 60 – serem mais ou menos depende das desistências ao longo dos ensaios – os marchantes não oficiais andam «por fora» como apoios a fazer marcações complementares.”
Os pequenos marchantes recebem os aplausos inaugurais de todas as claques, coleccionando manifestações bastante elogiosas com referências à ingenuidade, à ternura, ao carinho, mas também à tenacidade, à coragem e ao exemplo que é dado.
No final não há prémios, nem classificação, nem menções honrosas, vitória ou derrota – há a satisfação de se organizarem, participarem e representarem toda a cidade. Mas, principalmente, como recorrentemente é referido pela organização, há a preocupação de cumprir os objectivos a que a marcha infantil se propôs: ensinar e reviver a tradição e as realidades da cidade recriando profissões e modos de vida; incentivar as crianças à participação; tentar incutir, aproveitando o consenso que a marcha infantil gera, outra mentalidade nos bairros; veicular um projecto pedagógico através dela e identificá-la com a Voz do Operário enquanto instituição ligada ao conhecimento e à aprendizagem; intensificar a relação de pertença no reforço da identidade alfacinha.
O desfile na Avenida, culminar de um trabalho exaustivo, passa pela persistência e empenho, pela motivação e entusiasmo dos miúdos, mas também dos graúdos. O processo de organização é desenvolvido, desde a primeira realização, por uma Comissão organizadora constituída por um conjunto alargado de pessoas que, sendo de diferentes áreas de actividade, contribuem de forma voluntária para este trabalho colectivo de assinalável valor. São elementos da direcção, associados, trabalhadores, encarregados de educação, professores e amigos da instituição que tomam, a cargo as inscrições das crianças, a marcação e desenvolvimento dos ensaios, as reuniões, os contactos, a confecção dos figurinos, a construção dos arcos, os adereços, a coreografia e a concepção das letras e das músicas.
É um trabalho feito “em casa”, com muito da “prata da casa” para, posteriormente, se projectar a partir daí para toda a cidade, na certeza de que no ano seguinte, com o mesmo empenho e dedicação, cumprindo os mesmos objectivos se repetirão os ensaios diários, de Abril a Junho, no recinto desportivo da Voz do Operário e o grande desfile na Avenida.
Os ensaiadores – Vitor Agostinho e Sofia Cruz custam a fazer-se ouvir. O entusiasmo nos ensaios é grande, mas a dispersão e a brincadeira também o são. As estruturas em madeira usadas nos ensaios (simulações dos arcos que são confeccionados na oficina improvisada na Voz e que hão-de suportar os símbolos de Lisboa e o da própria Voz do Operário), servem muitas vezes para dar corpo a pequenas disputas e “braços de ferro” entre os marchantes. A algazarra e a movimentação constantes fazem duvidar que o barco seja levado a bom porto. Mas os timoneiros nunca desistem: “Não quero ouvir ninguém a falar. Quero ouvi-los a cantar” – Vitor Agostinho. “Vamos lá marchar. Está tudo na conversa” – Sofia Cruz
E lá vão ensaiando as marcações e aprendendo a coreografia.
O tema escolhido, anualmente, é indissociável das figuras a representar e da coreografia. As figuras devem potenciar o interesse das crianças e a coreografia deve ser criativa e dinâmica tendo, também, que comportar momentos em que todos participem e isso, como refere Vitor Agostinho, consegue-se introduzindo jogos ou brincadeiras em conjunto. Em 2003, a marcha infantil recriou um quadro de recreio da escola que até tinha o jogo da macaca.
A criatividade das coreografias também pode ser expressa pelos elementos surpresa introduzidos. Foi o caso de 2009, em que as crianças surpreenderam o público distribuindo sopa de fava-rica nas bancadas.
Talvez por tudo isto se verifique que, amiudadas vezes, se recorre às representações de vendedeiras dos mais diversos produtos que davam colorido às ruas de Lisboa. A figura da vendedeira é, genuinamente, uma figura de agitação e comporta uma certa cor, se não pelos trajes que eram usados, pelo menos pelos pregões cantados e pela constante interacção com os clientes.
Todo este movimento é envolvido num invólucro musical composto por três temas, além da Grande Marcha de Lisboa (obrigatória para todas as marchas). Interpretam-se, anualmente, uma ou duas marchas inéditas, recuperando-se mais uma ou duas, dependendo dos anos, do significativo reportório, tendo em consideração que a marcha canta há já 26 anos.
Os criadores das letras e músicas são uma referência no panorama musical português. Os temas musicais, também de acordo com os figurinos, são variados e repletos de imagens festivas e pueris. Os exemplos são ricos pelos vocábulos utilizados para falar das varinas, peixeiros, leiteiras, aguadeiros, ferro-velho, cauteleiros ou para falar da escola e da felicidade.
“Queremos um dia que não vem no calendário/e ser felizes na Voz do Operário” – Esta marcha, da autoria de José Jorge Letria (letra) e Carlos Alberto Moniz e Braga Santos (música), assume mais do que uma designação podendo ser referida como “Queremos um sol” ou “Queremos um dia” ou, ainda, “Calendário”, no entanto, ela é repetida todos os anos, desde 1988, e é considerada como o Hino da Voz do Operário.
O que importa relevar é que, mais de meio século (64 anos) após o início das Marchas de Lisboa enquanto cartaz cultural e turístico das Festas da Cidade, se alargou o fenómeno das marchas ao universo infantil. O evento não mais deixou de se realizar e ao longo dos 26 anos da sua existência (1988-2013). Enalteceram-se as figuras do povo que deram razão e vida à Sociedade que ainda hoje, com 130 anos de existência, se recusa a esquecer as origens. A prova da vontade em retomar a memória, valorizando a actividade que originou a Sociedade surgida a partir de um jornal, é o recurso à representação do ardina com alguma recorrência.
Em tempos que muitos consideram ser de esmorecimento do associativismo popular, a Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário – instituição centenária de referência no panorama do associativismo lisboeta - parece ter sabido revitalizar o seu projecto associativo – a emergência e continuidade da marcha infantil faz parte do processo de redefinição da instituição.
Nas diversas actividades que a Voz do Operário organiza e promove, a marcha infantil é, talvez, a par da escola, a que mais visibilidade dá à instituição. Veicula um propósito pedagógico que pretende reforçar a identidade local e o interesse pelo património imaterial ligado ao imaginário urbano.
A sua criação é um sinal de futuro. Sensibilizar a comunidade para o significado de um corpo de baile, efémero e paradoxalmente duradouro pela repetição, que desfila em primeiro lugar na Avenida, promovendo a história dos bairros, da cidade antiga e das profissões populares, parece ser receita de sucesso para a continuidade do projecto da Voz.
Santo António continuará a testemunhar, do alto de todos os arcos, a tenacidade, o empenho e a dedicação dos miúdos da marcha da Voz do Operário

