sábado, 30 de dezembro de 2017

Profissões e ofícios tradicionais























Quando fixámos em 2013 os descritores temáticos em que se organiza o acervo documental da ALDRABA, fomos explicando em sucessivos post's os critérios de estabelecimento e os conteúdos dos grupos de descritores adotados.

No post "O acervo documental da Aldraba (5) - Os ofícios, as ciências e o território", explicou-se o alcance do grupo "Profissões e ofícios", onde se diz, designadamente: "Este grupo – necessariamente em aberto – considera como descritores, apenas, as profissões e os ofícios tradicionais de que haja informação disponível para classificar".

Em 2017, estão compreendidos no grupo "Profissões e ofícios" 9 descritores (aguadeiros, alfaiates, amoladores, barbeiros, costureiras, ferreiros, moleiros, polidores de móveis e sapateiros), dos quais temos informação tratada, em especial artigos publicados na nossa revista semestral.

Estes 9 ofícios tradicionais não estão todos eles extintos ou em vias de extinção. Mas, sem exceção, foram todos atingidos pelas transformações sociais e económicas dos últimos séculos, e as funções que eles desempenhavam ou desempenham são agora asseguradas de outras formas. O engenho e a criatividade humanas vão encontrando tecnologias que podem libertar as pessoas para outras ocupações e para o lazer, e importa valorizar essa evolução.

Mas, jamais, poderemos deixar esquecer ou depreciar o esforço, a arte e a dedicação das gerações de trabalhadores que nos antecederam, e a ALDRABA continuará esse combate pelo conhecimento e pela recuperação das memórias!

Neste dealbar do ano de 2017 para 2018, um artigo da jornalista Cátia Mateus, na edição de hoje do caderno Economia do semanário "Expresso", enumera outros novos ofícios (por sinal, também 9) que, no seu entender, estarão "em risco" num futuro próximo:

- Carteiros (substituídos pelas comunicações eletrónicas);
- Portageiros (sistemas de pagamento automático nas autoestradas);
- Trabalhadores de armazém (inteligência artificial na logística das cargas);
- Empregados bancários (operações bancárias pela internet);
- Operadores de caixa (sistemas de pagamento self-service);
- Operadores de call-center (equipamentos de reconhecimento de fala);
- Recrutadores (software de entrevista a candidatos a emprego);
- Agentes de viagem (marcação de viagens online);
- Maquinistas e motoristas (comboios e veículos sem condutores).

Muita matéria para reflexão...

Um bom ano de 2018.

JAF




terça-feira, 26 de dezembro de 2017

“Tradição e sabedoria” : Levar água no bico



















Significado: Ter intenções ou propósitos ocultos.

Origem: Na linguagem dos marinheiros, “navegar com água no bico” significava remar contra a corrente levando água do mar na proa, o que tornava o mar traiçoeiro. A expressão foi adaptada e tornou-se naquela que conhecemos hoje.


Cafés Chave d’Ouro

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Jantar-tertúlia junta Aldraba na Caixa Económica Operária





























































Jantar-Tertúlia da Aldraba, na Caixa Económica Operária, cooperativa com 141 anos, no passado dia 18 de Dezembro, que contou com mais de vinte convivas.

Graças ao Vice-Presidente da Direcção Albano Furtado Ginja. 

Permitam-me que destaque o nosso associado, também Presidente da Casa de Tondela e Vice-Presidente da Associação das Casas Regionais em Lisboa, o fantástico Elísio Chaves. 

E o associativista Augusto Teixeira. 

Mas também Jacqueline Aragão, que nos presenteou com uma estrela linda de argila, ternurenta. 

E ainda Maria Beatriz Rocha-Trindade, companhia excelente, não desfazendo dos restantes, todas e todos maravilhosos, como Luís Ferreira que ofereceu dois postais com poesia, alusiva ao Natal, de sua autoria.

José Alberto Franco procedeu a um leilão para obtenção de fundos. 

