quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Em preparação o nº 30 da revista ALDRABA








Encontra-se em fase adiantada de preparação o n.º 30 da revista "Aldraba", que será pontualmente editado no próximo mês de outubro de 2021.

Em pré-publicação, adiantamos já o editorial deste número da revista:


A EDUCAÇÃO E O PATRIMÓNIO

Os bens patrimoniais materiais e imateriais, enquanto testemunhos com valor de civilização ou de cultura, são possuidores, como bem sabemos, de interesse relevante designadamente histórico, arqueológico, arquitectónico, linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico, social, industrial ou técnico, e constituem parcelas estruturantes da identidade e da memória colectiva.

Ao reflectirem valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade, devem ser, obrigatoriamente, objecto de especial atenção em matéria de proteção e valorização. Atenção essa nem sempre acautelada!

Nesta matéria, como em tantas outras, as sociedades contemporâneas, em que é manifesto o apelo ao individualismo, defrontam-se igualmente com as vantagens e os inconvenientes resultantes da globalização, enfrentando um conjunto de desafios de que se salientam a relação entre a memória e o conhecimento científico, a tradição e o progresso, a sua gestão e sustentabilidade, e a preservação de identidades locais e regionais.

A facilidade de circulação das pessoas a nível global, o imparável crescimento das cidades e das zonas suburbanas, em contraste com o envelhecimento das populações e o abandono das áreas rurais, são alguns dos aspectos que abalaram conceitos, formas e modelos de abordar as questões que ao património respeitam.

Muito embora instituições nacionais e organizações internacionais, de que a UNESCO é um bom exemplo, produzam cada vez mais documentação em que realçam a importância do património e incentivem a participação de países e regiões a apresentar as suas candidaturas particulares a património da humanidade, de onde não raro resultam benefícios sociais e económicos, duas questões se nos colocam:

- Como poderá o património ser reapropriado ou reinventado pelas diversas comunidades locais em face do processo de globalização actual?

- Como resolver a aparente contradição entre os ideais pós-modernos da inovação, da liberdade individual, da urbanização, da competitividade, do culto pelo novo e pela juventude e a proteção, valorização e transmissão do património?

São múltiplas e diversas as possíveis respostas a estas questões. De difícil concretização, já que fazem apelo a intervenções complexas e multidisciplinares, e a investimentos em recursos nem sempre disponíveis.

Gostaríamos de chamar a atenção para a importância do que poderemos designar como eixo educação – Educação para o Património, seja em contexto educativo escolar, seja igualmente na educação e na formação ao longo da vida. Caminho longo e de resultados demorados, mas que contribuiria decisivamente para modificar as formas como hoje o cidadão encara as questões do património.

Ao contrário de Espanha, que se considera país de referência com o Plano Nacional de Educação e Património e o Observatório da Educação Patrimonial, em Portugal a educação para o património está vagamente prevista nos programas da área de Estudo do Meio e nas disciplinas de História e Geografia de Portugal, sem que haja uma programação de incidência local ou regional e sem que se estimule a relação da escola com a cidade e com o território. As escolas, enquanto espaços de transmissão da herança científica e cultural e de descoberta de caminhos novos, deverão proporcionar tanto educação científica, como educação para o património natural, popular e cultural.

Com que satisfação, durante o XXXIII Encontro da nossa Associação por terras de Loures, realizado em maio de 2017, tomámos contacto com o trabalho notável dos alunos do Curso de Turismo do IPTRANS (Instituto Profissional de Transportes), que tinha como projecto educativo a recuperação da antiga Fonte das Almoinhas e das histórias com ela relacionadas que procuraram conhecer através dos mais velhos!

A frase atribuída a Santo Agostinho “só se ama aquilo que se conhece”, faz aqui todo o sentido!

Maria Eugénia Gomes

 

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