Ana Isabel Carvalho
(pré-publicação de artigo que sairá no nº 14 da revista ALDRABA, actualmente no prelo)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O acervo documental da Aldraba (11): Algarve














Continuando as referências documentais do nosso acervo, abordamos desta vez o descritor ALGARVE, do grupo temático “Regiões portuguesas e lusófonas”.

Reproduzem-se as indicações dos artigos publicados até ao presente na revista “ALDRABA”, relativos aos 16 concelhos (Albufeira, Alcoutim, Aljezur, Castro Marim, Faro, Lagoa, Lagos, Loulé, Monchique, Olhão, Portimão, São Brás de Alportel, Silves, Tavira, Vila do Bispo e Vila Real de Santo António) que integram esta região:

ALGARVE

Ana Ramos, “Antigos saberes, novos fazeres”, in “ALDRABA”, nº 13 (Abr.2013), p.21

Glória Montes, “A lota de Lagos”, in “ALDRABA”, nº 9 (Out.2010), p.5

Helena Catarino, Fernando Dias e Manuela Teixeira, “Jogos intemporais - tabuleiros e pedras de jogo do Castelo Velho de Alcoutim”, in “ALDRABA”, nº 6 (Dez.2008), p.2

Leonel Costa, “Acerca do “Guia do construtor” para a aldeia de Alte”, in “ALDRABA”, nº 9 (Out.2010), p.16

Luís Filipe Maçarico, “As fontes de Querença”, in “ALDRABA”, nº 3 (Jun.2007), p.4

Marco Valente, “Lendas de mouros e mouras da Serra do Caldeirão”, in “ALDRABA”, nº 6 (Dez.2008), p.16

Sónia Tomé, “A água dá, a água tira”, in “ALDRABA”, nº 12 (Out.2012), p.9

Susana Calado Martins, “A produção de cal artesanal no barrocal algarvio: Monte Brito e Esteval dos Mouros”, in “ALDRABA”, nº 11 (Abr.2012), p.7


Quem pretenda aceder a estes textos, e se manifeste em comentário ao presente post, ou por e-mail para aldraba@gmail.com, receberá uma cópia digitalizada do ou dos artigos que assinalar.

