terça-feira, 23 de junho de 2020

Viva o Santo António! Viva o São João!



















Viva ó Sto. António, viva o São João, viva o 10 de Junho e a Restauração! Viva até São Bento, se nos arranjar! Muitos feriados para festejar!


Ao longo deste mês de junho, comemoramos por todo o Portugal o Santo António, o São João e o São Pedro!

Estamos em 2020 num ano muito especial, em que os constrangimentos de saúde pública nos obrigam, a todos nós, a restringirmos drasticamente o convívio, a partilha, a riqueza do nosso viver coletivo. Sabemos e respeitamos essa situação, mas isso é diferente de apagarmos as nossas memórias e os nossos sentimentos.

Assim, a associação ALDRABA assinala hoje o dia de SÃO JOÃO, que é tão caro às gentes do Norte, mas também a vários outros pontos do país. E, de tacada, aqui ficam as evocações ao Santo António e ao São Pedro…


“Estamos em tempo de Santos Populares. Há bandeirolas coloridas espalhadas pelas ruas, manjericos nas janelas e nas montras das lojas. Cheira a sardinha assada. Ouvem-se as marchas em honra de Santo António, o santo casamenteiro.

Santo António viveu entre os séculos XII e XIII, nasceu em Lisboa por volta de 1195 e foi batizado com o nome de Fernando. Ingressou na Ordem dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz, que seguiam a Regra de Santo Agostinho, no convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, posteriormente para o convento de Santa Cruz de Coimbra, onde aprofundou os seus estudos. Tornou-se franciscano em 1220 e viajou muito. Pela sua cultura teológica e eloquência, foi nomeado Mestre em Teologia em Bolonha. Morreu em Pádua, talvez com 40 anos. Foi canonizado pela Igreja Católica pouco tempo depois. É padroeiro da cidade de Lisboa e da cidade de Pádua, também.

Adoro as festas de Santo António, principalmente as de Lisboa com as marchas. A festa cheira a sardinha e a manjericão. Santo António tem também aí a devoção dos noivos – Se o bendito Santo António / este ano me casar / cá voltarei para o ano / pôr flores no seu altar. São tão bonitos os casamentos de Santo António! O manjericão enfeita o trono do santo existente em cada bairro da cidade. Algumas fogueiras ainda se vêem, resquícios das velhas festas dos solstícios que celebrava o sol. Muita diversão e alegria!


O meu santo predileto é o S. João. Talvez pela ternura que transmite com o cordeirinho ao colo ou então pela própria história de vida de S. João Baptista.

Não se sabe bem quando começaram os festejos a S. João. Oficialmente, trata-se de uma festividade católica em que se celebra o nascimento de João Baptista. A festa de S. João no Porto tem origem no solstício de Verão e, inicialmente, tratava-se de uma festa pagã. Festejava-se a fertilidade associada à alegria das colheitas e da abundância. Mais tarde, a Igreja cristianizou esta festa pagã e atribui-lhe o S. João como padroeiro.

Consta na crónica de Fernão Lopes que, por alturas do S. João, se terá deslocado à cidade para preparar a visita do rei para a grande festa que aí se fazia. Também por essa altura, a Câmara Municipal do Porto se reunia em Assembleia Magma, no claustro do Mosteiro de S. Domingos, porque o espaço era grande, e se procedia à eleição dos vereadores e se tomavam decisões muito importantes para a cidade.

João, melhor dizendo João Baptista, foi um profeta que previu o advento do Messias na pessoa de Jesus. A noite de 23 de Junho, véspera do dia de S. João, marca o início da festa de S. João Baptista.

Segundo o evangelho de S. Lucas, João Baptista nasceu seis meses antes de Jesus. Assim sendo, a festa de S. João foi fixada para 24 de Junho, exatamente seis meses antes do Natal.

Remonta ao período medieval a celebração dos Santos Populares, Santo António, S. João e S. Pedro. Segundo os evangelhos, S. João é o maior dos profetas porque pode apresentar o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. O dia de S. João é um dos mais antigos festivais do cristianismo, já aparecendo no Concílio de Agde, em 506 dC, como um dos principais festivais da época, celebrado com três missas: uma pela manhã, uma ao meio-dia e outra ao por do sol. O nascimento deste santo é celebrado pelas Igrejas Católica, Anglicana e Luterana. Na Igreja Ortodoxa, S. João Baptista é geralmente chamado de S. João, o precursor, ou seja, o objetivo da sua vida foi preparar o Caminho para o advento de Jesus.

