quinta-feira, 27 de julho de 2023

O acervo documental da Aldraba (27): Pesca

 










Textos publicados sobre este tema na revista ALDRABA que, como acontece com os temas tratados nos 26 post’s anteriores desta série, estão disponíveis por cópia a quem o solicitar através do endereço aldraba@gmail.com:

  

PESCA

Cristina Borges, “O mar como património”, nº 4 (Dez.2007), p.7

Fernando Chagas Duarte, “Bacalhau, património português”, nº 3 (Jun.2007), p.15

Fernando Chagas Duarte, “Sem sardinha não há conserva – contributo histórico para a compreensão da indústria de conservas de peixe em Portugal”, nº 27 (Abr.2020), p.2

Glória Montes, “A lota de Lagos”, nº 9 (Out.2010), p.5

José do Carmo Francisco, “A cultura dos avieiros candidata a património nacional”, nº 8 (Dez.2009), p.16

Luís Filipe Maçarico, “Arte xávega: um património secular”, n.º 28 (Out.2020), p.22


JAF

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Humana falência


 

Na edição de hoje do "Expresso", a cronista Clara Ferreira Alves refere-se de modo expressivo à devastação de muitas realidades nacionais que tem visitado, designadamente no domínio patrimonial, fruto da desestruturação das respetivas sociedades.

Saibamos nós, em Portugal, resistir a este processo transversal.

Humana falência

Por vezes, visitamos um país em apuros e somos levados por uns locais cheios de nostalgia a ver as glórias do passado, projetos de arquitetura com a monumentalidade incompleta, do tempo em que havia dinheiro e ambição. Uma certa independência que viria a ser mal administrada, descambando numa sujeição ao estrangeiro que atrai o nacionalismo destrambelhado.

Aconteceu-me na Venezuela, no Egito, na Argentina, no Iraque, noutros lugares, antes dos golpes e das crises, das bancarrotas e das intervenções financeiras, antes das guerras e das invasões, dos feridos e dos mortos, antes das disputas religiosas e tribais, antes dos fundamentalismos e dos desvios extremistas da geoestratégia e da política local que conduziram a uma mentalidade de barricada com corrupção desenfreada e à construção de plutocracias ou de oligarquias civis e militares.

Que oscilam entre esquerdas e direitas com a velocidade de uma porta giratória sem travão. Países arruinados no período pós-colonial, com a cumplicidade própria e a ganância epicurista dos que sabem que não são donos do seu destino e podem ser comprados. Naipaul escreveu sobre este mundo.

Uma universidade que não chegou a ser ou ainda é, mas onde as paredes perderam a cor e se desfazem ao tato, um bairro social inacabado rodeado de barracas, um centro comercial deserto, um monumento meio reabilitado, um templo que sugou o dinheiro e faz justiça ao mau gosto, um museu com nichos vazios e obras-primas empilhadas e cobertas de poeira, sem vigilância nem inventário, uma estátua coberta de graffiti numa praça que assistiu a cenas de violência, murais gigantescos com heróis desbotados e esburacados pelas balas.

É um espetáculo de humana falência, e pensamos que tudo aquilo se passou num tempo curto, umas décadas de maus governos e de maus atores. Uma vez instalada a decadência torna-se quase impossível invertê-la. Os candidatos da mudança começam a ser piores que os anteriores, criados num ninho de falsas equivalências e pelejas territoriais que geram os homens sem qualidades.

Clara Ferreira Alves, in “Expresso”, 7/7/2023