Pré-publicação do artigo que vai sair no n° 22 da revista ALDRABA, a ser editado muito brevemente:
O burburinho
deixava de ser burburinho para ser outra coisa. Incomodava de um núcleo a outro espalhado pela
sala da biblioteca onde estava patente a exposição...
E as pessoas
saíam de perto de mim, que entretanto explicava a fotografia de António Braz, o
rapaz de 19 anos que sai
de Tondela para a África do Sul em 1937, levando consigo uma caixa ou mala de ferramentas de
carpinteiro.
Era a arte
geracional de alguém que sonhava ser alfaiate ou militar. Assim não foi por
desígnio de seu pai, mas nada o
pôde contrariar a continuar com a vontade de erguer um mundo novo onde pouco de novo havia por
entre o regime que dividia literalmente brancos e negros.
Visita Brooklyn do
Pós-Guerra e leva para Pretória a ideia e a liquidificadora dos milkshakes...
Os primeiros.
Mas não só. Leva
também o projecto de arcas de amadurecimento de bananas que, importadas de Moçambique ainda
verdes, em poucos dias se tornariam maduras e de qualidade soberba.
Banana King
passariam a chamá-lo…
António Braz
movimenta muito capital mas não renega as origens humildes. É nesse sentido que
a família, através
dos seus sobrinhos e da fundação com o mesmo nome, decidem erguer uma exposição comemorativa dos
cem anos sob o seu nascimento.
Tondela abre-se
ao seu famoso conterrâneo que se torna comendador da ordem de Benemerência e é distinguido
diversas vezes com mérito por associações e pelos governos sul-africano e português.
Ora, a exposição
dividida em quatro núcleos, com viagem de áudio walk pela cidade até um documentário com
a sua vida e obra, reflecte a narrativa linear de alguém nada linear.
O homem da aldeia
e de família, o empresário de sucesso, o coleccionador aventureiro e o
anfitrião patrono das artes.
É nestes quatro
núcleos que se espalham informações, obras e regras publicitárias à frente do
seu tempo, sabendo
que a quarta classe de escolaridade não o limita em nada. Torna-se um dos mais influentes
emigrantes portugueses em África, dono de um patriotismo gigante e maior que o
Adamastor.
Se assim não
fosse, como não patrocinaria a viagem de recriação de caravela para ir além do
cabo Bojador 500 anos
depois, sendo o máximo responsável pela criação e colocação de um monumento ao navegador
português?
Apreciador da
vida... Era nos bares que fazia muito das suas colecções de garrafas e
miniatura e outros artigos. E foi
num bar que conheceu alguém com uma ideologia muito diferente da sua...
Passaram a noite a falar. No
dia seguinte, apesar das divergências políticas, António Braz tinha descoberto
o jornalista certo
para o seu “Século de Joanesburgo”.
É dessa coluna
onde está o primeiro exemplar do jornal que se justifica o burburinho. Uma
senhora descobre o irmão
na fotografia. É o jornalista…
O grupo da Aldraba
cria uma ligação inequívoca à passagem da exposição que esteve patente em Tondela até 17 de
setembro. Contam-se histórias, fazem-se mais memórias e, sobretudo, alargamos numa rede
preciosa a figura de um comendador que teve, no papel humanista e no empreendedorismo não bacôco dos
dias de hoje, marcas impossíveis de apagar...
À Aldraba o
bem-haja pelo momento!
NUNO SANTOS
(Curador da
exposição “António Braz – O Rambóia Comendador”, que foi visitada pelos participantes no XXXIV Encontro da Aldraba, em Tondela, a 29.7.2017)
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