terça-feira, 28 de abril de 2020

Júlio Couto, um inteletual do Porto amigo da Aldraba que nos deixa

















Acabamos de ter a triste notícia de que Júlio Couto faleceu no passado dia 24 de abril de 2020, aos 85 anos, vítima do covid-19.

Júlio Couto era economista, homem do teatro, rádio e televisão e um dos grandes conhecedores e investigadores da história do Porto.

Conheceu a Aldraba há 8 anos atrás, e deu-nos a honra de publicar no n.º 12 da nossa revista, em outubro de 2012, o seu trabalho “A censura no antigamente”.

Como conta o Público on-line a propósito da sua morte, o Júlio tinha o ofício das contas, mas o coração foi sempre das letras e da arte. Sem nunca deixar a economia e a contabilidade, que lhe valiam o salário no fim do mês, Júlio Couto encheu a vida com tudo o resto: o teatro, a rádio, a televisão, os jornais, a poesia e muitos livros. E o Porto, sempre, cidade onde nasceu e à qual se dedicou, escrevendo várias obras sobre ele. Era um dos grandes investigadores da sua História e histórias – e jamais as contou apartado das suas gentes.

Nasceu no Porto a 12 de Março de 1935. Era o mais velho de sete irmãos vivos a habitar na ilha de minúsculas casas com “paredes finas” e sabia que o destino não lhe guardaria facilidades. Fez a instrução primária e rápido ganhou o vício dos livros. Mas aos 14 anos teve de fazer-se trabalhador: começou a acarretar sacos de cimento e a cumprir a tarefa de moço de recados num escritório na Rua dos Bacalhoeiros. O ordenado era curto e ia diretamente para a mãe.

Ainda menino, pelos seis anos, Júlio Couto já fazia teatro. Mais tarde, acabaria por entrar no Teatro Experimental do Porto e chegou a dirigir a secção de teatro do FCP, e a promover espetáculos no Lar do Comércio, instituição onde viveu nos últimos anos e onde morreu esta última sexta-feira. Júlio Couto tanto atuava como escrevia. Fez rádio e o programa humorístico A Voz dos Ridículos, esteve na RTP Porto, colaborou com jornais e revistas, sendo fundador da extinta Paisagem, foi pioneiro no Porto Canal, onde teve um programa sobre o Porto e outro sobre o fado vadio na cidade, colaborou com dezenas de coletividades portuenses. E escreveu vários livros, sendo o mais popular O Porto em 7 Dias, publicado nos anos 90, um roteiro de visita à Invicta numa semana, como se antecipasse o boom turístico que a cidade haveria de ter.

O seu grande amigo e acompanhante Hélder Pacheco diz que, sobre o Porto de hoje, o Júlio Couto tinha “uma perspetiva aberta e dinâmica”: Defendendo a identidade e as suas tradições, a visão que tinha era de mudança. Não queria que a cidade ficasse confinada e fixada no passado. Era um tradicionalista fazendo a ponte com o futuro. A degradação física da urbe nos últimos anos entristecia-o. E a revitalização agradava-lhe: “A perspetiva que tinha era a de que a cidade tinha de dar a volta.”

Passou a vida a “servir causas”, continua Hélder Pacheco, com uma “extrema generosidade”. Opção que talvez o tenha impedido de fazer uma obra mais vasta – mas isso nunca foi a sua prioridade. “Punha o seu talento ao serviço do bem comum. Nunca viveu folgadamente justamente porque nunca cobrava no trabalho em coletividades, por exemplo, fazia essa dádiva.”

Do interessante artigo que publicou em 2012 na nossa revista, recordamos o último parágrafo, que diz bastante da sua personalidade:

“Foi uma permanente luta de gato e do rato, com ganhos e perdas, mas sobretudo com aquela atitude de insubmissão contra o despotismo. E o sabor dos objetivos alcançados, quando conseguíamos que algo escapasse às malhas da censura”.

Honra à memória do Júlio Couto, e a expressão dos nossos sentimentos à família e aos seus amigos mais próximos!

A Direção da Aldraba 

1 comentário:

  1. Que bela evocação de um notável portuense com quem nos cruzámos, através da querida Amiga Laurinda Figueiras e da Ronda Típica da Meadela. Júlio Couto disse como ninguém a Poesia de José Figueiras, e a sua voz está gravada para a eternidade num disco da Ronda. Bem Hajas, José Alberto!

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