E a alegria reinou, ao lado do espanto, na descoberta do edifício onde - segundo lembrou Isabel Galacho -, Maria Lamas e Fernando Lopes Graça fizeram inolvidáveis conferências, no tempo do Estado Novo, com todas as proibições que o regime deposto em Abril de 74 impunha aos intelectuais e artistas que não aceitavam a censura à Liberdade e aos Direitos Humanos.

LFM (texto e fotos)

sábado, 16 de dezembro de 2017

M.Beatriz Rocha Trindade apresentou revista da Aldraba






























Na tarde do dia 12 de Dezembro de 2017, a Aldraba fez o lançamento da sua revista nº 22, na Padaria do Povo, com apresentação de Maria Beatriz Rocha-Trindade. 


O Presidente da Cooperativa, José Zaluar, fez as honras da casa. 

José Alberto Franco apresentou a oradora. 

A professora Maria Beatriz foi incansável, na pesquisa que partilhou com todos, dissertando acerca de cada artigo, apresentando imagens e conhecimentos, que transcenderam largamente expectativas. Magnífica apresentação. Excelente Power Point. 

A sessão foi bastante concorrida e terminou num jantar de confraternização muito agradável.

LFM (texto e fotos)

domingo, 10 de dezembro de 2017

O nº 22 da revista ALDRABA em distribuição























Ficou concluída a publicação do nº 22 da nossa revista, cuja distribuição pelos associados teve já início e de que iremos ter o lançamento público na próxima 3ª feira, dia 12 de dezembro, pelas 18h30, na cooperativa Padaria do Povo (R. Louis Derouet, 20-A, 1º andar, Campo de Ourique, em Lisboa), com a apresentação da Profª Maria Beatriz Rocha Trindade.

Plano do nº22 da revista

EDITORIAL
O nosso património florestal em perigo
Albano Ginja

OPINIÃO
António Braz – O rambóia comendador
Nuno Santos

LUGARES DO PATRIMÓNIO
A Casa do Gaiato em Santo Antão do Tojal
Nuno Roque da Silveira
Visitando a Natureza
Carlos Henrique Carneiro

RITUAIS, TRADIÇÕES E REALIDADE
A possível origem da “bilha de segredo”
ou quem inventou essa piada?
Jacqueline Aragão

ARTES E OFÍCIOS
O regadio tradicional da aldeia do Mosteiro
João Coelho
O barbeiro Augusto
Luís Filipe Maçarico

SONS COM HISTÓRIA
A natureza no cante alentejano
Ana Isabel Veiga e Luís Filipe Maçarico

ALDRABA EM MOVIMENTO
Maio a Outubro de 2017
Maria Eugénia Gomes

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

23º Jantar-Tertúlia, na Caixa Económica Operária, dia 18.12.2017, 2ª feira, pelas 19h30






















Na quadra de Natal de 2017, o jantar-tertúlia da Associação ALDRABA vai ser na Caixa Económica Operária, na Rua Voz do Operário, 64 (à Graça), em Lisboa.

O jantar terá lugar no dia 18 de dezembro de 2017, 2ª feira, a partir das 19h30. A ementa será constituída por entradas (pão fatiado, azeitonas temperadas e patés), sopa de creme de legumes, pratos de lombinho de pescada e carne de porco frita, acompanhados de batata frita, arroz branco e salada de alface e tomate, doce e fruta, bebidas e café, tudo pelo preço de 15 € por pessoa

A Caixa Económica Operária é uma sociedade cooperativa de consumo, fundada há 141 anos. Foi criada em 4 de junho de 1876 por oito operários, numa pequena casa na Rua do Vigário. Passados onze anos, a 16 de agosto de 1887, passaram a ter casa própria, situado na Rua da Infância (atual Rua Voz do Operário), onde, para além dos armazéns para os géneros de consumo e escritório, contava também com um gabinete de leitura e biblioteca, e ainda uma sala da aula para os filhos dos associados.

