segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Alpedrinha revisitada










Decorreu, entre 17 e 19 de Setembro, mais uma edição do Festival dos Caminhos da Transumância, este ano alargado a mais espaços da vila – o Terreiro de Santo António, onde decorreu a mostra de produtos e animais da região, e um outro pólo de música e animação no belíssimo Largo da Casa do Pátio.
De novo lá estivemos, deixando-nos impregnar por aqueles sons, cheiros e afectos.
Os chocalhos, os bombos e os acordeões, as flautas e as gaitas de foles encheram mais uma vez as ruas de Alpedrinha, numa mistura que continua a encantar os muitos milhares de visitantes que por lá passam e tornam em cada ano. Salientamos a presença de Além Tejo que este ano marcou momentos muito ricos do Festival, com os já habituais Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho, o grupo feminino de Viana do Alentejo, com a sua festa da lã e oficina do feltro, que muito encantaram crianças e adultos, e o Pedro Mestre que, com a sua viola campaniça, o Grupo de Cantares os Cardadores da Sete e grande sensibilidade e sentido de humor nos proporcionou mais um serão de enorme beleza.
A tradição recuperada traz-nos de volta comes e bebes de outros tempos, que em cada tasca improvisada nos deliciam, à mistura com a habitual hospitalidade das gentes da terra.
Na manhã de domingo, a magia da Gardunha fez-nos de novo companhia na caminhada através da serra, com passagem por Alcongosta. Por estradas, caminhos e via romana, atrás do rebanho e dos pastores, desfrutámos das paisagens lindas numa manhã cheia de luz e sol, das amoras e dos figos do caminho, e do ar da serra. Como convidava uma camisola de um dos muitos caminheiros, e eu recomendo, “Engardunha-te”!
Rever os amigos e o trabalho que continuam a fazer em prol da terra e do Festival, é sempre um prazer de que já nos habituámos a não abrir mão.
É disso mais um exemplo a recente abertura ao público do, agora iniciado, Museu da Música. E com que orgulho o Francisco Roxo nos mostra todo o espólio acumulado e nos descreve todo o trabalho que há para fazer! Aqui fica uma palavra de admiração e estímulo à Liga dos Amigos de Alpedrinha.

MEG, fotografias de JAF e MEG

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tasquinha D. Maria – bons pitéus e melhor hospitalidade





Ao passar nestas últimas férias para os lados de Porto de Mós, num lugar chamado Livramento, foi-nos recomendado um restaurante à beira da estrada. Nada mais, nada menos do que a Tasquinha D. Maria (a cerca de 5 km da sede do concelho, a caminho de Alvados).

Depois de algum tempo de espera e na ausência de alternativa, lá nos sentamos para o merecido jantar. Apenas grelhados, onde a primazia era dada à carne, não estivéssemos no interior do país. Da qualidade, da maestria na grelha e do agradável e bem recuperado espaço da sala de jantar, nem vale a pena falar. Fica feito o desafio para que passem por lá …

Falemos antes da hospitalidade que vamos encontrando, um pouco por todo o país. É uma tradição nossa, um traço comportamental que nos diferencia de outros e que, por nos ser tão própria, fruímos com toda a naturalidade.

Esta capacidade de estar, de conversar com conhecidos de há pouco e com eles partilhar vida, experiências, sonhos e desafios é, também, património.

Por ser tão raro, entre nós, dar valor ao que somos e temos ou sentir necessidade de salientar o que de bom e elogioso encontramos, aqui fica esta lembrança da D. Maria que, desde 1958, ali está pronta a atender-nos. Que ali continue por muitos e bons anos!

MEG

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Os nomes das localidades em azulejos (cont.1)








O azulejo é elemento decorativo e veículo do imaginário. As placas toponímicas indicando os nomes das localidades, que muitos de nós recordam com carinho, foram colocadas – pelo menos a maior parte delas – pelo Automóvel Clube de Portugal nos inícios do século XX. Visava-se orientar os viajantes do turismo que se começava a desenvolver, mas também assinalar uma marca de distinção e referência das localidades, contribuindo para o amor-próprio das suas populações.

