Pré-publicação do Editorial do nº 22 da revista ALDRABA, que sairá em breve:
O nosso país assistiu em 2017 à maior catástrofe dos últimos
anos no que respeita a incêndios, com a maior área ardida de sempre, com a
morte de mais pessoas, com a perda de casas, animais e bens e de um vasto e valioso
património natural e ambiental.
Uma negra realidade que se vem repetindo e agravando de ano
para ano. Agora, é urgente refletir e agir, nos planos político, social e
ambiental. As florestas são um bem comum imprescindível.
Perante tão candente problema, não poderia a nossa
Associação deixar de o abordar também aqui, na sua revista, opinando sobre
eventuais soluções e manifestar a sua solidariedade às populações afetadas e a
quantos intervieram nas operações de combate ao fogo, mormente aos nossos incansáveis
e abnegados bombeiros e, bem assim, aos muitos anónimos da solidariedade
prestada. A uns e a outros são devidos os necessários esclarecimentos sobre os
fundos obtidos, do seu destino e aplicação. A generosidade e solidariedade dos
portugueses não podem ser defraudadas.
Portugal tem cerca de um terço do seu território ocupado com
florestas, constituindo desde sempre um dos seus maiores recursos naturais e
que vem correndo sérios riscos.
Antes do 25 de abril, o interior ainda tinha uma razoável
presença humana e uma vida económica própria, com a pastorícia, a silvicultura,
a pequena agricultura e a produção animal. Havia a recolha das lenhas para
combustível e dos matos para o gado e a adubação das terras.
De tal sorte, o fogo tinha menos condições para a sua
propagação e era mais prontamente combatido pelas populações. Então, a
intervenção dos bombeiros passava praticamente despercebida, sem o ruído
mediático de hoje.
Hoje, estamos acorrentados a um espaço rural despovoado, de
fraca natalidade e elevada taxa de envelhecimento, muito por força das
migrações, quer para o litoral quer para o estrangeiro. E os terrenos, outrora
dedicados à agricultura, deram lugar a matos e a uma mancha florestal onde
predomina o pinheiro e o eucalipto, espécimes altamente combustíveis, enquanto
os castanheiros, as cerejeiras e os quercus
foram desaparecendo.
Portugal é o país europeu que apresenta, proporcionalmente,
a maior desertificação humana, mais incêndios, mais área ardida e maior mancha
de eucaliptos. É preciso mudar de paradigma de desenvolvimento do interior e de
defesa da sua floresta. Em nossa opinião, promovendo:
- Uma política de desenvolvimento regional sustentável,
cumprindo-se o objetivo constitucional da criação das Regiões Administrativas,
melhor meio para se vencer as assimetrias territoriais;
- Medidas de discriminação positiva que incentivem a fixação
de empresas e de pessoas;
- Uma reforma florestal, não desperdiçando as condições ora
nascentes. Reforma que contemple os meios, competências e responsabilidades das
autarquias na elaboração do cadastro florestal e da sua aplicação, envolvendo
as populações;
- A implementação de mais e melhores meios operacionais e
humanos, mais sapadores florestais e mais postos de vigilância; rever a nossa
política no uso dos meios aéreos. A tragédia dos incêndios não é compaginável
com a já chamada “indústria do fogo”;
- Programas informativos e formativos de valorização da
floresta e da ética comportamental, a par de medidas legislativas que agilizem
e agravem a penalização dos infratores do fogo.
É tempo de refletir e de agir, sem demora.
As florestas constituem um elemento fulcral do
desenvolvimento e do nosso ecossistema. São elas que matizam os territórios,
purificam o ar e nos dão vida.
O melhor
património que é o nosso povo - com o seu saber-fazer, memórias, tradições,
cuidando das suas casas, terras e animais - continuará em causa se a justiça
não for reforçada com medidas mais punitivas contra os incendiários. Para que
não haja mais “época de incêndios”.
Albano Furtado Ginja
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