terça-feira, 16 de janeiro de 2024

A "Árvore Portuguesa de 2024" é uma camélia-japoneira de Guimarães

 














Tal como o fez em janeiro de 2023 com a Árvore Portuguesa de 2023 (o eucalipto de Contige, Sátão), a Aldraba vem destacar a árvore portuguesa de 2024.

A camélia-japoneira dos jardins centenários da Villa Margaridi, em Guimarães, é a árvore portuguesa deste ano, depois de ter vencido a votação online da 7.ª edição do concurso Árvore Portuguesa do Ano

O exemplar é representante da história portuguesa e das relações comerciais entre Portugal e o Japão, tendo a introdução desta espécie exótica em território nacional ocorrido através dos marinheiros das naus dos Descobrimentos que traziam e levavam sementes de diferentes espécies entre os vários pontos do mundo.

A União da Floresta Mediterrânica – UNAC sublinha ainda que foi agora a vez de uma árvore estritamente ornamental vencer este concurso.

O exemplar foi considerado de interesse público devido ao seu desenho em forma de campânula, com 6,30 metros de diâmetro e 6,15 metros de altura, sendo esta a confirmação de que se trata de um exemplar centenário baseada na construção e manutenção dos jardins desde o final do século XVII e pelo significado paisagístico, enquanto elemento de referência no enquadramento do tanque lavrado situado no terreiro frontal à Casa de Margaride, também ela classificada como monumento de interesse público.

Rita Salgado, arquiteta paisagista da Câmara Municipal de Guimarães, foi a responsável por submeter a candidatura da camélia-japoneira (da espécie Camellia japonica) dos jardins centenários da Villa Margaridi (ou Casa de Margaride) ao concurso Árvore Portuguesa do Ano 2024.

“Escolhi esta camélia pela sua história, pelo seu corte invulgar, pela casa em si e pelos jardins”, conta a arquiteta paisagista. A Casa de Margaride já celebrou mais de mil anos de existência, tendo o atual proprietário continuado o legado, ao cuidar do jardim em questão e das camélias que dele fazem parte – incluindo a recente vencedora do título.

O exemplar que venceu o concurso encontra-se junto à entrada da quinta, perto de um pequeno tanque e de uma parede adornada com várias inscrições e textos sobre os antepassados da quinta. Esta árvore está, portanto, enquadrada num sítio mais cénico – e não dentro do jardim murado que faz parte da casa –, destacando-se pelas formas e pela beleza das flores que agora estão a começar a surgir, acrescenta Rita Salgado. Não fosse, aliás, a camélia uma árvore que tem uma flor de Inverno.

A arquiteta paisagista sublinha ainda que a camélia é uma planta que se adaptou muito bem ao nosso clima, é muito resistente e típica do Minho e do Norte de Portugal. Quase todas as casas e quintas antigas nos seus jardins formais têm camélias.

Neste caso, destaca-se o cuidado e dedicação que o proprietário da Casa de Margaride investiu (e continua a investir) nas suas árvores, salienta Rita Salgado, que diz ter ficado muito contente com o prémio. Acima de tudo, é uma representação de Guimarães e de Portugal na Europa.

A camélia-japoneira de que aqui falamos, destaca o proprietário, “é um exemplar absolutamente icónico da simbiose entre o Homem e a natureza” e trata-se “apenas e só” de “uma árvore simples e singela que floresce no Inverno, numa altura em que tudo parece triste, sombrio, sem folhas, sem luz e sem brilho”.

José Couceiro da Costa, proprietário da Casa de Margaride, conta que a Casa está na sua família desde o início do século XVI e que esta camélia-japoneira é um exemplar multissecular. “Temos uma fotografia desta árvore em Junho de 1912 e a árvore apresenta a mesma volumetria que apresenta hoje. Portanto, já em 1912 a árvore tinha esta copa, este detalhe e esta forma.”

Mas voltemos à questão da simbiose. As camélias, afirma José Couceiro da Costa, podem apresentar duas formas: a sua forma selvagem, de crescimento natural; ou uma silhueta talhada pelos seres humanos. A arte da topiária em Portugal, no século XVIII, diz, seguiu “toda uma dramática discursiva do ponto de vista arquitetónico, que se iniciou em França”, com as árvores a serem talhadas e a ganharem uma forma idealizada pelo ser humano, o que representa a “simbiose entre o verde e o Homem”.

Todos os anos, refere o proprietário da Casa de Margaride, a coleção de 27 camélias centenárias é podada entre a última semana de maio e a primeira semana de junho – algo que acontece há várias gerações. “Só assim conseguimos assegurar a qualidade da sua silhueta, das suas formas, como também um ótimo estado fitossanitário. Portanto, a grande história que esta árvore tem é uma ligação umbilical da árvore e do Homem e do Homem e da árvore”, conclui José Couceiro da Costa, que garante que naquele jardim não se usa um único pesticida, herbicida ou inseticida.

Para concluir, o proprietário da camélia-japoneira vencedora admite ser “daquelas pessoas” que entendem que “o património verde precisa de muito mais proteção do que o património edificado”. “Para destruir a Torre de Belém, o Castelo de Guimarães ou a Domus Municipalis de Bragança é preciso muito tempo, muito esforço e muitos homens. Para se destruir o património verde basta uma atitude irrefletida, uma motosserra e três minutos.”

O segundo lugar do concurso Árvore Portuguesa do Ano 2024 foi atribuído ao Sobreiro do Rei (em Mafra, Lisboa), e o terceiro lugar foi ocupado pela Oliveira do Peso (em Pedrógão, Vidigueira).

Dez árvores estavam a concurso, depois de terem sido selecionadas por um júri constituído pelo economista António Bagão Félix, pelo engenheiro silvicultor Rui Queirós, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, por Francisco Teotónio Pereira, produtor do programa Faça Chuva ou Faça Sol, e por João Maria Salgado de Goes, diretor da União da Floresta Mediterrânica – UNAC. Foram sugeridas como candidatas a esta edição 44 árvores, de entre as quais foram selecionadas dez, de acordo com critérios biológicos, estéticos, de dimensão e históricos.

No total, foram contabilizados 24.758 votos, o número mais elevado desde que a competição se realiza. O concurso é organizado ao nível nacional pela União da Floresta Mediterrânica – UNAC e ao nível europeu pela Associação de Parceria Ambiental (EPA).

A camélia-japoneira vai agora representar Portugal no concurso Árvore Europeia do Ano de 2024, cujas votações decorrerão online em fevereiro.

JAF (texto condensado do Público)



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