quarta-feira, 31 de março de 2021

Rés-vés Campo de Ourique


 “Rés-vés Campo d`Ourique”

Foi mesmo, mesmo à justa? 

Então ficou rés-vés Campo de Ourique! 

Embora haja várias teorias sobre esta expressão, a mais consensual diz que remonta ao Terramoto de 1755 e ao violento maremoto que se seguiu. Este atingiu quase toda a cidade, mas não chegou ao bairro. Por um triz!

Há também quem diga que se deve ao traçado urbano de Lisboa no século XVII, cujos limites da cidade terminavam em Campo de Ourique, mais propriamente na Rua Maria Pia. Ou seja, ficava “à justa” de Lisboa.

"Lisboa Secreta"


sábado, 27 de março de 2021

Nestes meses tão difíceis
















Está concluído, e entregue na gráfica para composição e impressão, o conteúdo do n.º 29 da revista ALDRABA, que contamos ter impresso e disponível para todos os associados e amigos no início do próximo mês de abril.

Foi muito estimulante a adesão que se manifestou ao nosso apelo para colaborações na revista, tendo nós recebido para publicação um total de 20 textos de 19 autores.

Em pré-publicação, divulgamos hoje o editorial, redigido pelo vice-presidente da Direção Nuno Roque da Silveira:


Nestes meses tão difíceis que atravessamos, em que temos sido obrigados a distanciar-nos, nós que nos juntámos por um amor a um ideal associativo, ansiamos por aquela luz ao fundo do túnel que nos permita de novo voltar a estar juntos. No entanto, algumas coisas muito boas têm sucedido e lembremo-nos delas para festejarmos o existirmos e nelas participar mais ao menos activamente.

O interesse pela defesa do património material e imaterial que vamos herdando, vai sendo cada vez mais demonstrado pela atitude activa que vemos crescendo por todo o lado.

Talvez um pouco a reboque do que outros “lá fora” nos deram exemplo, mas também por um sentido de esclarecimento que se vai cimentando numa larga fatia da população e do amor que nasceu pelas suas coisas. Não fomos bafejados pela riqueza que Gregos, Romanos ou Árabes deixaram por esse mundo fora.

Países como a Grécia, Turquia, Itália, Espanha podem mostrar maravilhas inimagináveis no nosso Portugal. Mas sentimos por todo o lado interesse em preservar e restaurar o nosso pequeno património, e se é esse mesmo que temos, devemos respeitá-lo e passá-lo em testemunho aos nossos vindouros: um moinho de madeira girando o seu todo numa base redonda de pedra, um menhir levantado marcando algo sobrenatural, uma olaria ingénua que tem prendido durante séculos o homem à roda e à feitura de objectos de culto, de uso, ou lúdicos.

Ainda os bombos de Lavacolhos, que na serra da Gardunha amedrontaram os indesejados franceses de Napoleão, ou qualquer pequena capela dedicada a qualquer lendária aparição, como Santo Amaro em Gontijas. Também as tradições celtas, mouras ou judaicas que ajudaram a construir a nossa identidade.

Continuar a procurar e a descobrir o nosso passado para o projectar no futuro.

Agora parece haver uma vila romana por desventrar debaixo da Avenida da República ao chegar ao Campo Grande nesta Lisboa, que não sabemos se será de Ulisses ou de Lísia, bisneta de Noé!

Mas nesta Primavera que desponta, saudemos pertencer a uma geração que tem a benesse de acolher a grande figura do Papa Francisco, que nos tem trazido com a sua doutrina, com a sua palavra, modéstia, abnegação, entrega, um sentido de missão que nos faz acreditar que ainda há um lado de humanidade, de bondade que será possível não só acolher mas procurar transmitir a todos.

Também uma reverência muito especial aos que têm tudo feito para ultrapassarmos esta pandemia: médicos, enfermeiros, restante pessoal da saúde, cientistas e investigadores.