A festa de S. João no Porto é uma festa cheia de tradições, dos quais se destacam os alhos-porros, usados para bater nas cabeças das pessoas que passam, os ramos d cidreira, usados pelas mulheres para pôr na cara dos homens que passam e o lançamento de balões de ar quente. A partir dos anos 70, foram introduzidos os martelinhos de plástico. Não acho muita piada a isto, confesso… Existem ainda os tradicionais saltos nas fogueiras espalhadas pela cidade, normalmente nos bairros tradicionais, os vasos de manjericos com versos populares e o fogo de artificio à meia-noite, junto ao Rio Douro e à ponte D. Luís.


Para a semana festejamos o S. Pedro.

Pedro, um dos doze apóstolos de Jesus, considerado o primeiro Bispo de Roma e o primeiro Papa.

Pensa-se que o seu verdadeiro nome fosse Simão Pedro. Era pescador e tornou-se apóstolo de Jesus. Depois da morte deste, Pedro tornou-se pregador da nova doutrina, tendo passado por várias cidades na sua evangelizadora. Por causa disso, foi martirizado em Roma entre 64 e 67 dC. O seu túmulo está localizado na Basílica de S. Pedro, no Vaticano, e foi descoberto em 1950 após anos de meticulosas investigações.

A mais antiga imagem conhecida do apóstolo Pedro foi descoberta em 2010, nas catacumbas sob a cidade de Roma, e data do século IV. No mesmo lugar, foram também descobertas imagens dos apóstolos Paulo, André e João. As obras fazem parte de um grupo de pinturas em torno de uma imagem de Jesus Cristo como o Bom Pastor no teto do que os estudiosos acreditem ter sido o túmulo de um nobre romano.

(…)

Vivam as festas populares!”



Reproduzido de http://www.meninacatita.com/2018/06/21/viva-santo-antonio-viva-s-joao-la-la-la-la-ri-lo-la/

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Beldroegas, poejo, orégãos, coentros e outras delícias
















A exposição "Memória de Cheiros Esquecidos" é uma plataforma de comunicação focada em questões relacionadas com a alimentação, agricultura, industrialização, monocultura, ecossistema, biodiversidade, saúde, sustentabilidade e etnografia.

Está patente na sala Olivença da Casa do Alentejo, desde o dia 10 de junho de 2020, aquando da comemoração dos 97 anos da criação desta notável casa regional.

Trata-se de uma exposição de etnobotânica, que resultou de um programa de interação com os habitantes de Vila Alva, uma aldeia do concelho de Cuba, no Baixo Alentejo.

12 meses, 12 espécies, 12 pessoas e 12 pratos foi a chave para o programa, que consistiu numa primeira fase, na identificação de 12 espécies botânicas, da flora local, e na sua relação com um dos 12 meses, de acordo com a sua sazonalidade.

As 12 espécies vegetais, relacionadas com os 12 meses de janeiro a dezembro, são as seguintes:

Poejo
Carrasquinha
Catracuz
Silarca
Alho comum
Beldroega
Hortelã da ribeira
Orégão
Hortelã comum
Acelga
Cardo do leite
Coentro

De seguida relacionaram-se 12 pessoas, ainda com uma memória presente da vida ligada à natureza, com as 12 plantas e os respetivos meses.

Por fim, foi pedido às pessoas que recordassem a receita de um prato, da dieta tradicional, a partir da planta que lhes foi atribuída.

Dos conteúdos gerados a partir desta interação foram criados os painéis, que reúnem ilustrações e informação científica das espécies, assim como fotografias, dados biográficos e as receitas partilhadas pelas pessoas que colaboraram no projeto. A exposição conta ainda com um herbário com amostras das espécies que foram possíveis tratar e reunir.

