segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Reflexões sobre a imprensa escrita








Está hoje a ser lançado, pelas 18 horas, na Casa do Alentejo, o n.º 34 da revista ALDRABA, estando a apresentação a cargo do nosso amigo Dr. Manuel Brito.

Apelando novamente a todos a que apareçam, aqui deixamos o texto do Editorial, da autoria da nossa associada e membro dos órgãos sociais (Conselho Fiscal) Ema Câmara:


REFLEXÕES

Num mundo cada vez mais digital, em que as pessoas se isolam com os seus telemóveis, tablets, computadores, neste mundo virtual e alienante, do faz-de-conta e da aparência, é reconfortante relembrar o papel que a imprensa escrita teve ao longo dos tempos.

Os primeiros vestígios de escrita remontam aos anos 3000 a.C., na Mesopotâmia e na Suméria, gravados em argila e cera, embora a primeira publicação periódica se deva aos romanos, já no século I d.C. sob o jugo do imperador Augusto. Com a sua supervisão, surgiu a Acta Diurna que difundia notícias sobre eventos militares, obituários e actividades desportivas e de lazer, sendo composta por vários pedaços de pedra gravados e colocados em diversos locais públicos.

Foram necessários mais alguns séculos para que a informação escrita e periódica chegasse às nossas mãos, literalmente. A invenção da prensa com caracteres móveis por Gutenberg, no século XV, foi um passo de gigante dado nesse sentido.

A partir de 1880, as fotografias passam a ilustrar as notícias, e os desenhos, nomeadamente publicitários, continuaram a ser utilizados.

Com a industrialização no século XIX, a imprensa escrita foi crescendo e ocupando um lugar cada vez mais importante nas populações; apesar de a maioria não saber ler, era comum que quem soubesse lesse em voz alta para os demais.

As revistas humorísticas surgiram em Portugal nesta época, e desafio-vos a desfrutarem de O António Maria ou A Paródia de Rafael Bordalo Pinheiro.

A imprensa escrita constituiu um manancial de informação preciosa para se conhecerem as vivências de épocas anteriores.

Com o aparecimento da rádio e mais tarde da televisão, a informação tornou-se mais acessível, mas a imprensa escrita manteve a sua posição. Além das notícias do dia, os semanários com artigos de investigação continuam a despertar grande interesse.

Infelizmente, a internet e também a televisão por cabo com horários alargados foram uma sentença de morte para jornais que todos nós conhecemos como O Século, o Diário Popular ou o Diário de Lisboa, entre outros. Alguns conseguiram reinventar-se em versões digitais.

A imprensa regional em geral, pela sua ligação mais directa às populações, aos saberes, sabores e fazeres, tem um papel essencial na divulgação e preservação de tradições e costumes, sobrevive com bastantes dificuldades graças à teimosia e dedicação de quem escreve, fotografa, desenha e publica.

A Hemeroteca Digital de Lisboa tem realizado, com grandes dificuldades, a digitalização de periódicos antigos que, de outra forma, estariam inacessíveis, dada a vulnerabilidade da sua conservação. A programação habitual inclui clubes de leitura e, este ano, tem realizado vários encontros temáticos “A Imprensa como fonte de investigação”.

Apesar da era digital, da informação e da desinformação, nada como o prazer de desdobrar um jornal, folhear uma revista, ler as notícias, os artigos de opinião, de investigação, enquanto se sente o cheiro do papel e da tinta, misturado com o aroma de uma bica ou de um cimbalino, num café, algures, numa aldeia, numa cidade ou em qualquer outro lugar.

Ema Câmara

 

Sem comentários:

Enviar um comentário