Sem o seu esforço abnegado certamente não estaríamos tão esperançados em que tudo vai melhorar e não se teriam salvado tantas vidas.

Sentimos alívio em que uma figura que (des)governou os USA durante os últimos anos tenha sido substituída por alguém de quem esperamos o seu oposto.

Mas também congratularmo-nos pelo aporte cada vez mais evidente que as mulheres têm trazido com sua lucidez, perseverança, seu sexto sentido por todos reconhecido, algo muito positivo para todos nós.

Mau grado muita violência doméstica que continua na ordem do dia, a verdade é que a Mulher tem conseguido alcançar com o seu esforço e valor o lugar devido, e longe vão os tempos em que a filha e herdeira da fortuna do dono do jornal Diário de Noticias, por gostar de outra pessoa fora do casamento, foi acusada de adultério, de loucura e banida dos seus legítimos direitos.

Ou que Camille Claudel, mulher de August Rodin, tão boa escultora ou melhor que ele, tenha sido metida por ele e com a conivência do Paul Claudel, irmão dela, num hospício por loucura.

Também que uma duquesa de Palmela, uma das mais brilhantes escultoras do seu tempo, se tenha reduzido com modéstia quase que ao anonimato para que um homem, Teixeira Lopes, triunfasse em seu lugar.

E o rol não teria fim. Parece que esses tempos acabaram, e juntemo-nos em igualdade para que se crie um mundo novo melhor governado a “fifty-fifty”.

Entre o muito que ultimamente se tem dito e escrito sobre este tema, respiga-se a frase de uma médica da nossa praça, Maria Manuel Mota: “dar poder às mulheres não se deve fazer por ser politicamente correcto, mas por que é a grande oportunidade para a Humanidade”.

Nuno Roque da Silveira


segunda-feira, 22 de março de 2021

À grande e à francesa

 

"À grande e à francesa" e "Forrobodó"

Sabias que estas duas expressões nasceram no Palácio Chiado? 

Sim, aquele edifício histórico na Rua do Alecrim (nº 70) que hoje é um restaurante. 

Ambas estão relacionadas com os faustosos banquetes outrora servidos por Joaquim Pedro de Quintela, o primeiro Conde de Farrobo, no então Palácio Quintela.

Farrobo acabou por dar origem a farrobodó (e não forrobodó, como quase todos dizem) e a expressão perdurou até aos dias de hoje.

"Lisboa Secreta"

sexta-feira, 19 de março de 2021

Raphael Bordallo Pinheiro (1846 —1905)















Fará 175 anos em 21 de Março que Raphael Augusto Prostes Bordallo Pinheiro nasceu em Lisboa.

O seu nome está intimamente ligado à caricatura portuguesa, à qual deu um grande impulso, imprimindo-lhe um estilo próprio que a levou a uma qualidade nunca antes atingida. É o autor da representação popular do Zé Povinho, que se veio a tornar num símbolo do povo português.

Irmão do pintor Columbano, Bordallo Pinheiro foi um artista português, de obra vasta dispersa por largas dezenas de livros e publicações, precursor do cartaz artístico em Portugal, desenhador, aguarelista, ilustrador, decorador, caricaturista político e social, jornalista, ceramista e professor.

Vivendo numa época caracterizada pela crise económica e política, Raphael enquanto homem de imprensa soube manter uma indiscutível independência face aos poderes instituídos, nunca calando a voz, pautando-se sempre pela isenção de pensamento e praticando o livre exercício de opinião. Esta atitude granjeou um apoio público tal que, não obstante as tentativas, a censura nunca logrou silenciá-lo.

Essa independência e o enfrentar dos poderes instituídos originaram-lhe alguns problemas como por exemplo o retirar do financiamento d'O António Maria como represália pela crítica ao partido do seu financiador. Também no Brasil, onde viveu três anos, arranjou problemas, onde chegou mesmo a receber um cheque em branco para se calar com a história de um ministro conservador metido com contrabandistas. Quando percebe que a sua vida começa a correr perigo, volta a Portugal, não sem antes deixar uma mensagem.

