terça-feira, 26 de setembro de 2006

Jorge: A festa, o documentário e o livro


Sábado passado a festa de homenagem a Jorge Rua de Carvalho foi um grande momento nas nossas vidas.
Como informar é preciso, cumpre dizer que durante o encontro o autarca de Santa Isabel anunciou estar previsto chamar a uma sala da Junta de Freguesia Sala Jorge Rua de Carvalho, que foi a grande notícia da festa.
A Aldraba esteve presente, bem como o grupo de pregões de Lisboa. Fernando Duarte apresentou um excerto do documentário que está a realizar com Fernando Amaral. A sequência de imagens cativou de tal modo o público presente que foi brindada com uma sonora e prolongada salva de palmas. E o livro "Retalhos da Vida Saloia" foi recebido com agrado.
Parabéns à colectividade GDE "Os Combatentes" e às Juntas de Freguesia dos Prazeres e de Santa Isabel pela organização e patrocínio do evento.

Texto da apresentação do homenageado (por LFM)

JORGE RUA DE CARVALHO: O HOMEM PÁSSARO QUE VIVERÁ PARA LÁ DA VIDA
É para mim um extraordinário privilégio apresentar Jorge Rua de Carvalho, este ser multifacetado cujo percurso comecei a seguir de perto há doze anos.
“Retalhos da Vida Saloia” é o quarto livro deste autor com quem convivi na I Festa das Colectividades, na Arruda dos Vinhos e Alpedrinha, quando nessas terras representou os Pregões de Lisboa, e nesta última tive o prazer de estar ao seu lado dizendo poemas, nomeadamente na Capela do Leão, onde o Jorge foi inexcedível e arrebatou a plateia que o aplaudiu de pé.
Acompanhei Jorge Rua de Carvalho nas suas exposições por escolas, associações e bibliotecas.
Escutei com atenção o testemunho da sua experiência, tive a honra de representar ao seu lado e escrevinhei uns textos para sketchs que ele apurou.
Um homem assim é da nossa família.
Por isso, queremos que viva muito, porque com ele aprendemos sempre!
Jorge Rua de Carvalho é um herói.
Fez do quotidiano um espaço mágico de convivência, vencendo a doença e a solidão, que costumam ensombrar a existência dos mais velhos.
Jorge rejuvenesceu nas páginas onde revisita a infância.
Respirou o oxigénio das palavras, para enfrentar os sobressaltos da vida.
E não pára de sonhar!
Solidário, pertence ainda ao Conselho Fiscal dos “Combatentes”, há um ano e meio fundou a “Aldraba” e aceitou o desafio de escrever um novo livro para partilhar as suas memórias do Associativismo.
Tenho-o seguido nos últimos tempos pelas ruas de Lisboa, nos miradouros e eléctricos, percebendo o quanto a cidade significa num imaginário que repovoou de saloios e pregões.
Para lá das sílabas, escreveu poesia na madeira, produzindo uma exposição magnífica sobre pregões que sucedeu a uma primeira, idealizada para imortalizar as recordações das brincadeiras da infância.
No fim de semana de 7 e 8 de Outubro, Jorge Rua de Carvalho irá ao Festival do Chícharo, em Alvaiázere, para apresentar as duas centenas de bonecos que criou com carinho de pai.
Como Geppetto idealizou dar forma à madeira, esculpindo figuras às quais se afeiçoou de tal maneira que me parece fazer todo o sentido criar um Museu com estes trabalhos que contam a história da cidade dos humildes e laboriosos, da criatividade dos simples.
Todavia, ao contrário de Pinóquio, os bonecos de Jorge Rua de Carvalho falam a linguagem da verdade. São património e identidade. Espelhos da memória que iluminam o silêncio.
O livro, após as notas biográficas e o prefácio percorre umas saloiadas soltas onde se caracteriza a figura do saloio – gente sã, alimentadores de Lisboa, que levam o grão ao moinho, amanham a horta, trabalhadores do campo de sol a sol, vendendo depois o produto do seu trabalho para sustento da família mas que ainda têm tempo para se divertir nas feiras e romarias.
As primeiras férias introduzem o tema: Jorge tem dez anos, acabou de fazer o exame da quarta classe e o pai polícia, “orgulhoso de mim, ou talvez arrependido das sovas que me dera, resolveu recompensar-me” (pág. 21)
É assim que o miúdo é metido num comboio a caminho de Sobral da Lourinhã.
A partir daí, as descrições são uma delícia e o livro desenrola-se como um filme em que reconhecemos personagens que pertencem ao nosso imaginário, que o cinema português retratou, e tudo à nossa volta exaltava: o mundo rural povoado de gente laboriosa e humilde, com a sua cultura, a sua sabedoria, que constituía então a maioria da população.
Não admira que no epílogo Jorge escreva “sem dar pelo tempo passar, continuo à janela, com a cabeça entre as mãos, meditando, esperando, sem eu próprio saber por quem ou porquê” (p.72)
É natural num tempo tão diferente ter saudades e recordações dos dias felizes “cantinho delicioso do paraíso” (p.72)
Na página 24 do livro, Jorge descreve assim a sua chegada:“Olhei em volta, deslumbrado com a beleza dos fascinantes e variados tons verdes do arvoredo, das vinhas e das hortas, contrastando com as bandeirinhas dourados dos campos de milho que cercavam a brancura das casas do povoado.”
Senhor de uma escrita sem artifícios muito visual, colorida, próxima da oralidade, Jorge Rua conseguiu escrever um grande livro juntando os fragmentos da memória e do esquecimento, onde procura o rigor dos factos e cenários, embora nesse esforço de reconstituição dos acontecimentos, o factor efabulação acabe por condimentar os diversos takes do enredo, moldando as falésias da memória com a sedimentação das vagas e ventos do olvido para citar Marc Augé.
O livro prossegue com a apresentação da casa dos tios, seguimos os protagonistas nas idas à horta, ao moinho, à feira, saboreando uma narrativa riquíssima de sequências fílmicas recheadas de vocábulos e ritmos envolventes.
A matança do porco, a desfolhada, os saloios na cidade e a descrição de uma teimosia do “Pataco” (burro é sempre casmurro) são outros capítulos que se lêem com bastante agrado.
Maria José Lascas Fernandes, mulher de uma escrita poética marcante foi a ilustradora, que soube transmitir com mestria e puerilidade as ambiências do livro.
Todos nós tivemos uma aventura assim numa qualquer terra onde havia um tio, uma prima, uma avó, frutos, arvoredo, festas, silêncios, lendas e a magia da infância.
Se não tivemos, ouvimos falar ou lemos.
Este livro evoca a nostalgia do lugar a que pertencemos. E este homem é o resultado do que podemos ser quando sonhamos. Cada livro seu é um capítulo do romance da sua existência fantástica.
Jorge Pássaro, Jorge Sempre Menino, Jorge Amigo, Jorge Irmão, Jorge Eterno.
Prometo-te que viverás para lá da vida, no nosso coração, na nossa memória, nos nossos textos, no amor fraterno que dedicamos aos nossos Maiores.
Obrigado por tudo o que continuas a dar-nos, com tanta qualidade e carinho.
Bem Hajas pelo exemplo da tua Vida!

