Reproduz-se hoje a segunda metade da crónica publicada no”Diário do Alentejo” de 31.8.2018:
AS ESTAFETAS (2)
(...)
Já as idas a Lisboa eram mais para levar do que trazer - eram os frangos para a família, o pão para um filho cheio de saudades dele, as linguiças, os paios, os bocados de presunto, os queijinhos, tudo dentro de alcofas, por vezes, bem pesadas. Mas havia sempre alguém para ajudar - os estafetas conheciam-se todos uns aos outros e eram solidários.
Depois, metiam-se no comboio, de madrugada, e ainda tinham de fazer o transbordo no Barreiro - mudavam-se, com toda a carga, para o cacilheiro e lá atravessavam o Tejo, numa viagem longa e aborrecida, sempre com a capital à vista. É uma viagem linda, mas não para quem a tem que fazer por obrigação.
E na estação, dita de Sul e Sueste, desembarcavam para o Terreiro do Paço, e toca de apanhar um elétrico a caminho das voltas de obrigação.
No regresso, com os mandados dos fregueses, repetiam a viagem em sentido contrário. E, além das encomendas, traziam sempre as últimas novidades de Lisboa - dos boatos da política, dos teatros e dos cinemas, do que viram nas montras.
Ao chegar à estação de Alvito, a dois quilómetros da vila, ao fim da tarde, havia dois carros de canudo, os churriões do Quinito e do Afogadinho, e um deles, não me lembro qual, trazia a Ameijoinha para cima, cabeceando no banco, cansada mas tendo ainda que cumprir a tarefa de entregar as encomendas aos clientes.
E tudo por uns tostões...
Maria Antónia Goes
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