Trás-os-Montes é uma região do nosso país que se caracteriza pela dureza da sua orografia, a qual em muito tem contribuído para a resistência e rijeza das suas gentes, desde os tempos mais remotos da nacionalidade.
Um relato muito belo sobre essas terras no século XIV, da parte do historiador António Borges Coelho, dá-nos uma imagem muito impressiva do contexto natural da região, em termos que poderiam ser escritos nos séculos posteriores e até na atualidade:
A terra esfiapa-se entre rochedos, avolumando aqui e além em vale macio e úbere, e as rochas, solitárias ou em grandes massas, erguem-se no silêncio, enquanto o castanheiro solene e altivo, de tronco cavado e velho, se recusa a morrer e oferece a ternura das castanhas nos ouriços agressivos.
Isolam Trás-os-Montes as muralhas do Gerez, da Cabreira, do Marão, a Oeste; Larouco, Padrela, Coroa e Montesinho vigiam os montes de Castela, embora os dois povos apertem as mãos como em Rio de Onor; e o Douro é um fosso de fortaleza medieval. Escorre, espuma, salta a Sul e a Leste, ameaça com a força das correntes e o barro das águas, para logo se apaziguar em ilhotas de terra e brincar com milhóes de pedras polidas que amontoa no seu leito.
António Borges Coelho, "A Revolução de 1383", Portugália Editora, Lisboa, 1965, p.32
Belíssima transcrição. Grande Historiador. Portugal na Espanha Árabe é um dos seus livros de referência para mim. Tal como Questionar a História.
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