JAF

(Gravura reproduzida de cafeportugal.net)

domingo, 29 de setembro de 2013

Os nossos parabéns ao almanaque “Borda d’Água” que faz 85 anos!



                               
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O “Borda d’Água” para 2014 já anda a ser apregoado e vendido há algumas semanas. Tira 100.000 exemplares, o que, ao nível das publicações periódicas, só é ultrapassado pelo “Correio da Manhã”, pelos diários desportivos, e pouco mais…

Como “previsão” para 2014, o “Juízo do ano” do “Borda d’Água” estabelece que “o Homem será muito influenciado”…

E recomenda: “Não perca tempo nem energias com quem não merece. (…) Esteja atento ao consumo de frutos vermelhos, pois podem trazer benefícios mas também malefícios”.

Na meteorologia, prevê que “2014 será de um inverno áspero mas pouco frio, a primavera será húmida, o verão quente e o outono temperado”.

Ou seja, sugestões e previsões em que impera o “bom senso”, e em que o risco de erro não será muito grande.

Ao longo das 12 páginas dedicadas a cada um dos meses de janeiro a dezembro, um muito útil conjunto de informações sobre as horas do nascer e do pôr do sol, sobre as fases da lua, sobre o calendário civil, sobre os procedimentos convenientes no domínio da agricultura, da jardinagem e da pecuária. Entrando no domínio do imaginário e do religioso, informa-se para cada mês sobre as efemérides que fundamentam o calendário católico, e sobre os comportamentos individuais que podem decorrer da astrologia e dos signos do Zodíaco.

No resto do almanaque, encontramos ainda informações sobre as enchentes e vazantes das marés, sobre eclipses do sol e da lua, sobre as canículas de agosto, sobre ao dias da espiga e de S. Valentim, e, finalmente, sobre o calendário de festas, feiras e mercados de norte a sul de todo o país.

O “Borda d’Água” é indiscutivelmente - como se pode imaginar a partir deste resumo da edição de 2014 - uma instituição popular que tem garantido um grande impacto. Tal como o folclore, o artesanato, a religiosidade, o desporto, os ditados, os pregões, etc., tudo são formas práticas pelas quais as populações manifestam o seu inconformismo com as dificuldades da vida, e exprimem o desejo de um futuro melhor.

No verão do corrente ano de 2013, foi travado um estimulante debate nas páginas do diário “Público” acerca da astrologia, e se a mesma será uma fraude ou uma ciência.

Em 6 de agosto último, os astrónomos João Fernandes e Pedro Russo escreveram que “a astronomia e a astrologia estiveram ligadas durante muitos séculos. Houve até figuras que são hoje nomes maiores da astronomia que fizeram horóscopos. Johannes Kepler (astrónomo alemão que viveu nos séc. XVI e XVII) é talvez um dos mais paradigmáticos. Porém, na mesma época em que Kepler viveu, a astronomia e a astrologia separaram-se definitivamente, com o desenvolvimento do método científico: o conjunto de regras básicas de como se deve proceder a fim de produzir conhecimento. Assim a astronomia (ciência) e a astrologia (crença) seguiram caminhos diferentes. (…). Hoje, astronomia e astrologia não têm qualquer relação entre si, quanto aos objetivos ou metodologias de trabalho. Podemos até dizer que a astrologia está para a astronomia como a alquimia está para a química ou para a medicina. Mas porque é que a astrologia não é uma ciência? Não é porque nunca, até hoje, a suposta relação causa-efeito entre a posição dos astros e a vida de cada um de nós foi validada pelo método científico após o escrutínio por equipas de investigadores independentes. (…) E o contrário, foi? Ou seja, há algum estudo que mostre que a astrologia não tem fundamento científico? Há. Podíamos citar trabalhos como o publicado por Shawn Carlson (Univ. da Califórnia), na prestigiada revista Nature, em 1985. Mas deixamos aos leitores um argumento mais simples para reflexão. Com exceção de Úrano, Neptuno e Plutão, a astrologia não incorporou descobertas científicas dos últimos 500 anos tais como: mais de 900 planetas extrassolares, nebulosas, enxames de estrelas, buracos negros, galáxias, entre outros. E nisto se inclui o facto da Terra se mover em torno do Sol. Sim, porque os horóscopos, na realidade, são ainda construídos supondo que a Terra está no centro do Universo e que tudo (incluindo o Sol) roda em torno dela. Pode a astrologia ser considerada ciência e, para além de muitos outros erros técnicos, ao mesmo tempo não se ter atualizado? Assim, a astrologia não é, definitivamente, uma ciência e está ao mesmo nível da cartomância, da leitura nos búzios ou nas borras de café”.

