Acabamos de ter a triste notícia de que Júlio Couto faleceu no passado dia
24 de abril de 2020, aos 85 anos, vítima do covid-19.
Júlio Couto era economista, homem do teatro, rádio e televisão e
um dos grandes conhecedores e investigadores da história do Porto.
Conheceu a Aldraba há 8 anos atrás, e deu-nos a honra de publicar no n.º
12 da nossa revista, em outubro de 2012, o seu trabalho “A censura no
antigamente”.
Como conta o Público on-line a propósito da sua morte, o Júlio tinha o
ofício das contas, mas o coração foi sempre das letras e da arte. Sem nunca
deixar a economia e a contabilidade, que lhe valiam o salário no fim do mês,
Júlio Couto encheu a vida com tudo o resto: o teatro, a rádio, a televisão, os
jornais, a poesia e muitos livros. E o Porto, sempre, cidade onde nasceu e à
qual se dedicou, escrevendo várias obras sobre ele. Era um dos grandes
investigadores da sua História e histórias – e jamais as contou apartado das
suas gentes.
Nasceu no Porto
a 12 de Março de 1935. Era o mais velho de sete irmãos vivos a habitar na ilha
de minúsculas casas com “paredes finas” e sabia que o destino não lhe guardaria
facilidades. Fez a instrução primária e rápido ganhou o vício dos livros. Mas
aos 14 anos teve de fazer-se trabalhador: começou a acarretar sacos de cimento
e a cumprir a tarefa de moço de recados num escritório na Rua dos Bacalhoeiros.
O ordenado era curto e ia diretamente para a mãe.
Ainda menino,
pelos seis anos, Júlio Couto já fazia teatro. Mais tarde, acabaria por entrar
no Teatro Experimental do Porto e chegou a dirigir a secção de teatro do FCP, e
a promover espetáculos no Lar do Comércio, instituição onde viveu nos últimos
anos e onde morreu esta última sexta-feira. Júlio Couto tanto atuava como
escrevia. Fez rádio e o programa humorístico A Voz dos Ridículos, esteve na RTP Porto, colaborou com jornais e
revistas, sendo fundador da extinta Paisagem, foi pioneiro no Porto
Canal, onde teve um programa sobre o Porto e outro sobre o fado vadio na
cidade, colaborou com dezenas de coletividades portuenses. E escreveu vários
livros, sendo o mais popular O Porto em 7 Dias, publicado nos anos 90,
um roteiro de visita à Invicta numa semana, como se antecipasse o boom turístico
que a cidade haveria de ter.
O seu grande
amigo e acompanhante Hélder Pacheco diz que, sobre o Porto de hoje, o Júlio
Couto tinha “uma perspetiva aberta e dinâmica”: Defendendo a identidade e as
suas tradições, a visão que tinha era de mudança. Não queria que a cidade
ficasse confinada e fixada no passado. Era um tradicionalista fazendo a ponte
com o futuro. A degradação física da urbe nos últimos anos entristecia-o. E a
revitalização agradava-lhe: “A perspetiva que tinha era a de que a cidade tinha
de dar a volta.”
Passou a vida a
“servir causas”, continua Hélder Pacheco, com uma “extrema generosidade”. Opção
que talvez o tenha impedido de fazer uma obra mais vasta – mas isso nunca foi a
sua prioridade. “Punha o seu talento ao serviço do bem comum. Nunca viveu folgadamente
justamente porque nunca cobrava no trabalho em coletividades, por exemplo,
fazia essa dádiva.”
Do interessante artigo que publicou em 2012 na nossa revista, recordamos o último parágrafo, que diz bastante da sua personalidade:
“Foi uma permanente luta de gato e do rato, com ganhos e perdas, mas
sobretudo com aquela atitude de insubmissão contra o despotismo. E o sabor dos
objetivos alcançados, quando conseguíamos que algo escapasse às malhas da censura”.
Honra à memória do Júlio Couto, e a expressão dos nossos sentimentos à
família e aos seus amigos mais próximos!
A Direção da
Aldraba
Que bela evocação de um notável portuense com quem nos cruzámos, através da querida Amiga Laurinda Figueiras e da Ronda Típica da Meadela. Júlio Couto disse como ninguém a Poesia de José Figueiras, e a sua voz está gravada para a eternidade num disco da Ronda. Bem Hajas, José Alberto!
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