quarta-feira, 29 de abril de 2020

Acaba de sair o n.º 27 da revista ALDRABA



































Ficou hoje concluída na gráfica a edição do n.º 27 da nossa revista, que vai começar amanhã a ser distribuída a todos os associados, por via postal.

Os amigos que desejem também aceder a esta publicação devem telefonar a manifestá-lo, para se combinar caso a caso qual a melhor forma de concretizar a sua entrega. Os que residam em Lisboa ou arredores, e os que residam na margem sul, devem contactar de preferência com o José Alberto Franco (T:963708481) ou com o Luís Filipe Maçarico (T:967187654), respetivamente.

Como se diz no editorial, o presente número da revista foi preparado e publicado no decurso do estado de emergência, o que exprime bem a firmeza do nosso propósito de prosseguir sem desfalecimentos…

Reproduz-se o sumário do n.º 27 da revista, o qual, com a capa e contracapa, compreende um total de 40 páginas (a maior extensão de sempre):

EDITORIAL
José Alberto Franco, “Solidariedade e cultura”

OPINIÃO
Fernando Chagas Duarte, “Sem sardinha não há conserva – contributo histórico para a compreensão da indústria de conservas de peixe em Portugal”
Fátima Castro, “A Bela Adormecida em sono profundo!”

PATRIMÓNIO IMATERIAL
Graça Alves, “Entre a vida e a história”

LUGARES DO PATRIMÓNIO
Maria Eugénia Gomes, “Notas sobre a pneumónica de 1918/19”
Miguel Rego, “A pneumónica em Castro Verde (1918-1919) – traços soltos de uma pandemia”

ARTES E OFÍCIOS
Maria Eugénia Gomes, “Apontamentos sobre o ofício de ferrador”

SABORES COM HISTÓRIA
Luís Filipe Maçarico, “Batata doce - Associativismo em tempos de contenção. O singular caso da ADPHA”

SONS COM HISTÓRIA
Ana Isabel Veiga, “Viva quem canta”

MEMÓRIAS DO TRABALHO
Luís Filipe Maçarico, “Joaquina e Eurico: a mercearia onde se sente o Alentejo”

À CONVERSA COM...
Nuno Roque da Silveira, “Por África, no tempo das colónias”

DESABAFOS
Lídia Silvestre, “O senhor padre de Colos”

CRÓNICAS DO QUOTIDIANO
Ana Alexandra Henriques, “A Mouraria, hoje”

CRÍTICA DE LIVROS
João Coelho, “Pau-luta – a arte no jogo do pau”

ALDRABA EM MOVIMENTO
Maria Eugénia Gomes, “Novembro de 2019 a Abril de 2020”

JAF




terça-feira, 28 de abril de 2020

Júlio Couto, um inteletual do Porto amigo da Aldraba que nos deixa

















Acabamos de ter a triste notícia de que Júlio Couto faleceu no passado dia 24 de abril de 2020, aos 85 anos, vítima do covid-19.

Júlio Couto era economista, homem do teatro, rádio e televisão e um dos grandes conhecedores e investigadores da história do Porto.

Conheceu a Aldraba há 8 anos atrás, e deu-nos a honra de publicar no n.º 12 da nossa revista, em outubro de 2012, o seu trabalho “A censura no antigamente”.

Como conta o Público on-line a propósito da sua morte, o Júlio tinha o ofício das contas, mas o coração foi sempre das letras e da arte. Sem nunca deixar a economia e a contabilidade, que lhe valiam o salário no fim do mês, Júlio Couto encheu a vida com tudo o resto: o teatro, a rádio, a televisão, os jornais, a poesia e muitos livros. E o Porto, sempre, cidade onde nasceu e à qual se dedicou, escrevendo várias obras sobre ele. Era um dos grandes investigadores da sua História e histórias – e jamais as contou apartado das suas gentes.

Nasceu no Porto a 12 de Março de 1935. Era o mais velho de sete irmãos vivos a habitar na ilha de minúsculas casas com “paredes finas” e sabia que o destino não lhe guardaria facilidades. Fez a instrução primária e rápido ganhou o vício dos livros. Mas aos 14 anos teve de fazer-se trabalhador: começou a acarretar sacos de cimento e a cumprir a tarefa de moço de recados num escritório na Rua dos Bacalhoeiros. O ordenado era curto e ia diretamente para a mãe.

Ainda menino, pelos seis anos, Júlio Couto já fazia teatro. Mais tarde, acabaria por entrar no Teatro Experimental do Porto e chegou a dirigir a secção de teatro do FCP, e a promover espetáculos no Lar do Comércio, instituição onde viveu nos últimos anos e onde morreu esta última sexta-feira. Júlio Couto tanto atuava como escrevia. Fez rádio e o programa humorístico A Voz dos Ridículos, esteve na RTP Porto, colaborou com jornais e revistas, sendo fundador da extinta Paisagem, foi pioneiro no Porto Canal, onde teve um programa sobre o Porto e outro sobre o fado vadio na cidade, colaborou com dezenas de coletividades portuenses. E escreveu vários livros, sendo o mais popular O Porto em 7 Dias, publicado nos anos 90, um roteiro de visita à Invicta numa semana, como se antecipasse o boom turístico que a cidade haveria de ter.

