quarta-feira, 8 de novembro de 2017

António Braz, o rambóia comendador


















Pré-publicação do artigo que vai sair no n° 22 da revista ALDRABA, a ser editado muito brevemente:


O burburinho deixava de ser burburinho para ser outra coisa. Incomodava de um núcleo a outro espalhado pela sala da biblioteca onde estava patente a exposição...

E as pessoas saíam de perto de mim, que entretanto explicava a fotografia de António Braz, o rapaz de 19 anos que sai de Tondela para a África do Sul em 1937, levando consigo uma caixa ou mala de ferramentas de carpinteiro.

Era a arte geracional de alguém que sonhava ser alfaiate ou militar. Assim não foi por desígnio de seu pai, mas nada o pôde contrariar a continuar com a vontade de erguer um mundo novo onde pouco de novo havia por entre o regime que dividia literalmente brancos e negros.

Visita Brooklyn do Pós-Guerra e leva para Pretória a ideia e a liquidificadora dos milkshakes... Os primeiros.

Mas não só. Leva também o projecto de arcas de amadurecimento de bananas que, importadas de Moçambique ainda verdes, em poucos dias se tornariam maduras e de qualidade soberba.

Banana King passariam a chamá-lo…

António Braz movimenta muito capital mas não renega as origens humildes. É nesse sentido que a família, através dos seus sobrinhos e da fundação com o mesmo nome, decidem erguer uma exposição comemorativa dos cem anos sob o seu nascimento.

Tondela abre-se ao seu famoso conterrâneo que se torna comendador da ordem de Benemerência e é distinguido diversas vezes com mérito por associações e pelos governos sul-africano e português.

Ora, a exposição dividida em quatro núcleos, com viagem de áudio walk pela cidade até um documentário com a sua vida e obra, reflecte a narrativa linear de alguém nada linear.

O homem da aldeia e de família, o empresário de sucesso, o coleccionador aventureiro e o anfitrião patrono das artes.

É nestes quatro núcleos que se espalham informações, obras e regras publicitárias à frente do seu tempo, sabendo que a quarta classe de escolaridade não o limita em nada. Torna-se um dos mais influentes emigrantes portugueses em África, dono de um patriotismo gigante e maior que o Adamastor.

Se assim não fosse, como não patrocinaria a viagem de recriação de caravela para ir além do cabo Bojador 500 anos depois, sendo o máximo responsável pela criação e colocação de um monumento ao navegador português?

Apreciador da vida... Era nos bares que fazia muito das suas colecções de garrafas e miniatura e outros artigos. E foi num bar que conheceu alguém com uma ideologia muito diferente da sua... 

Passaram a noite a falar. No dia seguinte, apesar das divergências políticas, António Braz tinha descoberto o jornalista certo para o seu “Século de Joanesburgo”.

É dessa coluna onde está o primeiro exemplar do jornal que se justifica o burburinho. Uma senhora descobre o irmão na fotografia. É o jornalista…

O grupo da Aldraba cria uma ligação inequívoca à passagem da exposição que esteve patente em Tondela até 17 de setembro. Contam-se histórias, fazem-se mais memórias e, sobretudo, alargamos numa rede preciosa a figura de um comendador que teve, no papel humanista e no empreendedorismo não bacôco dos dias de hoje, marcas impossíveis de apagar...

À Aldraba o bem-haja pelo momento!


NUNO SANTOS  
(Curador da exposição “António Braz – O Rambóia Comendador”, que foi visitada pelos participantes no XXXIV Encontro da Aldraba, em Tondela, a 29.7.2017)

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