quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O acervo documental da ALDRABA (16) - Cante












Retomando a publicação da lista dos textos que constam do nosso acervo, divulgamos hoje os trabalhos que saíram na revista "Aldraba" relativos ao descritor CANTE, integrado no grupo temático “Práticas do património”: 


CANTE
Ana Isabel Veiga e Luís Filipe Maçarico, “A natureza no cante alentejano”, nº 22 (Out.2017), p.18
Ana Machado, “O cante alentejano na Margem Sul”, nº 2 (Nov.2006), p.7
Luís Afonso, “A ópera e o cante alentejano”, nº 20 (Out.2016), verso da capa
Luís Afonso, “O problema é a corrupção”, nº 17 (Abr.2015), verso da capa
Luís Ferreira, “Ao cante alentejano”, nº 17 (Abr.2015), verso da contracapa
Paulo Lima, “Património cultural imaterial: conceitos e formas desadequadas de olhar a paisagem…”, nº 16 (Out.2014), p.7
Rosa Dias, “O cante alentejano no Porto”, nº 4 (Dez.2007), p.13


Os leitores e amigos que pretendam aceder a alguns destes textos e que se manifestem em comentário ao presente post, ou por e-mail para aldraba@gmail.com, receberão uma cópia digitalizada do ou dos artigos que indicarem.


JAF  (foto: http://arronchesemnoticias.blogspot.com)

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

XXXVII Encontro: "A Comenda e o Património", Gavião, 1-2/9/2018













Iremos realizar no 1º fim de semana de setembro, nos dias 1 e 2, o nosso XXXVII Encontro temático, no concelho alto-alentejano do Gavião.

O Encontro vai estar centrado na localidade da Comenda, onde será feita a apresentação de um livro etnográfico do nosso associado Jorge Branco e onde também decorre nesses dias uma tradicional e rica festa religiosa.

Iremos igualmente visitar vários locais de grande interesse ao longo do concelho do Gavião, e teremos um momento associativo com o orfeão da Comenda.

Programa do Encontro (ainda sujeito a afinações):

Sábado, 1/9
10h00m: Ponto de encontro em Belver, em frente da Fábrica das Tapeçarias (para quem fizer a viagem de automóvel pela A23, aconselha-se a saída da autoestrada nas Mouriscas, https://goo.gl/maps/NBKQSj5P6Vo);
10h15m : Visita às Fábricas dos Tapetes e dos Sabões;
12h30m: Deslocação para a Comenda, onde se almoça no “Centro de Dia” –sabores da gastronomia local (preço de 10€ por pessoa);
14h30m: Apresentação do livro “Comenda com Gente”, de Jorge Branco, no Salão Paroquial e Comunitário da Comenda;
17h30m: Encontro com o orfeão local “Estrela da Planície”;
A partir das 19h00m, jantar livre no espaço das festas da Comenda;
Dormida no Gavião, na Residencial (preço de 15€ por pessoa).

Domingo, 2/9
9h30m: Visita ao Castelo de Belver;
11h30m: “Como se faz o carvão” – Visita aos fornos de carvão e conversa com um carvoeiro;
13h00m: Almoço na Comenda, no mesmo local da véspera (ementa típica alentejana, preço de 8€ por pessoa);
Tarde: Assistir às animadas festas religiosas de Castelo Cernado, em honra de Nossa Senhora das Necessidades.

Desafiam-se todos os associados a integrarem esta deslocação ao Alto Alentejo nos vossos calendários, e a divulgarem o convite a familiares e amigos.

Venham assinalar connosco o fim de férias e o recomeço das nossas atividades.

Manifestem com antecedência a intenção de participar, escrevendo para o endereço aldraba@gmail.com, ou por telefone/sms para o Nuno Silveira (TM: 96 291 60 05) ou para a Mª Eugénia Gomes (TM: 96 444 52 70). Se possível, comuniquem até ao domingo 26 de agosto.


Como sempre, é possível e vantajoso combinar idas em conjunto, por razões de economia e de convívio.

JAF

sábado, 11 de agosto de 2018

"Guardar de Conrado o prudente silêncio"



















Entre muitas outras iniciativas ligadas à realidade do nosso  património, a Aldraba tem~se dedicado a descodificar expressões, frases e ditos que entraram nos usos populares, e cuja origem interessa conhecer. 

O povo apropria-se das manifestações culturais dos estratos sociais mais favorecidos, adapta-os e faz deles ferramentas de comunicação populares, com toda a legitimidade.

A nós, que há 13 anos nos decidimos entrar neste combate, cabe-nos colaborar, discreta mas persistentemente, num processo estimulante e interminável.

A frase que dá título ao post de hoje tem um grande sabor erudito, mas temos que esclarecer de onde provém.