O seu grande amigo e acompanhante Hélder Pacheco diz que, sobre o Porto de hoje, o Júlio Couto tinha “uma perspetiva aberta e dinâmica”: Defendendo a identidade e as suas tradições, a visão que tinha era de mudança. Não queria que a cidade ficasse confinada e fixada no passado. Era um tradicionalista fazendo a ponte com o futuro. A degradação física da urbe nos últimos anos entristecia-o. E a revitalização agradava-lhe: “A perspetiva que tinha era a de que a cidade tinha de dar a volta.”

Passou a vida a “servir causas”, continua Hélder Pacheco, com uma “extrema generosidade”. Opção que talvez o tenha impedido de fazer uma obra mais vasta – mas isso nunca foi a sua prioridade. “Punha o seu talento ao serviço do bem comum. Nunca viveu folgadamente justamente porque nunca cobrava no trabalho em coletividades, por exemplo, fazia essa dádiva.”

Do interessante artigo que publicou em 2012 na nossa revista, recordamos o último parágrafo, que diz bastante da sua personalidade:

“Foi uma permanente luta de gato e do rato, com ganhos e perdas, mas sobretudo com aquela atitude de insubmissão contra o despotismo. E o sabor dos objetivos alcançados, quando conseguíamos que algo escapasse às malhas da censura”.

Honra à memória do Júlio Couto, e a expressão dos nossos sentimentos à família e aos seus amigos mais próximos!

A Direção da Aldraba 

sábado, 25 de abril de 2020

Viva o 25 de Abril! Viva a ALDRABA! Viva o futuro!


















Eis-nos chegados, mais um ano, à celebração da "madrugada que (...) esperáva(mos), o dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio e livres habitamos a substância do tempo".

Num ano em que todos vivemos numa grave crise sanitária, e em que alguns imaginavam que pudéssemos deixar de assinalar, com toda a energia, a data e o evento da libertação das nossas gentes, de há 46 anos atrás...

Mas não! Hoje às 15 horas, nas janelas das nossas ruas e das nossas cidades, vilas e aldeias, vamos todos cantar a "Grândola", e exprimir com veemência quanto apreciamos a liberdade conquistada e o nosso empenho em desenvolvê-la com criatividade. 

Porque a associação ALDRABA foi criada no dia 25 de abril de 2005, hoje é também o dia do nosso 15º aniversário, que aqui comemoramos com calor e determinação!

Há uns anos, a nossa saudosa Mª Céu Ramos, vice-presidente da Direção que a doença cruel nos levou em 2017, escrevia:

"Só preservamos o que conhecemos e amamos. O nosso contributo para o desenvolvimento é este.

A par de muitas outras associações já existentes, ou que vão surgindo, porque há espaço para isso, o património deverá unir e motivar todos os cidadãos, porque o desconhecimento provoca o abandono, a ruína.

Convém lembrar que, antes de 1974, o associativismo ligado ao património era incipiente e apenas coisa de eruditos.

Toda uma série de objetos, que fazem ou fizeram parte do nosso quotidiano. Homens e mulheres que nos deram teatro, danças, contos, poetas de raiz popular, tradições, e nos transmitiram ensinamentos, costumes ancestrais, que nos remetem para outros povos e outras culturas que aqui viveram antes de nós.

Este legado obriga-nos a continuar no caminho traçado e porventura sermos mais interventivos, alertando e estimulando municípios e demais entidades, sobre os atentados e delapidação a que assistimos todos os dias.

Comemoramos o 25 de Abril, na nossa esfera de atuação.

É urgente que continuemos a lutar por um mundo melhor.

VIVA O 25 DE ABRIL! "

Palavras totalmente atuais, e que continuamos a subscrever.

JAF

quarta-feira, 22 de abril de 2020

22 de Abril - Dia da Terra













Criado em 1970, celebra-se hoje o Dia da Terra. Tem como finalidade criar uma consciência comum em relação aos problemas da contaminação e de outros desastres ambientais, e alertar para a importância da preservação dos recursos naturais do planeta.

Neste Dia Internacional da Terra, todos os olhos estão postos na pandemia da covid-19, mas o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, relembra-nos outra emergência profunda: a magnitude da crise ambiental do planeta que urge ter em conta em todas decisões dos indivíduos e das nações e em todos os momentos da sua existência.

