segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Sou barco

 









Sou barco

Sou barco abandonado
Na praia ao pé do mar
E os pensamentos são
Meninos a brincar

Ei-lo que salta bravo
E a onda verde-escura
Desfaz-se em trigo
De raiva e amargura

Ouço o fragor da vaga
Sempre a bater no fundo
Escrevo, leio, penso
Passeio neste mundo
De seis passos
E o mar a bater ao fundo

Agora é todo azul
Com barras de cinzento
E logo é verde, verde
Seu brando chamamento

Ó mar, venha a onde forte
Por cima do areal
E os barcos abandonados
Voltarão a Portugal

António Borges Coelho, 
Forte de Peniche, 1962

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