Segundo Maria Regina Rocha (Ciberdúvidas,  expressão deve ser uma variante da célebre frase «J´imite de Conrart le silence prudent», escrita por Boileau, referindo-se a Valentin Conrart.
Valentin Conrart foi um escritor francês de pouca nomeada, que nasceu e morreu em Paris (1603-1675). 
O pai quis destiná-lo ao comércio, mas, tendo aquele falecido cedo, o jovem Conrart, rico e ambicioso, dedicou-se exclusivamente às letras, reunindo em sua casa excelentes escritores, que vieram a constituir a Academia Francesa (1634), da qual Conrart foi secretário. 
Foi também conselheiro e secretário particular do rei. Era um homem muito culto que escreveu muito, mas poucas obras publicou, dedicando-se, sim, à publicação de obras de outros escritores.
Foi vítima do sarcasmo de alguns escritores, entre os quais Boileau. Tornou-se célebre a sátira de Boileau dirigida a Conrart, que começa: «J´imite de Conrart le silence prudent.» Referia-se Boileau à decisão de Conrart de não falar de determinado assunto, ou por o desconhecer ou por não lhe convir referir-se a ele.

Em 20.5.2006, Miguel Sousa Tavares fez, no "Público", o elogio do silêncio de Sócrates. Era decerto um elogio justo quando se refere à capacidade demonstrada pelo novo primeiro-ministro para gerir o silêncio e demarcar-se da loquacidade errática do seu antecessor Santana Lopes. 
Pode guardar-se "de Conrado o prudente silêncio", mas também constatar, como no Hamlet, que "o resto é silêncio". Em política só se deve falar quando se tem uma coisa importante para dizer. Mas quando não se dizem as coisas importantes a tempo e horas, ou apenas depois de toda a gente ter percebido o que já devia ter sido dito e não o foi, o silêncio revela-se um mero estratagema para adiar a verdade. 
A comparação do silêncio de uns com o papaguear caótico de outros não chega, por si mesma, para tornar esse silêncio virtuoso. Os pecados de uns não são penhor da santidade dos outros. E a cacofonia comprova que silêncios há muitos e nem todos são propriamente de ouro.
Mais tarde, em 1.9.2008, o "Comendador Marques de Correia" (heterónimo de Henrique Monteiro), dirige-se ao diretor do "Expresso" nos seguintes termos:

"Escrevo-te esta carta para veres se acertas um editorial. O que os comentadores dizem sobre política é totalmente absurdo, porque ninguém - nem o José Pacheco Pereira, esse preclaro tradutor das pitonisas modernas - percebeu o que se passa. Ao contrário de todos eles, eu entendi perfeitamente e não só tenho uma leitura sobre o assunto, como vários conselhos a distribuir pelos intervenientes do processo político.
A conclusão é simples. Basta pensar no que diz o povo sobre os políticos - que falam muito e não fazem nada!
Foi quando José Sócrates descobriu que Manuela Ferreira Leite não descia nas sondagens que decidiu adoptar o mesmo método que a líder do PSD: não falar. Por isso esteve caladinho durante toda a história da insegurança.
Pois Manuela Ferreira Leite foi a primeira, a precursora de um estilo que responde por inteiro às preocupações populares e sem perder a face. Como os outros políticos, também ela não faz nada, mas ao contrário dos outros, também não diz nada.
Deste modo simples, se soluciona a contradição. De facto, não faz sentido alguém apontar para Manuela Ferreira Leite e dizer: "Olha, lá vai aquela! É mesmo política - não fala nada e depois não faz nada!"
Claro que Sócrates, intuitivo como é - não nos esqueçamos que foi ele a postular "Só sei que nada sei" -, apanhou muito bem a ideia. E assim decidiu dizer o menos possível.
O povo clama por insegurança, o ministro Rui Pereira sua as estopinhas face a uma Judite de Sousa inquiridora, e ele - ao contrário precisamente do que acusam os políticos - guarda de Conrado o prudente silêncio (não sei por que raio Conrado passa a vida a entregar o seu prudente silêncio à guarda dos outros, mas também não vou investigar esse pormenor neste momento).
Assim, guardando Manuela e guardando José Sócrates, o prudente silêncio vai-se paulatinamente instalando na política portuguesa. O meu objectivo para o ano 2009 seria alargá-lo até ao futebol. Aí, sim, seria um grande alívio.
Mas, para já, tratemos da política. O que devem agora fazer os dois mais importantes líderes? Estar calados. O epítome desta política inteiramente nova é um debate em que ambos se olhem fixamente - tipo jogo do "sério" - e que perca, não o primeiro a esboçar um sorriso, mas o primeiro a dizer uma palavra, a emitir um som. Nem que seja o som de um bocejo.
Nesse dia, chegaremos à elevação máxima do debate. Àquele que, no dizer dos filósofos, é indizível, razão pela qual nada mais há senão o silêncio. O absoluto silêncio.
Não sei se, depois disto, ainda haverá pessoas como o prof. Marcelo - que nada mais vêem do que o imediato - a preocupar-se com o silêncio dos líderes.
Na verdade, é aí que está o futuro. Porque, de qualquer maneira, por mais que falem, já quase ninguém os ouve.
Vê lá, caro Director, se depois disso fazem por aí análises políticas mais decentes".

JAF