Aponta seis acções que transcrevo:

1.   Ao gastarmos enormes quantias de dinheiro para recuperar do coronavírus precisamos criar novos empregos e negócios através de uma transição limpa e verde;
2.  Quando o dinheiro dos contribuintes for usado para resgatar empresas, este deve estar vinculado à obtenção de empredos verdes e ao crescimento sustentável;
3.  O poder das políticas orçamentais deve transformar a economia cinzenta em verde e tornar as sociedades e as pessoas mais resilientes;
4.    Os fundos públicos devem ser usados para investir no futuro, não no passado e utilizados em sectores e projectos sustentáveis que ajudem o meio ambiente e o clima. Os subsídos aos combustíveis fósseis devem terminar e os poluidores devem começar a pagar pela sua poluição;
5.   Os riscos e as oportunidades relacionados com o clima devem ser incorporados no sistemas financeiro, bem como em todos os aspectos da formulação de políticas públicas e de infraestruturas;
6.     Precisamos trabalhar juntos como uma verdadeira comunidade internacional.

MEG, desenho de Quino

sábado, 18 de abril de 2020

Dia Internacional dos Monumentos e Sítios 2020












O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios é assinalado a 18 de Abril, desde 1982, pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, tendo sido aprovado pela UNESCO no ano seguinte. A partir de então, celebra anualmente a diversidade patrimonial e a solidariedade internacional em torno da salvaguarda e da valorização do património de todo o mundo.

Em poucos dias, o mundo e a nossa maneira de viver mudaram. No entanto, a nossa herança comum permanece inalterada e o Património é, e será sempre, um factor de identidade e de união entre gentes e comunidades.

A Direção-Geral do Património Cultural, coordenadora nacional do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios - DIMS - em colaboração com o ICOMOS Portugal, convida todas as pessoas a associarem-se a esta celebração, que este ano se dedica ao tema Património Partilhado - Culturas Partilhadas, Património Partilhado, Responsabilidade Partilhada.

Celebrado este ano de uma forma pouco comum, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, terá uma programação exclusivamente online.

São mais de 300 as actividades já partilhadas na nova plataforma da DGPC, que poderão ser acedidas através de uma escolha de distrito e até de concelho.

Ver programação em:

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Profissões perdidas (O capelista)
















Bonés, suspensórios, cintos, atacadores, gravatas e toda a parafernália de complementos da indumentária masculina da década de 1940, eram vendidos de rua em rua por estes capelistas especializados em artigos para homem. Circulavam com uma carroça fechada onde a mercadoria estava devidamente arrumada, de modo a que, abertas as portas, ficavam expostas como numa montra de loja. Na imagem, um capelista de Lisboa, em 1948.

Carla Ribeiro, in "Memória de Portugal - dois séculos de fotografia", Atlântico Press, Lisboa, 2020

domingo, 5 de abril de 2020

Abril 2005/Abril 2020: 15 anos da Associação ALDRABA










Em 25 de abril de 2005, no Ateneu Comercial de Lisboa, reuniu a Assembleia Constituinte da ALDRABA - Associação do Espaço e Património Popular, em que cerca de 80 cidadãos decidiram:

"Vamos criar algo de novo.
Uma ideia para partilhar, uma aventura, um projecto, uma associação.
Para que serve esta nova Associação?
Para reflectir o património invisível, que tão maltratado está neste território, com sol, boa comida e uma população com um passado e uma experiência muito ricas, é certo, mas com muitas atitudes (o desconhecimento, o facilitismo ou até a vergonha das raízes) que apagam as memórias, prejudicando a identidade de um povo e do seu futuro.
Para, através de colóquios, viagens, convívios e de tudo o que entretanto os associados imaginarem e quiserem concretizar, chamar a atenção sobre tantos objectos e tanta cultura imaterial que podem ser salvos da ignorância que os condena à extinção".
(do Manifesto)

15 anos passados, com muito (e bom) caminho percorrido, sentimos que o nosso propósito se mantém atual, e que há imenso por fazer.

Na Assembleia Geral ordinária de 14 de fevereiro do corrente ano, discutimos e aprovámos uma exigente agenda de atividades para o ano do 15º aniversário, que compreendia 6 eventos comemorativos da efeméride.

Devido à pandemia que atingiu o país e o mundo, a maior parte destas atividades tiveram que ser adiadas, mas esperamos vir a poder realizá-las mais tarde, nos 12 meses que se seguem até abril de 2021.

A primeira seria já em 17 de abril - o colóquio "Patrimónios do quotidiano", com um rico painel de oradores, a ter lugar na Torre do Tombo, em Lisboa. Tentaremos levá-lo a efeito a partir de setembro próximo, logo que as circunstâncias o permitam.

Entretanto, está em fase adiantada de preparação o n.º 27 da nossa revista, que contamos poder editar até ao final deste mês e enviá-lo por correio a todos os associados.

Fiquemos todos atentos e firmes na nossa atitude cívica, certos de que estes tempos difíceis vão ser ultrapassados.

Saúde e energia para todos!

A Direção da ALDRABA 

sexta-feira, 3 de abril de 2020

"O Mostrengo"


















O MOSTRENGO
 
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
 
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
 
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme,

De El-Rei D. João Segundo!»

9/9/1918  

Fernando Pessoa, "Mensagem", Parceria António Maria Pereira, Lisboa, 1934