quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Quando um homem quiser




















Poema lido durante o 28º jantar-tertúlia da ALDRABA, e que exprime bem a atitude com que todos desejaríamos ver enfrentado o Natal de 2019 e o Ano Novo de 2020:


Tu que dormes à noite na calçada do relento 
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento 
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento 
és meu irmão, amigo, és meu irmão  

E tu que dormes só o pesadelo do ciúme 
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume 
e sofres o Natal da solidão sem um queixume 
és meu irmão, amigo, és meu irmão  

Natal é em Dezembro 
mas em Maio pode ser 
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser 
Natal é quando nasce 
uma vida a amanhecer 
Natal é sempre o fruto 
que há no ventre da mulher  

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar 
tu que inventas bonecas e comboios de luar 
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar 
és meu irmão, amigo, és meu irmão  

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei 
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei 
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei 
és meu irmão, amigo, és meu irmão  

Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'       

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