Pré-publicação de artigo que vai sair no nº 20 da revista ALDRABA, atualmente no prelo:
Na
década de 50 ainda não se fazia sentir em grande força a nova tecnologia
agrícola e os pequenos agricultores da minha região socorriam-se, ainda, dos
costumes tradicionais.
As
eiras comunitárias eram espaços utilizados por quase todas as populações, que
viviam de dois ou três hectares de sementeira do trigo, sendo este o cereal que
melhor correspondia aos anseios de casas de família, porque mais tarde era
trocado por farinha.
As
eiras erguiam-se em locais normalmente altos e ventosos, numa superfície com 8 a 12 metros de diâmetro,
normalmente em pedra xistosa ou em ladrilho, e em certos casos, em terrenos
baldios, noutros até privados, mas que naquele tempo, tanto umas como outras
serviam uma pequena comunidade.
Era
necessário combinar entre os seus utilizadores, o seu uso, e isso fazia-se
normalmente nas tabernas e colectividades. Por vezes se o tempo ajudasse até
poderia a parte da manhã ser para uma pessoa e a da tarde para outra, isso
tinha muito a ver com o tempo, principalmente o vento que era necessário soprar
quando se mandava o cereal ao ar, através de uma pá de madeira para que a
semente caísse e o vento levasse a palha miúda, porque a mais grossa essa, era
antes retirada com uma forquilha de 4 bicos.
Um
pormenor curioso era quando um pequeno seareiro tinha apenas uma “besta” ou
duas, ele pedia outra emprestada a um vizinho ou familiar para que quanto mais
depressa o cereal fosse pisado mais depressa o trabalho era feito. Lembro-me
perfeitamente de 2, 3 animais andarem à volta, duas e mais horas, para que o
grão fosse separado da palha.
No
tempo das eiras, as debulhas começavam logo no mês de Julho, quando se fazia
sentir o maior calor, e os moços novos dessa altura estavam desejosos de haver
palha nas eiras, para lá ir dormir a noite. Viam-se pequenos grupos de noite,
ao luar, com a manta as costas que iam dormir à eira.
Pouco
mais tarde e ainda no meu tempo de adolescente, começaram a aparecer as
debulhadoras fixas, onde ainda tive oportunidade de fazer dois anos numa dessas
máquinas.
Eram
cerca de 15 homens que acompanhavam esse equipamento e que se ia deslocando de
monte em monte, conforme os pedidos dos lavradores, e onde chegavam a estar de
entre 2 a
4 dias num local.
Hoje,
ao falar em eiras tradicionais, já ninguém conhece nem se lembra, mas que elas
foram um espaço importante, num tempo que proporcionou um convívio salutar e
uma entre ajuda entre vizinhos, disso não há dúvidas.
José Rodrigues Simão
Belíssimo testemunho e registo de uma época.
ResponderEliminarO Mundo "pula e avança" a passos largos, numa era tecnológica avassaladora.
Que fiquem registados todos os testemunhos como este é tarefa essencial para salvaguarda e passagem do testemunho às gerações vindouras. Estimulando também hábitos de leitura. Que bom que é ver a Aldraba em Bibliotecas como a de Beja, partilhando com todas as gerações saberes de outros tempos. Parabéns a todos os Amigos da Aldraba (e em especial ao José Rodrigues Simão por esta partilha e lição de comunitarismo e espírito de entreajuda). Abraços Fraternos para Todos