Após a primeira abordagem do tema que em Abril último fizémos aqui em "A ALDRABA" (Os nomes das localidades em azulejos), vimos hoje publicitar mais seis belas placas de azulejos, correspondentes a outras tantas localidades ao longo do nosso país: Alfeizerão (distrito de Leiria), Malveira (distrito de Lisboa), Montalvão (distrito de Portalegre), Picanceira (distrito de Lisboa), Porto Brandão (distrito de Setúbal), e Póvoa e Meadas (distrito de Portalegre).

Juntamos assim estes seis exemplares aos catorze publicados em Abril: Alandroal, Arraiolos, Ciborro, Estremoz e Évora (distrito de Évora), Alvaiázere (distrito de Leiria), Cabeço de Vide e Fronteira (distrito de Portalegre), Caparide, Queluz e Seramena (distrito de Lisboa), Castro Verde (distrito de Beja), e Loulé e Quarteira (distrito de Faro).

JAF

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pelo país fora - mais aldrabas e batentes


Alter do Chão (Capela da Misericórdia)


Berlenga (Fortaleza de S. João Baptista)


Coja


Condeixa (Câmara Municipal)


Lisboa (Câmara Municipal)


Monforte (Câmara Municipal)


Montemor-o-Novo - 4


Montemor-o-Novo - 3


Montemor-o-Novo - 2


Montemor-o-Novo - 1


Torres Novas


Vila Nova da Barquinha (colecção na "Tasquinha da Adélia"-2)
Vila Nova da Barquinha (colecção na "Tasquinha da Adélia"-1)

Vila Viçosa

Nos últimos meses, novas imagens de aldrabas e batentes de porta foram sendo recolhidas ao longo do país.
Portas de casas modestas, portas de casas apalaçadas, portas com aldrabas, aldrabas sem portas...
Venham mais fotografias destes objectos, que serão publicadas com todo o gosto!

MEG (fotos JAF)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Viva o pastel de bacalhau!



O pastel de bacalhau (que no norte de Portugal também é conhecido como bolo, ou bolinho, de bacalhau) é uma verdadeira instituição nacional.

Nas nossas memórias de infância e adolescência, o pastel de bacalhau preenche um papel insubstituível.

Barato, popular, acessível, mas nem por isso menos saboroso e estruturante de uma refeição portuguesa integral.

Acompanha com um belo arroz de tomate, ou de pimentos, e com uma vibrante salada de alface, tomate e/ou pepino.

* * *

Na rede social Facebook, mais precisamente no grupo “Descobrir Portugal”, a Irene Rosa da Silva lançou em 13 de Agosto último um apelo em favor das delícias do pastel de bacalhau.

Muitos dos seus interlocutores mostraram surpresa pelo tema, a ponto de pedirem que alguém fornecesse a receita (!).

A “culpada” (Irene) não se fez rogada, e aí veio a receita e respectivas instruções práticas:

“Ingredientes: bacalhau 300 g / batatas para cozer 300 g / ovos 4 unid. /azeite 1 dl / cebola 1 unid. / salsa 1 ramo /sal e pimenta q.b. /óleo q.b.;
Como fazer:
1 Coza as batatas inteiras e com pele depois de muito bem lavadas, de 30 a 35 minutos. Coza o bacalhau noutro tacho durante 10 minutos. Retire as peles e espinhas ao bacalhau e desfie-o esfregando dentro de um saco limpo de pano. Depois das batatas cozidas, escorra-as e pele-as. Ponha-as num tacho em lume muito brando para secarem um pouco. Depois esmague-as reduzindo-as a puré.
2 Entretanto, pique muito bem a cebola e refogue-a em azeite. Escolha, lave e pique a salsa. Bata os ovos. A quantidade dos ovos pode ser ajustada ao tamanho destes e da qualidade das batatas.
3 Misture as batatas, o bacalhau desfiado e a cebola refogada até ficar uma massa homogénea. Depois acrescente a salsa e os ovos amassando mais um pouco.
4 Com o auxilio de 2 colheres embebidas em azeite molde os pastéis, fritando-os em seguida em óleo abundante e muito quente.
5 Escorra-os em papel absorvente e sirva-os decorados com um raminho de salsa”

