segunda-feira, 25 de julho de 2022

O rio Tejo na Lisboa da primeira metade dos anos 1700's


Uma colorida descrição de como era a vida na capital em torno do rio Tejo:

O rio era a estrada do comércio; de informações, mais velozes e secretas que as do correio da posta; estrada de contrabando, de clandestinidade e de fuga. O rio era a riqueza, a festa, as fezes, lançadas nas praias de Alfama, da Ribeira, da Boavista e também a montante do Cais de Santarém ou mais tarde nas pontes de estacas do Cais do Tojo e de São Paulo.

Barcos ribeirinhos de transporte de pessoas e de mercadorias, barcos de pescadores, barcas, caravelões, muletas marcavam a superfície das águas. Chusmas de batelões atracavam aos veleiros das frotas mercantis e de guerra, às esquadras do Rio de Janeiro, da Baía e de Pernambuco; às naus da Rota do Cabo; às frotas de Inglaterra, França, Holanda e de outros países.

Da outra banda vinha a lenha, o carvão, os porcos, o gado, o pão do Alentejo, o vidro da fábrica de Coina, a telha e a loiça. À cova do Alfeite reservavam o destino de sorver as lamas e dejetos transportados de Lisboa em barcas. No Lazareto, â Trafaria, ficavam de quarentena as mercadorias dos barcos suspeitos de peste.

Na margem direita fervia a Ribeira. Em sentido lato, vinha do Cais do Carvão e incluía o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus; em sentido restrito, designava a frontaria do rio desde a porta da igreja da Misericórdia até ao Cais do Carvão. Nesse espaço se operava a descarga das mercadorias e fervia o mercado abastecedor da capital.

A oriente, a estrada da praia corria até Santos o Novo com diferentes cais, o da Alfândega do Tabaco, o de Alhandra, o de Santarém, o do Campo da Lã. Para ocidente, abria-se o Terreiro do Paço, a Ribeira das Naus, a Boavista (...)  

Na Ribeira ficavam o Terreiro do Trigo, as Alfândegas: a do Açúcar, a do Tabaco e a das Sete Casas. Nos espaços circundantes funcionava o grande mercado abastecedor. Vendia-se de tudo: peixe, caça, galináceos, hortaliças, milho, chicharros cozidos, vinho, aguardente, carne.

António Borges Coelho, 2017, Da Restauração ao ouro do Brasil, Lisboa, Caminho, pp.286-287 

1 comentário:

  1. É um artigo muito interessante. É sempre gratificante conhecer o passado. Gosto muito de imaginar a evolução dos tempos até chegarmos à minha época que já é também passado e ao presente. Obrigada

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