A este artigo, reagiu o “estudante de astrologia” Luís Resina, opinando que “a astrologia que os senhores chamaram de crença, e muito bem, refere-se à divulgação da horoscopia que começou em França nos inícios do século XX. Esta é sem dúvida, uma criação sem fundamentos dos media desejosos de angariar mais público e rentabilidade, já faz algum tempo que vivemos no reino do lucro e da quantidade e facilmente esquecemos a qualidade inerente a certos saberes tradicionais. Quero também elucidar que os “astrólogos esotéricos” são raros, e tal como Fernando Pessoa, aliam o conhecimento à pesquisa e à prática, sabem aplicar o método científico nas suas pesquisas e não precisam que a ciência prove coisa alguma, pois sabem pelas suas verificações e pelos resultados obtidos que a arte régia é operativa. Ela tem um pouco de ciência aliada a uma técnica apurada, alguma psicologia e arte interpretativa, e muita sincronicidade nos seus fundamentos. Como tal, nunca gostaria que esta arte milenar fosse reduzida à nossa mera ciência, que tendo os seus méritos, nunca irá chegar, pelos atuais meios em que se encontra, a explicar o sentido da vida ou as profundezas da psique”.

Finalmente, o médico Nuno Lobo Antunes fez publicar em 15 de agosto uma carta em que se congratula com o artigo inicial “por ver desmascarada, em linguagem talvez demasiado cordata, a impostura que se serve da ignorância”, e se insurge contra a “iniquidade que representa colocar no mesmo plano a busca da verdade e a traficância da mentira”.

Sem nos envolvermos diretamente na polémica, não devemos ignorar os problemas que as práticas astrológicas poderão causar à abordagem objetiva que as pessoas têm de fazer dos seus problemas.

Mas também não será por isso que deixaremos de, aqui, exprimir o nosso apreço à publicação do “Borda d’Água” e ao 85º aniversário que vai completar em 2014!

JAF

terça-feira, 24 de setembro de 2013

30 caminhantes da ALDRABA fizeram a rota da colina da Pena até ao Rossio














Num sábado radioso, pelas 10 horas da manhã, começaram a juntar-se os 30 participantes nesta 4ª Rota da Aldraba, ali no Largo do Mitelo, ao Campo de Santana.

Encontro de amigos já de longa data, e também de conhecimento de vários novos, trazidos pelos primeiros.

Satisfação da direção da Associação, e reconhecimento de todos ao associado José do Carmo Francisco, orientador e animador principal do percurso, coadjuvado pelos dirigentes Maria do Céu Ramos e António Brito.

Começámos pelo contacto com o palácio do desembargador Alexandre Metelo, onde Fialho de Almeida foi praticante de farmacêutico, passámos ao Posto Geodésico e à Academia Militar (evocação da rainha de Inglaterra Catarina de Bragança), e visitámos o Pátio do Costa, “simpático, pequenino e sossegado”.

A partir do jardim do Campo de Santana, avistámos o que começou por ser o Campo do Curral, por efeito da «carniçaria» (matadouro), criada no Largo do Mastro em 1461, e avistámos também a Rua de Gomes Freire, antes chamada Carreira dos Cavalos, pois por aí vinham para Lisboa cavalos, touros e carroças. A Feira da Ladra, antes de ir para Santa Clara, esteve no jardim do Campo de Santana entre 1835 e 1882. As touradas, numa praça de madeira desmontável, eram animadas pelo Conde Vimioso, por D. João de Meneses e pela preta Cartuxa, que anunciava as festas taurinas em tipóia no meio de barulho e escárnio.

No local do Arco de Santana, onde está hoje a Faculdade de Ciências Médicas, evocámos Vasco Santana, que ali passou com distinção (esternoclenomastoideu…), mas em que tudo começou com a célebre frase dita por um preto «Vou para este exame completamente em branco!», e detivémo-nos na estátua ao «santo» Dr. Sousa Martins (1843-1897) que, tendo sido um ateu em vida, «transitou, contra a vontade, da heresia para a santidade.».

Passámos ainda pela placa de homenagem aos Mártires da Pátria, que dão desde 1880 nome oficial ao Campo de Santana, e que foram os heróis da conjura de 1817, 13 dos quais aqui foram enforcados e o mais famoso foi Gomes Freire de Andrade.