A ALDRABA associa-se a esta promoção e estimula os verdadeiros cultivadores da gastronomia popular portuguesa.

JAF

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A Senhora dos Marinheiros em Alcoutim










No post Alpedrinha, Terra de Amigos , em Fevereiro de 2009, escreveu-se neste blogue que “A Aldraba gosta de Alpedrinha”, localidade da Beira Baixa onde participámos já em diversas actividades populares…

Da mesma forma, e por razões idênticas, a Aldraba gosta de Montemor, de Viana do Alentejo, da Aldeia da Estrela, de Coruche, de Aljustrel, de Sintra, de Alvaiázere, de Loulé, de Torres Vedras, de Mértola, de Almada, de Estremoz, do Fundão, da Azambuja, de Vila Franca de Xira, de Carnaxide, de Aljezur, de Pedrógão Grande, e de tantos outros locais de Portugal onde as nossas actividades se têm desenvolvido desde finais de 2004.

Assim, a Aldraba gosta também de Alcoutim, hospitaleira vila algarvia do Guadiana, onde realizámos um dos nossos Encontros, em Maio de 2008, e onde criámos raízes e amigos.

Neste cálido verão de 2010, assistimos ali a mais uma edição da festa da Senhora dos Marinheiros, tradicional festividade religiosa que aproxima as populações da vila espanhola de Sanlúcar (do outro lado do rio) e da vila portuguesa de Alcoutim.

Integrada num variado programa cultural e recreativo, realiza-se todos os anos, a 15 de Agosto, uma tocante procissão fluvial, em que a imagem da Senhora (padroeira dos que trabalham no rio e no mar) é transportada num grande desfile de embarcações entre Sanlúcar e Alcoutim, desembarca e vai “visitar” o exterior da capela de Santo António, e regressa depois a Espanha num vistoso cortejo de barcos de pesca, canoas a remos, iates e outros barcos engalanados e com vibrantes buzinas…

Muitos elementos da população de Alcoutim aguardavam a imagem, e associaram-se aos espanhóis que a acompanhavam, tendo viajado juntos para Sanlúcar. À noite, do outro lado do rio, comemorou-se o Dia de Portugal, tendo actuado um grupo etnográfico do concelho de Loulé (Quelfes).

Lamentavelmente, as autoridades locais do lado português não estavam presentes. Ao que parece, desinteligências patetas entre o alcaide socialista do ayuntamiento de Sanlúcar e o presidente social-democrata do município de Alcoutim, sobrepõem-se ao desejo e à força da confraternização entre as duas populações irmãs.

Também aqui, o associativismo popular dá o exemplo, e mostra o caminho a seguir: a ATAS – Associação Transfronteiriça Alcoutim-Sanlúcar, com associados dos dois lados do rio, e cuja direcção é alternadamente assegurada por um português ou por um espanhol. Conforme analisámos com o actual presidente português da ATAS, Carlos Brito, esta esforça-se por “segurar as pontas”, e colabora activamente nas festividades de Agosto.

Um abraço de felicitações a estes amigos.

JAF (texto e fotos)

domingo, 8 de agosto de 2010

Honremos António Dias Lourenço – património e memória viva do que foi a resistência do povo português à ditadura fascista





António Dias Lourenço deixou-nos hoje, com 95 anos de idade, numa velhice tranquila e lúcida que se seguiu a uma vida longa e corajosa de combate, não só pelos ideais políticos que professava mas também, interessa aqui sublinhar, pelo derrube do regime ditatorial que oprimiu o país durante 48 anos.

