A nossa amiga Manuela Barros Ferreira publicou na sua página de facebook, no passado dia 20/12/2022, um pequeno mas significativo texto, que intitulou "Um conto de Natal".
Um dos comentários que tal publicação suscitou enalteceu a rica "imaginação" da autora, ao que ela ripostou:
"Baseia-se na foto de um cãozito deitado numa
manjedoura de presépio que foi publicada num jornal, em 2012 ou 2013. Não citei
a foto porque não consigo localizá-la. Eu apenas dei um remate à foto, que me
surgiu como uma mensagem extraordinária: o Deus da Vida está em qualquer
vida".
Reproduzimos o "conto" com todo o gosto:
CONTO DE NATAL
O presépio à porta da igreja estava coberto de neve.
Dentro do estábulo de madeira, na manjedoura repleta de palha loura, transbordante, seca e macia, o menino estava arredado para a borda, quase a tombar.
Bem no centro, enroscadinho, ali a dormir, um cachorrito. Não conhecia o nome daquele boneco de pau ali deitado, por isso não sabia o que fizera ao ocupar-lhe o lugar. Ainda tentou roer-lhe o dedo maior do pé, mas cuspiu logo – onde já se viu temperar com verniz um ossinho tão apetitoso?
As velhas que de manhã passavam para a missa benziam-se, diziam “t’arrenego!” e entravam cabisbaixas na igreja.
Um miúdo parou, aproximou-se do cãozito, fez-lhe uma festa. O cachorro olhou-o como se ele fosse um anjo que baixara do alto daquela casota. Virou-se de patinhas para o ar e brincou-lhe com as mãos. Patinhas e mãos numa dança de carinhos.
A criança pegou-lhe ao colo, enfiou-o debaixo do blusão do fato de treino e levou-o consigo, para se aquecerem um ao outro em qualquer canto doutra rua.
Manuela Barros Ferreira
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