quinta-feira, 27 de julho de 2017

Turismo, mercados e globalização











Do recente nº 21 da nossa revista ALDRABA, reproduzimos o texto muito oportuno do seu editorial:

Portugal é hoje, fruto dos mais diversos contextos sociopolíticos internacionais, um destino turístico de enorme procura. São milhares, muitos milhares, os visitantes que diariamente demandam o nosso país.

Lisboa, Porto, Algarve, Sintra, Évora, o Douro e a Madeira, entre outros menos procurados, são locais que integram os destinos de férias de inúmeros cidadãos do mundo inteiro.

O turismo é, pois, um assunto incontornável e todos, por certo, concordaremos que está na ordem do dia!

Múltiplas e diversas são as abordagens que o tema tem vindo a merecer por parte de sectores que vão da economia à cultura, salientando uns apenas os ganhos que proporciona, aludindo outros os prejuízos que acarreta ao bem-estar dos residentes dos locais mais procurados e à preservação da sua identidade, não esquecendo ainda outros de acentuar os malefícios que procura tão intensa provocará na salvaguarda do património, das idiossincrasias e história de comunidades e locais.

Em torno do turismo tem vindo a fortalecer-se o sector de prestação de serviços por parte dos mais diversos agentes turísticos, de onde sobressaem as agências de viagens e empresas de transportes, a restauração e a hotelaria, com os consequentes benefícios no mercado de trabalho. Também a rede de comércio viu igualmente reforçada e rejuvenescida a sua actividade.

E se é bem verdade que, no plano económico, o turismo pode não ser “a galinha dos ovos de ouro” que muitos defendem, teremos que reconhecer que está a contribuir para a dinamização de largos sectores de actividade e a proporcionar os consequentes ganhos, directos ou indirectos que daí advêm.

Assistimos, recentemente, à criação e disponibilização de novos “produtos turísticos”, para o que tem contribuído o grande empenho e envolvimento de muitas autarquias. Trata-se de propostas com uma forte componente cultural, de que são exemplo o turismo aventura, o turismo rural ou o turismo natureza, como sabemos estar a acontecer em grande parte do interior do país, designadamente na zona das Serras da Estrela e da Gardunha, aí em torno das Aldeias de Xisto e das Aldeias Históricas.

De igual modo, as áreas da gastronomia e da enologia são hoje geradoras de fluxos turísticos próprios, tendo deixado de ser meros complementos como tradicionalmente acontecia contribuindo, ou podendo vir a contribuir, para o aproveitamento dos recursos endógenos e o consequente desenvolvimento agrícola.

O antropólogo Paulo Lima, que coordenou a apresentação de diversas candidaturas a Património Cultural Imaterial da Humanidade (Fado, Cante e Arte Chocalheira), já no início de 2015 nos chamou a atenção para os perigos que, na sua opinião, decorrem das relações nem sempre claras e esclarecidas entre o património e a sua necessária salvaguarda, por um lado, e as pressões decorrentes da globalização, dos mercados e do turismo.

Se as tradições e o saber fazer que ainda existe se subordinarem acriticamente à comercialização e se transformarem em produtos vendáveis, as memórias, identidades e história das comunidades e povos perder-se-ão na voragem de um consumo descontextualizado e de muito curto prazo.

Se rejeitámos e abandonámos o “orgulhosamente sós” do salazarismo, que nos colocava à margem do mundo, se defendemos a afabilidade e cordialidade com que recebemos quem nos visita, devemos fazê-lo de forma criativa, esclarecida e guardando o maior respeito pelas nossas memórias e pela genuinidade dos nossos usos, costumes e tradições!


Maria Eugénia Gomes

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