A Casa do Alentejo apresentou a exposição no âmbito das comemorações do seu 97º aniversário, neste dia 10 de junho, sendo que, pelas restrições impostas pelas autoridades de saúde, as visitas estiveram limitadas à lista de convidados da Casa do Alentejo, pelo que a exposição só passou a estar disponível ao público de 11 a 30 de junho, todos os dias, entre as 12.00 e as 21.00h.
O autor da exposição, que é o designer Fernando Estevens, na impossibilidade de estar presente todos os dias para receber quem tenha interesse em visitar a exposição, irá promover duas visitas guiadas, nos dias 18 e 25 de junho, pelas 18.00h.
A associação Aldraba teve o privilégio de conhecer a exposição e o seu autor no dia 10/6/2020, e estimula todos os nossos amigos e associados a comparecerem neste espaço de excelência relativo ao conhecimento e à valorização do património natural alentejano.
JAF

sexta-feira, 5 de junho de 2020

O povo das palavras










A sua forma essencial é de ar articulado. Mas também pode ser de letras ou de gestos.

Uma sociedade de palavras chama-se língua.

Há famílias de línguas, línguas maternas, línguas irmãs, línguas de origem, línguas de contacto. Nascem, crescem, decaem, ficam moribundas e morrem. Nelas há produção e reprodução. Há palavras masculinas, femininas e neutras. Até há algumas que são pares mínimos! Palavras de todos os tempos: imperfeitos, perfeitos e mais que perfeitos; do passado, do presente e do futuro. Há primeira pessoa, segunda pessoa... até à sexta que são os eles todos. Fazem flexões e conjugações. As palavras perduram mais que as pessoas de carne e osso.

A maioria são feitas da matéria de outras que viveram antes delas. Vão fermentando sentidos com que captam o colorido do mundo. Vão lançando pequenos tentáculos como prefixos e sufixos e com eles expressam o carinho, a pequenez, a grandeza, a futilidade, a abundância, a repetição, a ausência, o modo, o ofício, o acto e o abstracto.

As palavras conhecem o seu lugar na sociedade. Sabem que um sujeito só o é quando um verbo o espera. Que há acções que actuam sem qualquer sujeito visível, como “chover”, embora a chuva se veja muito bem. Viver tem sempre sujeito, mas o sujeito também existe mesmo se o seu verbo for morrer.

As palavras juntam-se com traços de união que são as alianças delas.

Muitas sobrevivem de embarcar em contentores de navios, outras, temerosas e tremendas, escondem-se em labirintos de sussurros, outras pipilam quiquiriquis em lábios de criança, outras são forjadas e polidas em salões de espelho a fim de matar outras que nascem nos montes aos molhos.

Grandioso e formigueiro é o povo das palavras.

Há palavras vítimas ou triunfantes ou heroínas. As vítimas ficam agarradas a tempos arrepiantes, multiplicando vítimas entre os seres vivos. “Apocalipse”, “Holocausto”, “Hiroshima”, “Miséria”. As triunfantes agarram-se com desespero ao momento que passa, famintas de eco. “Ganhar”. “Vencer”. “Conquistar”. “Ambição”. As heroínas são as que arrancam alguém à atrocidade do sofrimento. Ninguém diria, ao ouvi-las, que são heroínas. “Bisturi!” - e o moribundo revive. “Bombeiros” – e o perigo é debelado. “Coragem!” – e alguém consegue aguentar mais um pouco, “Segure-se!” – e a velhinha que não conseguia descer as escadas é levada pelo braço de um príncipe sonhado, como num feitiço de beladona.

Importantes, as palavras assassinas :“Fome”, “Sede”, “Morte”, “Dor”, “Ódio”, “Incompetente!” ,“Está despedido!”, “Corrupto!”, “Pedófilo!”, “Austeridade”, “Doença”... além de ditador, carrasco, tortura, todas com letra pequena por desalmadas que são.

Para as palavras assassinas e malfeitoras não existem prisões. Elas esvoaçam como as outras , mas por onde passam deixam um rasto de infelicidade. Enquanto as palavras boas... as que aparecem em todos os manuais da civilidade, essas fazem o mundo rodar melhor. “Amor”, “Paz”, “Felicidade”, “Saúde”...“Um copo”.

Podia falar também das maleitas que acometem as palavras, sobretudo quando existem sob a forma de letras. Mas adiante.

Resumindo, acontece com as palavras exactamente o mesmo que acontece connosco, pessoas de carne e osso. E de palavra.

As pessoas são o conjunto de todas as palavras que conseguem dizer e provocar, enquanto as palavras são escravas livres, ao serviço da gente. Que tolice. Livres? As palavras escravas? Que te parece, amig@, a ti que tanto sobre elas, com elas, meditas?

5/6/2020


Manuela Barros Ferreira