Seguimos depois para o Torel, espaço que deve o nome ao desembargador Cunha Thorel. Torel é o jardim/miradouro tal como Torel era o nome dos Serviços de Investigação Criminal em 1927. Por lá passaram os «vadios, mendigos e equiparados». O José do Carmo pormenorizou-nos dois casos: Mário Cesariny e Pepe.

A seguir ao Torel, descemos para a casa onde viveu Venceslau de Moraes (1854-1929), grande escritor português apaixonado pelo Japão e suas gentes, subimos ao Elevador do Lavra inaugurado em 1884 a ligar o Largo da Anunciada à Travessa do Forno do Torel. Ao lado do Instituto Câmara Pestana surge uma casa apalaçada adquirida em 1928 pelo Governo da Ditadura Nacional, junto à qual ficou a Ermida de Santana e sobejam hoje as placas camarárias de 1935 sobre os ossos de Camões, poeta desditoso até na posteridade. «No país onde Camões morreu à fome muitos enchem a barriga à custa de Camões» - Almada Negreiros disse.

Na Travessa da Pena, vimos onde viveu Ramiro Leão (1857-1934), com a sua casa e a sua fábrica, que dá acesso à Vila Serra Fernandes onde surge um magnífico miradouro semi-particular.

Na Calçada de Santana, no nº 177, surgiu a interessante Livraria «Pessoa & Cia», misto de alfarrabista e novidades, e no nº 139 vimos onde terá vivido Camões. No pátio nº 2 da Rua Martim Vaz nº 84, fomos ver onde nasceu Amália Rodrigues em 1920. Seguiu-se o Convento da Encarnação e o respetivo Recolhimento da Encarnação, entregue à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Continuando a descer, chegámos finalmente ao Pátio do Salema, com uma bela vista para as chaminés do Palácio da Independência, e daí ao largo de São Domingos.

A maioria dos participantes nesta 4ª Rota da Aldraba aceitaram depois conviver num animado almoço, no mesmo restaurante junto ao Coliseu dos Recreios (Bonjardim) onde há 8 anos a nossa Associação assinalava os seus momentos fundadores.

Texto JAF (adaptado do guião de José do Carmo Francisco)
Fotografias de Mário de Sousa (reportagem completa no facebook da Aldraba, no álbum "4ª Rota da Aldraba - Do Campo de Santana ao Rossio")

terça-feira, 17 de setembro de 2013

"O sacrifício das raízes", segundo Adriano Moreira













O professor universitário, pensador e antigo dirigente político Adriano Moreira, com uma matriz doutrinária de direita e, portanto, insuspeito de ser mais uma das “forças de bloqueio” que tanto afligem o atual governo português, acaba de publicar – em artigo de opinião no “Diário de Notícias” de hoje, 17.9.2013 – uma lúcida análise dos riscos que a “ideologia orçamental” e a “superintendência de funcionários internacionais no exercício de um protetorado” podem trazer à identidade de um país e de um povo.

Partilhando inteiramente estas preocupações, não resisto a reproduzir-vos as partes mais significativas do alerta do velho professor:


Nesta perturbada entrada no século XXI, com uma transição articulada designadamente pelos conflitos militares de inquietantes custos humanos e materiais, envolvendo o presente e o futuro das pessoas e das comunidades, a atenção às raízes das comunidades em crise precisa de ser preservada de debilidades favoráveis a perdas irrecuperáveis, designadamente, se possível, dos erros de avaliação, mas sempre contra o método de impedir que os povos vejam a realidade, porque o Estado espetáculo a cobre de nevoeiro suficientemente opaco.

Os analistas que não subscrevem os testemunhos dogmáticos da Escola de Chicago e da cruzada de Milton Friedman, morto dias antes da derrota dos republicanos nas eleições a meio do mandato para o Senado em 2006, põem em evidência, como suportes do seu desamor pela doutrina do famoso economista, o facto de ter sido seguida, alegadamente, por regimes como o de Pinochet, que não deixou boa memória.

Esta linha crítica, que também deve ser prudente com o cuidado que é sempre exigível aos contraditores académicos, não obstante a sua reconhecida idoneidade, neste caso também a ponderação terá que não diminuir a presença ativa dos princípios defensores do Estado mínimo, uma orientação que já levou à legitimação em alguns lugares, da privatização da segurança e dos que foram chamados os "cães de guerra".

