A expressão “ex-voto” advém do latim “por força de uma promessa, de um voto” e constitui a abreviação de “ex-voto suscepto”, isto é, o voto realizado.
O “ex-voto”é o presente dado pelo fiel ao seu santo de devoção em consagração, renovação ou agradecimento de uma promessa. As expressões votivas são tradicionalmente reconhecidas sob as formas de pinturas ou desenhos, figuras esculpidas em madeira, modeladas em argila ou moldadas em cera, muitas vezes representando partes do corpo que estavam adoecidas e foram curadas.
Comummente são representados como placas com inscrições,
manuscritos em papel ou como objetos de uso quotidiano, ressignificados no
contexto religioso. Podem, ainda, substituir a representação física por atos,
interdições, obrigações, sacrifícios pessoais, falas, gestos ou ritos, vindo
sempre a apresentar formas e valores litúrgicos dos mais variados. São colocados
em igrejas, capelas, estátuas, cemitérios e cruzeiros, para pagar promessas,
agradecer uma graça alcançada, consagrar ou renovar um pacto de fé. O advento
da oferta votiva abre ou fecha um ciclo transacional que se imagina tão antigo
quanto a própria existência humana. Trata-se de uma expressão moderna da
relação entre o frágil mundo dos homens e o inexorável mundo dos deuses. É uma
relação cujo modelo estrutural se mantém semelhante em diferentes matrizes
religiosas, desde a Antiguidade.
O ex-voto tem de ser produzido ou
executado. O ex-voto
expressa, artística e ritualmente, uma prática observada em todas as épocas e
culturas. Podemos estar a falar das produções agrárias, onde se entregam
as primícias, os animais e as colheitas, ou da execução de um objeto
propositado em materiais diversos, cera, madeira, açúcar, tecidos, etc.
A promessa é uma
relação entre o crente e Deus. Expressões como “fiz uma promessa”, “vou pagar
uma promessa” ou “já paguei a minha promessa” são comuns. Para os
investigadores, é designada de voto. Os ex-votos, segundo João Soalheiro, na
tradição portuguesa do catolicismo, podem agrupar-se em três tipologias:
simbólicos, narrativos e de paramento. No primeiro grupo, incluem-se objetos
anatómicos e zoomórficos; no segundo, os objetos que narram uma situação
concreta, seja pela imagem ou pelo texto; e no terceiro núcleo engloba-se um
conjunto vasto de objetos e utensílios que se destinam ao uso cultual.
A
revista ALDRABA publicou, em dois nºs distintos, os seguintes artigos sobre
esta temática:
Hélio
Nuno Soares, “As capas do Senhor Santo Cristo de
Ponta Delgada como ex-votos”,
n.º 31 (Abr.2022), p.17
J.
Fernando Reis de Oliveira, “Rocha
Peixoto: o etnógrafo estudioso dos ‘ex-votos’”, n.º 24 (Out.2018), p.15
A todos os interessados em aceder a alguns destes artigos e
que se manifestem nesse sentido através do endereço aldraba@gmail.com,
garantimos o envio eletrónico de cópia dos textos em causa. É igualmente
possível, para quem o solicitar pela mesma via, combinar-se o envio postal do
ou dos números da revista em que foram publicados os referidos artigos.
JAF
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