Em algumas regiões de Portugal no dia 1 de Novembro, Dia de
Todos-os-Santos, as crianças saíam à rua e juntavam-se em pequenos bandos para
pedir o Pão-por-Deus de porta em porta. Noutras, era em casa dos avós e dos
padrinhos que recebiam o chamado “santoro”, “santorinho”, “pão das almas” ou “os
santos”.
Normalmente eram presentes que tinham a ver com o que a
terra dava - romãs, passas, nozes, tremoços, amêndoas e castanhas ou pão, broas
e bolos feitos de propósito para a ocasião.
Mandava também a tradição que nesse dia se repartisse pelos
mais pobres pão acabado de cozer, em honra dos fiéis defuntos.
As crianças, ao pedirem o pão-por-deus recitavam versos, assim
se dizia:
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À bela, bela cruz
Truz, Truz!
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de s'alevantar
Para vir dar um tostãozinho.
Se dão doces:
Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.
Se não dão doces:
Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho.
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto
Nos nossos dias, a progressiva implantação do Halloween em
Portugal constitui um exemplo de ameaça ou risco à continuidade do
“Pão-por-Deus” como manifestação do Património Imaterial português.
Assim, vemos substituídos os versos da tradição oral da
comunidade por expressões orais originárias do Inglês (“Doçura ou travessura!”
/ “Trick or treat!”) e o uso de máscaras e fatos muito semelhantes às usadas no
Carnaval, totalmente ausentes do “Pão-por-Deus”, tendo sido eliminadas por
completo as conotações religiosas muito presentes na antiga tradição do
“Pão-por-Deus” .
MEG
Muito pertinente. Gostei de ler. Já agora uma sugestão. Na Monografia de Alpedrinha, de António Salvado Mota, o autor conta essa tradição naquela vila do Fundão. Abraço.
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