O DESENHADOR – Bordalo Pinheiro, que começou a fazer caricatura por brincadeira, deixou um legado iconográfico verdadeiramente notável,tendo produzido dezenas de litografias e composto inúmeros desenhos para almanaques, anúncios e revistas nacionais e estrangeiras como El Mundo Comico (1873-74), Ilustrated London News, Ilustracion Española y Americana (1873), L'Univers Illustré e El Bazar.

Dotado de um grande sentido de humor mas também de uma crítica social bastante apurada e sempre em cima do acontecimento, caricaturou todas as personalidades de relevo da política, da Igreja e da cultura da sociedade portuguesa. Apesar da crítica demolidora de muitos dos seus desenhos, as suas características pessoais e artísticas cedo conquistaram a admiração e o respeito público que tiveram expressão notória num grande jantar em sua homenagem realizado na sala do Teatro Nacional D. Maria II, em 6 de Junho de 1903 que, de forma inédita, congregou à mesma mesa praticamente todas as figuras que o artista tinha caricaturado.

São notáveis as suas caricaturas da queda da monarquia.

O CERAMISTA – Encarregado de chefiar o setor artístico da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (1884), aí encetou um grande processo de renovação da cerâmica caldense. Dedicou-se à produção de peças de cerâmica que, nas suas mãos, rapidamente, adquiriram um cunho original. Jarras, vasos, bilhas, jarrões, pratos e outras peças demonstram um labor tão frenético e criativo quanto barroco e decorativista, características, aliás, também presentes nos seus trabalhos gráficos.

Não se restringiu à fabricação de loiça ornamental. Além de ter desenhado uma baixela de prata da qual se destaca um originalíssimo faqueiro que executou para o 3º visconde de S. João da Pesqueira, satisfez dezenas de pequenas e grandes encomendas para a decoração de palacetes: azulejos, painéis, frisos, placas decorativas, floreiras, fontes-lavatório, centros de mesa, bustos, molduras, caixas, e também broches, alfinetes, perfumadores, etc.

A par das esculturas que modelou para as capelas do Buçaco representando cinquenta e duas figuras da Via Sacra, Bordalo apostou sobretudo nas que lhe eram mais gratas: o Zé Povinho (que será representado em inúmeras atitudes), a Maria Paciência, a mamuda ama das Caldas, o polícia, o padre tomando rapé e o sacristão de incensório nas mãos, a par de muitos outros.

Embora financeiramente, a fábrica se ter revelado um fracasso, a genialidade deste trabalho notável teve expressão nos prémios conquistados: uma medalha de ouro na Exposição Colombiana de Madrid em 1892, em Antuérpia (1894), novamente em Madrid (1895), em Paris (1900), e nos Estados Unidos, em St. Louis (1904).

O JORNALISTA - Destacou-se também como um homem de imprensa, tendo sido durante cerca de 35 anos (de 1870 a 1905) a alma de todos os periódicos que dirigiu quer em Portugal, quer nos três anos que trabalhou em terras brasileiras.

Em 1870 lançou três publicações: "O Calcanhar de Aquiles", "A Berlinda" e “O Binóculo”, este último, um semanário de caricaturas sobre espectáculos e literatura, talvez o primeiro jornal, em Portugal, a ser vendido dentro dos teatros; seguiu-se o "M J ou a História Tétrica de uma Empresa Lírica" em 1873 e, logo a seguir em 1875, a "A Lanterna Mágica".

Seduzido pelo Brasil, também aí (de 1875 a 1879) animou "O Mosquito", o "Psit!!!" (1877) e "O Besouro".

