Em pré-publicação, adiantamos já o editorial deste número da revista:
A EDUCAÇÃO E O PATRIMÓNIO
Os bens patrimoniais
materiais e imateriais, enquanto testemunhos com valor de civilização ou de
cultura, são possuidores, como bem sabemos, de interesse relevante
designadamente histórico, arqueológico, arquitectónico, linguístico,
documental, artístico, etnográfico, científico, social, industrial ou técnico,
e constituem parcelas estruturantes da identidade e da memória colectiva.
Ao reflectirem valores de
memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou
exemplaridade, devem ser, obrigatoriamente, objecto de especial atenção em
matéria de proteção e valorização. Atenção essa nem sempre acautelada!
Nesta matéria, como em
tantas outras, as sociedades contemporâneas, em que é manifesto o apelo ao
individualismo, defrontam-se igualmente com as vantagens e os inconvenientes
resultantes da globalização, enfrentando um conjunto de desafios de que se
salientam a relação entre a memória e o conhecimento científico, a tradição e o
progresso, a sua gestão e sustentabilidade, e a preservação de identidades
locais e regionais.
A facilidade de circulação
das pessoas a nível global, o imparável crescimento das cidades e das zonas
suburbanas, em contraste com o envelhecimento das populações e o abandono das
áreas rurais, são alguns dos aspectos que abalaram conceitos, formas e modelos
de abordar as questões que ao património respeitam.
Muito embora instituições
nacionais e organizações internacionais, de que a UNESCO é um bom exemplo,
produzam cada vez mais documentação em que realçam a importância do património
e incentivem a participação de países e regiões a apresentar as suas
candidaturas particulares a património da humanidade, de onde não raro resultam
benefícios sociais e económicos, duas questões se nos colocam:
- Como poderá o património
ser reapropriado ou reinventado pelas diversas comunidades locais em face do
processo de globalização actual?
- Como resolver a aparente
contradição entre os ideais pós-modernos da inovação, da liberdade individual,
da urbanização, da competitividade, do culto pelo novo e pela juventude e a
proteção, valorização e transmissão do património?
São múltiplas e diversas as possíveis
respostas a estas questões. De difícil concretização, já que fazem apelo a intervenções
complexas e multidisciplinares, e a investimentos em recursos nem sempre disponíveis.
Gostaríamos de chamar a
atenção para a importância do que poderemos designar como eixo educação –
Educação para o Património, seja em contexto educativo escolar, seja igualmente
na educação e na formação ao longo da vida. Caminho longo e de resultados
demorados, mas que contribuiria decisivamente para modificar as formas como
hoje o cidadão encara as questões do património.
Ao contrário de Espanha, que
se considera país de referência com o Plano Nacional de Educação e Património e
o Observatório da Educação Patrimonial, em Portugal a educação para o
património está vagamente prevista nos programas da área de Estudo do Meio e
nas disciplinas de História e Geografia de Portugal, sem que haja uma programação
de incidência local ou regional e sem que se estimule a relação da escola com a
cidade e com o território. As escolas, enquanto espaços de transmissão da
herança científica e cultural e de descoberta de caminhos novos, deverão proporcionar
tanto educação científica, como educação para o património natural, popular e
cultural.
Com que satisfação, durante
o XXXIII Encontro da nossa Associação por terras de Loures, realizado em maio
de 2017, tomámos contacto com o trabalho notável dos alunos do Curso de Turismo
do IPTRANS (Instituto Profissional de Transportes), que tinha como projecto
educativo a recuperação da antiga Fonte das Almoinhas e das histórias com ela
relacionadas que procuraram conhecer através dos mais velhos!
A frase atribuída a Santo
Agostinho “só se ama aquilo que se conhece”, faz aqui todo o sentido!
Maria
Eugénia Gomes
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