Independentemente de os regimes serem democráticos, e por isso não exibirem o perigo e o método da violenta submissão das sociedades civis, o perigo do Estado mínimo parece ter reflexos na onda de privatizações à luz da crise financeira, europeia, ocidental, mundial e, por isso, portuguesa, que alarmam visões arreigadas da identidade das sociedades submetidas a essa terapia de choque.

Não parece indicado ignorar que patrimónios, instituições e funções, - que uma longa tradição considera não apenas vitórias, de uma longa evolução mas indispensáveis à confiança no Estado e à própria identidade dos países - não podem ver anulada a sua natureza pública por imperativo de uma ideologia orçamental, pela superintendência de funcionários internacionais no exercício de um protetorado.

Grande parte das alienações que se vulgarizam tocam nas raízes das comunidades e, portanto, na sua identidade. Nas crises brutais por que Portugal passou nestes já longos séculos, foi a segurança da identidade da sociedade civil que permitiu reconstruir um novo futuro. Não é possível consentir que se afetem as raízes para obedecer ao credo do mercado.

(Texto condensado de artigo do DN, 17.9.2013)

JAF

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

4ª Rota da Aldraba - Do Campo de Santana ao Rossio



















Vamos realizar a 4ª Rota da Aldraba “Do Campo de Santana ao Rossio”, dando continuidade aos percursos pela cidade de Lisboa, em busca de referências que sobressaem seja pelo seu significado histórico, seja pelo exemplo que são da preservação (ou não) do património da cidade.

Fica feito o convite a todos os associados e amigos para aparecerem no próximo dia 21 de Setembro (sábado), às 10.00 horas no Largo do Mitelo, ao Campo de Santana.

Após chegada ao Rossio, para todos os que desejarem, poderemos almoçar em conjunto em local próximo e a combinar na altura.

Em apoio ao percurso, contamos com o acompanhamento e a intervenção do nosso associado José do Carmo Francisco, jornalista e homem de cultura.

Para aguçar o apetite aos participantes nesta Rota da Aldraba, recomenda-se a leitura do texto relativo ao seu percurso, elaborado pelo José do Carmo Francisco e já publicado no seu blogue “Transporte Sentimental” em:

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A ALDRABA vai estar no Festival dos Chocalhos de 13 a 15.setº.2013

Nos próximos dias 13, 14 e 15 de setembro, na freguesia de Alpedrinha, vai realizar-se a 11ª edição do Chocalhos – Festival dos Caminhos da Transumância, evento organizado pelo Município do Fundão e pela Junta de Freguesia de Alpedrinha.

Como nos anos anteriores, teremos muita animação de rua, com vários grupos locais e nacionais a percorrerem as diversas ruas da vila, teremos atividades no Terreiro de Santo António promovendo o património material e imaterial pastoril da Beira Interior, com conversas, oficinas, apontamentos musicais e mostras de artesanato e produtos da terra, e teremos concertos musicais alternados no Chafariz de D. João V e em cinco pequenos palcos.

E, ainda, as muitas dezenas de tasquinhas ao longo da Rua Cardeal D. Jorge da Costa, com artesanato, enchidos, queijos e gastronomia, e a travessia pedestre da serra da Gardunha (do Fundão, por Alcongosta, até Alpedrinha), acompanhados por um rebanho com pastores e cães.

No jardim da Casa da Música António Osório de Sá, e acolhida pela Liga dos Amigos de Alpedrinha, estará patente durante a tarde de domingo 15 de setembro uma banca da associação Aldraba, com os últimos números da nossa revista e outras publicações.

Nesse mesmo local, pelas 17.30 horas de domingo, terá lugar o lançamento do livro de poesia “Transumância das pequenas coisas”, de Luís Maçarico.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O acervo documental da Aldraba (10): Associativismo



A ALDRABA tem vindo a sublinhar a atualidade e a necessidade de um associativismo que mereça o qualificativo de “popular”, enquanto corresponda à organização livre de cidadãos que se agrupam para potenciar as suas energias e os seus saberes, resistindo à atomização e à massificação. Por outras palavras, enquanto continue a ser uma ferramenta de indivíduos solidários que querem intervir e que recusam ser esmagados por quem dita o que convém e aquilo que é certo…

O descritor ASSOCIATIVISMO, que integra o grupo temático “Referências culturais” da nossa pauta de classificação do acervo documental, agrupa naturalmente um elevado número de trabalhos sobre o associativismo em Portugal, sobre o percurso de associações com quem temos relações de cooperação e camaradagem, e finalmente sobre o desempenho da própria associação Aldraba.