A associação ALDRABA, sem perder de vista a sua postura de colectividade cultural que cultiva as memórias populares portuguesas, não pode deixar de assinalar com respeito e emoção a figura e o exemplo deste homem.

E não esquecemos aquele sábado de Janeiro de 2006, em que vários membros e dirigentes da nossa associação participaram numa visita ao Forte de Peniche, promovida pelo grupo cultural Atrium, e que foi orientada de forma magistral pelo ex-preso Dias Lourenço. Neste mesmo blogue, dois posts registam esses momentos inolvidáveis (No Forte de Peniche, com António Dias Lourenço - Primeira Parte e No Forte de Peniche, com António Dias Lourenço - Segunda Parte )

Todos os que puderam integrar essa actividade retêm para sempre a forma modesta e simples com que Dias Lourenço descrevia, nos próprios locais onde centenas de portugueses sofreram torturas, privações e sevícias de toda a espécie, a coragem e a determinação que foram necessárias para sobreviver física e psiquicamente, para continuar a alimentar a esperança da liberdade e do derrube da ditadura.

António Dias Lourenço foi preso por duas vezes, em 1949 e 1962, tendo passado ao todo 17 anos nas cadeias do regime. Protagonizou uma das mais audaciosas fugas ao evadir-se da “solitária” do Forte de Peniche em 1954, numa bem sucedida aventura individual, arquitectada ao longo de semanas, que foi já brilhantemente tratada no cinema. Também esses factos o próprio nos descreveu com a maior singeleza, sublinhando sempre que tudo aquilo só valia para contribuir para o fim do sofrimento do nosso povo.

Operário mecânico, nasceu em Vila Franca de Xira, onde conviveu no início dos anos 1940’s com Soeiro Pereira Gomes e Alves Redol, tendo colaborado numa série de iniciativas que contribuíram para o desenvolvimento do movimento cultural neo-realista.

Foi funcionário clandestino do seu partido (o PCP) desde 1942, onde assumiu responsabilidades organizativas em todos os escalões, tendo sido depois do 25 de Abril director do jornal oficial e deputado à Assembleia da República. Escreveu textos como “Vila Franca de Xira: um concelho no país – contribuição para a história do desenvolvimento socio-económico e do movimento político-cultural”, “Alentejo: legenda e esperança”, e “Saudades... não têm conto! - Cartas da prisão para o meu filho Tónio”.

Voltando às nossas recordações do convívio com Dias Lourenço em 21/1/2006, seja permitido ao autor deste post uma memória pessoal curiosa, que resultou do privilégio de ter ficado ao lado dele no almoço que se seguiu à visita ao Forte:

Numa conversa informal, suscitada por perguntas diversas que os circundantes lhe dirigiam sobre a sua longa experiência, Dias Lourenço contou que fez parte de uma delegação de partidos comunistas da Europa Ocidental que visitou a República Popular da China (quando ainda não se tinha verificado a divergência entre a China e a União Soviética). Numa reunião de trabalho com Mao Tsé tung, quando os comunistas europeus lhe perguntaram o que fazer se o imperialismo americano, perante revoltas populares no ocidente, bombardeasse a Europa com armas nucleares, o grande líder não hesitou e respondeu-lhes (com gestos enérgicos de mãos, que Dias Lourenço imitava) – Não há problema, os povos europeus podem ser dizimados, mas o povo chinês é muito numeroso, virá até à Europa e volta a povoar o continente e dar continuidade à revolução…

Calafrio para os europeus presentes naquela reunião, de que Dias Lourenço nos deu conta com a maior candura. E que nos dá também a nós que pensar, numa reflexão mais alargada sobre utopias e tragédias que têm atravessado os nossos tempos.

JAF (fotos de LFM)