No”Diário do Alentejo” de 31.8.2018, foi publicada uma crónica muito interessante,
de que aqui reproduzimos a primeira metade:
AS ESTAFETAS (1)
Antigamente, quando as viagens se faziam com muito mais
dificuldade que hoje, havia em todas as terras um estafeta.
Refiro-me até aos anos 40 e 50 de século XX.
No Alvito, havia uma mulher, a
“Ameijoinha”, que se encarregava de fazer recados – ia a Beja, todos os dias
da semana, e a Lisboa, de vez em quando. Era filha de um antigo funcionário dos
Caminhos de Ferro, por isso não pagava nada nos comboios. E nem por deixar de
ser assim, porque o que ganhava limitava-se a uns tostões por dia.
Precisava-se de uma linha que
desse bem para coser um tecido – dava-se uma amostra à Ameijoinha e ela calcorreava Beja inteira em busca da linha que melhor lhe parecia. Ou um fecho de correr, ou um
botão, ou uns colchetes, ou um pano para acabar uma obra, ela procurava tudo.
Mas também se lhe podia pedir para ir ao Luís da
Rocha comprar uma dúzia de empadas ou uma caixa de trouxas de ovos, ou um
porquinho de chocolate.
Podia ter que correr as farmácias para aviar uma
receita, comprar uma câmara de ar para uma bicicleta, uma lâmpada, sei lá, uma
quantidade de coisas que não se vendiam na vila, onde as lojas, poucas, se
limitavam a ter azeite, farinha, arroz, misturados com pano cru, chita da
tabela, botas grosseiras ou galochas (…).
Maria Antónia Goes
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