quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Por terras de Trás-os-Montes - tradições e lendas

No dia 13 de Dezembro, as raparigas entregam aos rapazes os "Pitos de Santa Luzia" e no dia 3 de Fevereiro os rapazes retribuem, oferecendo-lhes as "Ganchas de S. Brás". Assim manda a tradição transmontana...


A gancha é um rebuçado muito popular em Vila Real em forma de bengala, que se pensa reproduzir o báculo episcopal de S. Brás, patrono das doenças de garganta. O seu tamanho pode atingir um metro e é feita à base de água e açúcar, por vezes aromatizada com mel e ervas de efeito balsâmico, como o alecrim ou o eucalipto.
Todavia, há quem garanta que seria uma espécie de espátula doce para pincelar as gargantas ou desalojar estranhos objectos nela entalados, dado o seu efeito apaziguador. Em Vila Real, só se encontram à venda na altura das festas de S. Brás e são poucos os que se dedicam à sua confecção.
Segundo Elísio Neves, investigador da história da cidade de Vila Real, as "ganchas de S. Brás são um símbolo fálico e já estão referenciadas no final do séc. XIX".


O pito é um bolo com recheio de doce de abóbora, sendo os mais qualificados os que a Casa Lapão continua a fabricar todos os dias.
Segundo a lenda, certa rapariga muito gulosa, defeito esse que levou a família a pedir a graça da clausura na esperança de o transformar em virtude, foi servir para o Convento de Santa Clara, onde depois tomaria o hábito.
Tendo-se tornado devota de Santa Luzia, orago dos cegos e padroeira das coisas da vista, usava nas suas mezinhas «pachos de linhaça» - quadrados de pano cru onde se colocava a papa, dobrados de pontas para o centro para não verter a poção, que punha sobre os olhos dos doentes acolhidos no Convento.
Um dia, na cozinha, terá feito uma massa de farinha que cortou em pequenos quadrados e onde colocou compota de abóbora. Dobrou a massa por cima da compota, à imagem dos «pachos», cozeu-os no forno e correu a escondê-los na sua cela. No caminho quando a Madre Superiora lhe perguntou o que levava no tabuleiro, respondeu: «São pachos de linhaça irmã Madre... Para os meus doentes que amanhã virão». Não eram muito agradáveis à vista mas satisfaziam-lhe a gula, não seria pecado comê-los porque, ao fazê-lo na escuridão da cela e da noite, sabia, porque o tinha ouvido dizer, «do que não se vê não se peca».

Com o correr dos tempos, criou-se a tradição, que ainda hoje se mantém, das raparigas e rapazes oferecerem estes doces nos dias de Santa Luzia e S. Brás, seja para celebrar um compromisso já existente ou para dar a conhecer paixão ou intenção até aí escondida.

Mais informação e receita dos pitos de Santa Luzia em:
http://www.espigueiro.pt/
http://folclore-online.com/usos/txt/ganchas_sbras2.html

MEG

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