Do recente nº 21 da nossa revista ALDRABA, reproduzimos o texto muito oportuno do seu editorial:
Portugal é hoje, fruto dos mais diversos contextos
sociopolíticos internacionais, um destino turístico de enorme procura. São
milhares, muitos milhares, os visitantes que diariamente demandam o nosso país.
Lisboa, Porto, Algarve, Sintra, Évora, o Douro e a Madeira,
entre outros menos procurados, são locais que integram os destinos de férias de
inúmeros cidadãos do mundo inteiro.
O turismo é, pois, um assunto incontornável e todos, por
certo, concordaremos que está na ordem do dia!
Múltiplas e diversas são as abordagens que o tema tem vindo
a merecer por parte de sectores que vão da economia à cultura, salientando uns
apenas os ganhos que proporciona, aludindo outros os prejuízos que acarreta ao
bem-estar dos residentes dos locais mais procurados e à preservação da sua
identidade, não esquecendo ainda outros de acentuar os malefícios que procura
tão intensa provocará na salvaguarda do património, das idiossincrasias e
história de comunidades e locais.
Em torno do turismo tem vindo a fortalecer-se o sector de
prestação de serviços por parte dos mais diversos agentes turísticos, de onde
sobressaem as agências de viagens e empresas de transportes, a restauração e a
hotelaria, com os consequentes benefícios no mercado de trabalho. Também a rede
de comércio viu igualmente reforçada e rejuvenescida a sua actividade.
E se é bem verdade que, no plano económico, o turismo pode
não ser “a galinha dos ovos de ouro” que muitos defendem, teremos que
reconhecer que está a contribuir para a dinamização de largos sectores de
actividade e a proporcionar os consequentes ganhos, directos ou indirectos que
daí advêm.
Assistimos, recentemente, à criação e disponibilização de
novos “produtos turísticos”, para o que tem contribuído o grande empenho e
envolvimento de muitas autarquias. Trata-se de propostas com uma forte
componente cultural, de que são exemplo o turismo aventura, o turismo rural ou
o turismo natureza, como sabemos estar a acontecer em grande parte do interior
do país, designadamente na zona das Serras da Estrela e da Gardunha, aí em
torno das Aldeias de Xisto e das Aldeias Históricas.
De igual modo, as áreas da gastronomia e da enologia são
hoje geradoras de fluxos turísticos próprios, tendo deixado de ser meros
complementos como tradicionalmente acontecia contribuindo, ou podendo vir a
contribuir, para o aproveitamento dos recursos endógenos e o consequente
desenvolvimento agrícola.
O antropólogo Paulo Lima, que coordenou a apresentação de
diversas candidaturas a Património Cultural Imaterial da Humanidade (Fado,
Cante e Arte Chocalheira), já no início de 2015 nos chamou a atenção para os
perigos que, na sua opinião, decorrem das relações nem sempre claras e
esclarecidas entre o património e a sua necessária salvaguarda, por um lado, e
as pressões decorrentes da globalização, dos mercados e do turismo.
Se as tradições e o saber fazer que ainda existe se
subordinarem acriticamente à comercialização e se transformarem em produtos
vendáveis, as memórias, identidades e história das comunidades e povos
perder-se-ão na voragem de um consumo descontextualizado e de muito curto
prazo.
Se rejeitámos e abandonámos o “orgulhosamente sós” do
salazarismo, que nos colocava à margem do mundo, se defendemos a afabilidade e
cordialidade com que recebemos quem nos visita, devemos fazê-lo de forma
criativa, esclarecida e guardando o maior respeito pelas nossas memórias e pela
genuinidade dos nossos usos, costumes e tradições!
Maria Eugénia Gomes
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