quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Alentejo


 







O associado da ALDRABA Carlos Teófilo Rodrigues publicou recentemente um pequeno e sugestivo livro de poesia. O livro é intitulado "Maçã Camoesa", e é dedicado à mãe do Carlos que, quando a família viveu em Angola, foi ali designada carinhosamente por outros portugueses com esse nome silvestre.

Reproduz-se de seguida um poema do "Maçã Camoesa":


Alentejo


o azul do mar na lista horizontal pintada nos muros do casario

o branco da cal na paisagem deserta


o mar na aldeia

mar deserto

de ondas batendo no silêncio

numa rebentação de insetos zumbindo


o chilreio dos pássaros

o estridular de grilos e cigarras na noite quente


ao longe o sino na torre da igreja

marcador de horas lembrando a solidão

suicídios passados, enforcamentos e afogamentos

de velhos e de novos


em noites de céu limpo

num universo estrelado

guiando as memórias dos homens

habitam rostos marcados pelo sofrimento

do trabalho sob sol implacável


rugas de barro seco, fragmentado

como solo desertificado


o azul não se encontra nos seus olhos

onde residem juntas a azeitona e a cortiça


o azul do mar na lista horizontal pintada nos muros do casario

o branco da cal na paisagem deserta


Carlos Teófilo (2022), "Maçã Camoesa"



quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Festas populares no país ao longo do mês de agosto



Socorrendo-nos, com a devida vénia, do levantamento de Pedro Manuel Magalhães publicado no diário Público no passado dia 8 de agosto de 2022, junta-se o inventário de algumas das principais festas populares que animam o território português durante o corrente mês de agosto:

- Em Bragança, a Festa da História, de 12 a 15 de agosto, evocando a retoma da cidade aos espanhóis em 1371, com música, teatro, esgrima medieval e cortejos;

- Também em Bragança, de 18 a 22, as Festas de Bragança, culminando com a procissão em honra de Nª Srª das Graças;

- Em Viana do Castelo, de 17 a 21, a Romaria da Srª da Agonia, com o desfile da mordomia, a revista de gigantones e cabeçudos, um cortejo histórico-etnográfico e uma feira de artesanato;

- Em Lamego, de 25 de agosto até 9 de setembro, as Festas de Nª Srª dos Remédios, com concertos, arruadas, eventos desportivos e a Procissão do Triunfo;

- Em Viseu, de 4 de agosto até 21 de setembro, a Feira de S. Mateus, com concertos, desfiles, uma feira de artesanato e mostra de produtos regionais;

- Em Alcochete, de 12 a 16, as Festas do Barrete Verde e das Salinas, com largadas e corridas de touros, bailes e concertos;

- No Funchal, de 14 a 15, as Festas da Nª Srª do Monte, com corredores de flores, animação de rua, especialidades gastronómicas e procissão no último dia.

JAF



domingo, 7 de agosto de 2022

O acervo documental da Aldraba (24): Os ex-votos


 

A expressão “ex-voto advém do latim “por força de uma promessa, de um voto” e constitui a abreviação de “ex-voto suscepto”, isto é, o voto realizado. 

O “ex-voto”é o presente dado pelo fiel ao seu santo de devoção em consagração, renovação ou agradecimento de uma promessa. As expressões votivas são tradicionalmente reconhecidas sob as formas de pinturas ou desenhos, figuras esculpidas em madeira, modeladas em argila ou moldadas em cera, muitas vezes representando partes do corpo que estavam adoecidas e foram curadas.

Comummente são representados como placas com inscrições, manuscritos em papel ou como objetos de uso quotidiano, ressignificados no contexto religioso. Podem, ainda, substituir a representação física por atos, interdições, obrigações, sacrifícios pessoais, falas, gestos ou ritos, vindo sempre a apresentar formas e valores litúrgicos dos mais variados. São colocados em igrejas, capelas, estátuas, cemitérios e cruzeiros, para pagar promessas, agradecer uma graça alcançada, consagrar ou renovar um pacto de fé. O advento da oferta votiva abre ou fecha um ciclo transacional que se imagina tão antigo quanto a própria existência humana. Trata-se de uma expressão moderna da relação entre o frágil mundo dos homens e o inexorável mundo dos deuses. É uma relação cujo modelo estrutural se mantém semelhante em diferentes matrizes religiosas, desde a Antiguidade.

O ex-voto tem de ser produzido ou executado. O ex-voto expressa, artística e ritualmente, uma prática observada em todas as épocas e culturas. Podemos estar a falar das produções agrárias, onde se entregam as primícias, os animais e as colheitas, ou da execução de um objeto propositado em materiais diversos, cera, madeira, açúcar, tecidos, etc.

A promessa é uma relação entre o crente e Deus. Expressões como “fiz uma promessa”, “vou pagar uma promessa” ou “já paguei a minha promessa” são comuns. Para os investigadores, é designada de voto. Os ex-votos, segundo João Soalheiro, na tradição portuguesa do catolicismo, podem agrupar-se em três tipologias: simbólicos, narrativos e de paramento. No primeiro grupo, incluem-se objetos anatómicos e zoomórficos; no segundo, os objetos que narram uma situação concreta, seja pela imagem ou pelo texto; e no terceiro núcleo engloba-se um conjunto vasto de objetos e utensílios que se destinam ao uso cultual.

A revista ALDRABA publicou, em dois nºs distintos, os seguintes artigos sobre esta temática:

Hélio Nuno Soares, “As capas do Senhor Santo Cristo de Ponta Delgada como ex-votos”, n.º 31 (Abr.2022), p.17

J. Fernando Reis de Oliveira, “Rocha Peixoto: o etnógrafo estudioso dos ‘ex-votos’”, n.º 24 (Out.2018), p.15


A todos os interessados em aceder a alguns destes artigos e que se manifestem nesse sentido através do endereço aldraba@gmail.com, garantimos o envio eletrónico de cópia dos textos em causa. É igualmente possível, para quem o solicitar pela mesma via, combinar-se o envio postal do ou dos números da revista em que foram publicados os referidos artigos.

JAF