Reproduzimos hoje as indicações dos muitos artigos publicados, até ao presente, na revista “ALDRABA”, acerca deste tema:


ASSOCIATIVISMO

Adriano Pacheco, “No caminho dos petrónios”, in “ALDRABA”, nº 9 (Out.2010), p.8
Fernando Duarte, “Assim nasceu a Aldraba”, in “ALDRABA”, nº 1 (Abr.2006), p.2
João Pinto Soares, “Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades”, in “ALDRABA”, nº 5 (Jul.2008), p.6
Joaquim Pais de Brito, “Contra a corrente”, in “ALDRABA”, nº 5 (Jul.2008), p.3
José Alberto Franco, “Associativismo popular em Portugal”, in “ALDRABA”, nº 2 (Nov.2006), p.4
José Alberto Franco, “Continuar o sonho da Aldraba”, in “ALDRABA”, nº 3 (Jun.2007), p.2
José Alberto Franco, “Progressos na actividade do G.A.T. Necessidades”, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), p.17
José Alberto Franco, Editorial, in “ALDRABA”, nº 4 (Dez.2007), p.1
José Alberto Franco, Editorial, in “ALDRABA”, nº 9 (Out.2010), p.1
José Alberto Franco, “Associações populares, grupos e outras coletividades com que a Associação Aldraba interagiu desde 2005”, in “ALDRABA”, nº 11 (Abr. 2012), p.21
José Manuel Prista, Editorial, in “ALDRABA”, nº 3 (Jun.2007), p.1
Luís Franco, “A Aldraba na blogosfera”, in “ALDRABA”, nº 3 (Jun.2007), p.17
Margarida Alves, Editorial, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), p.1
Margarida Alves e José Manuel Prista, “Exposições de 2005”, in “ALDRABA”, nº 1 (Abr.2006), p.8
Maria Eugénia Gomes, Editorial, in “ALDRABA”, nº 13 (Abr.2013), p.1
Maria Eugénia Gomes, “Os primeiros quatro Encontros da Aldraba”, in “ALDRABA”, nº 1 (Abr.2006), p.10
Maria Eugénia Gomes, “Os Encontros e outras actividades da Aldraba”, in “ALDRABA”, nº 2 (Nov.2006), p.20
Maria Eugénia Gomes, “A Aldraba em actividade”, in “ALDRABA”, nº 3 (Jun.2007), p.23
Maria Eugénia Gomes, “Julho a Dezembro de 2007”, in “ALDRABA”, nº 4 (Dez.2007), p.21
Maria Eugénia Gomes, “Janeiro a Junho de 2008”, in “ALDRABA”, nº 5 (Jul.2008), p.25
Maria Eugénia Gomes, “Julho a Dezembro de 2008”, in “ALDRABA”, nº 6 (Dez.2008), p.23
Maria Eugénia Gomes, “Janeiro a Julho de 2009”, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), p.23
Maria Eugénia Gomes, “Agosto a Dezembro de 2009”, in “ALDRABA”, nº 8 (Dez.2009), p.22
Maria Eugénia Gomes, “Janeiro a Outubro de 2010”, in “ALDRABA”, nº 9 (Out.2010), p.18
Maria Eugénia Gomes, “Novembro de 2010 a Julho de 2011”, in “ALDRABA”, nº 10 (Jul.2011), p.24
Maria Eugénia Gomes, “Agosto de 2011 a Março de 2012”, in “ALDRABA”, nº 11 (Abr.2012), p.25
Maria Eugénia Gomes, “Abril a Setembro de 2012”, in “ALDRABA”, nº 12 (Out.2012), p.24
Maria Eugénia Gomes, “Outubro de 2012 a Abril de 2013”, in “ALDRABA”, nº 13 (Abr.2013), p.26
Miguel Bento, “Margem esquerda do concelho de Mértola, uma longa tradição associativa”, in “ALDRABA”, nº 12 (Out.2012), p.20
Núcleo editorial, “10 números do boletim, 6 anos de vida da Associação”, in “ALDRABA”, nº 10 (Jul.2011), p.2
Núcleo editorial, “As 90 primaveras do Jorge Rua”, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), p.22
Pedro Alves e José Alberto Franco, “Um associativismo à escala humana”, in “ALDRABA”, nº 1 (Abr.2006), p.4
Sónia Frade, “1º aniversário da Aldraba, o sonho que se transforma em realidade”, in “ALDRABA”, nº 2 (Nov.2006), p.2

Os leitores e amigos que pretendam aceder a alguns destes textos, podem manifestar-se em comentário ao presente post, ou por e-mail para aldraba@gmail.com, e garantimos-lhes que receberão uma cópia digitalizada dos textos que assinalarem.