Lisboa, 23-9-2006
LUÍS FILIPE MAÇARICO

Foto de LFM: Jorge Rua de Carvalho durante a homenagem nos "Combatentes".

De “ÁGUAS DO SUL”
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segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Festa dos Chocalhos 2006 – Festival dos Caminhos da Transumância



A Aldraba esteve presente na Festa dos Chocalhos – Festival dos Caminhos da Transumância, que decorreu entre 15 e 17 de Setembro em Alpedrinha, concelho do Fundão.
Numa terra onde a cultura nasce em cada pessoa e se espraia pelas paredes e empedrados das ruas estreitas, envolvida pela serra da Gardunha, verde puro que sobe pela estrada romana – mácula maior o túnel que a corta – Alpedrinha autodenomina-se a Sintra da Beira. Descobrir os seus encantos é um privilégio e uma fruição ímpar.
Foram muitos os associados e amigos que partilharam da festa e do convívio, numa multi-culturalidade difícil de encontrar nas festas populares do País. A Festa, que agregou milhares de visitantes no espaço da rua e das casas que os habitantes abrem para receber os forasteiros, oferece música, artesanatos locais, petiscos, bebidas e outras vitualhas.
Como principais atracções, destacaram-se a animação de rua com Gigantones, Bombos e Gaiteiros, os Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho, mas também os Concertos, os momentos culturais na Capela do Leão. O passeio com o rebanho, entre o Fundão e Alpedrinha, atravessando a serra da Gardunha pelo caminho romano, reuniu mais de 300 pessoas e consagrou o mote da transumância, actividade em extinção que importa preservar. No âmbito da festa foi também concretizado o lançamento público do livro de poesia do associado Luís Maçarico “Ar Serrano”, que canta a Gardunha e as pessoas no seu ambiente.
A Aldraba associou-se e participou com a sua exposição fotográfica “Aldrabas e Cataventos”, e que foi vista e comentada por centenas de visitantes, durante os três dias da Festa, deixando mais uma raiz, plantada bem fundo, em prol da defesa do património invisível.
O convívio e a partilha são o mote desta celebração. A adesão foi inequívoca.
De parabéns, pois, a organização, a população e os visitantes!
Por isso, é marcar na agenda e ver (ou rever) para o próximo ano.
De “ALDRABA DIGITAL”

domingo, 10 de setembro de 2006

“Retalhos da vida saloia”, de Jorge Rua de Carvalho



No sábado dia 23 de Setembro, a partir das 15 horas, será apresentado na sede do Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes” (Rua do Possolo, 7-9, em Lisboa) o novo livro do nosso associado Jorge Rua de Carvalho, "Retalhos da Vida Saloia".