Os associados e amigos que desejem participar neste jantar de confraternização devem manifestá-lo até 6ª feira, dia 15.12, por telefone ou e-mail, para a Maria Eugénia Gomes (T: 96 444 52 70, megomes2006@gmail.com), para o Albano Ginja (T: 91 477 39 56, albanoginja@hotmail.com) ou para a própria Associação (aldraba@gmail.com).


JAF

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A reintrodução do camponês


















O nosso associado Manuel Franco partilhou com a ALDRABA um interessantíssimo artigo de Jaime Izquierdo, estudioso espanhol dos problemas do mundo rural, que conhecera no âmbito de um debate sobre modelos alternativos de recuperação do ecossistema das montanhas ibéricas.
Aqui reproduzimos esse artigo, que também reputamos de enorme atualidade.
Segundo descreve o Manuel, começaram por debater o plano de intervenção ambiental municipal da Covilhã, ouviram duas excelentes comunicações, uma do Jaime Izquierdo e outra do Arq. Henrique Pereira dos Santos sobre floresta e as consequências dos incêndios, numa perspetiva muito fundamentada, pragmática mas nada catastrófica, e acabaram a "pôr as mãos na massa numa ação de voluntariado de recuperação de terrenos ardidos na reitoria da UBI".
Conforme escrevemos no agradecimento ao Manuel Franco, "o camponês tinha a precisão do cirurgião, a visão do alquimista e a arte de um diretor de orquestra que em cada momento se preocupava com a harmonia de tudo e de todos aqueles seres para que não houvesse notas dissonantes no seu viver. No seu viver com todos!"

Depois de reintroduzir o urso nos Pirenéus, o lince ibérico na Serra Morena, o pica-ossos nos Picos da Europa, o bufo-real na Orihuela e a lebre do piornal em Sória, e antes que o façam com o peneireiro e o galo-da-floresta, chegou a vez de reintroduzir o camponês, o montanhês, na montanha.

Na sequência de controlo e de manipulação da informação genética que fluía nos genes, destes às espécies e, por último, aos ecossistemas, escapara-se-lhe a presença ativa de um animal racional – o camponês, subespécie montanhês, que durante séculos tinha regulado, estimulado, restringido ou potenciado os fluxos entre animais e plantas, entre o solo e o voo, determinando o que se destinava ao cereal e ao bosque permanente de frutas de outono ou ao carvalhal e não só isso.

Com as suas misturas e seleções acabou por criar centenas de novas raças de animais e plantas — desde a vaca ratina à castanha valduna— e com as suas manobras acabou por conseguir um equilíbrio entre as partes. Fez tudo isso sem nunca ter ido à universidade e, o que é pior, a universidade nunca foi ter com ele.

Com precisão de cirurgião, com visão de alquimista, os fluxos de energia do sol, da água que move moinhos, da gravidade, do herbívoro, do predador, do animal de tiro e do porco reciclador, entravam e saíam por ciclos principais e secundários, em cadeias de alimentação e realimentação, de duração anual, compassadas com as estações.

O camponês era então o diretor de uma grande orquestra sinfónica que manobrava a batuta com que interpretava a partitura do lugar, no que tinha sido, e para o que tinha sido, instruído, e concertava todos os instrumentos da natureza para sobreviver e para propiciar que nenhum deles, nenhuma das suas notas, nenhum dos músicos que zurravam ou mugiam, deixassem de o fazer no ano seguinte.

Mas o camponês partiu, ou expulsaram-no, do monte. E o desconcerto apropriou-se do lugar. Algumas espécies dispararam os seus contingentes, outras perderam-se até desaparecer. Chegaram com soluções desde fora "plantaremos pinhos nas montanhas" disseram uns - "não, não, não, - disseram outros – reintroduziremos veados e logo lhe chamaremos espaço natural".