JAF
(gravura reproduzida de jf-agualva.pt)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Vivam os 621 anos da Feira de São Mateus em Viseu!


Está a decorrer, nos presentes meses de agosto e setembro, a tradicional Feira de São Mateus em Viseu.

Segundo a Wikipédia, o rei D. João I, acompanhado pela Rainha e pela sua Corte, terá saído de Évora em 16 de junho de 1391, permanecendo em Viseu por cerca de ano e meio. Viseu foi uma das cidades mais fustigadas durante a guerra entre Portugal e Castela e, durante a estadia da Corte em Viseu, ocorreram dois factos importantes: o nascimento de D. Duarte, futuro sucessor do trono, e a reunião de Cortes de âmbito regional. Em homenagem a esses acontecimentos, a 10 de janeiro de 1392, D. João I terá instituído a Feira Franca de Viseu, atual Feira de São Mateus.

A importância da feira, já nessa altura, era de tal vulto que se deslocavam para a visitar pessoas de remotas partes, e mouros vindos do reino de Granada.

No século XIX, a feira passou por um período de declínio, vindo no entanto a ressurgir na década de 20 do século XX, e permanecendo ininterrupta até aos dias de hoje.

Presentemente, a Feira de São Mateus é ponto obrigatório nas festividades em Portugal, ocupando uma área de 18000 m², com a presença de centenas de expositores e feirantes representando todos os setores de atividade, e tendo já adquirido o estatuto da mais antiga de toda a Península Ibérica.

Com a sua provecta idade de 621 anos, a Feira de São Mateus e a dinâmica popular regional que lhe está associada fazem-nos lembrar a fragilidade e a precariedade de experiências culturais como a dos Estados Unidos da América, cuja existência como nação independente é pouco superior a um terço do tempo de vida da nossa feira mais antiga…

JAF

domingo, 18 de agosto de 2013

O acervo documental da Aldraba (9): Grande Lisboa



Continuando com a divulgação faseada dos materiais que temos no nosso acervo, vamos hoje para o descritor GRANDE LISBOA, do grupo temático “Regiões portuguesas e lusófonas”.

Reproduzimos de seguida as indicações dos artigos publicados até ao presente na revista “ALDRABA”, relativos aos 9 concelhos que integram esta região:

GRANDE LISBOA

João Pinto Soares, “Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades”, in “ALDRABA”, nº 5 (Jul.2008), p.6
José Alberto Franco, “Progressos na actividade do G.A.T. Necessidades”, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), p.17
José do Carmo Francisco, “A mais pequena livraria do mundo”, in “ALDRABA”, nº 8 (Dez.2009), p.12
José do Carmo Francisco, “Carlos Ramos, guitarrista e intérprete do fado”, in “ALDRABA”, nº 9 (Out.2010), p.7
José do Carmo Francisco, “Dissertação para Marta sobre uma foto de 1966”, in “ALDRABA”, nº 9 (Out.2010), p.15
José Narciso, “O jardim da Estrela”, in “ALDRABA”, nº 6 (Dez.2008), p.6
Luís Filipe Maçarico, “Barbeiros”, in “ALDRABA”, nº 5 (Jul.2008), p.14
Luís Jordão, “Deambulações”, in “ALDRABA”, nº 4 (Dez.2007), p.17
Luís Reis Ágoas, “A caneja de infundice na Ericeira”, in “ALDRABA”, nº 12 (Out.2012), p.15
Manuel Graça da Silva, “Memórias do bairro da Musgueira”, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), p.8
Manuel Mamede Pereira, “Ser alfacinha”, in “ALDRABA”, nº 13 (Abr.2013), p.15
Margarida Alves, “Queijadas de Sintra”, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), p.15
Nuno Roque Silveira, “A Feira da Ladra”, in “ALDRABA”, nº 7 (Jul.2009), p.5
Nuno Roque Silveira, “Grandes artistas do efémero”, in “ALDRABA”, nº 8 (Dez.2009), p.17
Paula Carvalho, “Chafarizes de Lisboa”, in “ALDRABA”, nº 5 (Jul.2008), p.10
Vanda Oliveira, “Os fofos de Belas”, in “ALDRABA”, nº 6 (Dez.2008), p.9

Quem pretenda aceder a alguns destes textos, pode manifestar-se em comentário ao presente post, ou por e-mail para aldraba@gmail.com, e receberá uma cópia digitalizada do ou dos artigos que assinalar.

JAF