A sessão incluirá a visita a uma exposição biográfica (a cargo do Centro de Documentação dos Prazeres) e a uma outra com bonecos dos pregões, ambas no museu da colectividade, a actuação do Grupo de Pregões de Lisboa (pregões relacionados com saloios), a leitura de poemas do livro "Lisboa Saudade" (sobre vendedores saloios), uma breve apresentação por parte dos elementos da nossa Associação que estão a realizar o documentário sobre a vida e obra do Jorge Rua de Carvalho, e finalmente a apresentação e o lançamento propriamente dito dos “Retalhos da Vida Saloia”.

No mesmo espaço, estará também patente uma mostra fotográfica de outro nosso associado, Mário de Sousa (“Os olhos são como as mãos”).

Animemos com a nossa presença mais este importante momento da vida de um grande homem da cultura popular alfacinha, e nosso querido companheiro do associativismo.

A Aldraba em Alpedrinha, 15 a 17 de Setembro


No próximo fim-de-semana, decorre na vila de Alpedrinha (concelho do Fundão) o Festival dos Chocalhos.
Conforme previsto no nosso Plano de Actividades para 2006, iremos participar através de uma nova mostra da exposição “Aldrabas e Cataventos”, que estará patente, durante os três dias da Feira, nas instalações da Liga dos Amigos de Alpedrinha.
Do programa geral (que decorre desde as 18h de 6ªfeira até à noite de domingo), destacamos as acções de animação de rua, com gaiteiros, chocalheiros, grupos de bombos e acordeonistas, a realização de concertos e exibição de grupos folclóricos, dois passeios pedestres com rebanho, as cantigas à desgarrada, e duas sessões culturais na capela do Leão.

Fica feito o desafio a todos os associados que possam deslocar-se à Beira Baixa, para que se juntem e usufruam deste rico evento popular.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Festa dos Chocalhos 2006 em Alpedrinha


Entre 15 e 17 de Setembro, decorrerá em Alpedrinha o Festival dos Caminhos da Transumância com animação de rua, gaiteiros, chocalheiros, concertos, tasquinhas e lojas e passeio pedestre com rebanho

Programa:

Sexta-Feira - 15 de Setembro
18h00 - Abertura do acampamento "Rota da Transumância" – Quinta do Anjo da Guarda
19h00 - Abertura Desfile Grupo de Bombos de Alpedrinha Rancho Folclórico de Cernache do Bonjardim Acordeonistas
21h30 - Actuação do Rancho Folclórico de Cernache do Bonjardim Concerto Clássico de Sopros - Capela do Leão; Cantares ao Desafio; Acordeonista Sertório
Sábado - 16 de Setembro
9h00 – "O solitário caminho dos pastores" (passeio pedestre Alpedrinha-Póvoa da Atalaia). Saída: Largo da Junta de Freguesia de Alpedrinha
11h00 - Arruada: Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho
16h00 - Espectáculo com Quarteto Mayade
17h00 - Conversas Transumantes "A Pastorícia e o Desenvolvimento" com Santiago Bayón Vera, moderada por Mª João Centeno, Capela do Leão - Quarteto Mayalde, na Capela do Leão
18h00 - Desfile Bombos e Folia da Casa do Povo do Paul, Gigabombos, Roncos do Diabo, Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho, Rancho Folclórico da Casa do Povo de Souto da Casa e Grupo de Bombos
21h30 - Rancho Folclórico da Casa do Povo de Souto da Casa, Largo da Igreja - Cantigas à desgarrada, Largo da Fontainha
22h00 - Quarteto Mayalde, Largo da Fontainha
22h30 - Rancho Folclórico da Casa do Povo do Souto da Casa, Largo da Fontainha Cantigas à desgarrada, Largo da Igreja
Domingo - 17 de Setembro
8h30 - Passeio Pedestre "Rota da Transumância" Fundão – Alpedrinha (saída Praça do Município)
10h30 - Chegada do Rebanho a Alpedrinha e Arruada pelos Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho
12h00 - Missa Dominical
16h00- Lançamento do livro "Ar Serrano" de Luis Filipe Maçarico, na capela do Leão
17h00 - Desfile Grupos de bombos de Alcongosta; Castelejo e Donas e os Zabumbas de Alpedrinha; Chocalheiros; Gaiteiros Acordeonistas (Associação Acordeonistas da Beira Baixa)
21h00 - Actuação do Rancho Folclórico da Cova da Beira da Junta de Freguesia do Fundão e grupo de bombos
21h30 - Cantigas à desgarrada - Concerto Clássico de encerramento pela Academia de Música e Dança do Fundão.

De “ÁGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 19:26 1 comentários

COMENTÁRIOS
Fernando Jorge Pires disse...
Amigo Luís:Espero encontrar-te cá, em Alpedrinha, nesta feira dos Chocalhos 2006. Sei que vais lançar cá o teu livro "Ar serrano" e estou a contar ter um assinado por ti. Um abraço.
12 Setembro, 2006 11:19