Depressa o mosaico de terras, socalcos, prados, costas, mato para estrume, malhadas e estábulos de inverno se foi dissipando. A paisagem tornou-se mais basta, mais monótona e o matagal expandiu-se como o colesterol nos obesos. Nada parecia ser a solução. As terras donde os camponeses tinham feito um traje que recobria a natureza, começaram a despir-se. O traje desfazia-se em pedaços puído pela negligência.

Entretanto, os cientistas industriais e analíticos inventariavam e cartografavam uma a uma as plantas e os burocratas tramitavam, perante a UNESCO, um novo reconhecimento honorífico para o monte. Por sua parte, os partidos políticos e os seus aparatos de governo, listavam as espécies em boletins oficiais e editavam luxuosos livros de montanhas com modelos de photoshop. E proibiu-se o corte de carrascos e o olhar de esguelha ao mergulhão.

E ninguém se lembrou que antes de tudo isso, apenas umas décadas atrás, existia ali uma ordem consensual, comunitária e oral, tão-só escrita em prescrições que, ao jeito de norma local e religião laica de obrigatório cumprimento, regulavam as formas, os procedimentos e os usos. As prescrições dos camponeses eram para os montes o que a Constituição é para o Estado democrático.

Ninguém se dava conta de que o mundo existia com independência da nossa capacidade para o investigar. Chegaram os guardas, as mil normas distintas, as fiscalizações do meio ambiente e, agora, chegam os turistas a observar os ursos e os jovens ultra atletas a correr por uma terra abandonada à sua sorte. E chegou também o fogo, um antigo criado do camponês que se reconvertera em chefe rufião de um bando de delinquentes.

Mas um dia alguém perguntou porque é que antes não havia incêndios, porque é que antes as espécies mais oportunistas não se tinham desenvolvido, porque é que as mais invasivas não eram tantas, porque é que as paisagens eram mais variadas, porque é que cada lugar tinha um nome, um uso e uma função. E repararam então no camponês, no pagador que assegurava as remunerações, no que fazia país, nomeava os sítios e fazia trajes como paisagens. Repararam tanto no diretor de orquestra extinto como no ruído insuportável que desde as Administrações fazemos agora no cenário cada um tocando o seu apito.

"Já não há camponeses, mas podemos voltar a fazê-los” disse alguém. "Ser camponês, uma nova profissão", disse outro. A universidade, onde germinava hegemónica a ciência da industrialização, deixou de armazenar mapas, informação e estatísticas e, com muito menos dinheiro, começaram a semear sementes de conhecimento. Saíram para as aldeias e perguntaram aos avós, pastores retirados.

Descobriram o pensamento sistémico, os princípios agroecológicos aplicados e o empirismo brilhante dos aldeões. Rebuscando nos patrões das velhas prescrições, encontraram soluções para desenhar os novos trajes da paisagem. Reelegeram Carlos III e os ilustrados de Pablo de Olavide, os institucionistas de Giner de los Ríos e Sierra Pambley.

Assim, a solução, finalmente, foi deixar de remendar e atreverem-se a reintegrar os camponeses nas montanhas órfãs, sem dúvida os seus melhores sócios.

Recolonizaram-na com os montanheses, com as suas comunidades e com as suas culturas locais. Regressaram mais jovens, melhor preparados. Com privilégios como os de Leitariegos. Livres de impostos contanto que o monte ficasse livre de incêndios, produzisse os queijos, as energias e as carnes que lhes são próprias e conservassem as formas paisagísticas ajustadas, em acordo com o Governo. O camponês, uma espécie extinta no século XX que foi necessário reproduzir antes de a reintroduzir no XXI -e já que a reproduzimos, a melhoramos— encarregou-se de devolver a música ao monte e a paisagem recobrou a harmonia perdida.

Não me recordo em que ano recomeçou a recolonização camponesa da montanha. Mas o que de facto me lembro, é que foi no mesmo ano em que ao Ministério de Fomento, Meio Ambiente e Conservação da Natureza lhe mudaram o nome para o de Fomento do sentido comum com os pés na terra e fecharam as Secretarias Técnicas.

Jaime Izquierdo