sábado, 12 de dezembro de 2020

O linho

 

Trabalho realizado pelos professores e alunos da Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico e Jardim de Infância de Outeiro Seco (Pinela, Bragança). Para o efeito, foi desenvolvido um estudo sobre as origens da cultura do linho, cujos objetivos fundamentais foram motivar a nova geração para a riqueza cultural do linho, em vias de extinção, e recordar a importância e interesse que o linho ocupou na vida e economia da gente rural.

Publicado no n.º 28 da revista ALDRABA.


Breve resenha da história do linho

O artesanato do linho constituiu uma das ocupações principais das gentes rurais.

Esta cultura tão fortemente divulgada foi profundamente assimilada pelos povos.

A sua importância é-nos evidenciada em vários campos e sectores da economia e da sociedade: desde a Igreja, que adoptou obrigatoriamente o linho na sua liturgia, passando pela economia doméstica na qual o linho constituiu matéria prima importante para o seu enriquecimento, até à utilização eficaz pela medicina da época.

De facto, o linho, é uma planta riquíssima que está bastante desamparada nos nossos dias.

Em quase todos os países do mundo se produziu ou ainda se produz embora em pequena escala.

O linho é uma planta herbácea, fibrosa que pertence à família das lináceas, atingindo entre 30cm a 1m e 10 cm de altura, unicaule de folhas inteiras, alternas, sésseis e sem estípulas. Apresenta flores lindíssimas hermafroditas, brancas e azuis, com cinco pétalas.

O cálica tem igualmente cinco pétalas. O ivário é plurilocular, com dois óvulos e cada lóculo separado por um septo.

A semente é a linhaça. A raiz é aprumada, podendo atingir 30 cm de profundidade.

O linho é composto por duas substâncias: uma lenhosa e interior, outra fibrosa e exterior. Esta serve para extrair a fibra têxtil para a fabricação dos tecidos.

É difícil saber em que data ou época histórica surgiu e quando o homem cultivou e utilizou pela primeira vez esta fibra para confecionar um tecido.

Sabe-se que 500 anos (A.C.), no Egipto, o linho foi o material mais usado na tecelagem, tendo-se encontrado, em jazigos do Neolítico, fragmentos de tecidos e fusos.

Contudo, o cultivo do linho e a sua utilização veio verificar-se desde os tempos pré-históricos.

Têm sido encontrados resquícios em vários lugares do mundo e particularmente na Península Ibérica que remontam a 2000 – 2500 anos (A.C.).

Na Península e mesmo concretamente no território que veio a ser Portugal, a cultura do linho foi incentivada e expandida com a Romanização. Nesta época, os lugares mais elevados eram essencialmente destinados à pastorícia e as partes mais baixas e fundas ocupadas com linhares.

Durante a Idade Média, fala-se muito em linho: é raro encontrar um foral, uma lei, uma escritura, uma venda ou uma doação em que se não faça referência ao linho.

O linho, nesta época, era um dos cultivos utilizados no pagamento à Coroa, à Igreja e à Nobreza, de rendas, foros, dízimos, multas, etc…

Em Portugal, no séc XV, a indústria do linho era, de acordo com os historiadores, a única que representava grande valor na economia nacional.

A indústria do linho, tanto na sua plantação como em todas as fases desde a preparação do terreno, até à comercialização dos tecidos existiu sempre como uma atividade caseira e artesanal, usando sempre técnicas muito primitivas, contrariamente a outras indústrias como a lã e o algodão.

O linho é uma planta muito exigente no que diz respeito à preparação dos terrenos e condições naturais é também uma fibra muito difícil de trabalhar por ser muito rija.

Foi utilizado mais para uso doméstico, em colchas, lençóis, sacos para o trigo, velas de moinhos, redes de pesca, etc… Hoje é possível encontrar nas nossas aldeias muitas pessoas que possuem peças de vestuário de linho no fundo das suas arcas.

A decadência do linho verifica-se sobretudo a partir do séc XV.

A que causas se deverá o declínio da cultura do linho?

Algumas razões que poderão explicar esse declínio são as seguintes: a transformação de uma agricultura de subsistência numa agricultura industrial, incompatível com a carácter artesanal a que a cultura do linho estava associada; o maior trabalho e grau de dificuldade que implica a cultura do linho, relativamente a outras culturas como a do algodão ou da lã; o aparecimento da lã e, principalmente, do algodão, fibras mais fáceis de tratar, tendo como consequência, a produção de produtos em mais larga escala e a mais baixos preços concorrência à qual o linho não poderia resistir.

Concluindo, achamos que urge reavivar esta valiosa cultura; não devemos deixar morrer uma cultura multisecular na nossa região.

Hoje, levantam-se alguns movimentos, organismos, associações, tendentes a relançar a cultura do linho em bases mais atualizadas, racionalizando o seu processo de cultivo e transformação, através da alteração do seu carácter plenamente artesanal.

Apelamos às autoridades, aos autarcas, aos jovens agricultores que se interessem por esta cultura de forma a torná-la novamente uma realidade concreta e não apenas uma realidade lendária, revelada e descrita pelos documentos ou pelos nossos antepassados…

Ondina Albino


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