O “António Maria” nas suas duas séries (1879-1885 e 1891-1898), abarcando quinze anos de actividade jornalística, constitui a sua publicação de referência. Ainda fruto do seu intenso labor, “Pontos nos ii” são editados entre 1885-1891 e A Paródia, o seu último jornal, surge em 1900. Também dirigiu o “Jornal da Infância” (1883) e teve colaboração no semanário “Jornal do domingo” (1881-1888).

A seu lado, nos periódicos, estiveram Guilherme de Azevedo, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, João Chagas, Marcelino Mesquita e muitos outros, com contributos de acentuada qualidade literária. Daí que estas publicações constituam um espaço harmonioso em que o material textual e o material icónico se cruzam de uma forma magistral.

O HOMEMD DE TEATRO – Com 14 anos apenas, integrado num grupo de amadores, pisou como actor o palco do teatro Garrett, inscrevendo-se depois na Escola de Arte Dramática que, devido à pressão da parte do pai, acabou por abandonar como viria a abandonar a carreira de actor. No entanto, estabeleceria uma relação com o teatro que nunca mais deixou.

Tendo esporadicamente desenhado figurinos e trabalhado em cenários, Raphael Bordallo-Pinheiro foi sobretudo um amante do teatro. Era espectador habitual das peças levadas à cena na capital, frequentava assiduamente os camarins dos artistas, participava nas tertúlias constituídas por críticos, dramaturgos e actores, e transpunha, semana a semana, o que via e sentia, para os jornais que dirigia. O material iconográfico legado por Raphael Bordallo-Pinheiro adquire, neste contexto, uma importância extrema porque permite perceber muito do que foi o teatro, em Portugal, nessas décadas.

Em centenas de caricaturas, Raphael Bordallo-Pinheiro faz aparecer o espectáculo, do ponto de vista da produção: desenha cenários, revela figurinos, exibe as personagens em acção, comenta prestações e critica 'gaffes'. A par disso, pelo seu lápis passam também as mais variadas reacções do público: as palmas aos sucessos, muitos deles obra de artistas estrangeiros, já que Lisboa fazia parte do circuito internacional das companhias; as pateadas estrondosas quando o público se sentia defraudado; os ecos dos bastidores; as anedotas que circulavam; as bisbilhotices dos camarotes enfim, todo um conjunto de aspectos que têm a ver com a recepção do espectáculo e que ajudam a compreender o que era o teatro e qual o seu papel na Lisboa oitocentista.

O Museu Raphael Bordallo Pinheiro, em Lisboa, e o Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha reúnem parte significativa da sua obra e esperam por vós para uma visita que não vos decepcionará.

 

MEG (Adaptação de textos da internet)

domingo, 14 de março de 2021

As calhandreiras


 














A nossa amiga Sara Timóteo publicitou na sua página do Facebook um interessante trabalho da "Lisboa Secreta", em que esta organização anuncia:
"Calhandreira, queres ir ao farrobodó ou vais ficar a ver navios? Estas são apenas algumas das várias expressões populares que surgiram em Lisboa. Mas há muitas mais, por isso juntámos meia dúzia e fomos à procura de explicações: Como, onde e porque razão surgiram? Ora espreita a nossa lista e descobre também as respostas".

Com a devida vénia à Sara, o blogue ALDRABA vai repescar as respostas da "Lisboa Secreta", e reproduzi-las aqui uma a uma.

Começamos hoje por desvendar a origem da expressão "calhandreira":


É preciso recuar até aos séculos XVII ou XVIII para descobrir as origens deste termo. 

Dizem os estudiosos que está relacionado com uma espécie de penico da época, o “calhandro”, que era despejado e lavado no Tejo por um grupo de serviçais, ao serviço das famílias mais nobres e ricas da cidade.

Ora, essas mulheres aproveitavam a oportunidade para ficar (demoradamente) à conversa, contando e bisbilhotando tudo o que se passava nas casas dos patrões. 

A partir daí, o termo “calhandreira” ficou, para sempre, associado a quem se costuma meter na vida alheia.

"Lisboa Secreta"