segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Concerto de chocalhofone em Alcáçovas










Condensação de artigo incluído no nº 18 da revista "ALDRABA", a ser lançado dentro de poucos dias:

Alcacevas, Alcassovas ou Alcáçovas. A sua origem perde-se no tempo, mas sabe-se que, no tempo dos romanos, foi famosa cidade de nome Castraleucos, que significa Castelos Brancos, a qual os mouros tomaram e mudaram-lhe o nome para Alcáçovas.

Não é de estranhar, segundo a tradição, terá existido um castelo para o lado norte que dominava uma vasta distância ao norte e nascente, que segundo refere o padre Joaquim Pedro de Alcântara “existiam por lá vestígios de antigas edificações”.

Em 1259, D. Martinho I, Bispo de Évora, e o seu cabido, dão foral à limitada aldeia de Alcáçovas, cuja jurisdição lhes pertenceria. D. Afonso III, senhor das Alcáçovas, elevou-a à categoria de Vila, melhorando-a e acrescentando-a consideravelmente.

D. Dinis dispensou à vila as maiores regalias e privilégios, ordenou que nunca mais saísse da coroa nem se desse a pessoa alguma. Terá transformado em paço real o antigo castelo. Passava largas temporadas naquela vila e dizia que ali tinha juntas, num só lugar, a sua Sintra e Almeirim, porque, sendo Sintra deliciosa no verão e fria no Inverno, Almeirim amena no Inverno e insuportável no verão, Alcáçovas era agradável nas duas estações.

D. Dinis ainda mandou arrancar pedra para cercar a vila, que não se efectuou por via de sua morte.

É em Alcáçovas que, em 1479, se assina o tratado de Alcáçovas/Toledo que deu um fim à guerra de sucessão de Castela.

Dito isto, a nossa ida a Alcáçovas prende-se com o facto de, no âmbito da candidatura da Arte Chocalheira a Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente, assistirmos ao Concerto de Estreia do Chocalhofone Alentejano, em 21 de Junho de 2015.

Este instrumento é concebido com a utilização de chocalhos, escolhidos nos seus diversos tamanhos, que produzem naturalmente sons completamente diferentes uns de outros e com os quais é possível transmitir música erudita.

O chocalho tem sido utilizado na música erudita há bastante tempo, mas sempre como instrumento não afinado e sempre individualmente.

Segundo o maestro e compositor Christopher Bochmann, a ideia não é nova, dado que já haviam sido construídos instrumentos deste tipo. Eram essencialmente feitos de chocalhos alpinos e terão sido utilizados por um compositor francês, nalgumas peças musicais.

Este ano, e dada a candidatura do chocalho a património, pensou-se construir um instrumento com os chocalhos artesanais das Alcáçovas, fazer a ligação entre o som do campo e a natureza, por um lado e o som da sala de concerto e o raciocino humano (palavras do maestro), que acrescenta:

“A peça Pastorale que escrevi para a estreia do instrumento pretende reflectir precisamente a ligação entre estes dois mundos sonoros”.

Estas as palavras do Maestro que tão bem nos soube explicar, cativar e ensinar que para além do título sugestivo a música faz ainda referência a outras obras de Beethoven e Arthur Honegger.

Dizer que na Igreja Matriz de Alcáçovas se ouviu música de Elgar, Bruckner, Meyerbeer, Brahms e Bochmann, excelentemente interpretada pela Orquestra Sinfónica Juvenil, sendo o Chocalhofone tocado pelo jovem Rui Pinto, sob a direcção de Christopher Bochmann. Fechou com a Marcha de Pompa e Circunstância, op. 39, nº1, que deliciou o público que enchia completamente a Igreja.

Além de ouvir muito boa música excelentemente interpretada, ver de perto o novo instrumento tendo como origem os chocalhos de Alcáçovas, foi um momento mágico.

Maria do Céu Ramos

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